Os Seletores de Frequência lançaram Astral, álbum cheio de swing pra quebrar um pouco dessa vibe deprimente gerada pelo verme e pelo vírus.
Certamente isso gerou a carência de sonoridades instrumentais que se alinhassem ao som black-soul-samba gestado a partir de bandas como Black Rio e Azymuth. Ao darem início a uma carreira dissociada do BNegão, onde se buscava uma sonoridade baseada na associação de elementos da música pop, eletrônico e hip hop com o soul e o funk, os Seletores puderam explorar sons que despertavam o interesse de seus integrantes.
Em 2016, um ano após o o lançamento de TransmutAção (2015), o último álbum da banda com BNegão, os Seletores de Frequência lançaram seu primeiro trabalho solo, o Ep SF. Neste trabalho de estréia os músicos puderam explorar de forma mais livre suas ideias relacionadas a composição, buscando inspiração em suas referências musicais. Começava a se construir o ambiente propício a criação e a troca de informações no intuito de compor músicas que expressassem o perfil sonoro de os Seletores e Frequência.
Ali estava lançada a semente que germinaria 4 anos depois com o lançamento do primeiro álbum cheio da banda, Astral. Nome que nos faz pensar se vivemos um momento pra ter algum astral que não seja o baixo astral, uma vez que nos encontramos mergulhados nas trevas da insanidade megalomaníaca de um déspota alucinado. Basta começar a ouvir Astral para aos poucos ter sua concentração direcionada para a música d´Os Seletores de Frequência. Aos pucos, mesmo que por alguns minutos, esquecemos da realidade na qual estamos inseridos. Ouvir álbuns como Astral é uma terapia diante dos tempos sombrio nos quais vivemos.
E para quem tem apreço pela história da black music instrumental brasileira, Astral se apresenta como uma obra que bebe na fonte dos anos setenta, para reapresentar aquela sonoridade sob uma nova ótica. Elementos eletrônicos, efeitos sonoros usados na música contemporânea dão o toque atual e o traço estilístico da banda.
O trompetista, único membro original d´Os Seletores de Frequência na formação atual, Pedro Selector, fala o seguinte a respeito da atual fase de Os Seletores de Frequência: “O disco traz essa abertura da gente aparecer como compositor, que ficava meio oculto. É engraçado e acontece muito, mas as pessoas não se ligam que a banda também compõe”.
Certamente esta impressão vem do fato de a banda ter ficado conhecida pela fase acompanhando BNegão. O próprio nome BNegão & Seletores de Frequência, chama atenção para o nome do cantor, enquanto o nome da banda sugere uma função de apoio. No momento que os Seletores assumem sua “independência”, ao se lançar tendo apenas o nome da banda como referencial, faz transparecer autonomia em todos os níveis de suas atividades. Principalmente no que diz respeito ao aspecto da composição das músicas.
Ouvir Astral reforça essa impressão sobre a autonomia dos Seletores, porque ouvindo as músicas que fazem parte dele, encontramos um som completamente diferente daquele presente na fase da banda acompanhando BNegão. Essa é uma característica importante, na medida que abre um novo horizonte musical para o ouvinte. Ao menos para o ouvinte interessado por conhecer novos sons, conhecer uma faceta da banda que não se apresentava em sua fase anterior. Vejam, não se trata aqui de diminuir o trabalho desenvolvido com BNegão, apenas tentar colocar em relevo os ganhos da banda nessa fase solo.
O resultado dessa nova experiência dos Seletores de Frequência é um álbum fluído, orgânico, que explora de forma sensível e atenta o swing inerente ao funk, à soul music, que forma um groove intenso que faz o corpo responder balançando instintivamente.
Piloto de Fuga (no 2), música que abre o álbum, foi lançada como single pra já ir instigando a galera, gerando a vontade de ouvir mais faixas. Faixa de pura grooveria, cheia de movimento, tensão e adrenalina. Veio ainda o lançamento de outro single, Tony Árabe, jazz cheio de malícia e gingado graças a suas sincopações que garantem o seu tempero picante. Estes dois lançamentos não somente atiçaram a curiosidade do público, mas colocaram os amantes do gênero, ansiosos por um álbum repleto de groove e swing.
Quem alimentou essa expectativa não se decepcionou. Astral traz músicas formadas por linguagens sonoras distintas, uma variedade de modos de expressar o groove e o swing. Por haver esta diversidade, o álbum estabelece diferentes conexões, que o levam a direções distintas. Quando Dado Villa-Lobos e o produtor Estevão Casé levaram a proposta à banda, de lançar um álbum cheio, queriam, de algum modo, satisfazer essa curiosidade de saber como soariam os Seletores de Frequência numa obra de maior fôlego. Felizmente os caras da banda também, daí aceitarem de bate pronto o convite pra lançar o álbum pelo selo carioca Rockit!.
Uma nova senda foi aberta pelos Seletores de Freqüencia, esperamos que os conduza por muitos destinos e que ao longo dessa nova trajetória brotem trabalhos sempre intensos e inspirados como Astral.
Pedro Selector: trompete
Robson Riva: bateria
Bruno Pederneiras: guitarra
Sandro Lustosa: percussão
Participações especiais:
Pedro Dantas: baixo (em todas as faixas)
Bidu Cordeiro: trombone (em todas as faixas)
Thiagô Queiroz: sax-barítono (em todas as faixas)
Rodrigo Pacato: percussão (nas faixas 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10 e 11)
Roberto Pollo: teclado (nas faixas 4, 5, 8 e 9)
Gilbert T: guitarra (nas faixas 2 e 11)
Todas as músicas compostas e arranjadas por Seletores de Frequência
Produzido por Estevão Casé
Gravado e mixado nos estúdios da Rockit! – Rio de Janeiro
Assistente de gravação: Sarah Abdala
Master: Fabiano França
Arte por Rafo Castro
Release por André Mansur
Esse disco é dedicado ao nosso irmão Fabio Kalunga
Formação atual:
Pedro Selector: trompete
Robson Riva: bateria
Bruno Pederneiras: baixo
Sandro Lustosa: percussão
Marco Serragrande: trombone
Gilber T: guitarra
Contato: seletoresdefrequencia@gmail.com
Insta: @seletoresdefrenquencia