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Os Hardcore Straight Edge Estão Voltando

Os Hardcore Straight Edge Estão Voltando, Estão Voltando… Um movimento não orquestrado de retorno de bandas fundamentais para o combate!!!

Não é incomum ver bandas fazendo shows de reunião, revival’s ou até mesmo o que chamamos turnê caça niqueis, os mestres disso são os Losermanos, que inclusive estão em turnê de reunião, pela milésima vez.

No hardcore não é diferente, claro que a motivação nem de longe é encher o bolso de grana, geralmente são apenas amigos se reencontrando e querendo relembrar tempos da juventude ou coisa do tipo. Temos diversos exemplos de bandas clássicas que entraram em hiato e retornaram anos depois: Youth of Today, Shelter, Gorilla Biscuits, Judge, Descendents e muitas outras. Alguma dessas bandas retornam para gravar material novo, outras apenas para tocar clássicos. O importante é que os shows dessas bandas acabam se tornando grandes celebrações.

Em 2019, aqui no Brasil, surgiu um movimento interessante na cidade de São Paulo, não orquestrado, que nos chamou a atenção. Diversas bandas hardcore Straight Edge, que estavam em hiato e que foram bem importantes na década de 2000 retornaram as atividades. Destacamos aqui 05 nomes: War X Inside, Vendetta, Good Intentions, Em X Chamas e o Positive Youth.

As motivações para o retorno dessas bandas são as mais variadas possíveis, como dito em linhas anteriores pode ser tão somente por um sentimento nostálgico, como também pode ser para comemorar alguma data ou feito em especial e inclusive por conta da atual conjuntura política do nosso país, como bem pontua Franz, ex-baixista e atual vocalista da banda War X Inside:

“ O War X Inside voltou porque eu senti a necessidade de estar presente no punk hardcore novamente, pra absorver ideias novas, pra falar sobre veganismo, sobre straight edge e principalmente porque o momento político pede que a gente se organize e se junte com os nossos iguais de alguma forma e como o punk foi – e ainda é – pra mim uma grande escola e um local que tem que ser de contestação, de manifestação política e tudo mais eu quis voltar com a banda pra ter essa oportunidade de trocar essas ideias com a galera, colocar em prática o D.I.Y., a contestação em forma de letras e estar sempre aberto pra aprender”.

Franz ainda esclarece que da formação original tem apenas ele. O que achamos que foi algo ainda mais legal, pois a banda acabou se tornando uma reunião de gerações.

https://www.youtube.com/watch?v=pQduPHfWPqc&feature=youtu.be

Já o Vendetta, teve uma motivação um tanto quanto diferente para essa reunião, como explica Denis, vocal da banda:

“Nos convidaram pra um show em prol das pessoas que perderam tudo nas enchentes que rolaram tempos atrás. Aceitamos tocar fácil, e ficamos felizes de terem lembrado da gente.

No mesmo instante, o Franz (War X Inside) chamou a gente pra esse evento que rolará em maio, que tem a mesma finalidade: Ajudar um amigo próximo que perdeu umas de suas principais ferramentas de trabalho, o carro. Também aceitamos na hora”.

Contudo, o Vendetta se alinha no pensamento de que no atual momento político do Brasil, as bandas hardcore devem cumprir seu papel político:

“Devido ao momento que estamos vivendo no mundo, e em especial no Brasil, isso nos deu força. Nos deu força e vontade de voltar a fazer o que sabemos, que é inspirar as pessoas. Se já inspiramos pessoas a 15 anos atrás, conseguiremos inspirar mais pessoas hoje”.

Denis ainda explica a atual situação da banda, com relação a postura:

“A banda hoje não tem rótulos como era no passado. Não nos importamos mais com isso. A única coisa que importa no momento é saber de que lado você está. Se está do nosso lado, o lado que estende a mão ao próximo, ou está do lado de quem estende a violência contra as minorias?

Temos que nos unir, o momento é esse. Ninguém pode soltar da mão de ninguém”.

https://www.youtube.com/watch?v=zJDcff7CmEI

Alexandre Kool, vocal da banda Em X Chamas, esclarece o que será a apresentação da banda no evento que se realizará em Maio, que em verdade não se trata de um retorno do Em X Chamas, estando mais para um show de reunião:

“O EXC não voltou as atividades ou pretende continuar.

Creio que a banda já fez o seu papel dentro do hardcore, falo isso por mim. Porém, se houver a necessidade de criarmos ou participar de eventos direcionado a algumx amigx ou alguma causa que acreditamos/defendemos, desde que todxs estejam de acordo, não vejo motivo para falar ‘NÃO’ “.

ĺAlexandre explica que “durante o período que a banda se manteve ativa (2001 até 2010), tínhamos e ainda temos como pessoas, posições e posturas (individuais) que ainda nos motivam diariamente em continuar acreditando em luta x, luta y, em causa x e etc”. Ou seja, independentemente de estar tocando, ou não, fica claro que para o vocal da Em X Chamas a luta é cotidiana, diária.

Então qual seria a motivação para esse show de reunião que irá se realizar em Maio na cidade de São Paulo? De acordo com o próprio Alexandre:

“Em 2018 fizemos um chamado show ‘Despedida’, vamos tocar outra vez agora em 2019/maio, por uma causa de extrema necessidade e importância (Um evento beneficente em Prol de um amigo que durante as enchentes em SP, perdeu parte de seus bens e todo lucro será destinado a ele).

Esperamos daqui 10 ou 20 anos (se ainda estivermos vivos) tocar novamente e lógico com a presença de todxs amigxs.

‘OLD SCHOOL SPIRIT, IT’S TIME TO PLAY AGAIN!’ “.

Como pode ser observado, a solidariedade ainda é algo bem presente na cena hardcore, pois fez com bandas que estavam em hiato retornarem para ajudar outras pessoas.

Uma dessas bandas foi o Good Intentions, que nesse ano também completa duas décadas de existência. Conversamos com André Vieland, vocal da banda, que falou um pouco sobre o retorno do Good Intentions nesse ano tão importante pra banda.

“Esse ano, o Good Intentions completa 20 anos. Tivemos nesse tempo algumas pausas, porém elas foram muito mais por falta de tempo devido dia a dia dos membros do que por não querer mais tocar.

Eu e o Fausto (Guitarra) sempre estávamos pilhados e tínhamos mais tempo livre que os outros caras. E como queríamos tocar sempre montamos o Direction.

Mas o GxI sempre esteve ali, as conversas e vontades sempre houveram e algum tempo atrás falamos de voltar a tocar. Por acaso rolaram esses convites para shows que outras bandas estavam organizando para dar apoio a amigos que sofreram perdas irreparáveis e nós também resolvemos apoiar.

Mas também é isso, o momento se faz necessário. A cena sXe se torna mais cada dia menor e menos interessante. Diversas ações que eram organizadas por sXe’s foram se perdendo e espero que esse levante ascenda a chama de muitos que pensam igual a gente”.

https://www.youtube.com/watch?v=8KfLmzy2XLE

Definitivamente, além da questão da solidariedade fica nítido que o atual momento político do país foi força motriz para o retorno dessas, e de muitas outras, bandas.

Edi, vocal do Positive Youth, explicou como se deu o que a princípio seria apenas um show de reunião, mas vem tomando forma para coisas novas. Além disso, mais uma vez, foi citado o atual momento político no país.

“Então na real foi uma espécie de reunião, porém nos ensaios conversamos da possibilidade de retomar e compor coisa nova, eu acho que vivemos um momento complicado no Brasil, e talvez o hardcore ainda pode servir de suporte para as mudanças, mas por outro lado é uma cena desfragmentada e com muitos problemas, se as pessoas enxergarem que nosso inimigo é outro e não nos mesmos as coisas podem começar a mudar, mas pra finalizar o hardcore viveu muito tempo nas palavras agora precisa da pratica”.

A simbiose solidariedade, reunião de amigos e atual cenário político do Brasil está clara em todas as falas, confessamos que ficamos felizes com esses retornos, independente se algumas dessas bandas sequer irão continuar a tocar ou outras já planejam novos lançamentos, fato é que todas elas foram bem importantes e inspiraram diversas pessoas a alguns anos atrás. Nosso desejo então é que essas bandas possam, novamente, inspirar garotos e garotas, para que montem suas bandas, fortaleçam a cena hardcore, a cena straight edge e acima de tudo cuidem para que o hardcore jamais se dissocie da política.

Enquanto a chama ainda queimar, mesmo que seja uma pequena fagulha, há esperança.

Sobre o autor:

Dudu é Straight Edge, membro do coletivo Saco de Vacilo , vocalista da banda Antiporcos, Rubro Negro e viciado em música

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