Oganpazan traz este mês uma entrev
Carlim/Oganpazan: Obrigado por aceitar o convite de ser entrevistado para nosso site. É um prazer tê-lo aqui! Emerson, quero iniciar a entrevista perguntando o que é arte para você?
Emerson DMG: A arte salva, arte é vida e há muito tempo carrego esse lema comigo (Viver é arte, sobreviver é preciso) cada vez mais.
Carlim: Quando e como foi seu primeiro contato com o hip-hop?
DMG: Em meados da década de 90 eu conheci o rap que é um dos quatro elementos da cultura hip-hop. Foi amor à primeira vista. Eu e o meu parça Franklin, vulgo Preto, começamos a fazer umas rimas e a escrever algumas letras dentro da sala de aula mesmo, só para tirar um barato. Era muito loko! Daquele momento em diante, era só rap 24 por 48, até eu me apaixonar novamente, quando conheci a dança, ou melhor, o break que também bateu forte e ficou marcado.
Carlim: Acredito que isso tenha sido quando ainda morava em Ponte Nova! Em qual escola você estudou e como conheceu o Preto (Franklin)?
DMG: Estudei em outras escolas mas a que mais marcou foi a E. E. Senador Antonio Martins, certo. Agora o Preto, nos conhecemos na infância ainda moleques, morávamos na mesma rua, crescemos juntos e até hoje temos uma conexão de família, morou.
Carlim: Você disse que a arte salva, ela te salvou de algo?
DMG: A arte salva, acredito plenamente que a minha formação como cidadão e tal, na parte profissional também, foi devido ao meu envolvimento com a arte, no caso a cultura hip-hop. Vários amigos meus se envolveram com o crime, alguns infelizmente não estão mais entre nós, outros presos, alguns passaram pelo sistema prisional e estão se ressocializando devido à arte. E o que me livrou de não ter seguido essa mesma trajetória foi a arte, o hip-hop.
Carlim: Havia um movimento hip-hop em Ponte Nova quando você começou a
DMG: Quando comecei a escrever não sabia da grandeza que era o rap, para mim era só um estilo musical. Eu logo me identifiquei como rap porque abordava nas letras o nosso cotidiano. Em Ponte Nova sempre houve vários manos envolvidos com a cultura, porém muitos ficam no anonimato, pois vivemos em um país que não valoriza a cultura ou a arte.
Eu vou mais além, não valoriza nem mesmo o cidadão brasileiro, morou. Antigamente em nossa cidade tínhamos vários salões voltado para som black, vários concursos de dança na cidade e região onde todo final de semana uma rapaziada se reunia para se encontrar, dançar, confraternizar ou só para curtir. Infelizmente hoje não existem mais espaços como os de antigamente, mas felizmente ainda existem guerreiros que trabalham e lutam contra tudo e contra todos para não deixar a cultura morrer em nossa cidade.
Salve o hip-hop!
Carlim: Pra você qual seria a causa do desaparecimento dessas casas de shows e eventos ligados à black music e em particular do hip-hop em Ponte Nova?
DMG: Primeiramente por incompetência dos donos das casas, que na época só visaram os lucros e não se preocuparam em expandir, preparar e capacitar melhor os seus funcionários. Depois, incompetência da administração da prefeitura, que com o índice crescente de violência e mortes de jovens, principalmente por várias tretas geradas nos bailes, acharam mais prático acabar com os bailes.
Pensando que assim acabariam ou amenizariam o problema, certo? Não! Errado! Com os fechamentos das casas as ocorrências na cidade podem não ter aumentado, mas a violência aumentou muito e com certeza uma boa parte desse crescimento foi feita pelo fim desses eventos, sem um lugar para se divertir e confraternizar a vida ficou monótona, principalmente por ser uma cidade do interior que infelizmente não cresce, não evolui e não dá oportunidades concretas para os jovens e moradores da cidade.
Carlim: Pra você o que leva a essa visão negativa lançada sobre a cultura vinda da periferia como o hip-hop, principalmente por parte da elite e do governo? Em Ponte Nova o olhar lançado sobre o hip-hop também é esse?
DMG: Acredito que hoje apesar da nossa cultura não ser valorizada como deveria ser, estamos tendo uma grande aceitação em todas as áreas. Vários irmãos em toda parte do país estão trampando e difundindo a cultura. O respeito não é comprado e sim conquistado, e em Ponte Nova não será diferente! Somos o que queremos ser, a nossa luta continua…
Carlim: Você tem alguns raps gravados e as rimas procuram falar sobre o cotidiano de quem vive na periferia. O rap é uma música de protesto? O que você pensa do rap que não expõe as questões sócias da periferia?
DMG: O rap é um estilo musical como qualquer outro, porém, por ter nascido nos guetos, no Brasil muitos grupos seguem uma linha de protesto, pois temos um estado omisso. Eu procuro fazer um som com a minha verdade, o que eu vejo, vivencio ou relatos de alguns manos. Vivemos em uma democracia, ou melhor, em uma falsa liberdade, mas cada um faz as suas escolhas e segue o que acredita desse jeito, cada um no seu corre.
Carlim: Quais são seus objetivos com rapper?
DMG: Reconhecimento, se estiver realizando um bom trabalho e conseguir sobreviver fazendo aquilo que amo: a musica, o rap.
Carlim: Há na internet alguns raps que você gravou e vêm divulgando através das redes sociais. Você pensa em lançar um álbum?
Carlim: Você é pontenovense, mas vive em São Paulo. Por que resolveu deixar Ponte Nova? Tem algo a ver com o hip-hop?
DMG: Na realidade eu nasci em Ipatinga – MG, mas me considero pontenovense, pois foi em Ponte Nova que eu cresci. Referente à minha ida para São Paulo fui a convite do meu amigo Franklin, pois na época estávamos desempregados e como eu tinha algumas qualificações profissionais resolvi aceitar a proposta de mudança, e com certeza o que pesou para eu tomar essa decisão foi pelo fato do cenário do hip-hop ser muito forte em São Paulo.
Carlim: Qual pergunta não foi feita, mas que você considera ser importante fazê-la e qual sua resposta a ela?
DMG: Todas as perguntas foram importantes, mas para finalizar perguntaria onde você quer chegar com a sua musica e quais os seu planos para futuro?
Espero que a minha música possa chegar onde deve chegar e quem sabe possa confortar e direcionar os nossos irmão em meio ao caos em que vivemos. Para um futuro próximo eu espero lançar o meu primeiro álbum de forma independente ou não. Tenho um projeto pronto, mas ainda não está definida a forma como ele será concretizado. No mais espero que a rua, o publico, curtam o meu trabalho e que eu consiga chegar e me manter dentro de um cenário, de uma cultura transformadora que resgata vidas.
Pra finalizar gostaria deixar um salve sem citar nomes para não magoar, certo, para todos os manos que de alguma forma fizeram parte da minha vida, pros irmãos de correria lado à lado quem é tá ligado. Um salve para as quebradas que fizeram e fazem parte do meu dia a dia, Diadema, São Bernardo do Campo, todo ABCD, Vila Clara, Jr. Mirian, Cidade Ademar, Pantanal, Luso, Cidade Julia, Missionária, Pedreira, Santo Amaro salve zona sul e todas as quebradas de São Paulo, um salve para Mariana – MG, Ouro Preto – MG e todas as cidades mineiras em especial, sem esquecer jamais de onde eu vim e estão as minhas raízes, salve, salve Ponte Nova – MG é nois DMG paz a todos…
https://soundcloud.com/emerson-31