Mobiu
Difícil traçar um perfil que defina qualquer ser humano, podemos tentar triscar em algumas identidades, porém somos múltiplos, campos de virtualidades sempre, definir neste sentido é empobrecer, reduzir, tentar capturar. No caso do nosso entrevistado, qualquer olhar mais atento perceberá o pepino que é tentar aprisioná-lo numa fórmula qualquer que tente decifrá-lo. Nesta pequena introdução tentamos utilizar o sentido geológico da palavra perfil que de acordo com o Michaelis: “corte que deixa ver a disposição e a natureza das camadas do terreno.”.
Pai e esposo, punk (ex-baixista?), rapper, empresário, produtor cultural, são estas algumas funções por ele exercidas com qualidade reconhecida por amigos e colegas de profissão em todas as praças da música brasileira. No escritório ouvimos algumas tracks que estão sendo preparadas com o cuidado de um artesão. Uma olhada de leve para a parede ao lado da mesa de trabalho, encontramos um organograma, visão assustadora para qualquer um desses que falam em trampo, mas não agem. Eventos da loja, compromissos empresariais, eventos sendo tramados, são muitos em um… E é essa multiplicidade de linhas que aos poucos pode ajudar no mapeamento subjetivo e prático compondo as várias encruzilhadas (escolhas) que formam esse um só caminho.
Diante de tantos corres, as ideias de força e trabalho na busca pela liberdade talvez possam nos ajudar a triscar com alguma verdade aquilo que atravessa uma das metades da Versu2 e dono da loja Afreeka. Rangel aceitou conversar com o Oganpazan e saciar pelo menos temporariamente nossa curiosidade sobre os caminhos que o grupo vem percorrendo, assim como quais os planos para o segundo semestre de 2015. Lançamentos individuais, dele e do Mc Coscarque, quais as atuais influências para sua música e seus pensamentos, como ele vê e o que indica na cena do Rap nacional e gringo.
Enfim, leiam essa entrevista e tentem vocês mesmos abarcar as diversas linhas que formam suas rimas, empreendimentos, posturas e pensamentos.
Oganpazan – No que se baseia a poética e quais as temáticas que atualmente tem sido as constantes na Versu2?
Rangel – Coragem, verdade, amizade, contradições, sexo, drogas, rap, ódio, amor, traição, estas coisas de quem vive a rua e está acostumado a ouvir, só que de nossa parte de uma forma bem particular e poética.
Oganpazan – O que tem sido preparado para o público pela Versu2 atualmente e individualmente?
Rangel – Coscarque está gravando o disco solo dele e entendo que este é o melhor momento pra ele fazer isto, então eu sigo acumulando escritas pra que quando chegue este meu momento eu possa gravar também.Temos algumas coisas pré-produzidas que devemos finalizar, paralelo a este corre de Cosca, mas não sei bem como lançaremos, isto envolve dinheiro, planejamento, muita energia espiritual e de minha parte sigo paciente, gravando participações com outros artistas. Cosca vai lançar 9 faixas muito fodas, um disco bem conceitual com uma produção que é a cara dele, eu gravei uma faixa chamada “Nosso Som” que fala das influencias pra fazer música aqui na Bahia. Eu sai em participações no disco do Nova Era e de Alváro Reu, estou com uma faixa com R. Braz e outras com o Doga Love, devo finaliza-las em breve, também estou no disco do Lucas Oluô que deve estar na rua em breve. Tenho um acumulo de 2 anos de escrita sem gravar, estou vivendo uma nova realidade espiritual, e isto tem me influenciado a ir mais fundo nos meus sentimentos, e devo escrever muitas coisas novas neste processo, estou montando uma estrutura de home-studio, estou confiante nesta evolução, vamos ver no que vai dar.
Oganpazan – Sobre a questão: Disco. Na conversa que tivemos após o filme (Inicio Meio Inicio), você falou que neste momento seria uma questão de ego lançar um disco. Comente um pouco essa declaração e explique pra gente como a Versu2 tem pensado a divulgação dos trabalhos do grupo.
Rangel – Falei acima, Cosca vai lançar o disco dele, e ainda não sei qual vai ser a estratégia dele, sei que ele está estudando muito e deve trazer algo realmente inovador… Eu continuo com a ideia de gravar vários sons, com vários amigos, com várias experimentações sonoras, se perceber potencial pra clip em alguma delas eu vou trabalhar, mas eu gosto do lugar obscuro que estou, gosto da paz que vivo pra fazer o som que estou fazendo e não quero criar expectativa em ninguém, vou deixar a música agir, e assim ir construindo degrau a degrau a escada que estou subindo na música.
Oganpazan – Quais as referências que lhe são caras? Dê as dicas sobre quais as Teorias filosóficas, literárias, musicais, cinematográficas, pictóricas que fazem e fizeram a sua cabeça?
Rangel – De rap os caras que mas me influenciaram na escrita são: Mano Brown, Parteum, Don L. e Marechal. E trabalho pra chegar neste nível. Eu sou original na minha forma, não imito ninguém e tenho uma visão que tem muito conteúdo. Da gringa o Kendrick Lamar e o J Colle tem sido os caras que mais me chamam atenção, mas os sons que mais tenho curtido andando pela rua são os do Drake e dos caras da banca do Pró Era. Tenho lido poucos livros ultimamente, mas os últimos que li foi… a Biografia do Fela Kuti, umas coisas em quadrinho do Kafta, Os Condenados da Terra de Franz Fanon e muitas coisas sobre comunicação digital. Séries como Sons of Anarchy, Breaking Bad, Gotham, Silicon Valley, Demolidor e House Of Cards me inspiram também. As cenas de morte da Gemma em SOA e de Gus Fring em Breaking Bad são inspiradoras demais, haha! Os últimos filmes que vi que me marcaram foram: Birdman, The Imitation Game, The Fault in Our Stars, The Wolf of Wall Street, Lucy, 12 Years a Slave, Inception e Whiplash. Desculpe falar o nome deles todos em inglês, é que assisto pelo PopCorn Time e todos os filmes lá são legendados, dai nem sei o nomes deles em português. Ah, vou assistir agora o de Curt Cobain e gostei muito do filme sobre o James Brown.
Oganpazan – Como você vê o cenário atual do rap baiano e quem são os artistas que mais lhe inspiram atualmente nessa cena?
Rangel – Vou falar de 3 caras que parei pra prestar atenção nestes últimos 2 anos e me ganhou com fã: R Braz, Galf e Bruno Suspeito, acho que deveriam fazer mais shows. Os 3 discos de 2015: Vivendo de Música do Réu, Eu Não Sou Stanley da Turma do Bairro e Brutality do Nova Era.
Oganpazan – Se tem alguma pergunta que não fizemos e você gostaria de responder, fique a vontade.
Rangel – Não, acho que já falei pra caralho, em breve volto pra falar das músicas que estou pra lançar e ai vamos ter vários ácidos pra destilar. Valeu pelo espaço, um só caminho…
Enquanto não saem as novidades que estão engatilhadas, curta algumas já clássicas:
Crédito da imagem destacada: Fernando Gomes