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Oganpazan Entrevista: Joilson Santos (Dopesmoke Festival)

O Oganpazan entrevistou o produtor e músico feirense Joilson Santos sobre a terceira edição do Dopesmoke Festival, que acontecerá no formato online entre os dias 30/04 e 02/05. 

Joilson Santos é dessas figuras da cena independente que nos motivam a manter firme a posição diante das adversidades que surgem. Integrado a uma equipe das mais atuantes da cena baiana, muito bem representada pelo Feira Coletivo Cultural, do qual é um dos criadores, segue pavimentando a estrada que interliga o interior da Bahia às rotas das grandes bandas nacionais e internacionais.

O produtor Joilson Santos.

Atuando em conjunto com o Feira Coletivo Cultural, consolidaram um dos festivais independentes mais importantes do Nordeste, o Feira Noise. Festival que acontece há mais de 10 anos. Joilson conhece a cena independente em sua totalidade, uma vez que além de produtor, é baixista das bandas, Clube dos Patifes, Erasy e Fools Paradise e antes de tudo, frequentador da cena underground.

Essas vivências, conjugadas ao trabalho, dedicação e organização geram resultados de excelência, conforme poderemos conferir a partir do dia 30 de abril quando os shows do Dopesmoke 2021 começarem. Até lá vocês podem conferir a história do festival e os detalhes sobre a edição online, que acredito, será das melhores feitas nesse formato. 

Carlim (Oganpazan): Joilson, antes de mais nada quero agradecer por ter aceitado o convite para esta entrevista, estamos muito felizes pela oportunidade de conversar sobre um festival que, apesar de ter contado apenas com duas edições, dava indícios de que se consolidaria no cenário local e com o tempo em âmbito nacional. Gostaria de iniciar perguntando o que motivou a criação de um festival voltado para o metal extremo. Isso porque imagino ser difícil, dentro do cenário independente/ underground, conseguir viabilizar um festival segmentado.

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Salve Carlim, nós que agradecemos o espaço do Oganpazan, espaço fundamental pra divulgar nossa cena independente. Então, sobre o Dopesmoke, o festival não é um evento de metal extremo, é um evento voltado pra música pesada em suas mais variadas vertentes. A edição deste ano tem em sua programação sem dúvida, uma grande maioria de bandas que fazem metal extremo, mas isso é reflexo da proposta da edição que era focar na música pesada produzida na Bahia e que historicamente sempre foi grande celeiro da vertente mais extrema do metal.

Joilson Santos nas cordas do baixo.

Mesmo não sendo tão restrito como parece nesta edição, as dificuldades de se produzir um festival de maneira independente é realmente muito difícil em qualquer lugar do Brasil, mas é especialmente difícil fazer no interior da Bahia sem dúvida. O festival surge dessa necessidade de criar alternativas que não só construam pontes com outras cenas mas também  visibilize as bandas de toda região e também porque acreditamos que Feira de Santana pode ser rota de turnês importantes e que existe um público que deseja eventos com uma produção mais cuidadosa e com estrutura melhor para as bandas se apresentarem. 

Carlim (Oganpazan): Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas para viabilizar as duas primeiras edições do Dopesmoke?

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): A principal dificuldade é sempre a falta de recursos para investir principalmente na pré-produção do evento. Fazer um festival como o que fizemos exige um capital de giro e iniciar essa produção com pouco ou quase nenhum recurso é sempre muito difícil. Por isso é tão importante leis como a Aldir Blanc e outras fomentando produções como a nossa, isso pode fazer uma diferença enorme no médio prazo. 

As duas edições funcionaram muito bem acredito eu por conta de um fator importante que era nossa experiência e boas conexões construídas ao longo de mais de 10 anos e com a produção de outros festivais, em especial o Feira Noise. Então não tivemos tanta dificuldade com fornecedores, aluguel dos espaços, e contato com as bandas. Geralmente isso também é um entrave, mas essa relação de antes, construída a partir de outras experiências, ajudaram muito. 

Carlim (Oganpazan): Nas duas edições do Dopesmoke que foram realizadas em 2019, os line ups foram compostos principalmente por bandas baianas, a maior parte delas do interior. Acredito que um dos objetivos do Dopesmoke, senão o principal deles, é dar visibilidade às vertentes musicais extremas baianas, fazendo um recorte a partir das bandas que representam essas vertentes no interior.  Tanto que o festival leva o lema Metal Com Dendê, demarcando bem a identidade cultural do evento. Gostaria que você falasse um pouco a respeito. 

Cartaz com as logos das bandas que fazem parte do Dopesmoke 2021.

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Então, dar visibilidade a essas bandas baianas é sem dúvida um dos principais objetivos nossos e todo festival ele tem esse poder de chegar mais longe e de criar mais expectativa tanto nas bandas, mas também no público e na imprensa. No caso da edição Metal com Dendê apresentamos uma proposta de apresentar um recorte do que é a cena metal na Bahia, toda sua força e a qualidade das bandas, mas o festival também tem por objetivo conectar outras cenas, outros estados e até outros países, não é o caso específico desta edição no que diz respeito a grade, mas o fato de acontecer online, acredito que vai impulsionar muito o festival nacionalmente e até fora do país. 

Carlim (Oganpazan): Na primeira edição os Ratos de Porão foram head line, na segunda edição foi o Brujeria, e esta edição contou ainda com o The Mist, os mineiros que assim como os mexicanos, completaram 30 anos de carreira em 2019. Colocar essas atrações no festival foi uma estratégia para chamar público e dar visibilidade às bandas locais? Como foi a negociação com essas bandas e a definição das mesmas para compor as atrações do festival? 

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Velho eu sempre quis produzir um show do Ratos de Porão, já vinha tentando a algum tempo mas sempre rolava algo que adiava o plano, trazer eles para a primeira edição do festival foi como juntarmos o útil ao agradável, seria legal ter um show de RDP em Feira? Claro que seria, mas seria muito mais foda se eles fossem headline de um festival. E isso já responde sua pergunta sobre estratégia, mais do que ter grandes atrações, criar festivais na minha opinião é um caminho poderoso para fortalecer cenas musicais e artistas de determinada região, esse é um dos papéis de um festival, ser aquele espaço de multiplataformas e que conecta muito mais pessoas e por si só, fazer parte da programação de um evento assim já é importante para garantir alguma visibilidade. Para além disso, todo evento tem um custo, e no caso dos eventos independentes, para se cobrir esse custo é necessário vender ingressos e aí por lógica, para vender ingresso  que se pensa em atrações mais conhecidas que só de anunciar já causa frenesi e burburinho, isso é fundamental como estratégia de sobrevivência de qualquer evento. Não adianta fazer eventos só com artistas desconhecidos e apostar na curiosidade das pessoas, não funciona, tem que pensar estrategicamente, trazendo artistas que tem a ver com aquele evento e que já tem um público formado e juntar com artistas que ainda está formando seu público ou com bandas que têm públicos menores, ainda tem outras linguagens que podem ser inseridas, artesanato a galera que trabalha com produtos do underground, camisas, acessórios, enfim, a soma disso tudo pode gerar um resultado poderoso. 

Setlist do primeiro dia do Dopesmoke.

A data do festival, das duas edições foram pensadas a partir das datas das atrações principais, Brujeria iria fazer uma turnê no Brasil e já existia uma proposta de data e a partir dessa ideia a gente foi pensando as outras atrações, apesar de termos na programação Brujeria e The Mist como headlines, a gente sempre se fazia a pergunta, como podemos deixar a programação mais poderosa? E a resposta foi incluir nomes fundamentais de nosso estado como Malefactor, Drearylands e nomes do interior como a Deformity Br e a Martyrdom, mas mesmo quando pensamos em nomes menos conhecidos por aqui a gente teve o cuidado de pensar em bandas que com certeza surpreenderia o público como foi o caso da Pesta de Minas Gerais, nome importante da cena Doom/Stoner mas que não eram muito conhecidos por aqui. 

Carlim (Oganpazan): Um dos fatores que impressionam no Dopesmmoke é a organização do festival. Esse quesito é fundamental para o sucesso de um projeto como este, para sua consolidação, desenvolvimento e longevidade. Gostaria que você falasse um pouco sobre esse ponto relacionado à organização e como você avalia as duas edições anteriores?

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Como falei anteriormente, eu produzo o Feira Noise desde 2009 junto com um monte de pessoas que também acabou se formando como produtores ao longo desses anos em eventos como este, então quando surgiu a ideia de fazer o Dopesmoke junto com Alan Magalhães, Elimar e Fábio Oliveira, todo mundo já tinha uma carga de experiência de mais de 10 anos produzindo eventos, claro que experiência se ganha com erros e acertos e já erramos e acertamos muito ao longo desses anos, então claro que tivemos falhas nas duas edições, mas a gente errou bem menos por conta dessa experiência e isso foi fundamental para o desenvolvimento e consolidação do festival. E lhe digo, é gratificante ver público e bandas felizes como evento e junto com a gente orgulhosos do resultado. 

Carlim (Oganpazan): Em 2020 estava programada a terceira edição do Dopesmoke, que seria antecedida pelo Dopesmoke Metal Meeting, uma espécie de pré Dopesmoke. A data já estava marcada, dia 20 de março, vocês já estavam divulgando o evento nas redes sociais e na semana do festival o país parou por conta da pandemia. Chegava-se à conclusão da necessidade de tomar medidas de contenção da disseminação do Covid 19 e os decretos municipais e estaduais determinando a suspensão de shows, dentre outras atividades geradoras de aglomeração, levou ao cancelamento do Dopesmoke Metal Meeting e o tempo mostrou que ao vivo só pela internet. Fala pra gente um pouco sobre o impacto do cancelamento deste evento para vocês da produção, uma vez que o cancelamento se deu em cima da hora. Fale também sobre o momento em que vocês perceberam que não seria possível retomar as atividades no tempo esperado e perceberam que a situação se estenderia por tempo indeterminado. 

Setlist do segundo dia do Dopesmoke.

 Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Foi bem difícil cancelar aquela data, a gente estava com uma expectativa muito grande para o evento e teríamos 4 shows inéditos na cidade naquela edição. Tomar a decisão de suspender foi difícil porque a gente não estava entendendo bem ainda o que estava acontecendo e quanto tempo duraria essa suspensão, mas também era responsabilidade demais pra gente por um grande número de pessoas em risco junto com equipe e bandas, então decidimos suspender. A ideia era tentar juntar a programação com a de outro evento que a gente estava programando para Maio. Mas duas semanas depois a gente já tinha percebido que a coisa ia durar muito mais tempo. Como eu falei no início da entrevista é bem difícil fazer a parte de pré produção de um evento com pouco ou nenhum recurso, a gente sempre se desdobra e compromete até contas pessoais para garantir os contratos e nesse evento específico, tínhamos duas bandas de fora, com custo de passagens aéreas, também custo com aluguel do espaço, enfim, existia uma pré venda de ingressos mas que não garantia todos os custos necessários e a suspensão nos deixou no prejuízo, já havíamos pago parte do cache de algumas bandas e tudo isso ficou suspenso, mas logo depois de cancelar o evento, muitas pessoas solicitaram devolução de ingresso, e o resultado foi que ficamos com um grande prejuízo daquela data e nem sabemos quando será possível realizar aquele evento novamente. 

Carlim (Oganpazan): Falando em pandemia, este mês (abril/2021) teremos a edição online do Dopesmoke. Quais as dificuldades inerentes à organização de um festival de música neste formato? Como foi o processo de construção do Dopesmoke online?

Setlist do último dia do Dopesmoke 2021.

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): O principal desafio foi garantir com que tu ocorresse com máximo de segurança para os artistas e para a produção, mas houve outras questões complicadas também. Quando pensamos numa edição online pra um evento focado em bandas de metal, achamos que já seria um grande diferencial de diversos outros eventos que vimos, garantir que as bandas se apresentassem ao vivo e isso já é  mais da metade do trabalho de um festival tradicional, o que sai da equação para nós da produção são as demandas e questões que teríamos que resolver no que diz respeito a recepção do público, segurança e conforto para quem vai curtir o evento, mas no restante foi basicamente o mesmo trabalho,  atendimento às bandas, estrutura de palco, equipe técnica, tempo de troca de bandas no palco. 

Carlim (Oganpazan): Esta edição do Dopesmoke traz mais novidades além do formato online. Será a primeira com mais de um dia de shows. Serão 20 apresentações, 20 bandas, durante 5 dias de festival. O fato de ser uma edição com mais atrações, mais dias, deve-se ao fato de ocorrer online ou caso ocorresse presencialmente seria uma edição com essa mesma proporção? 

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): A gente já havia pensado em fazer uma edição com 2 dias presencial, mas algo assim demanda o dobro do custo e de trabalho, é plano fazer dessa forma mais pra frente mas no formato presencial ainda não seria possível, a menos que a gente conseguisse algo como o editla da Aldir Blanc. Eu gosto muito desse formato de festival com muitas bandas, acho que é o melhor momento para quem gosta de música, descobrir novos trabalhos e apreciar bandas que vc já conhece, gosto muito e se pudesse faria festivais com 1 semana de duração ou mais rsrsrs. 

Carlim (Oganpazan): Além dos shows, a edição atual do Dopesmoke terá uma oficina de fotografia, mesa de conferência e roda de conversa sobre a cena de metal baiana. Gostaríamos de saber um pouco mais sobre estes três eventos dentro do festival. 

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Então a oficina de fotografia a gente pensou com parte prática dentro do processo de gravação dos shows, mas o agravamento da pandemia não só fez a gente adiar as datas como também repensar o formato, era necessário diminuir mais ainda o número de pessoas circulando no espaço onde estávamos gravando as bandas. Os outros espaços de debate acredito que são fundamentais para desenvolvimento de nossa cena, é algo que a gente sempre fez em roda de conversas informais, ou quando encontrávamos os amigos, mas nunca fizemos de forma ampla como iremos fazer dentro da programação do evento. Acho essencial para olharmos de frente para os desafios e sobrevivência do underground. 

Carlim (Oganpazan): Podemos considerar que o sucesso do Dopesmoke é um sintoma da força do metal baiano? Como você avalia a atual cena underground baiana de modo mais amplo e da cena metal em particular?

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Acho que o sucesso do evento é reflexo de um conjunto de coisas, o esmero da produção, a paixão do público de metal e a força da cena baiana, essa combinação de elementos impulsiona e muito o Dopesmoke. A cena baiana sempre foi muito forte e resistente como todo homem e mulher do sertão, castigada, que vive nas margens mas que encontrou mecanismos para se fortalecer e se manter viva, admiro demais tudo que é feito, a galera que produz eventos, os selos, as bandas, enfim, acredito que podemos avançar muito, mas a cena underground baiana por natureza é muito forte. 

Carlim (Oganpazan): Podemos considerar que o Dopesmmoke veio pra ficar e que teremos mais edições pós pandemia?

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Sim, sem dúvida, vamos seguir trabalhando para isso. Contamos demais com apoio do público e das bandas, bem como dos profissionais envolvidos para que o festival siga se consolidando e crescendo, mas é um caminho árduo e o público principalmente é fundamental pra isso, é importante quando compra ingresso, quando adquire merchan do festival, tudo isso nos ajuda a refinanciar o evento. Estamos felizes com ele e queremos que aconteçam muitas outras edições nos próximos anos pós pandemia. 

Carlim (Oganpazan): Quais as suas expectativas com relação à cena underground baiana pós pandemia?

Joilson Santos (Dopesmoke Festival): Velho acredito que a cena é forte e vai seguir com tudo, mas a pandemia fragilizou muito a cena, porque se tratava de uma cena que ocupava muito pouco os espaços online, sempre foi algo palpável em tudo, é uma galera que compra CD, Fita K7, Vinil, é uma galera que compra fanzine, camisas, e frequentam shows, apesar de este último já alguns anos estarem esvaziados, mas é isso  a pandemia colocou uma única alternativa para nós que era o universo da internet e uma cena pautada no presencial sentiu muito, diversas bandas estão paradas, sem sequer ensaiar, percebemos isso ao longo do período que estávamos fechando a programação, mas como disse anteriormente é uma cena forte e que já sabe como sobreviver nas adversidades, então acho que no pós pandemia teremos uma retomada forte das atividades e agora com um UP que é a internet e o mundo virtual como aliado. 

Vejam o teaser abaixo e vejam o que vem por aí na terceira edição do Dopesmoke Festival. 

 

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