Oganpazan
Colunistas, Destaque, Entrevistas

Oganpazan entrevista a banda Holger de São Paulo

Um bate papo, no meio do expediente, com Pata, guitarrista e vocalista da Holger.

A banda indie mais tropical da face da terra, Holger, lançou esse ano o álbum “Relações Premiadas”. Conversamos com Marcelo Altenfelder, o “Pata”, sobre esse último lançamento e outros assuntos.

Dudu (Oganpazan): O “Relações Premiadas”, último lançamento de vocês, saiu agora em 2019. Fale um pouco do processo de produção dele, bem como quantos discos o Holger tem em sua discografia. Além disso, gostaríamos de saber se esse disco também foi produzido por Alex Pasternak, do Lemonade?

Pata (Holger): A gente fez o “Relações Premiadas” de uma maneira diferente, em verdade todos os discos do Holger tiveram um processo um tanto distinto entre si. O “Relações Premiadas” foi o primeiro disco que a gente realmente buscou assinar as músicas, colocar uma vivência individual em cada uma. Então… as músicas foram compostas em 2015/2016, em casa, brincando no computador e geralmente num processo mais solitário mesmo. Esse processo foi levado pra banda em 2017, o ano que a gente gravou, e a gente já tinha feito por volta de 17 / 20 músicas e a gente foi colocando pra banda, vendo quais músicas pareciam tocar mais de alguma maneira. A gente acabou gravando 12 músicas, sendo que dessas, 09 entraram pro disco e uma a gente já lançou como single. Ainda tem 02 ou 03 guardadas, agora não lembro exatamente quantas foram guardadas.

Esse álbum teve algo distinto que foi o primeiro álbum que não trabalhamos com nenhum produtor, a não ser o Gui e o Charles que já trabalham com a gente. O Alex trabalhou com a gente em dois discos e um EP, o “Ilhabela” (2012), “Holger” (2014) e o “Sexualidade & Repressão” (2016), e ai nesse a gente achou que era um disco de um período cru, mais urgente, tanto do ponto de vista social, político como pessoal e de bater no peito e dizer que a gente quis gravar ele cru, é um disco que tem o mínimo de produção, foi inteiro gravado ao vivo, a exceção das vozes, claro, foi gravado em 03 dias, apesar de a gente ter demorado a lançar. Então é um disco que a gente queria que tivesse essa urgência que dominou a gente no processo de composição.

Dudu (Oganpazan): Do EP “The Green Valley” (2008) pro álbum “Sunga” (2010), a gente consegue perceber uma mudança na sonoridade. O “The Green Valley” tem uma linha mais indie rock clássica, semelhante a muitas bandas europeias, já o “Sunga” tem uma mescla com ritmos mais tropicais, inclusive o nome já denuncia isso.

Do “Sunga” pro “Ilhabela”, não vou dizer que tem uma mudança tão absurda assim, pois vocês já brincavam com sonoridades da Latino América, porém o “Ilhabela e o “Holger” são dois discos que tem muito dessa brasilidade, sons mais praiêros e toda essa malemolência litorânea, vamos por assim dizer. Como foi esse processo de mudança? Foi natural? Vocês sentaram para decidir isso em conjunto ou foi uma descoberta pessoal, e coletivamente, que levou a trazer essas influências para a banda?

Pata (Holger): Então, a banda nunca seguiu a proposta de que vai soar assim ou assado. Hoje passados 10 / 11 anos do lançamento do EP “The Green Valley” e respectivamente dos outros discos fica mais fácil contar a história, porque já passou tempo. No “The Green Valley” a gente estava absorvendo muita coisa, o que a gente estava ouvindo era quilo e o ouvido foi abrindo, começou a entrar mais coisas daqui e dali, mais coisas brasileiras, com as turnês mais coisas eletrônicas, a gente foi circulando informações entre nós mesmos, tudo isso foi crescendo e refletindo muito que a gente ouvia, o que a gente vivia de disco a disco. Inclusive, foi mais ou menos esse processo que aconteceu com o “Relações Premiadas”, essa coisa dele ser mais cru, como havia dito anteriormente, acho que tem haver com o momento de vida que a gente tava.

Não é bem dizer que não tínhamos a necessidade de nos afirmar, de mostrar quem somos, mas também de pensar: “Mas tá, e se a gente quiser apenas deixar soar e sair o disco desse jeito”. E já dar maior coceira de fazer um novo disco e buscar formas diferentes de faze-lo. Uma das graças que é fazer música, ter a banda, é poder circular, poder camalear musicalmente, conforme o vento soprar, sendo que a gente que sopra o vento. As bandas que admiro muito, The Clash, Caetano, Bowie, têm essa naturalidade de mudança sonora, e conforme a vida vai passando a música tem que pulsar, tem que fazer sentido. É mais ou menos esse processo.

Dudu (Oganpazan): Eu já vi apresentações de vocês que o baterista estava tocando Guitarra e Bateria ao mesmo tempo, para além disso sempre teve uma troca entre vocês de instrumentos. Parece que vocês estão numa constante Jam Session.

A impressão que dar é que o Holger é um grupo de amigos que resolveu ir pro estúdio experimentar e se divertir tocando. Essa troca de instrumentos não é muito comum nas bandas, geralmente cada integrante tem seu instrumento fixo. Como funciona isso no Holger?

Pata (Holger): É bem por ai, sua leitura corresponde muito com a realidade. O Holger foi formado e viveu assim por muito tempo, uma banda de amigos que faziam jam e nessas jam’s, naturalmente, hora você pega o baixo, hora você pega a guitarra, é tudo muito comum ali, e esse clima a gente acabou preservando nos shows.

Com um tempo, acho que cada um acabou se apegando mais a seu próprio instrumento, mas a gente sempre preservou essa versatilidade de não ter ciúmes, de “ah eu toco isso e você toca aquilo”, então acho que sim, essa é uma característica da banda.

https://www.youtube.com/watch?v=XfK8NCUqqTw

Dudu (Oganpazan): E atualmente qual a formação do Holger? Ao longo dos anos teve alguma mudança?

Pata (Holger): Seguinte, na época que a gente estava gravando o “Holger”, o Arthur, que era o antigo baterista saiu da banda. Ele foi morar fora, estudar, e quem entrou foi o Charles Tixier, que está com a gente desde 2014. Além de tocar com a gente ele toca com a Luiza Lian, com o Grand Bazaar e com um monte de gente, além de também produzir.

Dudu (Oganpazan): Já vi uma entrevista de vocês, onde comentam sobre não buscarem um retorno financeiro com o Holger, não criar uma expectativa com isso. Pra gente que é do Hardcore / Punk, aqui no Brasil, essa é uma realidade constante. Atualmente, como é pra vocês esse pensamento?

Sabemos também que o outro lado da moeda, disso de não criar expectativa financeira, é termos que desenvolver funções extra banda para manter o sustento próprio e da família. Sendo assim, quais funções vocês desempenham extra Holger?

Pata (Holger): O lance de tocar sem esperar um retorno financeiro nos dar uma liberdade e prazer de fazer só da maneira que se quer e com uma liberdade de preocupação. O que é bom, mas óbvio que um retorno financeiro sempre cai bem, até pra poder reinvestir na banda.

Um dos nossos é músico, o Charles, ele vive de música, trabalha com isso. Seria muito bom se o mercado pudesse contemplar isso a todos, mas a gente acaba fazendo com o que dar.

Mas como a gente nunca teve a pretensão de viver disso, calhou de desenvolvermos outras atividades, sempre seguindo com projetos pessoais e profissionais paralelos. Eu sou psiquiatra, o Tché é editor de vídeos, o Pedro trabalha com produção de vídeos e o Rolla é chef de cozinha.  São atividades bem distintas, mas que acabamos trazendo um pouco dessa experiência pessoal para banda.

Dudu (Oganpazan): Vocês fizeram uma tour grande nos EUA, de Leste a Oeste, fale um pouco dessa tour e se já tocaram em algum outro país.

Pata (Holger): A gente fez essa turnê em 2012 ou 2013, não lembro exatamente, e putz foi animal! A gente montou ela (a tour) sozinhos, tocamos e alguns festivais, e não tem muito segredo, o negócio é ir e ficar voltando, montando, armando.

Antes dos Estados Unidos a gente já tinha tocado no Canadá, tocamos inclusive no Festival Pop Montreal, na cidade de Montreal.

No período de 2009 a 2012, a gente ficou indo repetidas vezes, a economia estava melhor e facilitava organizar essas viagens, fez com que criássemos laços de amizade e seria muito legal voltar a fazer isso.

Dudu (Oganpazan): De fato, a realidade do circuito independente é bem essa, a banda acaba tendo que arregaçar as mangas pra organizar, montar as tours.

Eu lembro que vocês chegaram a tocar no Festival Abril Pro Rock, em Recife, e sou bem frustrado com isso. Eu tinha comprado minhas passagens, idaXvolta, antes e estava no Festival no dia anterior, porém como eu disse minha passagem de retorno estava pro dia exato que vocês e o Skatalites tocaram, tentei até trocar, porém ia ficar bem caro.

Pois bem, depois disso não soube de mais shows de vocês pelos lados de cá. Vocês já chegaram em outros lugares do Nordeste? Têm vontade em fazer uma tour por essa região? Salvador, por exemplo, vocês nunca tocaram, há interesse?

Pata (Holger): Salvador a gente nunca tocou e sempre pesou no currículo da banda. É um lugar que a gente teve muita vontade de tocar e nunca rolou. Mas a gente já tocou em João Pessoa (PB), Recife (PE), Natal (RN), Maceió (AL), já tocamos em algumas outras cidades por ai, tipo São Luiz (MA), mas faz muito tempo que não tocamos por ai, acho que depois do Abril Pro Rock voltamos duas ou três vezes pra Recife.

Vontade tem pra caralho, foda é armar, organizar. Mas…Bora! Dá um jeito.

Dudu (Oganpazan): Contratantes, pelo amor jah, chamem o Holger pra Salvador!

Voltando a falar do último disco. Um ponto de forte de vocês sempre foram os clipes. Eu, por exemplo, conheci a banda via MTV, quando vi o clipe de “Let’em Shine Below”, fiquei apaixonado pela banda e fui buscar mais coisas. Mas tem outros clipes que acho bem fodas, o “Preguiça”, é um deles. Pro novo disco, como está essa questão do audiovisual? Já tem algum clipe sendo preparado?

Pata (Holger): Pois é, clipe é muito legal. O problema é que clipe geralmente é muito caro, mesmo clipe de orçamento baixo, mas que pra banda independente pesa um pouco. Então a gente teve uma puta ideia legal de clipe pra faixa “Tudo vai mudar”, mas a ideia está meio congelada por conta do orçamento.

Porém, está encaminhado o clipe de “Não vou me distrair”, que será todo em animação, sendo feito pelo responsável pela arte do disco, o DW, que inclusive já compôs músicas com a gente.

Dudu (Oganpazan): Foda!!! Adoro clipes em animação.

Você comentou que rolaram umas sobras do “Relações Premiadas”, vocês pretendem utilizar essas sobras para algum EP ou para compor algum novo álbum?

Pata (Holger): Cara, as músicas ficam guardadas. A gente gravou 04 a mais, uma a gente lançou, que está lá no Spotify, “Glossário”,  e tem outra que pretendemos lançar a qualquer momento, também nesse formato Single, que é “Montreal”. A outra a gente não sabe ao certo se vai lançar ela do jeito que foi gravada, mas podemos voltar a grava-la novamente.

Quanto as outras que não foram gravadas, às vezes volta, às vezes não, mas sei lá né, nunca se saber ao certo.

Dudu (Oganpazan): Irmão, muito obrigado pelo tempo desprendido, nessa segunda feira e no meio do expediente. Deixa um recado final para os leitores e leitoras do site.

Pata (Holger): Aos leitores de Salvador, nos levem para cidade! Peçam aos produtores locais, chamem Holger e sigam firmes!

A gente está em um momento mais do que fértil na cena independente brasileira, sobram artistas lançando álbuns bons pra caralho, em cada canto do país, pelo menos todo mês saem uns 3 / 4, então frequentem esses shows, façam essa cena girar, pra que isso continue assim e cresça ainda mais, esse é o nosso desejo, a nossa vontade.

E vamos derrubar esse fascismo no Brasil! Derrube seu tio fascista, derrube seu amigo fascista! Contra todos esses filhosdaputa que estão por ai!

Um grande abraços e viva as relações que são e devem ser premiadas de verdade.

Matérias Relacionadas

Matheus Coringa, Galf AC e Noshugah na potência da Repulsa

Danilo
1 ano ago

Maria Esmeralda, um melodrama de estética underground em 16 capítulos!

Danilo
5 meses ago

Djonga no terceiro disco, botando fogo no parquinho: Ladrão (2019)

Danilo
6 anos ago
Sair da versão mobile