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Toda versatilidade artística de Galf AC revelada!

Galf é um inquieto artista soteropolitano que transita entre diversas cenas. Sempre produzindo, mantêm-se coerente com tudo que se propõe a fazer. 

Batemos um papo com Galf para desvendar as 1000 faces desse verdadeiro camaleão musical.

Dudu (Oganpazan): Você é um cara que tem referenciais bem diferentes. Pode ser Batata da Fecal Fest, Galf AC do rap ou ainda atualmente Galf da Ivan Motosserra, como é isso de transitar por diversas vertentes musicais? Do surf music ao rap, passando pelo grind, com a Fecal Feast e a recente Äplästär.

Galf: Além das que você citou, participei da V.O.D., banda de gore/grind, das bancas Família Ugangue e Fraternidade Maus Elementos e atualmente, como você também disse estou com a ÄplästärEu passei um tempo morando em Alagoinhas/BA, porém com o termino do meu relacionamento retornei a Salvador, indo morar em Piatã, bairro próximo a Itapuã onde moram os gêmeos Rodrigo e Rogério Gagliano, os outros dois membros da banda, daí marquei de fazer um som com os caras e criamos a Äplästär, que era uma coisa que já tinha em mente em fazer, uma banda de grind/noise, com influências de jazz, algo mais inusitado e de pronto gravamos 22 tracks em duas sessões de estúdios. Por conta disso, da formação da äplästär, acabei ingressando na Ivan Motosserra, a outra banda dos gêmeos.

Dudu (Oganpazan): Vamos voltar um pouco em sua história, como foi sua inserção no movimento punk?

Galf: Então, quando eu tinha 13 anos já colava muito com os headbangers, curtia metal e ouvia muito metal. Mas, como eu vinha da periferia, eu sentia a necessidade de me encaixar em uma cena que me oferecesse soluções para os problemas que eu vivia e a cena metal tem toda sua particularidade, mas não era bem a minha realidade. Até que eu conheci o Napalm Death, que me iniciou dentro da caminhada do grindcore, foi quando deu o estalo de querer fazer a Fecal Feast.

Assim formei a Fecal Feast junto com Diogo “pingo” (Kalmia/Orelha Seca), que também era bem moleque e ouvia muito punkrock, acabei convertendo ele pra fazermos grindcore. Na Fecal eu entrei numa tara muito louca por grindcore, comecei a criar várias bases, a escrever várias letras.

E o grindcore é isso, a sonoridade de death metal, hardcore, thrash, com as temáticas ideológicas sociais, do descontentamento com o Estado, contra a arbitrariedade da Polícia, e isso tinha mais a ver comigo. Nisso a Fecal Feast durou entre 2003 a 2006, mais ou menos e em 2006 eu entrei em um projeto tocando bateria, que foi o Vomit Organ Decomposition, V.O.D., onde fizemos vários gig’s na cidade, com bandas de black metal, death metal, justamente por não existir nenhuma banda do estilo que pudesse fechar conosco, apenas depois de um tempo que foram surgindo mais bandas no estilo goregrind na região.

Dudu (Oganpazan): E no rap, como se deu?

Galf: Eu já vinha da experiência do punk, porém comecei a sentir a necessidade de expressar melhor o lance das letras, porque a ideologia do grindcore em si é uma onda social, é periférico, é contra o genocídio dos negros, contra esse governo que a gente vive de exploração, de uma verdadeira máfia e foi quando eu tive a necessidade de expressar isso melhor.

Tive contato com meu primeiro grupo de rap das minhas quebradas, que já admirava e curtia demais. Ai resolvi mostrar uma letra pra um cara que tocava nesse grupo, e ai esse cara achou massa a letra, a minha forma de se expressar, a minha escrita. Após um tempo surgiu a oportunidade de integrar esse grupo, Aspecto Cordial, por isso a expressão GALF AC, porque eu pertencia ao grupo Aspecto Cordial.

E assim começou a minha caminhada, depois disso comecei a lançar uns trampos solos, adentrei no selo Ugangue, juntamente com outros MC’s, como Vandal, Daganja, Dimak, o grupo Nova Era, Kiko e a gente iniciou essa caminhada da Ugangue que acabou ocasionando diversas apresentações pelo país, alguns lançamentos de discos. Em paralelo eu movimentava outro coletivo, que era o Maus Elementos, que também tem trabalho lançado e diversas apresentações locais.

E eu sempre tive essa necessidade de produzir, de me expressar, querendo sempre que as coisas acontecessem, me cobrando muito por isso, o que gerou um reconhecimento legal dentro da cena rap, mas sempre com essa base da subcultura hardcore, bem pés no chão, sem criar expectativas com coisas aleatórias, porque pra mim tudo tem uma causa, um ideal, tudo tem um objetivo, e acho que isso é o que falta não apenas na cena rap, como em toda cena independente. E no rap eu encontrei essa forma de me expressar de um jeito mais claro e acessível, pois já fazia isso no grindcore, com indignação e agressividade, mas no rap consigo fazer isso de forma mais compreensível.

 

Dudu (Oganpazan):  Atualmente você já é membro fixo da Ivan Motosserra, como foi esse processo de entrada na banda?

Galf: Os caras tinham uma minitour agendada no centro oeste, que seriam shows no Goiania Noise (GO) e Picnik, de Brasília (DF), porém o baixista que estava tocando com os caras não pode ir, por motivos pessoais, ai os caras chegaram 03 dias antes dos shows e perguntaram se eu queria colar no baixo.

Pelo curto tempo, eu já avisei aos caras que faria o possível para pegar o máximo de música que pudesse e ai foi acontecendo, assim mesmo sem um ensaio entre os 3, já que Rogério mora em São Paulo, mas rolou e acabei entrando na banda, até pela afinidade que temos entre nós e admiração que temos uns pelos outros, sendo esse um dos maiores motivos de eu estar na Ivan Motosserra hoje.

Fora que desde muito jovem eu nunca me prendi muito a estereótipos, porque acho que você tem que ouvir aquilo que lhe faz bem. Ao mesmo tempo que ouvia grindcore, por exemplo, eu ouvia um monte de rap gringo, bandas de splater, technocore, noisegrind, eu sempre gostei muito de me permitir a conhecer coisas novas.

Dudu (Oganpazan):  Você falou que é muito inquieto com relação a produção, atualmente como está essa fábrica de criatividade ai?

Galf: Muita coisa engatilhada, trampo novo meu como rapper, tem os trampos da Äplästär que já estão gravados, estamos também produzindo coisas novas da Ivan Motosserra, mesmo tendo entrado recentemente na banda.

Inclusive eu tenho um problema que é achar pessoas que correspondam essa minha inquietação por produzir, de querer fazer mesmo as coisas. Eu escrevo bastante, crio muitas bases, tudo feito como muito amor, por acreditar mesmo, sem criar muitas expectativas, prezando sempre pela intervenção artística na música e na não música, não importa, e isso possa abrir a mente das pessoas para não se limitarem naquilo que desejam fazer.

 

Dudu (Oganpazan):  Também com a Ivan Motosserra, depois da tour no centro oeste, vocês fizeram um show no SESC Santana, na Zona Norte de São Paulo. Anteriormente a isso, você já se apresentou na capital paulista no seu trampo como rapper, quais as diferenças que conseguiu notar nessas duas experiências?

Galf: É isso mano, são públicos diferentes, mas eu acredito muito no respeito mútuo, por isso eu nunca me limitei a pertencer a nada.

E isso acaba sendo proveitoso, pois consigo absorver distintas experiências nos ambientes que estou, me transformando e transformando mente de pessoas.

Mas pra mim continua sendo a mesma coisa, diferente mas a mesma coisa, pois nos dois espaços, no rap ou no rock, têm pessoas em busca de evolução e de novas concepções, ou acredita naquilo por alguma questão em sua vida.

Foram experiências muito fodas, que me permitir viver e da minha parte só tenho a somar nessa caminhada, tanto na Ivan Motosserra, na Ugangue ou na Äplästär. Sinto que me potencializo. Eu me potencializo fazendo grindcore, eu me potencializo fazendo rap, eu me potencializo tocando guitarra, é uma coisa que uma subversão para mim mesmo, estando cada vez mais em estado de metamorfose no decorrer dos anos.

Dudu (Oganpazan):  Então irmão, pra mim atualmente você é melhor rapper soteropolitano e um dos melhores do Brasil. Mas, muitas pessoas ficam essa pulga atrás da orelha, com relação a atestar mesmo a excelência do seu trampo pelo fato de ainda não ter lançado um disco.
Eu até discordo um pouco dessa afirmação, muito pelo lance de considerar Marechal (RJ) um dos rappers mais picas que esse país teve e até hoje não bufou um disco nas ruas, mas independente disso, o que rola pra esse disco não tá na rua? Opção mesmo, falta de grana, acha mais viável lançar singles?

Galf: Eu acho que essa onda de você lançar um disco vai muito além de lançar o disco, é um estado de espírito.
Estou com um disco praticamente pronto, com o intuito de lançar ele em breve, se tudo der certo isso vai acontecer.
Mas é que por muito tempo eu optei mais pelo lance do coletivo. Eu sou fã de Wu Tang Clan, Pharcyde, e pra mim o rap em si é questão de união, de comunicação mútua, tanto que quando faço participações em faixas prezo muito por escrever na hora, no estúdio, compreendendo as ideias das músicas.

E essa questão do disco mesmo é algo que eu mesmo tenho me cobrado, e até entendo outros olhares que as pessoas possam ter, já ouvi isso antes, já me cobraram, mas acho que cada coisa tem seu tempo, seu significado, e isso envolve muito eu estar bem comigo mesmo, e nesse momento eu estou me sentindo bem comigo, então acho que é o melhor momento para isso.

O disco está pronto, são 08 tracks, todas produzidas por um beatmaker soteropolitano, que eu prezei muito por isso, pois tem muita gente local trabalhando sem o devido reconhecimento.

Mas assim, na real eu sempre taquei o foda-se pra isso, pra essa cobrança do disco. Como eu disse eu sempre prezei muito por essa produção coletiva, então acho que gravei mais de 80 tracks por ai, com meio mundo de gente, proliferando minhas ideias, minha ideologia de rua em si.

É isso, está chegando a hora dele sair, vem com instrumentais de Calibre Beats, Márcio MU, representando Salvador.

Como rolaram viagens com a Ivan Motosserra, mas as produções também da Äplästär ainda não rolou de entrar em estúdio pra gravar ele, mas logo vai sair nas plataformas digitais, bem como clipe.

 

Dudu (Oganpazan):  Gostaria de saber sua opinião sobre a projeção dos artista locais a nível nacional. Muito se falou por ai, às vezes até por pessoas que não são da cena rap, que após do lançamento da faixa “Sulicídio”, musica de Baco (BA) com o Diomedes (PE) foram abertas as portas para toda cena rap do Nordeste. Foram abertas portas? Por conta o lançamento do Sulicídio as pessoas começaram a consumir mais os artistas locais? Tem rolado da galera local ir fazer shows no Sudeste, em grandes festivais?

Porque o que muito se fala por ai é que “Sulicídio” foi um divisor de águas pro rap nordestino, foi isso mesmo?

Galf: No meu ponto de vista não mudou nada, não teve olhar nenhum pro lado de cá. Acho que isso foi um jogo de marketing de Baco com Diomedes que deu certo pra eles.
Tipo, esse lance sempre existiu no rap mundialmente, da treta, da discórdia, da diss, das inimizades, pessoas até que invariavelmente andavam juntas e acabam se rebelando um contra o outro.

Acho que isso que se fala na mídia, nos sites, em programas, é o que a mídia faz mesmo, a mentira e sempre levantando a quem tá dando mais, a quem tá atendendo as suas expectativas. E ai no momento que você não entra na engrenagem deles, você se torna um ser desagradável.

Como eu mesmo já vi vários por ai subir no palco e falar meu nome ou tipo “Galf o melhor do Brasil”, sendo que na verdade Galf é uma ameaça.

Eu acho que esse papo de abrir portas é uma grande falácia, nunca vi Baco fazer nada por ninguém  e se ele está fazendo é o que deve fazer mesmo, não faz mais que a obrigação dele, acho que cada um tem que trabalhar e conquistar o seu espaço.

Eu, particularmente, sou desligado dessas ondas de diss, de treta de rap, até porque se eu alcançar algo com o rap, será fruto do reconhecimento do meu trabalho, do quanto eu me esforço para causar uma indignação com tudo isso que está acontecendo em nossa sociedade, trazendo para as pessoas um verdadeiro sentimento de revolta. Então isso pra mim, o rap, é para além de fama ou holofotes, nós somos pais de família, precisamos ganhar uma moeda. A gente perde, mas sempre ganha.

A história que estão passando ai é de um hype, um game, onde a maioria das pessoas estão fudidas.

E especificamente falando de “Sulicídio” é uma música que não curto, é paia, fraca, as ideias não batem, e até os caras mesmos é uma linha de rap que não escuto, eu curto outra linha de rap e pra mim o rap é além da música, é a vivência, é o conceito. Não existe hype pra mim, existe o conceito da rua. E se a rua está compreendendo aquilo que estou falando, se meus amigos de infância, os que estão vivos assim como eu, mais um sobrevivente, estão conseguindo assimilar e ter aproximação com aquilo que eu falo pra mim é o suficiente, o que vier é lucro.

Lógico que queremos nosso lugar ao sol, mas não a qualquer custo. Eu vejo esses caras como cosplay.

https://www.youtube.com/watch?v=1-oXB5tKASI

Dudu (Oganpazan):  Concordo demais contigo irmão, acho que pra você galgar seu lugar ao sol não precisa desfazer de ninguém, ainda mais se for deliberadamente, sem qualquer histórico de uma treta ou coisa do tipo, tão somente para aparecer.

Você falou sobre suas parcerias, os famosos feats. Mas vou lhe dizer que, na boca miúda, sua alcunha tá sendo de rouba faixa. Eu sendo rapper jamais lhe chamaria pra porra niuma. A julgar pela faixa “Oração”, que fecha com chave de diamante o disco do Nova Era, de fato você é famoso ladrão de faixas.

Então me fala um pouco mais sobre esses esquemas de parcerias.

Galf: Eu prezo muito essa onda da participação e de acreditar no coletivo, porque que cresci aprendendo isso com o hardcore, com o punkrock, onde as pessoas que tem um real comprometimento com a cena, são bem reais e bem ativas naquilo que fazem, e ai quando eu adentrei no rap eu já vim com esse conceito de coletividade, assim esse lance foi muito natural.

Porém no rap em si já tinha muito dessa coletividade, eu por exemplo logo quando estava gravando minhas primeiras músicas muitas pessoas também me abraçaram. Pessoas como o Diego 157, que me parou na rua e de pronto me chamou para gravar em sua casa, e assim gravei várias faixas com Diego, muitas que nunca foram lançadas.

E voltando a esse lance das parecerias, é uma coisa que realmente fiz muito. Gravei com o Nova Era, gravei o Rádio Ugangue Vol. 1, participando em 09 tracks, no Rádio Uguangue Vol. 2, participando em 07 tracks, gravei o Maus Elementos, foram mais 05 tracks, gravei com Daganja, gravei com Dieguito da Vivendo do Ócio, gravei com Diego 157, gravei com Nós por Nós, gravei com o Saca Só, gravei com o pessoal de Alagoinhas, com o pessoal de São Paulo, entre outros e ai foi se criando essa identidade minha, não foi nada pensado em “Ah, eu vou gravar com um monte de gente”, foi acontecendo naturalmente.

Assim eu acabei gravando com muitas pessoas do rap e fora do rap, e isso me fez chegar onde estou.

E é isso, os parceiros que vão estar comigo, estarão para vida toda, o que é mais importante.

 

 

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