Em The Masterplan o Oasis provou que é possível fazer um grande disco somente com b-sides.
Estamos em 1998, um ano depois do famigerado, elogiado e depois execrado Be Here Now (1997), e por questões contratuais o Oasis teria que lançar um novo álbum. A proposta do então líder da banda Noel Gallagher foi a de fazer uma grande votação pela internet para que os fãs da banda escolhessem as músicas do próximo álbum a ser lançado.
As músicas que estavam à disposição dos fãs eram “apenas” (e vocês entenderão qual a razão da utilização das aspas) os b-sides lançados pela banda. A cria ganhou o nome de The Masterplan e foi lançado no dia 2 de novembro de 1998.
O que esperar de uma coletânea de b-sides? O que poderia vir de bom em músicas que foram preteridas em relação a outras? Será que Noel Gallagher era tão bom que até os b-sides poderiam ser considerados clássicos? Antes de tentar responder a tais perguntas seria bom explicar rapidamente o que são b-sides.
Resumindo, as músicas de um determinado disco com maior potencial de venda eram lançadas separadamente em espécies de mini álbuns, os singles. Elas são as escolhidas para tocar nas rádios, ganhar videoclipes e chamar atenção para o lançamento da obra completa. São chamadas de a-side pois em vinil essas são as faixas que compõem o lado A do disco. No lado B a banda colocava músicas que não estariam no vindouro CD, essas ficam conhecidas como b-sides.
No caso do Oasis geralmente havia três b-sides em cada single.
Pois bem, voltemos aos fatos. Será que haveria mesmo qualidade nessas músicas, ou era simplesmente a famosa arrogância de Noel falando mais alto? Para nós, apreciadores do Oasis, alguns b-sides são considerados clássicos, e sempre nos perguntamos por que diabos eles não saíram nos CD’s. Voltamos então à pergunta: é possível fazer um grande álbum só com b-sides?
Como responder de forma negativa essa questão quando a música de abertura se chama Acquisece? Um típico rock com a assinatura de Noel, que é capaz de levantar estádios com a famigerada parede de guitarras e com uma letra exalando otimismo. Dizem que essa música foi escrita por Noel tendo em mente a relação de afeto/rejeição que marcou a sua trajetória ao lado de Lian, pois o refrão cantado por Noel é muito emblemático: “Porque nós precisamos um do outro / Nós acreditamos um no outro / E eu sei que vamos descobrir / O que dorme em nossas almas”. Pode parecer estranho, mas os brutos também amam.
Passemos então para uma música com a natureza do punk rock. Poucos acordes, vocais acelerados e uma letra um tanto quando melancólica: “Enquanto vivemos / Os sonhos que temos quando crianças / Desaparecem”. E quando ouvimos Fade Away percebemos a influência que o punk rock teve na musicalidade do Oasis em especial os Sex Pistols. Pois é, nem só de Beatles viveu o Oasis. Outra curiosidade é que essa música teve duas versões, essa mais punk e outra mais leve cantada por Noel com a participação especial de Johnny Deep, então muito amigo dos Gallaghers – tanto musicalmente quanto entorpecentemente, se é que você me entende.
The Beatles! Por favor, toquem Beatles! Sim eles obedeceram ao nosso clamor. Na sequência do álbum somos presenteamos por uma estupenda apresentação ao vivo da clássica canção I’m the Walrus dos Beatles, que se encontra no álbum Magical Mystery Tour (1967). Guitarras ensurdecedoras, distorções alucinantes. Ouvimos nesse cover uma pequena síntese das influências de Noel: Beatles e Pistols. A letra lisérgica de Lennon se encontra com a raiva da sonoridade punk, aliada ao cinismo da expressão “the walrus” que ao pé da letra quer dizer “a morsa”, mas é também uma gíria que significa algo como “o melhor”. E cá para nós, Noel era o melhor.
Bom, ouçam a versão do Oasis e tirem suas próprias conclusões.
Chegamos enfim numa música do Oasis que eu tenho uma admiração especial. Trata-se da linda (It’s Good) To Be Free. Aquela atmosfera juvenil e de rebeldia característica do rock’n roll se objetiva nessa canção. É sempre bom ser livre, e nada melhor do que ser livre tocando em uma grande banda de rock. A felicidade estaria vinculada à simplicidade? Para Noel talvez sim: “Mas as pequenas coisas me fazem feliz / Tudo que quero fazer é viver perto do mar / As pequenas coisas me fazem tão feliz / Mas é bom, é bom, é bom ser livre”.
E para terminar meus amigos (calma que em breve estarei de volta) falemos da maravilhosa Stay Young. Sabe aquele espírito roqueiro que nos faz sonhar em viver uma juventude eterna, sem as muitas preocupações que marcam a vida cotidiana do trabalho alienado? Aquela sede de viver nossas vidas e de sempre buscarmos nossas felicidades? Pois é, ouçam Stay Young e vocês verão uma canção que consegue materializar tudo isso e que nos faz recarregarmos nossas vidas com um sopro de esperança.
Adorno, ainda bem que você já morreu! Stay Young é isso e muito mais! Talvez o Oasis se caracterize por ter canções para frente, otimistas, tanto em sua sonoridade quanto nas letras – malgrado a existência de canções melancólicas o pêndulo sempre recai sobre o otimismo. Como o próprio Liam canta nesta faixa: “Ei! Continue jovem e invencível / Porque nós sabemos o que somos / E venha o que vier, nós somos impossíveis de parar / Porque nós sabemos o que somos”.
P.S: A música Acquiesce se encontra no single de Some Might Say. Fade Away e I’m The Walrus em Cigarretes & Alcohol. (It’s Good) To Be Free em Whatever. E por fim, Stay Young em D’You Know What I Mean?
Por Hidemi Miyamoto