Testemunhem o que a cena hardcore pode fazer por vocês! Nessa matéria você encontra depoimentos de pessoas que passaram pela cena hardcore e o que isso influenciou em suas vidas.
A cena hardcore sempre foi bem heterogênea. Diversos gêneros, diversas classes sociais e aquela máxima “somos todos iguais”, nunca colou muito. Na verdade, tem-se de ter em mente justamente o inverso: NÃO SOMOS IGUAIS! E dentro dessas diferenças devemos buscar os pontos em comum para construir algo coletivamente e produtivo.
Foram muitas pessoas que passaram e deixaram sua contribuição para cena hardcore local (baiana/soteropolitana). Cada pessoa que passou teve sua importância. É um erro grotesco de toda uma cena desconsiderar as pessoas que passaram simplesmente por elas não estarem mais tão ativas ou terem seguido outros rumos. Essas pessoas têm sua história, deram sua contribuição e merecem todo o respeito da cena.
Contudo, nesse artigo não iremos discutir sobre a contribuição dessas pessoas para cena e sim sobre o que a cena hardcore deu de contribuição para vida dessas pessoas. O hardcore, muito mais que música ou uma subcultura dentro do punk é um estilo de vida. Desse modo, não tem para onde correr, ele fica impregnado em nossas vidas.
Qual a importância do hardcore em sua vida?
CAROL REIS
Para Carol Reis, ter passado pela cena hardcore construiu tudo que ela é atualmente.
Carol diz que: “Ter um trabalho aonde eu pude me relacionar com meus valores, conceitos e ter a liberdade de aprofundar e explorá-lo, faz parte dessas bandeiras que sempre nortearam meus pensamentos. Libertação humana, libertação planetária, libertação animal! O hardcore produziu em mim meu melhor laboratório, algo que dentro da modernidade líquida as pessoas não teriam a mesma experiência. Todo mundo é tudo e não é nada. Demorei muito para ser essa tudona que sou hoje”. Segundo Carol “a diferença atual é deixarmos os velhos padrões que nos limitaram a apresentar o projeto que nos tornamos. Somos fodas, mas a contra cultura, as vezes parece que só quer estar entre os seus, e na vida real, as pessoas são manipuladas e recebem um monte de informações sem base empírica, histórica ou científica”.
Por fim, ela questiona: “Podemos continuar exercendo essa ponte. Me digam, qual panfleto despertou a ser diferente?”
De acordo com o pensamento de Carol, atualmente há uma mudança significativa na sociedade, onde os textos são virtuais e ela acredita que se deve expressar mais com o engajamento que sempre fez parte da cena hardcore.
Carol Reis além de ser sócia do Restaurante Rango Vegan, está se graduando em Nutrição e labora como Terapeuta Ayurveda. Ela fez parte da banca de meninas do hardcore que faziam autodefesa feminina, o Wendo SSA. Também foi vocalista das bandas xCaminhando sobre Espinhosx e Egrégora.
Rangel “Mobiu” Santana
De uma geração um pouco anterior a de Carol, sendo da primeira leva de Straight Edge’s de Salvador, Rangel “Mobiu” Santana nos fala como foi sua experiência pela cena hardcore:
“Agregou muitas amizades, uma visão política e coletiva. Penso que o HC foi uma boa base pra eu entender o HipHop pra além dos elementos artísticos. Me ensinou que é possível fazer boa música com simplicidade e a viver com mais verdade”.
Rangel levanta um ponto de muito incômodo na cena, que é a branquitude. É inconcebível que tenhamos uma cena branca em uma cidade como Salvador. O hardcore é político e contestador em sua essência, não há margens para conformismo. Para além disso, muitas pessoas que transitaram pela cena hardcore são pretos e periféricos, porém infelizmente por muito tempo foram invisibilizados. Creio que muito por isso Rangel afirma certeiramente que: “De outro lado me despertou pra ausência de uma vida mais próxima da comunidade preta, do lugar de onde vim, e um espaço pra construir poderes pra mudanças maiores que a bolha que a cena muitas vezes cria”.
Por conta desse afastamento e por sentir-se mais acolhido, como homem negro, pela cena rap, Rangel foi construir junto ao movimento Hip Hop local. No rap de Salvador se tornou um dos pilares do que se conhece como a atual cena soteropolitana.
Dentro da cena hardcore Rangel tocou baixo na banda Sem Acordo, tendo escrito uma das letras mais bonitas do hardcore nacional, “Eu te amo”, com múltiplas interpretações dos ouvintes.
Profissionalmente, Rangel Santana trabalha em uma agência de publicidade. Desenvolve algumas estampas para a marca VENTS e está escrevendo alguns projetos. Sempre buscando um investimento de tempo para transbordar o tanto de conteúdo que absorve.
Paulo Diniz
Oriundo de gerações posteriores as dos citados anteriormente, Paulinho foi guitarrista de uma das melhores bandas de Punkrock de Salvador, a Anima.
Ele relata que atualmente, apesar de sua graduação no curso de filosofia e experiência nas mais diversas áreas, tais como atendente, vendedor, operador de impressão e fotocópia, telemarketing, servente de limpeza, produção de conteúdo em mídias sociais, praticante de amor fati etc., encontra-se desempregado.
Contudo, jamais abandonou a música. Saindo um pouco, musicalmente do gênero punk, ele tem algumas músicas que foram gravadas por Giovani Cidreira. Sendo algumas do seu primeiro EP solo e outras do álbum “Japanese Food”. Além de outra faixa gravada por Soledad com arranjo de Fernando Catatau, que chama “Dança da Chuva”.
Para Paulinho a cena hardcore agregou demais em sua vida. Ele relata:
“Eu sou um bicho doentão, cheio de problema na cabeça, com dificuldade danada de me engajar socialmente, quanto mais politicamente, além de ter uma dificuldade geral pra expor minhas ideias e tender a uma certa paranoia. Então pense numa parada que te faz querer se engajar, aprender e no final das contas ainda me expor? Isso fora a quantidade de gente foda que eu só conheci graças à cena e outras que eu conheci em outros ambientes, mas que só mantive tanto contato, independente do quanto eu goste delas, se não fosse essa digamos “proposta em comum” (como você e Rodrigo, tropical punx da nordestiníssima Saco de Vacilo, que pra meu orgulho usam camisas claras)”.
E continua:
“Mudou tudo em minha vida, pô. Muita viagem pensar que eu comecei a curtir um som, que me influenciou a definir melhor as ideias que eu já tinha sobre o mundo. Tudo isso através de discussão que era baseada em vivência e convivência. Se eu dependesse de universidade (que teoricamente é o lugar disso), eu tava fudido, que sozinho eu penso um monte de merda. E eu não precisava me definir que tipo de punk, nem que tipo de anarquista ou comunista que eu era, pra participar dessa parte discursiva das dinâmicas que rolavam, nem de nenhuma outra dinâmica. Se parar pra pensar, esse caminho da arte pras ideias faz o caminho de volta também. Senti, depois pensei, depois discuti, depois fiz sentir de volta. Tá ligado? Até hoje nunca me percebi vivo, útil e ativo assim em nenhuma outra atuação, em nenhuma outra instituição. Então isso alimenta, tá ligado? Eu preciso cuidar de minha sanidade mental pra caralho e só isso já é um puta dum faça-você-mesmo.
Então desde Anima, passando por Weise e ainda hoje ainda acredito usar o mesmo som/pensamento minimalista, ácido, sujo, urgente e despojado de muita ganância ou vaidade a não ser essas de expor suas ideias desse jeito cru, na arte e na vida”.
Paulinho além de ter feito parte da Anima, tocou em uma banda hardcore melódico chamada Cessar Fogo e mais tarde formou a Weise, que faz mais uma linha indierock. Atualmente ele se dedica a seu projeto solo, gravado de forma amadora e totalmente Faça Você Mesmo. O nome do projeto é Cãoexpiatório.
No bandcamp vocês poderão ouvir uma gravação, que segundo Diniz é muito ridícula. Ele conta que fez o álbum todo sozinho em 2017, o “Sdds KKK”, quando ainda tinha dificuldade em aceitar a vida de projeto solo e não sabia nada sobre mixagem.
Paulo revela que, apesar de serem ridículas e gravadas amadoramente, adora as músicas que estão disponíveis, mas é péssimo de ouvir. Segundo ele, mês que vem, no máximo em setembro, vai sair o “Boa noite, vizinhança”, com uma gravação melhorzinha, nos restar aguardar.
Ele ainda conta sobre o processo de gravação caseira, indicando que “Graças ao punk/hardcore, eu não pensei duas vezes em cortar o galão de água pra colar uma espuma velha e tentar isolar o mic com o que tenho em mãos, só pra dar um exemplo. Pode ser merda nenhuma pra maioria. Pra mim é comida de alma dessas que mobiliza o jeito de ser, é tipo uma macumba ou maconha”.
Ludmila Cunha
O famoso bonde do PHD.
Falar da cena hardcore da década de 00’ e não mencionar a porta do colégio PHD, que se situava na Pituba é ignorar parte da história. Na porta do colégio reunia-se garotos e garotas do hardcore que estudavam nos mais diversos colégios da região. Ali era um ponto de encontro para comprar discos, conversar, interagir, divulgar shows e firmar laços.
Ludmila era aluna do PHD e foi bem ativa na cena hardcore nesse período. Ela fez parte do Wendo SSA, ajudou na divulgação da cena através de artes e fotos, bem como sempre se fez presente nos eventos, dando suporte a cena local.
Ludmila é designer de formação acadêmica, com especialização em design editorial, atualmente faz trabalhos esporádicos nessa área e atua como publisher de uma revista/coletivo chamada Flor de Dendê, que funciona como uma aliança afro sertaneja.
Para além disso, Ludmila iniciou os estudos na Permacultura, principalmente na Bioconstrução e encontra-se desenvolvendo um projeto chamado Caaporã , que foi iniciado no Vale do Capão e terá continuidade na praia de Moreré, Ilha de Boipeba. Ela explica o projeto: “O projeto tem como foco uma hospedagem consciente e sustentável, procurando causar o mínimo impacto ao meio seja social ou ambiental na passagem de viajantes e turistas por esses vilarejos”. Segundo Mila, “O Caaporã Moreré está em fase de projeto de engenharia e arquitetura e conta com a força de trabalho de grandes mulheres dessas áreas, o desejo é que toda a equipe do projeto seja liderada por mulheres”.
Em tempos de pandemia, a inquieta Ludmila, aproveitou para estudar um pouco mais sobre o universo circense, e se viu na transição do papel de aluna/artista para o de professora, com isso ela tem ministrado aulas online pela LifeCirco Salvador, onde já realizou um curso de formação de professores.
Ludmila, que viveu a cena Hardcore na maior parte da sua adolescência e início da fase adulta, diz que o hardcore “agregou valor e formou muito do que sou hoje. O Hardcore não é só a música em si, essa vivência me aproximou das questões políticas, esclareceu e acalentou parte dos meus incômodos na minha formação como pessoa. O movimento Straight Edge pautou na minha vida questões como racismo, estruturas sociais e especismo e me aproximou muito do feminismo. O colocar a mão na massa, a busca de realizar por conta própria, também vem muito da inspiração dessa época, onde as ideias e ideais se concretizavam com o pouco que tínhamos em mãos, iniciei meus estudos em fotografia e design nessa época e acabava fotografando os amigos, suas bandas e contribuindo com o design das capas e encartes dos cd’s”.
Para Ludmila, o que ficou da sua experiência na cena hardcore foi o posicionamento, a compreensão da importância de apoiar lutas e assumir resistências, assim como de realizar nem que seja o mínimo sempre pensando no macro, no que se pode influenciar em cadeia.
Dimak
Outros tempos, outra realidade e uma mesma cena.
Dimak é oriundo do bairro de Mussurunga, um dos celeiros da cena punk soteropolitana. Além disso sempre respirou o centro da cidade, quer seja por seus rolés ou pelos trampos que arrumava. Ele foi da primeira geração de Straight Edge’s de Salvador, sendo vocalista da banda No Deal.
Além de ser um renomado grafiteiro, conhecido internacionalmente, apesar de manter sua essência underground, Dimak faz ilustrações e trabalha como tatuador no estúdio Black Skin.
Para ele “ter vivência na cena hardcore e anarko punk foi um fator norteador para que fosse possível identificar melhor quais são as armas e estratégias usadas pelo opressor”. Dimak, assim como Rangel, posteriormente ajudou a construir a cena rap de Salvador, sendo considerado um dos melhores e mais talentosos rapper dessa cidade.
Uraí
Uraí é do tipo de pessoa fundamental para uma cena. Um cara solidário, sempre querendo fortalecer as bandas ou os eventos em si. Uma pessoa que faz isso não por ter banda para tocar e sim porque tem amor pela cena. Um cara que viveu, e vive, a cena hardcore por décadas e para ele: “O Hardcore não agregou para mim apenas música, mas também meu posicionamento com a qualidade da vida humana. Digo isso pois comecei na cena aos 14 anos no Pelourinho, e aventurei passando por Boca do Rio, Rio Vermelho e Itapuã, cada local com diferentes pessoas, mas com mesmo comportamento, foram tantas experiências inesquecíveis que resumo da seguinte forma: entendimento dos valores sociais, respeito as pessoas e a participação colaborativa”.
Esse tipo de experiência, citada acima, nenhum curso de ciências sociais vai lhe dar. Isso aqui é vida real, é a prática e não aquele monte de teoria estúpida.
Uraí é Engenheiro eletricista e faz edições de vídeos para o canal de sua filha no Youtube, o Bululuca.
LUANA VIEIRA
Luana pesquisa sobre sustentabilidade, questões étnico-raciais e de gênero no universo da Moda, atuando como curadora de produtos na Repassa, um brechó online engajado com a responsabilidade socioambiental nas práticas de comercialização de vestuário. Ela é designer de moda, beauty artist, antropóloga e administradora da página Luaquefez.
Na concepção de Luana, “A cena hardcore me ensinou valores como respeito, igualdade, liberdade e democracia, os quais busco por em prática até hoje tanto no âmbito pessoal quanto profissional”.
Ela revela ter ótimas lembranças do período em que esteve na cena hardcore de Salvador. “Curto rock and roll desde muito novinha, e no começo dos anos 2000 me juntei com algumas amigas e montamos duas bandas. Fui baterista na Innocent Pards e na Madame de Stael. Na primeira, participamos de eventos como o Troco do Pão, que custava 1 real a entrada, e com a segunda tocamos em diversos lugares como o Espaço Insurgente e Porão Underground”.
Luana descreve a importância de ainda menor de idade ter feito parte de bandas:
“Ainda menor de idade, tocando bateria numa banda só de meninas aprendi que nós mulheres podemos ocupar os espaços que quisermos!!!”
Gilberto Eloy “Gil”
Gil é servidor público e relata que ter tido contato com a cena hardcore “foi uma escola, pena que a gente ainda tem que conviver com a galera que não aprende. As letras são claras, as ideias são claras, e ainda assim tem gente nesse meio falando merda e pensando bosta politicamente, o que é muito ruim. Mas acho que o saldo geral é de aprendizado. Hardcore é escola de vida, mesmo que a gente tenha que trabalhar no Mc Donnalds, na Volkswagem ou no caralho que for, a gente precisa de emprego pra sobreviver, mas no geral o hardcore ele é uma escola de ideia, de som, de estilo de vida, mudou tudo de hábitos, costumes, ideias e maneira de ver o mundo”.
Além de ter sido um dos proprietário do selo Frangote Records, Gil tocou nas bandas Cissa Guimarães, Cobra City, Los Canos e Viados.
LUCA BORI
Muitas pessoas conhecem Luca da Vivendo do Ócio, o que poucas pessoas sabem é que ele também fez parte da cena hardcore de Salvador.
Luca tinha uma banda chamada Trick Attack, que fazia um hardcore melódico bem influenciado por Anti-Flag e outras bandas do tipo. Para Luca a cena hardcore era algo forte e vivo, tendo grande influência em sua vida.
“Foram quase 3 anos de aprendizado com a Trick Attack onde tocamos em quase todas as casas de Salvador. Foi bem divertido. Fiz muitas amizades e foi nesse momento eu entendi como funcionava a cena. A dificuldade que era trazer uma banda de fora, organizar um evento, tudo isso me possibilitou ter a visão que eu tenho hoje e o respeito por todos que trabalham nessa área! Foi nessa época também que tive meu primeiro contato com o design gráfico. Onde por necessidade eu fazia os flyers dos shows da minha banda e as vezes de bandas de amigos. Profissão que desde então faz parte da minha vida assim como a música”.
Luca além de músico trabalha como designer. Atualmente, paralelamente a Vivendo do Ócio, tem trabalhado muito no Jardim Soma. Projeto que une música e ilustração. Ele tem gravado vídeos ao vivo pra o canal do youtube fazendo ilustrações e montando o repertório do segundo disco. Também tem colocado pra frente o selo Portal. Um selo independente focado em artistas da Bahia.
Recentemente o selo de Portal lançou o novo single do MAPA.
Maria Zattara
A cena hardcore de Salvador, prezando pela solidariedade, que deve ser uma das bases de toda uma cena, sempre foi bem acolhedora. Pessoas de diversas cidades já passaram por aqui e, também, deram sua contribuição para cena.
Maria foi uma dessas pessoas. Recém chegada em Salvador, ela encontrou na cena hardcore um local seguro para amizades e senso de pertencimento.
Segundo Maria, a cena hardcore lhe marcou tanto ao ponto de sua “procura profissional atual por trabalhar em organizações sociais ter muito a ver com isso”. Ela explica: “Sempre fui muito aberta de mente e com muita consciência social. Comecei a ouvir punk e hardcore por essa preocupação por assuntos sociais. Encontrei um lugar de conforto para esses pensamentos nas letras e nas pessoas que conhecia graças à música. Ainda nova, cresci dentro dessa cena o que fomentou e fez minha forma de pensar ganhar força. Hoje esse pensamento político (e quando digo político não digo ‘partidário/de partidos’) que cresceu também graças a essa fase da minha vida é grande parte de quem eu sou”.
Atualmente Maria trabalha como gerente de um albergue e um bar tradicional inglês em Londres. Mas também já trabalhou por mais de 4 anos como comissária de bordo em Dubai. Agora pensa em novamente mudar o rumo para trabalhar em organizações sem fins lucrativos com orientação de ajuda à mulher.
Sika Caicó
Vocês já devem ter visto, por alguma vezes, Sika ensinando a arte de transformar cangas nos mais diversos tipos de roupa. Sim, ela é aquela menina que faz de uma canga um vestido de gala.
Pois bem, Sika também fez parte da cena hardcore de Salvador, tendo inclusive uma banda Punk Riot Grrrrl, a Madame de Stael.
Sobre sua experiência na cena e o que ela lhe trouxe de retorno Sika diz:
“O Hardcore me deu consciência desde a adolescência. Quando ainda não se falava muito sobre o assunto, a possibilidade de debater e entender a importância do feminismo e machismo na vida de uma mulher.
Minha experiência sobre o entendimento ocorreu ao ingressar no mercado audiovisual e perceber a predominância do sexo masculino em cargos mais elevados.
Cenário que vem mudando nos últimos anos”.
Sika é figurinista e produtora de moda para TV, cinema e Publicidade, laborando na produtora Supernova.
Roberto Gomes
Robertinho foi vocal das bandas DIX, NODE, Contenda e Hoje Você Morre, estando atualmente trabalhando como Coordenador de Operações de Vigilância Patrimonial na empresa espanhola Segurpro, integrante do Grupo Prosegur. Ele responde por aproximadamente cerca de 2.100 colaboradores.
Robertinho nos conta sobre como ter passado pela cena hardcore agregou na sua vida:
“Eu refleti muito para responder essa pergunta e apesar de tanta reflexão, acho que ela é bem simples para mim, o Hardcore moldou meu caráter, simples assim. Eu posso lhe dizer que ele me ensinou a me relacionar com as pessoas de uma forma que sigo até hoje, sempre honesto, sincero e direto em minhas convicções, sem deixar de ser flexível/adaptável quando necessário. No que se refere a experiências, posso dizer que as viagens que já fiz, as amizades que conheci, eu realmente devo ao Hardcore e sem ele minha vida seria muito diferente para pior, com certeza.
Dieguito Reis
Na mesma linha, dispara Dieguinho sobre o que o hardcore lhe proporcionou:
“Muito do que sou eu devo ao hardcore, foi onde eu encontrei conhecimento e diálogos que estão presente na minha vida até hoje”.
Ele narra um pouco de sua trajetória como músico:
“Comecei a tocar bateria ouvindo o disco “Tested” do Bad Religion, lembro que por causa da mix, a bateria um pouco mais na frente, conseguia ouvir melhor e tirar as musicas. Tinha a Efeito joule onde eu tocava bateria e chegamos a gravar um disco que tá ate no spotify. O hardcore foi onde eu comecei a perceber que existe vida alem do carnaval”.
Dieguito Reis além de tocar bateria na Vivendo do Ócio, tem um projeto solo de excelente qualidade. Ele nos fala um pouco desse projeto: ”Em 2018 comecei a me dedicar também ao meu trampo solo, que dialoga bastante com rap, indie e soul, onde tenho uma banda ( Tupy – Baixo, Dio Costa – Bateria/voz, Lau – Guitarra/voz, Leon Sanchez – Teclado ) que me acompanha nos shows. Tenho dividido meu tempo em compor com diversos parceiros diferentes, no lançamento da VDO e na finalização do meu próximo disco solo que se chama “Verão na cidade sem mar” e já lancei 3 singles, “A Vida é agora”, “Planeta Soul” e “Verão na cidade sem mar”, música que deu nome ao disco”.
Sobre seu trampo com a Vivendo do Ócio ele relata: “toco bateria e contribuo com algumas composições na vivendo do ócio a bastante tempo, lançamos um disco dia 10 de Abril de 2020, o quarto álbum da banda e estamos estudando novas maneiras de trabalhar ele em meio a essa situação delicada que estamos vivendo”.
Conclui-se que a cena hardcore sempre foi um local de muito aprendizado de vida, que molda caráter e inclusive direciona pessoas para o mercado profissional. Nada mais óbvio.
Na lógica do Faça Você Mesmo, a pessoa acaba se arriscando em diversas áreas de atuação, pois só assim a coisa vai andar. No hardcore não há empresários ou babás de artistas, é algo que você mesmo tem que dar seus pulos e isso é importante, na medida que você tem esse contato bem jovem e aquilo vai lhe ajudar bastante em sua vida pessoal e profissional.
Posso dizer, por exemplo, que em minha atuação profissional eu levo tudo que aprendi na cena hardcore, sobretudo o jamais abaixar a cabeça pra ninguém e saber me impor. Outra coisa que é fruto da minha passagem pela cena hardcore é isso. Sim, isso aqui que vocês estão lendo, eu fazer parte do Oganpazan, só existe por conta da cena hardcore, pelo fato de lá atrás eu ter decidido que começaria a falar sobre a cena, que se ninguém falava eu teria de falar.
Eu costumava usar uma camisa do CMI que dizia: “Odeia a mídia, torne-se a mídia”, e o hardcore é sobre isso, arregaçar as mangas e não se conformar jamais.