Banda clássica surgida no harcore straight edge, o Point Of No Return está de volta com disco e show no clássico Festival Verdurada!
O Point of no Return foi uma banda que surgiu na segunda metade da década de 90’, se consolidando como um dos grupos mais relevantes da cena hardcore straight edge da América Latina.
Recentemente o grupo pegou todos de surpresa anunciando não apenas uma apresentação no Festival Verdurada, que acontece nesse final de semana em São Paulo, como o lançamento do disco “A Linguagem da Recusa”, que também terá um lançamento fora do Brasil, sob o título “The Language of Refusal”.
Para dar um gostinho, a banda lançou o pesado single “Guile”, que pode ser ouvido em todas as plataformas de streamings.
Diante de tantas novidades, só nos restou trocar uma ideia com os caras e entender um pouco mais sobre esse retorno e tudo que circunda a banda em seu momento atual.
Dudu (Oganpazan): Inicialmente gostaria que vocês se apresentassem para o público mais novo, que talvez não tiveram a oportunidade de conhecer o Point of no Return na época do seu surgimento. Quando vocês iniciaram a banda?
Fred (Point Of No Return): A banda começou em 1996 como um projeto paralelo de uma outra banda vegan straight edge que existia em SP na época, o Self Conviction. O Self Conviction já tinha dois vocalistas e tocava um hardcore Nova Iorque com pitadas de rap, e três membros da banda, o Tarcísio (guitarra), Tigrilo (bateria) e Kalota (vocal) decidiram formar um projeto para tocar um hardcore mais metal. Na época tinha acabado de sair o álbum do Path of Resistance, “Who Dare Wins”, que era um projeto paralelo do Earth Crisis com três vocais, e o Tarcísio, Tigrilo e Kalota decidiram fazer algo nessa linha.
Eles então chamaram um pessoal da cena que não tinha banda na época para entrar no projeto. Primeiro eles me convidaram para ser um dos vocalistas junto com o Kalota e chamaram o Gilberto China para tocar baixo. Fora nós cinco, teve também mais outras pessoas que ensaiaram com a gente no comecinho, como o Luciano Valério (guitarra), que tocava no Sight for Sore Eyes, e o Juninho do Brás, que tentou fazer vocal. Mas eles não duraram muito. Uns meses depois o Tigrilo convidou o Marcos Liberation, que entrou como terceiro vocalista. Logo depois o Luciano, que tocava bateria no Sight for Sore Eyes, Inspire e tinha tocado no Prime Mover (banda de metal), entrou na bateria e o Tigrilo foi para a guitarra. Continuamos com essa formação nos nossos primeiros anos, quando gravamos uma demo, as músicas de uma coletânea lançada pelo Marcos, “Voices: a Portrait of São Paulo Hardcore” e um 7 polegadas que saiu nos EUA.
Lá para 1998-1999 o China saiu da banda. Daí passamos o Tigrilo para o baixo e convidamos o Juninho, que na época era baixista do Self Conviction para tocar guitarra (depois ele viria a tocar baixo no Ratos de Porão). Com essa formação (Fred, Kalota, Marcos, vocais; Tarcísio e Juninho, guitarras; Tigrilo, baixo e Luciano, bateria) gravamos dois discos, o “Centelha” (lançado como “Sparks” nos EUA) e “Liberdade Imposta, Liberdade Conquistada” (lançado como “Imposed Liberty, Conquered Liberty na Alemanha). Também fizemos duas turnês na Europa (2000 e 2002), uma turnê no Nordeste, vários shows no Sudeste e Sul, e shows na Argentina. Em 2005 o Marcos saiu da banda, e um anos depois, em 2006, terminamos a banda com um último show na Verdurada em SP.
Dudu (Oganpazan): O Point of No Return, dentre as bandas straight edges sempre teve um diferencial, que são as letras. Tanto pela diversidade de temas abordados, como por não ficar martelando sobre “sobriedade” ou “convicção straight edge”. Vocês pensaram nisso ao formar a banda ou foi algo que surgiu naturalmente?
Fred (Point Of No Return): A ideia inicial do Point, inspirada em Path of Resistence, não tinha muito a ver com o que a banda veio a ser, pois era fazer uma banda só com letra straight edge. Era uma época em SP que o pessoal straight edge tinha várias tretas com um pessoal da cena hardcore que não era straight edge, e a ideia era fazer uma banda que incomodasse ainda mais quem já se sentia incomodado com o straight edge. Mas quando a gente sentou para fazer letra, meio que naturalmente a parada seguiu outro caminho. Várias bandas próximas da gente na época (como o No Violence, Personal Choice e o próprio Self Conviction) já tinham letras de crítica política, então acabamos focando nessa vertente e deixando de lado a ideia de ficar falando sobre straight edge. Acabou que nunca fizemos uma letra clássica de convicção straight edge, apesar de nos assumirmos claramente como uma banda straight edge. Logo rolou um consenso entre os membros da banda que ela deveria ser um veículo para um certo tipo de crítica política, e que deveríamos evitar tanto os chavões straight edge quanto a política de cena.
Se você pensa a escala da sociedade como um todo, a cena straight edge é uma fração dentro de uma coisa que já é minúscula, a cena hardcore punk. O mundo fora da cena hardcore é muito vasto e complexo, cheio de coisas interessantes e relevantes para serem debatidas, não víamos o porquê de focar no nosso próprio umbigo. Isso não quer dizer que nunca chegamos a fazer uma auto-reflexão do porquê do nosso envolvimento com o hardcore e o punk, ou de nosso compromisso público com o straight edge. Fizemos isso, o que resultou em alguns textos que saíram nos nossos discos e até uma letra de música. Mas fizemos essa reflexão partindo de um lugar diferente de muitas bandas que levantam a bandeira do straight edge, e acho que a conclusão à qual chegamos na época foi diferente do que o que se vê em várias dessas bandas.
Dudu (Oganpazan): Alguns álbuns da banda são completamente em inglês, isso facilitou para vocês terem um reconhecimento fora do país?
Fred (Point Of No Return): Começamos cantando em inglês, depois passamos a cantar em inglês e português e o nosso último disco, antes de a banda acabar, disco de 2002, é inteiramente em português (fora um cover). Essa trajetória de começar em inglês e depois abrir para o português não foi única nossa, já que várias bandas da nossa geração (anos 90) fizeram meio que a mesma coisa (e.g., Self Conviction, No Violence, etc…). No começo dos anos 90 existia uma ideia entre uma galera de que cantar em português era fora de moda, pois era o que a primeira geração de bandas punks brasileiras, dos anos 80, tinha feito. Cantar em inglês era uma maneira de se diferenciar do que tinha vindo antes. Claro que cantar em inglês facilita o reconhecimento fora do país, mas isso tem que ser relativizado. Tem várias bandas que cantam em português que são reconhecidas fora (Ratos de Porão é o exemplo mais óbvio).
Para nós, o que pegou foi que começamos a ficar incomodados com o lugar periférico das bandas brasileiras no hardcore e punk mundial. Começamos a achar que cantar exclusivamente em inglês acabava por reproduzir um sistema de dominação que coloca a cultura (a contra-cultura) produzida nos países anglófonos (principalmente os EUA) no centro. É aquela coisa, um americano que goste de punk e hardcore pode se dar ao luxo de ignorar o que rola em outras cenas no resto do mundo, mas alguém que curte punk no Brasil, Indonésia ou Itália dificilmente consegue ignorar o que rola nos EUA. Começamos a ver o cantar em inglês como um reflexo desse tipo de estrutura, além de ser algo que a reforçava. Fora isso, tinha o fato (muito importante) de que a gente cantava em inglês mas tinha gente na banda que não dominava a língua.
Agora em 2024 a gente está lançando um disco novo que volta à fórmula de misturar músicas em português e em inglês. Decidimos fazer essa mistura por algumas razões. Primeiro porque a gente tem um público fora do Brasil, não só em países de língua inglesa (ou espanhola) mas também em lugares como as Filipinas e Indonésia, e o inglês, apesar dos aspectos negativos, facilita essa conexão. Outra razão é que fazer essa mistura é uma maneira de expor um público estrangeiro ao português. Acho que se cantássemos só em português, muita gente fora do Brasil acabaria optando por não escutar a banda, mas como temos músicas em inglês, essa galera acaba também exposta às músicas em português. Isso claro, varia dependendo do seu estilo e da cena ao qual você está conectado. O pessoal de fora da cena mais crust ou anarcopunk, por exemplo, é muito mais aberto a escutar bandas em outras línguas que não o inglês do que o pessoal da cena mais metalcore. De qualquer maneira, no nosso disco novo tem letras que são mais específicas da realidade brasileira e elas são em português, enquanto que as músicas que tratam de temas mais globais escolhemos fazer em inglês.
Dudu (Oganpazan): Contém mais sobre experiências internacionais. Por quais países já passaram e como foram esses rolês?
Luciano (Point Of No Return): Nós fizemos duas turnês europeias em 2000 e 2002 e uma na Argentina em 2001. Em 2000 lançamos o “Centelha” e tocamos na Itália, Áustria, Alemanha, Holanda, Bélgica, República Tcheca e Polônia. Fomos a primeira banda da América Do Sul a tocar em grandes festivais como o Vort’n Vis / Ieper Fest (Bélgica) e no Plzen / Fluff Fest na República Tcheca. A tour foi organizada sem ajuda de agências ou promotores, foi por nós mesmos juntando os contatos que cada um tinha e ajeitando as datas.
Lembrando que era uma época onde a internet engatinhava, não havia celular, nem gps, cruzamos a Europa toda com o velho e bom guia com mapas e só endereços dos lugares. Era também um período pré-Euro onde a gente precisava de visto pra entrar e sair nos antigos países do leste e nas fronteiras haviam fiscalização, trocar dinheiro, felizmente não tivemos problemas.
Na segunda tour, em 2002, já éramos bem mais conhecidos e tocamos mais shows pelos mesmos países além de ir pra Hungria, Eslovênia e Suécia. Fizemos o mesmo esquema da primeira, no faça-você-mesmo, organizando com os contatos e alguns produtores que quiseram levar a gente pra cidades deles. Uma coisa que também ajudou na época foi a conhecida banda alemã, Heaven Shall Burn, gravar e tocar nos shows um cover nosso e teve uma versão em LP do “Liberdade Imposta…” que saiu por lá.
Dudu (Oganpazan): Falando em tour, eu lembro bem da passagem de vocês por Salvador. Quais lembranças vocês têm da tour Nordeste?
Fred (Point Of No Return): A turnê do Nordeste foi a última turnê que fizemos. Foi um arregaço. Fizemos a turnê de ônibus de linha, começando em Fortaleza e terminando em Salvador. Tocamos em vários lugares diferentes, conhecemos um monte de gente legal e fizemos amizades que duram até hoje. Pessoalmente pra mim tocar em Salvador foi especial, porque minha mãe e essa parte da minha família (avó, tios, primos) são daí. Tinha ido algumas vezes pra aí mas nunca para tocar.
Luciano (Point Of No Return): Foi uma tour bem legal, sempre tivemos vontade de fazer, mas ir para o Nordeste era bem desafiador pela logística e custos na época. Teve alguns fatos marcantes como o show de Fortaleza que rolou algum problema com o local no dia e acabamos tocando na rua mesmo perto da sede de um centro social, havia uma molecada da rua, pessoas comuns assistindo e curtindo. Tocamos no Caos Natal em Natal, um fest bem legal.Teve um show de Recife que chegamos no laço, acho que tocamos e tivemos que sair correndo também.
Dudu (Oganpazan): E como se deu esse retorno da banda?
Luciano (Point Of Return): Há alguns anos atrás a gente começou a se falar para um dia talvez gravar o que seria o nosso terceiro disco, de forma despretensiosa, apenas para registrar e soltar online, pois eu tinha encontrado uma fita K7 com um ensaio e as músicas eram boas. O Fred topou e convidamos o Ruy que foi vocal do No Violence pra participar ajudando a fazer novas letras.
Em 2017 eu e o Juninho entramos no estúdio para gravar, mas a ideia nem era usar o nome do Point, ia ser tipo um projeto, mas claro com algo relativo a banda. Ano passado Fred esteve de passagem por aqui e comentou de fazer um show de reunião do Point esse ano, pois ele viria novamente de viagem com a família e claro todos toparam a ideia.
Dudu (Oganpazan): Vi que estão com nova formação e disco novo, o “The Language of Refusal” / “A Linguagem da Recusa”. Falem um pouco dessa nova formação e do disco. Vai ter lançamento físico? Serão dois lançamentos distintos, Brasil e Gringa?
Luciano (Point Of No Return): A nova formação conta com Fred, Kalota e o Ruy nos vocais, Juninho na guitarra eu na bateria e o Leonardo Cantifras que tocava comigo e o Kalota no Inspire e outras bandas como Live by the Fist e Good Intentions no baixo. No disco o Juninho acabou gravando tanto o baixo quanto as guitarras e pra esse show de reunião decidimos seguir apenas com uma guitarra por enquanto.
São 9 músicas compostas entre 2004- 2006, que foi o final da banda, algumas delas até a gente já tocava em shows na época e uma até foi registrada no DVD do Kool Metal, mas ganhou uma nova letra. Como disse anteriormente, a gente fez sem muita pretensão, a bateria foi gravada em 2017 num pequeno estúdio do David Menezes que também fez a mixagem, as guitarras e baixo o Juninho gravou num estúdio de ensaio que ele tinha na época, ai veio pandemia, compromissos pessoais e por isso levou alguns bons anos pra concluir.
Esse ano Fred e Ruy finalizaram as letras e gravamos os vocais. Fred gravou nos Estados Unidos, onde ele mora, e Ruy e Kalota gravaram a parte deles no Family Mob. A masterização ficou a cargo do Scott Crouse, guitarrista do Earth Crisis e do Sect. Essa semana sai a versão digital e em vinil pela Indecision Records, um clássico e importante selo norte-americano.
Teremos uma versão em vinil na Europa pela Refuse Records, selo de um amigo de longa data que sempre nos apoiou desde a primeira tour. No Brasil sai em vinil, mas no fim do ano, pela All Music Matters e uma edição limitada em CD pro show de reunião da verdurada. Também sai em K7 na Argentina, Indonésia e Filipinas.
Dudu (Oganpazan): Qual a importância para vocês em estarem fazendo o show de retorno em um evento como a Verdurada?
Ruy (Point of No Return): A Verdurada é o maior e mais duradouro evento do faça-você-mesmo das Américas. Começou em 1996, parou no meio da década de 2010, e voltou agora. A proposta do evento, de ser organizado por gente da nossa comunidade vegana e hardcore, não ter patrocínios, apresentar uma atividade não musical de temas políticos, como palestra ou debates ou rodas de conversa, e servir comida vegana gratuita ao final do evento, é única, e felizmente inspirou muitos outros coletivos e iniciativas.
Assim como o pessoal da xPONRx, o pessoal da Verdurada também envelheceu, assumiu outros compromissos, formou e dissolveu famílias e relacionamentos, enfim, viveu, e voltou a agir no rolê punk hardcore. O que tem de importante aí é tanto a xPONRx quanto o pessoal da Verdurada ter essa ligação afetiva e estética com o hardcore punk e sentir que é parte dessa cena e parte do mundo contemporâneo, e querer interagir com ele, trocar experiências, ensinar e aprender com as gerações mais novas do rolê e do mundo em geral.
As divisões de idade que a gente verifica no mundo são inventadas pelo mercado, separam a gente em público-alvo de produtos, serviços e campanhas, numa segmentação que é tipicamente europeia, não é um traço comum de sociedades ancestrais como as indígenas, as africanas e as algumas árabes, persas e outras asiáticas, nas quais pessoas de todas as idades convivem regularmente umas com as outras. Enquanto uma pessoa estiver viva, o mundo e seus problemas, assim como suas aspirações e sonhos, são dela também.
Dudu (Oganpazan): Quais são as pretensões a nível de shows. Farão shows em outros estados e pretendem ir para fora do país com a tour desse novo disco?
Luciano (Point Of No Return): Bom, devido ao Fred morar fora, não temos nada para esse ano, talvez aproveitar algum momento que ele venha pra cá a trabalho ou visita e fazer um ou outro show ano que vem. A gente também tem vontade de ir a outros lugares que nunca conseguimos tocar na América Latina, tipo Colômbia, Chile, México talvez até Estados Unidos por conta do Fred morar lá e ter o apoio do selo.
Dudu (Oganpazan): Esse retorno de vocês serve para que se faça uma análise: O PONR de 97 tem a mesma ideologia em 2024? O que mudou? E o mundo, o que acha que mudou desde o primeiro show de vocês até essa volta da banda?
Fred (Point Of No Return): O mundo está em outro lugar hoje em dia. Quando fizemos as nossas músicas e gravamos os nossos discos, o cenário global era do imediato pós guerra fria, o fim do bloco comunista e da hegemonia do neo-liberalismo. As nossas letras refletem isso, tanto na crítica a hegemonia neoliberal quando ao entusiasmo por movimentos que víamos desafiando essa hegemonia de alguma forma, como os Zapatistas no México, o assim chamado movimento “anti-globalização” (altermundialista ou de justiça global) e até o MST no Brasil. Essa era uma época antes do PT no poder no Brasil, antes do 11 de setembro e da guerra ao terror. Então nunca tratamos muito disso em nossas letras. No âmbito doméstico, os anos 90 e começo dos anos 2000 são a época na qual a sociedade brasileira teve que lidar com o legado nefasto dos anos de ditatura militar, que produziram uma das sociedades mais desiguais do planeta e um cotidiano urbano e rural de extrema violência, todos assuntos constantes nas nossas letras.
Hoje vivemos em uma outra época, onde aqueles que sentem o efeito dessas últimas décadas de neoliberalismo e da guerra ao terror se voltam para o nacionalismo e para a extrema direita. É uma sociedade humana que enfrenta uma crise existencial que é política, econômica e ambiental, crise essa que não se apresentava dessa forma 25 anos atrás. Acho que as letras novas do Point, escritas entre 2019 e 2024, refletem essa nova realidade.
Em relação à ideologia em senso estrito, a gente sempre foi uma banda de esquerda, crítica ao capitalismo, e entusiasta de novas formas radicais de reorganização da sociedade norteadas pela igualdade política, econômica e social. Mas nunca nos atrelamos a uma linhagem política específica por causa da variedade de posições políticas entre os membros da banda dentro do espectro da esquerda radical. As letras da banda sempre foram mais uma média das posturas políticas de diferentes membros do que um compromisso a doutrinas políticas específicas.
Dudu (Oganpazan): Como vocês avaliam a atual cena hardcore/punk?
Ruy (Point Of No Return): Acho que todo mundo da xPONRx está de algum modo envolvido ou em contato com o hardcore, e na minha experiência, de inclusive ter um programa de rádio online semanal de hardcore, eu vejo muitas bandas novas, muita gente nova e muita gente mais veterana em bandas. Tem bandas que voltaram, como a xPONRx, e tem bandas novas de gente veterana. E tem bandas de todos os estilos e com diversos tipos de pessoas nelas. Tem bandas com meninas e meninos trans, tem muitas bandas com pessoas afrodescendentes, tem bandas em países árabes, africanos e persas cantando em seus idiomas nativos e bandas de imigrantes ou descendentes desses povos em países norteamericanos e europeus também cantando em seus idiomas nativos. Tem muita banda na Rússia, Indonésia, Singapura e China. E tem muita banda com mulheres cantando e tocando, além de selos tocados por mulheres.
Eu não me lembro de haver tanta diversidade de pessoas, de origens, de idades, de gêneros musicais, em qualquer momento anterior do hardcore punk. Isso também se reflete no Brasil, proporcionalmente à nossa cena. E eu acho isso sensacional, especialmente pelo fato de que as questões de gênero, de repúdio ao capitalismo, fascismo e racismo, são muito abordadas pelas pessoas da cena. O que acontece na Palestina agora, por exemplo, mostra que a luta anticolonial e antirracista palestina foi abraçada por gente do mundo todo – à exceção da Alemanha, que é uma situação tristemente muito particular. Então é um momento muito bom pra cena e espero que cada vez mais gente se envolva, aprenda, ensine e crie coisas legais e estimulantes, artística e politicamente, pra nós e pro mundo.
Canti (PONR): Acredito que essa fase pós pandêmica fez com que as coisas aconteçam de forma muito intensa e produtiva. Eventos organizados por coletivos utilizando de espaços como centros culturais, estúdios e restaurantes veganos. Tudo isso mantendo os moldes do faça-você-mesmo. Há uma boa renovação no público, o qual em sua maioria jovens já chegam carregados de posicionamento político, seja nas questões de raça, gênero e orientação sexual.
Muito material bom sendo lançado esse ano, não somente nos formatos digitais e também em formatos físicos. Destacando nesse ponto uma coligação maior entre selos independentes, fazendo com que seja distribuído de forma mais ampla.
Tem muito a melhorar? Claro que sim. Somos uma parcela da sociedade em que vivemos. Se no mundo em si acontece tanta coisa errada, é óbvio que isso reflete em nosso meio. Mas que sirva de combustível para a mudança que tanto almejamos.
-O Point Of No Return está de volta na cena Punk/Hardcore com disco e show no Festival Verdurada
Por Dudu