Oganpazan
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O “Corre do Tesouro” desde Massaranduba CBX, sempre será “Nois Por Nois”

Nois Por Nois

O Nois Por Nois vem soltando diversos trampos pesados em 2022 e você deveria conhecer melhor o trampo dos caras no Corre do Tesouro! 

Os manos Jhmop e Saqk são dois nomes próprios que o Hip-Hop pinçou do meio do caos que é instalado em nossas favelas, mais especificamente do bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa (CBX), Salvador, Bahia. 

Pinçados e conscientes de seu papel dentro de sua comunidade e de suas próprias vidas, esses jovens há 6 anos atrás lançaram sua primeira mixtape: Qual é o seu Circo? (2016), com participações de nomes importantes do cenário como Galf AC, Ravi Lobo, Diego 157, Span (Saca Só), Ministério Clanmor, Tiago Negão, Bruno Suspeito. E no início deste trabalho, abria com um áudio do MC Gardenal, uma das muitas figuras relevantes do nosso cenário que tiveram a vida ceifada pela violência. 

Nesta altura, o Nois Por Nois já tinham uma caminhada de mais ou menos 5 anos dentro do cenário do rap baiano, e foi essa caminhada que os fez ter em sua estreia nomes fundamentais de nossa história como participações. Lembro bem a primeira vez que vi esses caras ao vivo, ali no ano do lançamento da sua mixtape. Para mim novatos, a sensação era de que você estava ouvindo a renovação encarnada, com o bate cabeça fervendo no Baixa em Alta. 

De lá pra cá, nos últimos 8 anos os caras vem construindo uma obra relevante e sobretudo se mantendo atuante em sua quebrada com o melhor do que o espírito Hip-Hop tem a oferecer: rimas contundentes, sem apelar para clichês e com uma postura artística que vem se expandindo. É fácil perceber que Jhomp e Saqk são MC’s formados pela essência do gangsta, pelo boombap de denúncia de grupos como 157 Nervoso e ou Facção Central. No entanto, os caras não pararam no tempo e muito menos entraram em uma vibe de modernizar o quadrado. 

Nos últimos anos após sua estreia em disco, os caras seguiram escutando as novas sonoridades mas sobretudo, a dupla buscando compreender que as novas estéticas abrem espaço para a inserção de mensagens verdadeiras que carreguem a força da insubimissão. Já no seu segundo disco isso é perceptível, ao ouvir T.E.M.A. (Terro em Máxima Amplitude) de 2019, podemos perceber a inserção de timbres e batidas mais “modernas”. 

O ano da pandemia veio e como “trabalhadores” que fazem arte, artistas que trabalham em outras atividades, os caras deram um tempo. Este ano, os manos chegaram com muita força lançando trampos muito bem elaborados e soltaram disco, clipe e só rajada. O “Corre do Tesouro”, último lançamento dos caras em audiovisual já os traz numa pegada Trap e funk no meio da Massaranduba (na Baixa do Petróleo) com o mesmo espírito de luta “luddista” de quebrar o sistema da branquitude burguesa. 

Trocamos uma ideia com os caras para saber melhor sobre a caminhada, pega a visão e literalmente dá o play: 

Oganpazan – Salve Jhomp, salve Saqk, valeu pela disponibilidade para essa troca de ideias e vamos voltar ao começo: Como vocês se conheceram?

Nois Por Nois – O ano era 2004, nos conhecemos na escola, na chegada do ginásio e tal, se pá bateu aquela conexão, e então começamos uma longa trajetória ali pela pixação, no bomb, até que fechamos uma parceria que saiu um grupo de rap.

Oganpazan – Quais as principais influências e quais eram os objetivos do grupo quando ele surgiu? 

Nois Por Nois – Já tínhamos uma convivência com uma rapaziada que fazia rap, curtíamos bastante os sons e queríamos colocar naquilo né, queríamos criar uma trajetória também naquele movimento. Nossa primeira escola do rap foi o Gardenal, que na época fazia parte do ANHC (Atitude na Hora Certa), e naquela mesma época a gente ouvia muita música preta, e dessas influências podemos destacar muito do samba, mpb, rap e funk. (Ex: Bezerra da Silva, Tim maia, Racionais, Cidinho e Doca, facção central, dentre outros).

Oganpazan – Vocês são oriundos de uma região importantíssima para o rap baiano, que é a região da CBX, como essa cena e seus atores lhes influenciaram?

Nois Por Nois – Influenciaram de forma direta na formação do grupo, na produção de beats e gravações e a iniciação das letras, podemos citar os principais personagens que contribuiram para essas influencias, que foram Gadernal Mc, Calibre e os grupos Aspecto Cordial e 157Nervoso.

Oganpazan – Ao longo deste tempo de envolvimento e produção na cultura hip-hop quais os ganhos que estar nessa cultura lhes proporcionou?

Nois Por Nois – Ganhos principalmente na cultura, educação, amadurecimento pessoal e consciência, né! O rap tem muito daquela parada de escola, saca? Essa cultura nos instigou a ler nossos primeiros livros, a entender meios de tecnologia, aprendemos também muita coisa entre relações humanas e a ser destaque dentro de cada área em que atuamos. 

Oganpazan – Como é o trampo entre vocês dois? Rola treta na hora das decisões, como tem sido esse “casamento” ao longo desses anos?

Nois Por Nois – Tretas exatamente nunca rolou rs, porém existem algumas divergências entre escolhas e decisões, pórem, tudo se encaixa. Normalmente escrevemos individualmente, cada um com suas ideias e loucuras pra tentar sempre extrair o máximo da criatividade individual de cada um, depois do desenvolvimento individual sempre analisarmos as letras um do outro, opinamos dentro de cada tema, trazemos sugestões de algo, tipo… uma sintonização de pouco a pouco, partindo do individual pro coletivo.

Oganpazan – Desde 2016 são três discos e videoclipes muito bem produzidos, quais as principais dificuldades e qual o gostinho de conseguir produzir tanto em meio às dificuldades?

Nois Por Nois – Primeiramente no cenario de rap em salvador existe uma deficiencia muito grande na parte financeira, e é literalmente foda conseguir produzir intensamente em pequenos espaços de tempo com poucos recursos, mas o gostinho de produzir com tanta dificuldade seria em destaque a realização pessoal em ter/ver concluido sonhos, onde trouxemos esse em particular pro coletivo ao criar e desenvolver o grupo.

Oganpazan – Esse ano vocês lançaram o terceiro disco de vocês, contando com 9 músicas, como se deu a construção deste trabalho? 

Nois Por Nois – Na verdade, trouxemos uma roupagem totalmente diferente dos discos anteriores, onde nesse, trabalhamos de forma individual e trouxemos pro coletivo cada idea formada, onde somamos, lapidamos ideias desfragmentadas, e formamos o disco.

Oganpazan – Temas como anti-capitalismo e um discurso racial muito bem fundamentado compõem o disco, como se deu a pesquisa para esse trabalho, ou de outro modo, a partir de quais referências e situações vocês construíram as letras desse trampo? 

Nois Por Nois – Se bem que dentro do campo de discurso racial, de críticas ao capitalismo ou assuntos intensamente sociais, trazemos não só referências, mas também pesquisas de campo, de onde vivemos, de onde passamos, até mesmo dentro do cenário musical. Todos os ângulos possíveis estão introduzidos na prod. do trampo em si, como exemplo podemos usar a faixa “O LUDISTA”, que dentro da história geral tem o seu significado, o qual trouxemos para o nosso pessoal e expressamos a quebra das nossas próprias maquinas (nossas barreiras de construção, de expressão e até mesmo psicológica).

Oganpazan – A roupagem musical que vocês escolheram está muito voltada para o trap, que em geral não se utiliza dessas temáticas de contestação. Como se deu a seleção dos beats, a escolha dos produtores e porque trampar com a sonoridade do trap que em geral tem caminhado mais para o pop?

Nois Por Nois – Pode-se dizer que a ideia é justamente a adaptação, aquela coisa de mudança, sabe? De alguma forma a gente tem tentado acompanhar as novas vertentes, porém, sem deixar de lado a nossa essência, aquela coisa do valor musical que praticamos desde o início do grupo.

Oganpazan – Como vocês vêem a relação entre internet e cultura hip-hop? 

Nois Por Nois – Internet hoje é o que move o mundo né? e com toda essa tecnologia móvel é o que de fato impulsiona a cultura hip-hop. hoje conseguimos quebrar várias barreiras não só de espaço, mas também de público. acreditamos que a internet tem sido de fato uma aliada da nossa cultura. Já nesse mesmo cenário enfrentamos a parte negativa dessa tecnologia né, que é o bombardeio iminente de informações que impedem a absorção de cada conteúdo lançado. Muito lançamento, muita informação que as pessoas não conseguem organizar, partindo disso, perdemos um pouco da valorização produtiva de cada conteúdo. 

Oganpazan – Vocês estão com um trampo pronto e vão soltar em breve, qual a importância do planejamento para o lançamento hoje em meio a uma enxurrada de lançamentos a todos os dias?

Nois Por Nois – Como o Nois Por Nois é um grupo independente, essa fita do planejamento é imprescindível, temos lançamentos no cenário todos os dias, a internet tem muita informação… e com o passar do tempo entendemos a importância de buscarmos informações a respeito do principal veículo (internet), suas ferramentas e como usá-las com o menor custo benefício possível pra levar o trampo com qualidade e que seja acessível para o publico.

Oganpazan – Agradeço muito essa troca de ideias e por último deixo aqui a possibilidade de vocês responderem ou falaram sobre algo que eu não perguntei. 

Nois Por Nois – Agradecemos bastante o espaço que foi dado para nós aqui, deixamos um salve a toda a família Oganpazan que é um dos principais meios que levam informações sobre a cultura hip hop em geral. 

Pra quem não sabe, o Nois Por Nois levou um tempo sem produzir praticamente nada, devido a algumas dificuldades, também a pandemia do Covid-19, mas começamos o ano de 2022 com muitas produções foda, tem disco novo, tem clipes novos e a expectativa pro segundo semetre do ano, até o final de 2022 é muito grande, tem muita coisa massa, tem muita gente envolvida e deixamos o salve aqui pro lançamento do clipe de uma das nossas faixas novas que já tá disponivel em todas as plataformas digitais e que tem lançamento programado no Youtube pro dia 05/09 (primeira segunda feira de setembro).

No mais, agradecemos a todos. Só fé e paz!

-O “Corre do Tesouro” desde Massaranduba CBX, sempre será “Nois Por Nois”

Por Danilo Cruz 

 

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