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O bolsonarismo tem o seu Stephen

No mês da Consciência Negra, Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, exclui artistas negres e homenageia militares e policiais. Mostra assim, sua fidelidade canina ao boslonarismo. 

Nos Estados Unidos, o termo Uncle Tom é utilizado para designar pessoas negras que se comportam servilmente diante da estrutura opressora instaurada pela elite branca ao longo do processo histórico daquele país.

Nesse sentido, Uncle Tom é a pessoa negra que vê um vídeo de seguranças brancos espancando um negro até a morte e passa pano. Uncle Tom, é aquela pessoa negra que defende com unhas e dentes a meritocracia e defende não haver racismo no Brasil. Uncle Tom é aquela pessoa negra que serve como cão de guarda para pessoas em posição de poder e que usam do mesmo para empreender ações políticas que reforcem a perseguição e opressão sobre seus irmãos e irmãs negras.

A cultura pop atualizou esse termo através da personagem Stephen do filme Django Livre, do cineasta Quentin Tarantino lançado em 2012. Samuel L Jackson dá vida à personagem e de forma magistral encarna a persona do preto que ama seu senhor e se regozija com o sofrimento que este impõem aos outres pretes. 

Trata-se, contudo, de uma situação ainda mais grave. Stephen não é apenas subserviente e leal ao seu senhor. Stephen nutre um ódio extremo a toda e qualquer pessoa negra, porque Stephen se sente como se fosse um branco, mesmo não gozando dos privilégios desta casta dominante.

Stephen está a todo momento em alerta, sempre a espreita de possíveis rebeldes, de possíveis artimanhas que possam representar alguma conquista dos escravos da fazenda Candyland. Seja essa conquista ocultar algum alimento extra, a fuga do cárcere ou mesmo planejar uma rebelião e a morte de seus senhores. 

Desde que assumiu a presidência da Fundação Palmares em fevereiro deste ano, Sérgio Camargo tem se mostrado um fiel servidor da vontade de Bolsonaro. Segue a cartilha bolsonarista cegamente, mostrando comungar com todas as suas crenças e valores. Sérgio Camargo assume o mesmo ethos de Stephen, persegue seus irmãos e irmãs e cumpre feliz o dever de garantir os privilégios dos seus senhores.

Como verdadeiro capitão do mato do século XXI, persegue representantes da luta contra a opressão direcionada desde os primórdios do Brasil à população afrodescendente. Persegue nomes que são referência à cultura nacional, que elevaram o nome do nosso país mundo afora.

Impede que a Fundação Palmares celebre o Mês da Consciência Negra (veja aqui), o que não causa surpresa, uma vez que já criticou publicamente o Dia da Consciência Negra e afirmou não haver racismo estrutural no Brasil. Conforme você pode ver na foto ao lado do twitte feito no dia 20 de novembro, data de morte do líder preto Zumbi do Palmares, que também dá nome à instituição que ele presidente e que Camargo já disse se tratar de um falso herói dos negros (veja aqui). 

Sérgio Camargo, desde que foi anunciado para o cargo máximo da Fundação Palmares, vem mostrando seu alinhamento com o bolsonarismo. Mostra sua insensibilidade com relação à luta do movimento negro, des ativistas negres, des artistas e intelectuais negres contra a estrutura opressora, cujas engrenagens se movimentam a partir do racismo entranhado historicamente nas estruturas de nossa sociedade. E ele o faz orgulhoso de cumprir o seu dever.

Dessa vez, em pleno Mês da Consciência Negra,  no dia 11 de novembro, Sérgio Camargo anunciou as mudanças nos critérios de ingresso na lista de personalidades negras notáveis da instituição que preside. Mudanças que levarão à retirada da nomes como Gilberto Gil, Elza Soares, Martinho da Vila, Conceição Evaristo, Lecy Brandão e Milton Nascimento.

Trata-se da portaria publicada nesta mesma data no “Diário OfICIAL da União”, alterando as regras usadas com parâmetro para selecionar e publicar nomes e biografias de personalidades negra notáveis no site da Fundação Palmares. 

A regra que leva à exclusão dos nomes citados no parágrafos anterior diz que a partir de então, a lista passará a fazer homenagens póstumas apenas. As mudanças começam a valer, segundo o documento, a partir do dia 1o de dezembro. Mais detalhes acessem aqui.

Em declaração referente às mudanças Camargo disse que a intenção é moralizar a homenagem. 

Assinei hoje portaria que moraliza a lista de personalidades negras da Fundação Palmares. O critério de seleção passa a ser a relevante contribuição histórica. Haverá exclusão de vários nomes. Novas personalidades serão incluídas em razão do mérito e da nobreza de caráter”.

Assim falou Camargo através da sua conta no Twitter. Ele mostra que a inclusão de nomes na lista passa a seguir critérios moralistas. Atendem a esses critérios, segundo Camargo, militares e policiais. Mais uma vez usou sua conta no Twitter para avisar que os critérios para nova lista atendem aos heróis e patriotas policiais e militares, não figuras como Madame Satã e Carlos Mariguela. Certamente esse “Somos” não representa a maior parte do povo brasileiro.

A restrição de tal homenagem à figuras póstumas tem como objetivo provocar os defensores das causas raciais no país, em particular o movimento negro. Isso porque nada impedia pelas antigas regras pessoas falecidas fossem acrescidas à lista, tampouco nomes de militares ou policiais. Soma-se a isso o fato dessa portaria ter sido publicada em pleno mês da Consciência Negra, que Camargo despreza e deu provas disso por diversas vezes.

A presença dessa figura tenebrosa no comando da Fundação Palmares representa o escárnio dirigido as pautas de luta pela reparação racial no Brasil empreendida pelo povo negro ao longo de sua história em nosso país. A fundação Palmares foi criada com o intuito de dar voz aos negros no Brasil, que estes tivessem uma instituição que os representassem dentro da estrutura governamental do país. Infelizmente está nas mãos de um Stephen, que odeia sua cultura, nega sua história e tripudia rotineiramente de seus irmãos e irmãs .

Precisamos mostrar que somos inspirados sim por Mariguela, Madame Satã, Milton Nascimento, Lecy Brandão, Gilberto Gil, Elza Soares, Martinho da vila, Conceição Evaristo e todos os negros e negras que representam a força e a luta do nosso povo no Brasil. Racistas não podem passar, tampouco aqueles que os servem contra seu próprio povo. Fogo nelxs. 

 

 

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