O BBHT (Beatbass High Tech) lança o terceiro volume das BBHTapes, que foi iniciada durante a quarentena e com exclusividade no Oganpazan.
Uma verdadeira diáspora musical africana atravessa a tape traçando um roteiro sob influências diretas de percussões oriundas de terreiros de candomblé e umbanda sampleadas invadindo o espaço dos grimes, funk carioca da década de 90, corais afros, linhas de baixo bem costuradas e drumkits pesadíssimos. Mais uma vez o BBHT chega com uma (BBHTAPE), que é um trabalho genuíno onde não se sabe o que são samples e instrumentos analógicos em cada faixa.
Mas o Oganpazan lê a bula do medicamento faixa a faixa pra você se aprofundar nessa viagem afrofuturista que o Beatbass High Tech lhes oferece:
A tape inicia com a faixa Strummer Disco Afreeka em que de cara é notável o encontro entre Angola e Londres. Sim, estamos falando sobre Afropunk neste beat que possui samples de rock Angolano e batidas completamente influenciadas por This Is Radio Clash, de nada mais nada menos que o quarteto britânico The Clash que produziu esta fusão de gêneros musicais africanos com o punk inglês e lutou contra o racismo desde o início.
Seguindo o baile temos o lema Curtir, dançar, namorar sampleado do Rap da Rocinha de Mc Neném com a harmonia das guitarras de George Benson num miami bass envolvente convocando todo mundo pra curtir, dançar e namorar com a BBHTape Vol.03!
Eis então que Atlanta toma conta do pedaço entoando um blues nas linhas de baixo e nos corais que remetem às produções de Outkast e Childish Gambino. Seguimos navegando rumo à Bahia com We Lê Ayê numa referência ao Lé, tambor de marcação dos terreiros e aos tambores do Ilê Ayê, bloco afro baiano de suma importância para a negritude brasileira.
Da Bahia para a Cidade do Aço
É de Volta Redonda o sample da track Voltaço, um gangsta rap que surgiu do disco Linda Cabocla, de Maria Eduarda, cantora da cidade da década de 60 cujo disco vale 450 reais no mercado livre. O Beatbass High Tech dá novo sentido a essa produção esquecida, atualiza e coloca no mapa a música do interior do Rio de Janeiro que não deve em nada para qualquer produção mundial que esteja no hype.
Congo Calling the grimes!
O Congo, ritmo tocado nos terreiros de candomblé de nação Angola que se desenvolveu também nas macumbas cariocas e no tamborzão do funk dá o tom na segunda parte da tape mandando o tambor buscar quem mora longe para bater cabeça na sequência de grimes e traps a seguir. A tape incentiva o uso de batidas graves que quebram vidraças como as equipes de som nos bailes funks cariocas, tal qual o batuque das senzalas que invadiam as casas grandes em manifestações de festa pelo direito de luta e luta pelo direito de liberdade.
A arte que ilustra a tape foi assinada pelo quarto membro, Daniel Barreto e é repleta de signos que compõe a estrutura musical executada. Fotos de negros bantos, espadas de São Jorge, tickets de bailes funk volta-redondenses da década de 90, plugs de cabos e figuras que remetem às pinturas corporais do Olodum.
Na terceira parte da BBHTape segue-se um novo rumo e o interlude Fidel de Adidas flerta com os Beastie Boys num clima relax para respirar em mares calmos.
E para quem pensou que não haveria um beat de rap clássico se enganou pois é em Brooklyn Floyd que mais uma vez o BBHT promove a fusão dos beats pesados do Brooklyn com os samples londrinos cortados de um vinil do Pink Floyd diretamente para a MPC 1000.
Seguindo adiante na BBHTape Vol.3, adentramos no sertão nordestino na faixa Cavalo Veloz com destaque para o belo sample de piano Fender Rhodes extraído da canção Galope Rasante, de Zé Ramalho, presente no disco Frevo Mulher de Amelinha. Uma curiosidade é que esse mesmo sample foi utilizado na faixa de abertura do novo disco do também carioca Marcelo D2.
Encerrando o disco, o house “O maravilhoso ritmo dos garotos da loja de animais”, dá um tom sexy para a tape seguida de um groove homenageando Lincoln Olivetti, grande maestro que engrandeceu a música black e pop do Brasil com sua riqueza de arranjos.
O Beatbass High Tech consegue tecer um fio condutor nas três BBHTapes que mesmo com sonoridades completamente diferentes se entrelaçam e dão uma narrativa do que o BBHT é capaz de produzir sem limites de linhas ou gêneros musicais. Mais do que nunca, a música sobressai em meio às pandemias sanitárias e morais que estamos vivendo. O BBHT não pára! Ouça agora a BBHTape Vol.03 – Afrofuturo.
-O Beatbass High Tech lança o terceiro vol. da BBHTapes