A cantora e compositora Maria Paraguaya lançou recentemente o single “Eu Gosto de Você, Mas Também Gosto do Bar”, uma ode ao amor boêmio.
Um pouquinho sobre Maria Paraguaya
Maria Paraguaya é sem dúvida uma das grandes compositoras em atividade no país. Pode soar exagerado a ouvidos ainda alheios à sua obra, contudo, basta entrar em contato com suas composições para reconhecer haver sentido nesta afirmação.
Além de criar excelentes arranjos para as músicas que compõe como autora e coautora, Paraguaya se destaca pelas letras ricas em imagens, sonoridade e balanço.
A comunhão entre esses dois fatores, tal qual particularmente feito pela compositora, dão às músicas de Paraguaya um estilo bastante próprio.
Mesmo nas bandas, em que há participação de outras pessoas no processo de composição, conseguimos identificar aquele toque da Paraguaya. Em especial nas composições das Cigarras, banda que considero tornar mais evidente as intervenções da compositora.
Sua trajetória musical é longa, cheia de bifurcações, encontros e reencontros. Integra bandas importantes, entre elas a Cavernoso Viñon, que está de volta fazendo shows em Curitiba, Escambau, na ativa desde 2009 e Cigarras, está última conta com inúmeras matérias aqui no Oganpazan.
“Eu Gosto de Você, Mas Também Gosto do Bar”
Paraguaya é uma cancioneira do underground, não apenas artisticamente, mas nos hábitos e vivências. Não a toa as temáticas abordadas nas letras de suas composições geralmente são ambientadas nas sarjetas, bares e casas de show.
Suas músicas apontam para os lugares que recebem o desprezo da dita família tradicional brasileira. Nos últimos anos, com a escalada do bolsonarismo, a boêmia se transformou em alvo.
Hábitos, comportamentos e vivência em torno das mesas dos botecos foram bombardeados pelo moralismo hipócrita, antes circunscrito aos comentários maledicentes de tiazonas e tiozões nos aborrecidos encontros familiares.
Por isso mesmo, uma canção que coloca na voz de uma mulher a ressalva que gosta da pessoa, mas também do boteco, afronta o moralismo patriarcal que anseia por manter a mulher sob seu domínio.
Na letra o eu lírico fica sempre na tensão da adversativa. Bate a saudade da pessoa amada, maaassss o boteco ainda tá aberto. Então, o coração boêmio tem espaço pra alguém, maaaasss que esteja disposto a dividir espaço com o boteco e as noitadas.
E isso num folk bem cadenciado com leves matizes sonoros se intercalando ao longo de sua execução. Tem aquele coro de fundo dando destaque num trecho, a guitarra entrando com um efeito mais pesado entre um parte e outra. Finalizado com aquele barulho gostoso dos cubos de gelo caindo no copo esperando o líquido vir exercer seu calor sobre eles.