Skinheads, Rude Boys e suas origens jamaicanas, Hooligans e Oi! Oi! Oi! Um artigo sobre gêneros musicais, política racial e futebol
Geralmente eu costumo atender aos pedidos dos leitores e leitoras. Portanto, vez por outra me pego escrevendo sobre os temas sugeridos. Acho massa essa interação, até pelo fato de alguns temas passarem batido quando vou escrever. Na real, aqui na coluna Bolodoido acabo focando em assuntos relacionados ao hardcore / punk, mas como o nome já denota abraçamos todos os estilos.
Pois bem, um amigo do interior, Sérgio Assis, ao ler a matéria Bolodoido Musical Vol. 02 – Treta Nova Iorque X Boston pediu que eu escrevesse algo sobre Skinhead e Oi!, temas de seu interesse e dos quais gostaria de saber um pouco mais.
Não iria deixar de atender tal pedido, até porque é uma assunto incômodo para muita gente. Muitas pessoas se esquivam em falar e outras preferem maquiar usando outras nomenclaturas.
É necessário falar de início sobre essa maquiagem das nomenclatura. Não adianta você dizer que gosta ou discoteca sons early reggae, você está efetivamente discotecando ou ouvindo Skinhead Reggae. Grupos como:
Toots & the Maytals:
The Pioneers:
Mr. Symarip:
e muitos dos grupos lançados pelo selo Trojan Records (U.K.), são grupos de Skinhead Reggae e não early reggae ou qualquer outra coisa que você queira chamar apenas para maquiar o que ouve.
A maioria dos grupos de Skinhead Reggae faziam versões de grupos de Soul Music, grande parte do clássico selo Motown. Logo, como já pode ter percebido, o Skinhead Reggae é uma subgênero musical arraigado na cultura negra. Sabemos muito bem que grande parte da cultura negra foi apropriada pelos brancos, porém falaremos dessa apropriação cultural em linhas posteriores.
Voltemos a história do Skinhead Reggae. Ele surge no final dos anos 60, por isso é comum associar a expressão “Spirit 69” aos grupos da época, ou a pessoas que curtem aquele movimento surgido na Jamaica e logo dominante em toda Londres. Espalhou-se pelo chão das fábricas, nos portos, por toda classe operária, composta em sua imensa maioria por imigrantes de diversos países. Nesse momento a cena Skinhead Reggae não tinha qualquer vínculo político ou religioso. Isso se restringia em maior medida ao Reggae Roots, muito vinculado ao rastafarianismo.
Com a grande imigração do povo Jamaicano para Londres (U.K.), tanto o estilo musical quanto a estética em si, foram se popularizando. Muitos dos imigrantes que costumavam trabalhar nas fábricas do entorno de Londres, compunham o que se chama de “Working Class”, ou em bom português: a boa e velha classe trabalhadora.
Essa classe trabalhadora londrina era bem heterogênea, composta por imigrantes de diversas nacionalidades e jovens menos abastados nascidos na terra da rainha. Nos finais de semana, esse povo todo costumava se misturar. Então não era incomum você estar numa balada, naquela época, onde a galera agitava ao som de Punk Rock, New Wave, Skinhead Reggae e Ska.
Assim, nesse mesmo período, surge um movimento denominado 2Tone. Este movimento unia brancos e negros pra fazer um som legal, curtirem juntos e darem um foda-se para toda essa merda preconceituosa e racista. A banda mais representativa desse movimento é o The Specials.
O 2Tone, já era uma variação do Skinhead Regggae, Ska e outros estilos que estavam em voga na época. O som era por vezes mais acelerado e mesclava diversos elementos, como por exemplo o new wave. Uma banda que fazia essa mescla de forma primorosa era o The Selecter.
Também nesse mesmo período, onde tudo parecia acontecer no submundo de Londres, surgia a Oi! Music, tendo como bandas pioneiras o Cockney Rejects e o Cock Sparrer.
O Oi! advém do punkrock londrino, muito relacionado aos skinheads da época e aos hooligans. Como dito em linhas anteriores, entre os jovens da classe trabalhadora londrina o componente étnico era bem diverso. Todos praticamente estavam frequentando o mesmo ambiente. As bandas Oi!, diferente das bandas 2Tone, já têm uma pegada mais agressiva, faixas curtas e certeiras. Tais como o 4Skins.
A temática abordada pelas bandas Oi! e os grupos de Ska, 2Tone e até mesmo Skinhead Reggae, são bem semelhantes, pois esses grupos costumavam retratar a realidade dos jovens que ali viviam. Porém, no Oi! ficou bem nítida a relação estreita entre música e futebol, muito pelo fato de alguns componentes das bandas fazerem parte das firms (agremiação de Torcedores, correspondente a Torcidas Organizadas no Brasil).
Faz-se necessário destacar que o termo Oi! foi criado por um jornalista britânico, Garry Bushell, ao ouvir a música “Oi!Oi! Oi” do Cockney Rejects, o qual considerou que a música representava a identidade sonora do Oi! Realmente é um grito marcante.
No final dos anos 70 sua origem afro do Skinhead foi praticamente apagada, através de uma intensa campanha de propaganda feita pela extrema direita inglesa, a qual se inseriu no movimento apropriando-se dele, sendo os membros do National Front seus principais articuladores.
Assim, todos os lamentáveis episódios que existiam à época, relacionados a violência excessiva, ódio de raça e xenofobia, a mídia fazia questão de citar como atos de Skinheads, não deixando evidente a divisão Neo Nazistas, o que ajudou a estigmatizar e retirar a origem do movimento skinhead. Uma origem negra e jamaicana.
Desse modo, os with trash (lixos brancos) passaram a utilizar as mesmas vestimentas que os skinheads originais. Pouco a pouco foram se apropriando de tudo que advinha dos imigrantes e dos negros que eles tanto criticavam e perseguiam.
Houveram pontos de resistência, de proteção da subcultura e de suas origens. Um bom exemplo são os Redskins da França que faziam questão de espancar e roubar as indumentárias dos Neo Nazis. Depois usavam-nas para lembrar a quem realmente pertenciam aquelas vestes.
Outra questão levantada pelos críticos da subcultura Skinhead é o caráter xenófobo existente desde antes do final da década de 70, uma tentativa rasa de imputar a essa problemática uma existência anterior à infestação nazi na subcultura. Tais críticos adoram citar a faixa “Skinheads a bash them”, do grupo Claudette and The Corporation, que discrimina paquistaneses.
Subculturas, e ai eu englobo todas as subculturas, desde as de extrema esquerda, anarco e da extrema direita brigam por espaço territorial diariamente. Não é pelo fato dos Jamaicanos serem imigrantes e os Paquistaneses também que eles morriam de amores uns pelos outros. Naquela época tinha muito de ganguismo entre bairros e entre etnias. Além claro, dessa questão de domínio territorial.
Então sim, Claudette apesar de ser uma mulher negra cantava uma música de caráter preconceituoso direcionada contra os paquistaneses. Obviamente isso não faz dela uma nazista. Assim como, por outro lado, muitos paquistaneses tinham preconceitos contra Jamaicanos, o que também não faz deles nazistas, se é que me entendem.
Há outro ponto que precisa ficar claro. Quando algumas pessoas desinformadas sobre o hooliganismo, como movimento de torcedores, tem uma tara em falar sobre e, óbvio, acabam falando asneiras. O Hooliganismo é algo inerente àcultura futebolísitica londrina, porém motivo de vergonha para muitos governantes. Todas as etnias estavam, de algum modo, inseridas no contexto do hooliganismo. Portanto, não tentem associar o Hooliganismo exclusivamente a atitudes racistas. Chega a ser vergonhoso falar algo assim.
Apenas para citar alguns exemplos, a torcida do Millwall é bastante conhecida por não gostar de negros e paquistaneses em suas fileiras. Porém, a sua rival histórica, West Ham teve como líder de sua principal Firma, a Inter City Firm, por anos, o negro Cass Pennant. Outra torcida que agrega diversas etnias é a Birmingham Zulus, do clube Birmingham City, composto por negros, irlandeses, asiáticos e ingleses. Claro, o pessoal da Birmingham Zulus são fãs incondicionais do The Specials e do movimento 2Tone, sendo certo que já pegaram muito alemão ao som do bom e velho Specials.
Assim, está mais que evidente: a origem do Skinhead Reggae é uma origem negra e de imigrantes. Como bem citou a Afrotransfeminista Zoë Masan, em seu texto intitulado Cultura Skinhead: apropriada e deturpada “É no mínimo irônico que brancos fascistas tenham se apropriado da cultura skinhead, deturpado todo seu significado de resistência e transformado em símbolo de combate contra negros e outras minorias sociais. Nós negros temos que propagar cada vez mais informações sobre nossas origens culturais e nos afirmar como os grandes produtores culturais que somos para evitar que fascistas continuem nos agredindo de todas as formas. Negros, conheçam suas raízes”, mais irônico ainda é ver brancos fazendo questão de propagar, em forma de crítica, que a subcultura Skinhead é algo de brancos, vocês não cansam de usurpar nossa nossas raízes?
-Origens Jamaicanas do Skinheads, Rude Boys, Hoolingas e Oi! Oi! Oi!
Por Dudu
Fotos que ilustram a matéria por Gavin Watson
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muito foda a resenha!! ebm pontuada e esclarecedora! gostei muito
VALEU PIRU!
O LANCE QUE NEM TODO EARLY REGGAE É SKINHEAD REGGAE E VICE VERSA…EU MESMO NÃO ACHO QUE TOOTS SEJA SKINHEAD REGGAE…PODE ATÉ TER ALGO DISSO NO SOM…MAS ACHO QUE ELE ERA MAIS MUSICAL E MENOS DIRECIONADO… É UM CANTOR “POP” QUERIDO POR UMA GALERA NA ÉPOCA… DENTRE ESSA GALERA TINHA SKINS…MAS VC TÁ FALANDO UMA COISA CERTA … MEDO OU VERGONHA DE USAR O TERMO E A GALERA FICAR ENCHENDO O SACO…MAS QUANDO TOCA NA PISTA…A GALERA PIRA… É QUE NEM DIZER QUE É HARDMOD…MEDONHO DE DIZER QUE É SKINHEAD…
BOM…SOBRE OS PAKI (VOU USAR AQUI UM TERMO RACISTA PRA FALAR SOBRE A MÚSICA CITADA), INFELIZMENTE EXISTEM PRECONCEITOS DE TODOS OS LADOS ..E OS PAQUISTANESES SOFRERAM MUITO…LEMBRO QUE EM 2005 UMA AMIGA MOROU LÁ EM LONDRSS, NEGRA, NA ÉPOCA ELA NÃO GOSTAVA DOS PAQUISTANESES, NÃO LEMBRO PQ …TALVEZ HJ ELA PENSE DIFERENTE…A LETRA DA MÚSICA NÃO ACHO RACISTA…SE VOCÊ LÊ, ATÉ ONDE EU LEMBRO, É UMA INDAGAÇÃO DA CLAUDETE PQ OS SKINS BATEM NELE…TALVEZ O USO DO TERMO PAKI SEJA O RACISMO DA LETRA ..MAS ELA IA CANTAR COMO SE A LINGUAGEM DA QUEBRADA ERA ESSA?
TÁ DANDO A IDEIA CHEQUE PRA GALERA SACAR A REAL…PRA SE LIGAR…E PQ DÁ PAU NELES? PQ ISSO?
ESSA CANÇÃO CITA O PAKIBASH, TERMO USADO PELOS SKINS DA ÉPOCA, BRANCOS OU NEGROS, PARA SAIR PRA DAR PORRADA NOS CARAS… INFELIZMENTE PRA MIM, ISSO É UMA REALIDADE AINDA…GALERA DE BAIRRO PROCURAR TRETA COM OUTRO…TORCIDA…E POR AÍ VAI… É AMPLA A VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE… JÁ VI EM ESTÁDIO TORCEDOR NEGRO MANDAR “SERGIPANO CABEÇA CHATA VOLTAR PRA CASA”…RACISMO…PORQUE ALGUMAS PESSOAS IMBECIS DIZEM QUE SERGIPE É QUINTAL DA BAHIA…UM CRIME ISSO… ACHAR QUE SOMOS UMA “RAÇA SUPERIOR” EM RELAÇÃO AOS SERGIPANOS… HORRÍVEL.
JÁ VI CHAMAR CEARENSE TB DE CABEÇA CHATA E POR AÍ VAI…NOSSA SOCIEDADE, COMO QUALQUER OUTRA É COMPLEXA…E ESSE ÓDIO AOS PAQUISTANESES É – INFELIZMENTE – MUITO COMUM NA INGLATERRA…VIDE QUE FALEI ACIMA…EM 2005 UMA MULHER, NEGRA E BRASILEIRA NÃO GOSTAVA DELES…E OLHA QUE ERA UMA MINA QUE NUNCA HAVIA FALADO NADA DE NINGUÉM…ME SURPREENDEU…E ERA BEM CABEÇA ABERTA…E NÃO ERA – E CREIO QUE NÃO É – DE DIREITA… PROVAVELMENTE OS SKINS DA ÉPOCA DEVEM TER ABSORVIDO ESSA CULTURA DE ÓDIO DO PRÓPRIO PAÍS…CLARO QUE NEM TODA INGLATERRA ERA ASSIM …
O ANTISEMITISMO PENSAMOS QUE SOMENTE É UMA COISA DOS NAZI…MAS NÃO…A FRANCA MESMO TEM UM HISTÓRICO ANTI-SEMITA MUITO GRANDE…VIDE O CASO DREYFUSS, SAIU ATÉ UM FILME ESSE ANO SOBRE O CASO…UM ABSURDO ESSE EPISÓDIO…FAKE NEWS DO SÉCULO RETRASADO…CRIME…E ATÉ MESMO OS COMUNISTAS TINHAM UM ANTISEMITISMO FORTE …SER HUMANO É UMA DESGRAÇA.
NÃO CONHECIA A ZOE…GOSTEI MUITO DA FALA DELA…NUNCA ENTENDI, DESDE 1993 QUANDO TIVE CONTATO DIRETO COM A CULTURA SKIN, PORQUE SER SKINHEAD NAZI…DEVIAM SER QQ DESGRAÇA ..MENOS SKIN..NEM OUVIR ROCK DEVERIAM… CONTRADIÇÃO TOTAL.
NÃO ACHO QUE A CULTURA SKINHEAD SEJA DE DIREITA OU DE ESQUERDA…EMBORA EU SEMPRE ACHO QUE SE VAI “CONTRA O SISTEMA” É DE “ESQUERDA”, MAS ESSE MUNDO É TÃO COMPLEXO E DOIDO…ACHO QUE A POSTURA POLÍTICA IA DE CADA UM, CADA UMA, OU DE INFLUÊNCIA FAMILIAR OU ALGO DO TIPO.
SOBRE O OI!, JÁ VI DIZER QUE FOI O PUNK QUE NÃO SE VENDEU…FAZ CERTO SENTIDO…PORQUE O PUNK “SE VENDEU” (COLOCAR BEM ASPAS AQUI), VIROU MODA E O OI! ERA O SOM DA QUEBRADA…SÓ GUETO… MALDITO… NÃO VIROU MODA… ENTÃO A GALERA FAZIA UM SOM “CHAMADO OI!”, QUE OS SKINS PEGARAM E USARAM DE FORMA DE APROPRIAÇÃO, JÁ VI ATÉ CARECA DO BRASIL FALANDO ISSO…FAZ SENTIDO ..PORQUE SE VC OLHAR BANDAS DE OI…VAI VER ALGUNS COMPONENTES QUE NADA TEM A VER COM SKINHEAD NO VISUAL…VIDE COCKSPARRER, 4-SKINS…O PRÓPRIO COCKNEY REJECTS DENTRE OUTRAS…MAS CLARO QUE HÁ UMA FORTE LIGAÇÃO DO OI COM O SKIN.
PODIA ROLAR UM PODCAST SOBRE O TEMA…IA SER INTERESSANTE.
PARABÉNS PELA MATÉRIA E COLUNA… HÁ MUITA COISA PRA SER COMENTADA A RESPEITO.
GOSTEI DA MATÉRIA BUBUTE.
MAS PRA VC NÃO CHORAR, EXCELENTES PONTUAÇÕES.
VALEU PIRU-EHHEHEHEHE
Lembrei de outra cousa…passei até o link pra um amigo brazuca que mora em Londres ..lembro dele me dizer uma vez que há uma diferença entre os skins de Londres e os do interior… não acho que seja uma regra…mas até onde lembro, foi há mais de 10 anos, bote mais nisso…ele me disse os da capital seriam mais “mente aberta” e os do interior mais radicais e reaça… não foi bem isso…mas algo do tipo…TB não todos devem ser assim… porém é outra coisa a se observar…