Hoje fazem 50 anos de lançamento de Black Sabbath, o álbum responsável por trazer o terror para o rock!!
O nome Black Sabbath foi tirado de um filme de terror de mesmo nome estrelado pelo icônico ator desse gênero cinematográfico, Boris Karloff. Isso sugere que a intenção dos membros do Black Sabbath, desde o início, consistia em causar medo nas pessoas através da música. Quando falo através da música estou estou me referindo ao som, à sonoridade construída pela banda a partir do seu álbum de estréia. Letras abordando temas ligados ao terror, ao macabro sempre fizeram parte da música, porém ter o som como elemento de terror, causa de arrepios e medo, isso era novidade.
Contribuíram para a construção dessa sonoridade a configuração grave do baixo e do bombo e tons, além do andamento arrastado das músicas, apresentando-se como suporte perfeito para os riffs da guitarra, bem como dos improvisos empenhados em explorar todas as possibilidades de frases disponíveis pelas escalas pentatônicas. Vez por outra a blue note era introduzida gerando o trítono, a famosa nota do diabo, resultando num riff simples, mas característico, que se tornaria a marca definitiva do heavy metal.
O Black Sabbath apresentava ao mundo em seu primeiro álbum aquela sonoridade que anos depois identificaria o heavy metal e décadas depois o stoner rock, além de toda uma geração de bandas dos anos 2000 em diante auto declaradas filhos diretos do Black Sabbath. Entre essas podemos citar a Kadavar, Stoned Jesus, Graveyard e Earthless.
Nesse sentido, bandas consideradas precursoras do heavy metal como Blue Cheer, Led Zeppelin e Deep Purple ficam em segundo plano quando o ponto é a origem desse gênero. Estão nos fundamentos da árvore genealógica do metal, porém numa linha original distinta do Black Sabbath, banda que forma 80% do DNA do metal. O Led e o Purple estabeleceram de forma decisiva as bases do prog. do hardrock e do blues Rock, esse é o legado maior destas bandas. Portanto, todos os desdobramentos do metal nas décadas posteriores teve início com a sonoridade criada pelo Black Sabbath e apresentada ao mundo no dia 13 de fevereiro de 1970, quando foi lançado oficialmente o álbum homônimo da banda.
Existe um fato sinistro responsável por determinar o modo do Black Sabbath executar suas músicas. Tony Iommi sofreu um acidente e perdeu a sensibilidade em dois dedos da mão direita. Dessa forma, para tocar as músicas precisava de andamentos lentos, além de afinar a guitarra em tonalidades mais baixas, assim as cordas da guitarra ficavam mais frouxas e diminuíam as dores na mão do guitarrista ao tocar.
A partir desse contexto se exigiu que a banda se adaptasse à condição de Iommi para tocar as músicas. Tal exigência levou a banda a meio que sem querer a superar os elementos característicos do blues rock e do rock pscodélico tão em voga ao longo dos anos 60. Quando foi lançado, em formato vinil, claro, tinha o lado A composto por músicas que seguiam os parâmetros estéticos elencados e o lado B claramente formado por músicas escolhidas para completar o disco.
No lado A estavam Black Sabbath, The Wizard, Behind the Wall of Sleep, e N.I.B. Faixas que evocavam todo um simbolismo envolto em ocultismo, paganismo, o mal, bruxaria, toda uma temática que encontrava no tipo de sonoridade feita pela banda o complemento perfeito para “envenenar” a imaginação das pessoas. Complementam o álbum pelo lado B Slepping Village, Warning e Wicked Wordl. Estas três faixas mantém uma pegada ancorada no blues rock, sendo Warning uma jam de 10 minutos. São excelentes faixas, embora estejam desconectadas do set presente no lado A.
Outro elemento assustador presente no álbum é sua capa. A imagem de uma paisagem outonal britânica com uma casa de aspecto deteriorado ao fundo, tendo disposta lateralmente a figura sombria do que parece ser uma mulher vestida de preto cujo olhar é impossível identificar, o que torna a imagem ainda mais arrepiante. Lembro que durante a adolescência amigos diziam que a tal figura era o Ozzy. Bom, o aspecto do Ozzy ao longo dos anos 90 era realmente idêntico àquela imagem.
A foto é de autoria do fotógrafo Marcus Keef, contratado pela Vertigo Rercods para tirar a foto que ilustraria a capa do primeiro álbum de metal ta história. Também são de Keef as fotos que estampam famosos álbuns como o The Man Who Sold The World (1970) do David Bowie, o excelente Gasoline Alley (1970) do Rod Stewart e outro álbum do Sabbath, o Paranoid, também de 1970. Significa que o conceito por trás da capa não foi ideia da banda, mas dos produtores. Estes captaram de forma inequívoca a alma do álbum e conseguiram expressar bem o que trazia em seu interior.
O lançamento de Black Sabbath foi a tempestade que encobriu com suas nuvens carregadas de eletricidade, fortes pancadas e tormenta, o radiante sol que banhava de luz os campos floridos da colorida psicodelia hippie. Foram os quatro caras que souberam usar o legado das notas distorcidas e envenenadas pelo verdadeiro deus do trovão, Jimi Hendrix, levando os fundamentos por ele deixados para um patamar ainda mais pesado e barulhento.
No dia 13 de fevereiro de 1970, uma sexta feira, há exatos 50 anos, o Black Sabbath trazia morbidez, gravidade, peso e tocava o fogo infernal no rock. Os sinais estavam lá, quando se ouve a chuva caindo sob o solo, mais adiante sinos começam a badalar ao fundo e trovões chacoalham o céu, o contexto estava criado para que o último elemento macabro fosse introduzido, o maldito trítono, o intervalo do diabo, imprimindo medo nos corações inocentes e fazendo fervilhar as mentes inquietas de jovens sedentos de algo que lhes desse energia.
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