A coluna Bolodoido Musical traz um dos papas do hardcore nordestino, Sílvio Campos. Dudu conversa com o lendário vocalista da Karne Krua sobre a cena hc sergipana, nordestina e a longevidade de uma das principais bandas do hc brasileiro em atividade.
Existem algumas bandas clássicas da cena punk nordestina que estão em plena atividade desde os anos 80. São verdadeiras entidades do Punk. Apenas para citar exemplos, temos o Devotos de Pernambuco, aqui na Bahia temos a Pastel de Miolos e em Aracaju temos a Karne Krua.
A Karne Krua já passou por diversas formações, mas Silvio Campos, frontman da banda, sempre esteve ali. Silvio é um verdadeiro agitador da cena punk sergipana. Inspirou e segue inspirando diversas gerações de garotos e garotas do hardcore. Justamente por isso o convidamos para um bate papo aqui no Oganpanzan.
Dudu (Oganpazan) – Antes de mais nada gostaria que a gente pudesse voltar lá no comecinho da banda. Como se iniciou a Karen Krua e como era a cena punk sergipana na década de 80?
Silvio (Karne Krua) – Tudo se resumia a pouquíssimas pessoas. Às vezes fazíamos caminhadas pelas ruas de Aracaju com visual para sermos vistos como um grupo urbano. Punks numa cidadela pequena cheia de preconceitos. Queríamos viver a coisa punk, mas era realmente difícil. Além disso vivíamos a procura de novos rockers pra se juntar a nós. Bastava vermos alguém com uma camisa de banda para abordarmos e tal, mas as vezes era só uma camisa. As dificuldades com instrumento e estúdio para ensaios eram imensas. O tempo e esses obstáculos a banda enfrentou e superou.
A Karne é de 1985. Praticamente os primeiros anos dessa cena compreende de 1985 a 1990. Onde nos dois primeiros anos eram só os envolvidos com a banda mesmo que poderíamos compreender como cena. Algumas bandas como Logorréia, Manikomio, Forças Armadas, Cleptomania, Sublevaçao, Condenados, Forças Armadas, ETC, Olho Por Olho, Los Repugnantes, Lektospiroze, Liprofenia foram parte dessa cena, mas vieram depois.
Dudu (Oganpazan) – E nessa caminhada quantos discos vocês já lançaram? Fale um pouco deles.
Silvio (Karne Krua) – Lançamos muitas demos que foram importantes para a história da banda. Oficialmente temos nosso primeiro LP de 1994, o qual foi um marco pra banda devido a todas as dificuldades da época. Naquele momento sem a ajuda de outras pessoas seria impossível.
Os álbuns “Em Carne Viva” e “Inanição” trazem uma síntese de tudo que foi e é a Karne Krua. Com suas letras e enfoque sobre o mundo, mas atrelado as coisas de nossa região e do Brasil.
Por final temos o “Bem vindos ao Fim do Mundo”, o qual faz uma sinopse do caos mundial que vivemos e até onde podemos ir com todos esses desmandos e descontrole.
As demos tapes não foram menos importantes dentro desse contexto. Voltando às raízes, queremos lançar ainda esse ano o “Primitiva” como um cd oficial. Um resgate de sons de demos nunca lançados oficialmente. Punk hc dos melhores, posso dizer.
Dudu (Oganpazan) – Do início da banda, apenas você é da formação original? Fale um pouco das formações e como se consolidou essa formação atual da banda.
Silvio (Karne Krua) – Cara posso citar momentos. Foram muitas formações. O momento do lançamento do nosso primeiro LP, do álbum “Em Carne Viva”, o “Inanição” e mais recentemente o momento do LP “Bem vindos Ao Fim do Mundo”. Sem desmerecer outros momentos, esses citados foram grandiosos.
A formação atual eu gosto muito, existe uma calmaria na banda…uma calmaria super produtiva e isso tem a ver comigo e meu jeito. O baterista eu já tinha tocado com ele na Words Guerrilla, o Ivo (The Renegades of Punk) já estava tocando baixo na banda a anos e convidou Lilo (Ternura / The Renegades of Punk) para a guitarra que caiu como uma luva, pois tínhamos perdido o Alexandre que foi um cara importantíssimo para a banda.
Já estávamos com material novo com essa nova formação. Estávamos preparados pra entrar no estúdio. Aí veio a pandemia e tivemos que adiar. Paralelo a isso, como dito anteriormente, temos um álbum pronto a ser lançado o “Primitiva”.
Dudu (Oganpazan) – Eu conheci a Karne Krua através de outra banda sergipana, a Triste Fim de Rosilene, que gravou o cover de “Sangue Operário” pro Split com o Mais Treta (BA) e Ofensa (ES). Tempos depois Ivo, que tocava baixo na Triste Fim entrou na Karne Krua, como você já adiantou anteriormente. Como se deu esse verdadeiro encontro de gerações da cena punk de Aracaju?
Silvio (Karne Krua) – Sempre fui um cara aberto a novas pessoas. Sempre procurei escutar os novos no meio e assim dar e receber conselhos. Conhecer novos pensamentos, aprender e repassar.
O Ivo, assim como outros, vieram de outras bandas e se integraram à Karne Krua. Sempre gostei de tocar e inspirar as bandas novas e pessoas para que essas pessoas levem isso ao futuro, quando eu não mais puder fazer isso. Será parte do meu esforço e arte.
Dudu (Oganpazan) – Vocês já tocaram algumas vezes aqui em Salvador, como é a relação de vocês com a cena soteropolitana?
Silvio (Karne Krua) – Toquei muitas vezes e sempre foi muito bacana. Há um grande respeito sempre.
Dudu (Oganpazan) – E com as cenas de outros estados, vocês têm uma boa relação? Poderia comentar um pouco sobre?
Silvio (Karne Krua) – Tenho contatos e relações com várias pessoas e bandas de outros estados. Estou sempre disposto a conhecer novas pessoas bacanas dentro desse meio. Tenho contatos Brasil afora e posso citar Bahia, Alagoas, Recife, São Paulo, Porto Alegre…
Dudu (Oganpazan) – A Karne Krua é considerada uma entidade do punk nordestino. Faz parte de um seleto rol de bandas que se mantém ativa há décadas! O que lhe impulsiona a não desistir?
Silvio (Karne Krua) – O feeling que sinto nessa música e toda sua força, energia e postura. Isso é tudo que me move.
Dudu (Oganpazan) – Você, paralelamente a Karne Krua, mantém uma loja de discos. Fale um pouco da loja e quais as dificuldades em manter esse tipo de negócio em tempos de isolamento social por conta da pandemia.
Silvio (Karne Krua) – Tem sido muito difícil esse momento. Eu tive que usar mais as redes para alguma coisa caminhar e, claro, se recriar. Para que quando tudo isso passar eu possa seguir de pé.
Dudu (Oganpazan) – Como você enxerga a atual cena hardcore/punk de Aracaju? Poderia nos indicar algumas banda necessárias para quem está alheio a essa cena de bandas tão criativas?
Silvio (Karne Krua) – Quanto a questão de produção, antes da pandemia até tava rolando shows. Agora deu uma travada e quem pode produzir nesses tempos o faz. Mas acho ainda um processo complicado.
Temos algumas bandas em atividade, outras paradas, mas todas compartilham da boa ideia do punk. Zeitgeist é uma banda que gosto muito. Tem a Ideal, resistente e super ativa. A grande Renegades of Punk com um histórico e trabalho de persistência dentro do faça você mesmo grandioso. Logorréia, a qual faço parte e vai na vibe grindcore. Tem também a Casca Grossa, outra da qual faço parte, com uma história de resistência dentro disso, com uma sonoridade mais tradicional do punk hc. A Olho Por Olho, que ataca numa pegada noise punk e é veterana nisso. Tem também a Iconoclastia, também punk hc e resistindo ao tempo e as dificuldades com formação. A Karne Krua, da qual faço parte, e pode ter outras bandas novas em ensaio e outras que não conheço.
Nota do Colunista: Se você quer conhecer algumas dicas de bandas da cena sergipana, confere essa matéria com uma lista de 10 bandas.
Dudu (Oganpazan) – Deixe um recado final para os leitores e leitoras do Oganpazan.
Silvio (Karne Krua) – Como fanzineiro que sou, deixo aqui meu agradecimento ao Oganpazan pelo espaço e interesse em propagandear a Karne Krua. Assim como a todos e todas que de alguma forma se identifica e divulga nosso trabalho.
Qualquer coisa é só entrar em contato direto com a banda, 79/999248973, ou em Instagram ou Facebook.
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