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27 nov 2024




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Gil Scott-Heron & Brian Jackson em tributo reggae do The Archives
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Gil Scott-Heron & Brian Jackson em tributo reggae do The Archives 

Gil Scott-Heron & Brian Jackson em tributo reggae do The Archives, o disco Carry Me Home (2020) é uma homenagem necessária!

Poucos artistas foram tão importantes como o Gil Scott-Heron e o Brian Jackson. O primeiro foi a voz de quem não tinha voz. O segundo fez a trilha ao piano. Complementares criativamente, Gil e Brian trabalharam juntos de maneira prolífica durante todos os anos 70 e começo dos anos 80.

Relevantes também em suas respectivas carreiras solos, Brian colaborou com outros artistas, como o Earth, Wind & Fire, além do Stevie Wonder, por exemplo. O beat do gueto – Gil Scott, por sua vez – se manteve mais recluso, com foco na escrita e poesia, enquanto equilibrava seus problemas com o crack e a cocaína.

É bastante contraditório ver que um negão do gueto que educou gerações sobre a importância de se manter longe do pó, caiu justamente pra ele e o cachimbo. Felizmente, o legado do repertório desses caras é grande demais para ser ignorado.

É bem verdade que eles nunca tiveram o devido reconhecimento. Em vida, Gil ainda gozou de certa notoriedade. Nos anos 70 os discos da dupla até foram bem nas paradas, mas depois de 1982 Gil sumiu e só apareceu em 94 com “Spirits” e o seu último registro, o competente “I’m New Here”, lançado em 2010.

Já em 2011, o MC analógico nos deixou depois de ser hospitalizado em função de uma pneumonia. Gil era HIV positivo e com certeza isso contribuiu com a aceleração da doença, até que ele não resistiu e foi ministrar aulas de Hip-Hop nas nuvens. Resta saber apenas se ele aceitou um DJ ou se pediu pra chamar a galera do Booker T. Jones novamente. Seu parceiro Brian segue bastante ativo – além das colaborações citadas – inclusive tinha um show marcado em São Paulo (no SESC 24 de maio), mas o evento foi adiado em função da pandemia.

Trocadilhos à parte, desde o falecimento de Gil, surgiu um interesse renovado em seu catálogo, principalmente as gemas encabeçadas pela dupla. É justamente essa fagulha genuína que está fomentando diversos relançamentos e projetos em tributo ao legado de 2 dos mestres da música negra.

Um dos meus preferidos é o “Carry Me Home”: Gil Scott-Heron & Brian Jackson”. Segundo disco do The Archieves – grupo de Reggae que começou depois que o Eric Hilton – Thievery Corporation – foi pesquisar as raízes do groove mande in Jamaica. A ideia que começou como uma banda cover ao lado do tecladista Darryl “Trane” Burke se expandiu e virou um projeto com apenas a nata do Reggae Roots.

Músicos que tocaram ao lado de nomes como Gregory IsaacsThe Abyssinians,  Eek-A-Mouse, Culture… Era o fino do fino, com um repertório capaz de ir do Dancehall ao Dub com um acabamento instrumental classudo e que passa longe do revisionismo. Com flautas, uma energia bem progressiva em termos de exploração dos sons, órgão e escaleta, o trampo de timbres é impecável.

E para comemorar o que seria o que 71° do Gil, o grupo ainda contou com colaboração do próprio Brian Jackson, além de convidados de peso, como Addis Pablo (filho do mestre Augustus Pablo) para gravar um dos discos mais interessantes do calendário 2020.

 

Track list:
“Home Is Where the Hatred Is” (feat. Puma Ptah)
“Rivers of My Fathers” (feat. Addis Pablo, Puma Ptah)
“Peace Go With You Brother” (feat. Puma Ptah)
“It’s Your World” (feat. Brian Jackson, Puma Ptah)
“Who’ll Pay Reparations On My Soul?” (feat. Mustafa Akbar, Puma Ptah)
“Song of the Wind” (feat. Puma Ptah)
“Must Be Something” (feat. Brian Jackson, Puma Ptah)
“A Toast to the People” (feat. Raheem DeVaughn)
“The Revolution Will Not Be Televised” (feat. Kenyatta Hill, Mateo Monk)
“Cane” (feat. Puma Ptah)
“Revolution Disguised as Change” (feat. Mutabaruka, Puma Ptah)
“Winter in America” (feat. Brian Jackson, Puma Ptah)
“Home Is Where the Hatred Is” (I Grade Dub Mix)
“Rivers of My Fathers” (I Grade Dub Mix)

É difícil sintetizar um repertório tão cabuloso quanto o que o Gil e o Brian cunharam. Um dos pilares para a excelência desse projeto, com toda certeza passa pela curadoria do set list. Os temas reunidos aqui são uma excelente porta de entrada para o universo de Gil Scott-Heron e as colaborações do próprio Brian só abrilhantam ainda mais o registro.

É interessante observar como a pesada marcação do roots sustenta o caráter de resistência desses sons. Eles são ressignificados, mas apenas esteticamente, ideologicamente a palavra segue plena e com o mesmo objetivo, seja nos Estados Unidos ou na Jamaica: despertar o ouvinte.

Os sons olham para o legado Funk Soul de “Home is Where the Hatred Is” e analisam o outro lado dessa moeda. Trazem uma visão com arranjos com volumosos metais. Tem um tempero diferente. A percussão marcando, a escaleta em gravidade zero do Pablo em “Rivers Of My Fathers”.

O uivar do órgão, a valorização de cada palavra composta pelo poeta. Temas como “Peace Go With You, Brother” viram hinos. É possível imaginar os rastas num culto, louvando esse repertório e é muito interessante observar o que aconteceram com os temas mais swingados, como no caso de “It’s Your World”, por exemplo.

O Reggae tem um groove natural, mas swingar sem perder a pegada é um grande desafio. Outra característica muito forte nesse trabalho é a linha de vocais. O Gil Scott-Heron sempre flutuou nas bases e ver vozes harmonizando temas como “Who’ll Pay Reparations On My Soul” – com Mustafa Akbar e Puma Ptah na voz – trazem até um novo lirismo para o som.

É interessante observar como o Spoken Poetry (poesia falada) do maestro era versátil e dava espaço para propostas como essa. Gil Scott-Heron era um grande vocalista e isso muitas vezes acaba passando desapercebido. A versão de “Winter In America” – com colaboração do Brian – consegue reviver um clássico. O Dub debochado que encerra o disco, pra versão de “Home Is Where The Hatred Is” pesa uma tonelada.

Excelente e criativo trabalho.

-Gil Scott-Heron & Brian Jackson em tributo reggae do The Archives

Por Guilherme Espir 

 

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1 Comment

  1. Abu

    que foda! também fico pensando em como o gil scott heron não recebe muito o devido reconhecimento enquanto vocalista. acho a voz dele muito foda! timbre inconfundível, muita emoção passada em cada linha vocal… enfim parabéns pela resenha.

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