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História do rap baiano em 10 vídeo clipes!

História do rap baiano em 10 vídeo clipes! Aqui trazemos alguns dos pilares do rap na Bahia, num bonito fragmento através do audiovisual

Como rimou o mano Kiko Mc no grupo histórico Afrogueto, na faixa Dinheiro Maldito: “O rap mostra uma cultura muito linda e bela, break e grafite, MC, favela”, porém é necessário conhecer essa cultura, e principalmente tornar a história desse movimento e seus atores, algo visível às novas gerações. Somente o conhecimento da história, a consciência dos caminhos que foram trilhados e das forças que foram trabalhadas, podem resultar em uma cultura forte. É necessário percorrer o caminho da história coletiva desse movimento para entender os erros e acertos do mesmo, que resultaram na possibilidade de sermos hoje. Apenas dessa forma seremos capazes de nos iluminar e fortalecer como cultura hip-hop. 

Aqui no Oganpazan, estamos sempre na disposição de visibilizar as novas produções do rap baiano, mas também em reconhecer e trazer à luz os pilares da história que se fazem presentes no cenário. Ao longo do texto o leitor terá acesso a diversos hiperlinks em vermelho que lhe encaminharam para outras tantas matérias que temos feito, sobre os nomes aqui mencionados. 

A história do rap BA é muito rica e que até agora só encontrou fragmentos maiores ou menores para registrar o seu tamanho, isso obviamente porque essa história deve ser contada através de um esforço coletivo. O tamanho dessa empreitada não pode ser uma iniciativa de poucos pesquisadores. Ainda assim existem dois livros que são obrigatórios para qualquer pessoa que queira se iniciar e começar a vislumbrar a amplitude dessa história. Bahia com H de Hip Hop, do pesquisador Jorge Hilton. Outro trabalho digno de menção é o livro Hip-Hop Educação e Poder, O Rap Como instrumento de Educação de autoria do também pesquisador Ivan Dos Santos Messias. São livros que mapearam sob perspectivas diversas a história do hip hop baiano e precisam ser mais conhecidos. 

Dito isso, aqui dentro de um viés metodológico mais freestyle reunimos 10 audiovisuais que são importantes e pouco conhecidos de uma imensa parcela do atual e mesmo de muitos do velho público do rap baiano. Alguns desses trabalhos já completam mais de dez anos de lançados e alguns não conhecíamos, outros já são hits aqui na redação faz um tempo. Mas em todos os casos o que se percebe é a grande qualidade musical num cenário que era muito inóspito uma década ou mais atrás. Mas assim fazem os pioneiros, vão lá e vencem, com dificuldade, com a força do sonho em realizar e a necessidade de resistir. 

Selecionamos os trampos dos grupos/artistas Império Negro, OQuadro, Preto Seda, Calibre & Fall, Versu2, DaGanja, Elvis Kazpa, Mr. Dko, Gurih e Opanijé, que aqui reunidos como fragmentos dessa história que precisa sempre ser recontada, nos oferecem um panorama da diversidade e da força do rap baiano. Flow, musicalidade, lírica, conceito, fazem parte intrínseca da nossa história, não foram inventados outro dia. E aqui está uma pequena fatia reunida para que você se disponha a dar o play.

Império Negro

Grupo emblemático do rap baiano, o Império Negro tem três discos em sua carreira e aos quais estamos em busca. Em sua prolífica trajetória o Império Negro serviu de escola para os mano Jeferson Negão, para Xarope Mc, assim como para o grande mestre DJ Gug, que estão até hoje como parte fundamental do nosso cenário. DJ Gug é uma das figuras mais importantes do cenário atual com produções atravessando a história do rap baiano, riscando também e se apresentando em festas pela cidade.

Assim como Xarope Mc que hoje segue carreira solo como MC, tendo lançado o excelente disco Preto Pra Caralho(2019). O Império Negro se fez uma parte fundamental do rap na virada do século XX para o XXI e consequentemente do hip hop baiano, e esse videoclipe é um registro importantíssimo nessa caminhada.

Grupo de trincheira, crítico do sistema, no clipe com direção de Fabrício Jabar e André Stangl, com atuação do próprio DJ Gug, consegue de modo mais suave, e que naquela altura buscava comunicar com a favela, problematizar o sistema burguês de trabalho dentro de uma perspectiva racial, que equipara o sistema escravista a divisão capitalista do trabalho, tal como vivemos hoje.

OQuadro    

Não é atoa que a banda OQuadro de Ilhéus, cidade do sul baiano é o que é hoje, uma trajetória imensa projetou esses caras no presente, e ainda assim a posição que eles ocupam hoje no mercado musical, não lhes faz justiça. Porém dada a configuração desse mesmo mercado de views e celebridades da noite pro dia, de produtos podres em sua grande parte, é bom que eles ali não estejam. São 24 anos de história que fazem uma vida verdadeira na cultura, e que não pode ser alcançado por muitos desse público escroto e deturpado que hoje circunda o Hip-Hop.

Aqui ainda iniciando sua sonoridade que logo depois tomaria os bons ouvidos do Brasil inteiro. No clipe Nêgo Freeza, Ricô, Jef Rodrigues e o grande MC Rans, conduzem a faixa com uma sequência de linhas afiadas e alinhadas nas bases do DJ Reneudes. Se a sonoridade do grupo nessa altura ainda não estava plenamente desenvolvida, nas linhas os dois MC’s desfilam uma série de críticas ao mercado, mas mais profundamente ao sistema capitalista e sua mercantilização da vida e dos desejos.

Preto Seda 

Uma das forças do rap baiano que me levaram a escrever e fazer essa pesquisa, o mano Preto Seda foi e é, peça fundamental do rap baiano, esse preto de São Caetano, provavelmente nunca sentiu o carinho e a importância que tem. E digo isso, porque uma série imensa de outros artistas não conseguem também, sacar o tamanho que possuem. Deveria bastar dizer que Preto Seda fez parte do Afrogueto, porém muitos hoje não conhecem o trabalho e a importância do mesmo para o rap nordeste e consequentemente para a cultura hip hop nacional.

O clipe de Rima Perigosa, faixa solo do MC de São Caetano, deixa bastante nítido o cruzamento de suas influências do Wu Tang Clan, com um estilo de rimas que é mito próprio do seu bairro de origem. O audiovisual conseguiu captar com bastante clareza a força de suas rimas, o estilo underground gangueiro, rua até a medula que caracterizam sua arte. A produtora Caixa de Lixo foi responsável por capturar grandes momentos do rap BA, e DJ Mário (Afrogueto) também aparece nesse registro. Aqui temos Preto Seda que é um dos nomes que a nova geração precisa conhecer, e que torcemos para que em breve volte ao cenário, com a força do seu rap.

Calibre & Fal

https://www.youtube.com/watch?v=tTgAemdz3NU

Aqui um verdadeiro registro de pioneirismo, encarnado pela dupla Calibre e Fal que inclusive lançaram um disco juntos. Calibre é um dos nomes mais injustiçados pela nossa recente história, diante do imenso trabalho que desenvolveu, sendo um pioneiro nas sonoridades novas no Rap Ba. Ele que é “o” pioneiro do Trap Pagodão e não tem essa invenção muito bem registrada na mídia nacional, assim como inovou aqui metendo um beat pegada “batifun”, onde ele e Fal rimam sobre aspectos da ignorância que tomava alguns grupos do rap local.

Toda cultura que começa a se estabelecer tende a ter o seus padres e juízes dogmáticos, e aqui em “Na Cabeça o Boné”, o roteiro que exemplifica em imagens a música, trabalha sobre a busca do rap por uma visibilidade maior. Ora, não é a roupa que determina quem é ou não, né verdade? Fal e Calibre deixam isso claro, e mais do que isso, o clipe que é um hit instantâneo, traz diversos nomes hoje mais conhecidos como Makonnen Tafari e Dj Akani, Vandal, Nêgo Freeza (OQuadro), Dj Tau e ainda um Jhomp (NPN) quando esse era plateia! Histórico…

 Versu2

Uma das peças mais importantes do rap nacional, aqui não estamos apenas diante de algo que reflete a qualidade local, mas antes numa produção do Felipe Franca que foi capaz de mostrar a quem teve acesso o quanto o rap baiano estava no “topo” do que se produzia no Brasil. E isso é feito de modo conjunto, entre as excelentes linhas de Mobbiu e Coscarque e Dj Gug (Versu2) junto ao diretor do clipe. Mas os caras foram além, e incorporaram Dimak, Baga, Finho o Veio, DaGanja, Diego 157, Jorginho da Mutantes.

Enfim, a rua e o grafite, o 2 de Julho da loja de discos Mutantes, o rap da cidade baixa, há aqui uma síntese perfeita do que tínhamos e temos de melhor no rap e na cultura hip hop baiana. Naquela altura, Coscarque era só a capa do batman e o Mobbiu ostentava dreads, DJ Gug é igual até hoje, o que não mudou em todos eles é a imensa qualidade que sempre tiveram e o fato de estarem desde de antes do registro movimentando a cena. Importante lembrar que a Versu2 acaba de lançar um excelente disco, infelizmente pouco ouvido.

O clipe que traz as fortes linhas sujas sobre a beleza das ruas, conseguiu imprimir um selo de qualidade que foi admirado e reconhecido por nomes como Emicida e Familia de Rua, não por serem maiores e verem algo relevante feito na Bahia, mas por entenderem que estavam diante de iguais.

DaGanja

O rapper baiano DaGanja atravessa o rap e o hip hop baiano com uma força como poucos, desde a época do Verbo de Malandro, passando pelo Testemunhaz e o Afrogueto e  na banca UGangue, é um dos artistas mais importantes ainda em atividade. Toda essa caminhada lhe levou a ter uma visão muito profissional sobre suas próprias produções que o faz ter uma forte caminhada solo também, isso é perceptível também nos audiovisuais que ele vem entregando ao longo dos anos!

Aqui um dos primeiros clipes solos do mestre em sua caminhada solo e pra variar a coisa chega com nível de produção cinematográfica em termos de roteiro, imagens, direção e óbvio música. A música que tem a participação de Léo Souza, que também atua. tem também a colaboração de outros nomes acima mencionados como Dimak, Mobbiu, Fal e outros como dos Dj’s Indio e Leandro, do Yuri Loppo que atua como a voz da consciência da mente atribulada do personagem principal Bispo. A direção e roteiro excelentes ficaram por conta do Thiago de Souza Campos e é uma peça como poucas do audiovisual baiano!

Elvis Kazpa

Juntamente a Yuri Loppo dentro da antiga loja de cd da lapa que não existe mais, Elvis Kazpa naquela altura registrava uma questão que essa matéria quer fazer presente. Se hoje é a luta do algoritmo e das novidades de rede social o que determina a cena, estamos fudidos e permaneceremos. Aqui temos, um excelente exemplo de audiovisual que segue comunicando sua essência ao público mais atento na atualidade. Uma tradição que de algum modo morreu, pelo menos entre o público consumidor de música é aqui muito apropriadamente relembrado. Eu comprei nessa mesma loga o cd do 509-E e um do Down by Law por 10 os dois. hahahaha não podia deixar de registrar isso aqui. Mas a busca por conhecimento de uma determinada cena, de um determinado gênero musical, era a tônica.

Mas o fato inexorável é que esse que é um dos primeiro trampos solos do Elvis Kazpa é forte até hoje. Exatamente por tratar da necessidade da valorização da cultura hip hop entre nós, comprando discos, repartindo vivências e fazendo disso o elemento principal para a composição. Algo que fica claro em sua música e nesse audio visual furto da Coro de Rato e da Canal Dado.

Mr. DKO 

O clipe de “Sinceramente” não é daqueles lembrados geralmente quando os mais antigos da cena trazem lembranças nas redes compartilhando clipes do Rap Ba. Assim como muitos – eu incluso – não conhecem a caminhada do Mr. DKO no rap ba, e ver esse clipe vai ser uma lufada de ar pra quem realmente quer saber o que se fez de foda no rap local. Assessorado pelo Afro Jhow (ETNIA) grupo também importante do rap baiano, e que aqui chegava com punchlines pesadas contrárias ao que se fazia de modo corriqueiro no rap local, o mano Mr. DKO fazia uma autocrítica do rap baiano neste audiovisual.

Na história do rap ba, como em qualquer outro movimento também possui erros de visão do que deve ou não ser feito. E em Sinceramente, há uma crítica potente aos modos mais burros de se lidar com a cultura e a arte dentro do hip-hop local. O que esse mano fez nesse clipe certamente teve muitas florações em várias fevelas de Salcity, pois ouvindo agora podemos perceber o quanto é algo sólido.

Gurih 

Se você está lendo até aqui você notou que para nossa alegria e para a força da nossa cultura, muitos dos caras que estavam na correria há mais ou menos 10 anos atrás continuam até hoje. Resistência total, e isso é bonito.  Se você saca hoje o trampo do mano Pivete Nobre, você precisa ver isso aqui. Um clipe do começo da carreira dele, quando o mesmo ainda atendia por Gurih, anterior a sua caminhada junto dos caras do Saca Só, e o clipe de “Versos por Versos”, é um de muitos dos seus sucessos quando a internet e o rap baiano ainda era mato.

Não sei se você sabe, mas o Gurih era sucesso na época do orkut, e ainda assim por conta da vivência e da sua evolução conseguiu evoluir musicalmente e seguir no rap com um trabalho cada vez mais sólido. Não queremos dizer que aqui ele fosse ruim, muito pelo contrário, sempre foi um jovem pródigio como todos que acompanham de fato o rap baiano, sabem. O lance é que agora o mano está em outra dimensão musical e vale a pena sacar esses trampos para ter consciência do tempo em que esse artistas de Cajazeiras está no corre!  

Opanijé

O grande Dj Chiba D risca o disco e mete um afoxé mixado numa batida e isso é junto a uma caracterização do cotidiano de um homem negro, o verdadeiro inicio do clipe. O audiovisual que de algum modo lançava o Opanijé em um single, mostra as caras já nesses riscos. O risco de produzir algo próprio, uma das maiores e melhores jogada do rap baiano foi feita ai, e encontrou nas rimas de Lázaro Êre e de Rone DumDum, o complemento perfeito e as ideias que colaboravam naquele momento para o fundamento epistêmico e de vivências no candomblé em uma mistura inaudita com o hip-hop!

Oriundos do eminente curso Steve Biko, a dupla Lázaro e Rone encontram Chiba D e fundam o Opanijé, pós Erê Jitolú, uma das bandas mais fuderosas do rap ba de todos os tempos, de acordo com figuras como Nelson Maca por exemplo! Essa trajetória mal resumida acima os levam ao pioneiro disco de estreia Opanijé (2013) e consequentemente a notoriedade que o baixo alcance levou. Preciso dizer aqui que nessa mesma época o Chuck D, do Public Enemy twittou elogiando o grupo. Enfim, tá bom pra vocês ou querem mais? 

 

-História do rap baiano em 10 vídeo clipes!

Imagens por Hilton Baga Oliveira

Por Danilo Cruz

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