Em Bakemono, novo single de Yung Buda, os desejos nos conduzem até o limite entre a dor e o prazer.
Gostamos de nos enxergar como animais racionais. Isso nos garante exclusividade no reino animal. Estamos na área vip da existência, porque somos superiores, somos portadores do fogo dos deuses. Graças ao titã Prometeu conseguimos nos igualar aos deuses. Ledo engano. Somos comandados pelos desejos. Somos escravos dos instintos mais primitivos. São os desejos que orientam nossas decisões, são eles que definem nossas ações.
A razão existe em potência, o desejo é puro ato. Ser racional requer treino, disciplina, exige-se o desenvolvimento de um processo que se desdobra ao longo de toda nossa vida através do qual aprendemos a usar a racionalidade. E mesmo assim, conseguindo lograr o desenvolvimento racional, a razão continua mais fraca que os desejos. Basta uma simples investida deles para que a mais firme racionalidade se desfaça como um castelo de cartas em meio a um vendaval.
Os desejos são inatos, nascemos com eles. Manifestam-se naturalmente, sem que seja preciso um ato volitivo nosso para acioná-los. Na verdade, somos dominados por eles, agimos sob seus desígnios sem nem nos darmos conta. Somos seus escravos sem perceber seus comandos. Os desejos são senhores invisíveis, mas estão atuando, levando-nos a todo instante a satisfazê-los, numa busca incessante pelo prazer.
A música de Yung Buda é uma ode hedonista. Ela sempre nos convida a experimentar imagens que estimulam nossos instintos, acionam nossas emoções, gerando picos de adrenalina, prazer, seja através das imagens de velocidade por meio de carros velozes, seja pelo prazer via exercício do poder, seja por meio de cenas de lutas, de uso de substâncias que embaralham nossa percepção, seja de cenas que remetem a fantasias sexuais.
Em Yung Buda os desejos estão sempre presentes. Bakemono (Monstro) não é diferente. Neste single os versos constroem imagens sexuais através de situações e referências, que mantêm o desejo sexual sempre latente. Já na entrada vem a referência do arco Bakemono Monotogari (Histórias de Monstro), que faz parte do anime Monotogari (histórias), por sua vez, uma versão em anime do mangá de mesmo nome. Este anime faz parte do gênero harém, assim chamado por ter um protagonista do sexo masculino em meio a um universo de personagens femininos.
Dentro dessa perspectiva sobre o single de Yung Buda, o nome Bakemono representa a constituição de uma personalidade construída e dominada pelos desejos, inserida numa prática hedonista intensa. Se no primeiro verso somos jogados em meio a referência sexual por meio de um anime e a menção de uma orgia, no verso dois “Tipo o Tetsuo, vou buscar mais umas pílula” surge a referência às drogas sintéticas por meio das pílulas. Pra não deixar a nerdice passar batida, Tetsuo é o personagem central do clássico anime cyberpunk Akira (1988).
Nesse segundo verso, nossos cérebros são colocados na frigideira, que já estava esquentando o óleo desde a primeira batida da música. Bakemono tem essa atmosfera de fritação e êxtase sexual já no beat criado para a música, que traz graves bem destacados e efeitos eletrônicos padronizados que remetem aos efeitos vivenciados numa agitação alucinante.
Bakemono trás consigo a vivência daquela onda que bateu certo e te fez cair dentro de um looping de frenesi que leva à beira do abismo e te puxa pra trás, te leva a beira do abismo e te puxa pra trás, te leva a beira do abismo e te puxa pra trás, te leva a beira do abismo … acaba a música … ou se continua preso no looping, ou quem sabe o que mais pode decorrer daí?!
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