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27 nov 2024




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Por que o rap odeia tanto as mídias de rap ? Ao Sindicato com carinho
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Por que o rap odeia tanto as mídias de rap ? Ao Sindicato com carinho 

Por que o rap odeia tanto as mídias de rap ? Ao Sindicato com carinho, um reflexão comemorativa sobre os meus 5 anos no Oganpazan.

Esse ano o Oganpazan completa 5 anos numa caminhada bonita e elegante, sem derramar feiúra nas ideias e se configurando num espaço livre, igualitários, independente e cuidadoso quando se trata de observar o trabalho de artistas. Minha primeira matéria publicada no site foi uma resenha de show, num evento de hip hop em Salcity. Meu segundo texto publicado foi sobre o mestre argentino Luis Alberto Spinetta e assim segui escrevendo sobre gêneros musicais diferentes, da MPB dos anos 60 e 70 até o Blues, passando pelo Stoner Rock, rock nacional, Jazz cubano, alternative rock, reggae etc… Escrever sobre música, colocar pra frente nossas ideias e pesquisas, era e permanece sendo o nosso intuito principal. 

No entanto, como muitas vezes chamamos atenção em nossos textos, o rap e a cultura hip hop foi dominando minhas produções por uma conjunção de fatores. É como dissemos no nosso primeiro episódio do Ouvidos Inquietos o podcast do Oganpazan, um trabalho revigorante, servir de médium, refletir, escrever e tomar contato com muitos dos atores e atrizes da cena nacional. Seja dos produtores, beatmakers, DJ, escritores e jornalistas, até MCs homens mulheres e LGBTQI+, são contatos em sua maioria que me trazem muitos aprendizados, e continuam me impulsionando para frente.

Aos 18 anos, mais ou menos há 20 anos atrás fazia os corres do trampo e depois corria pro cursinho pré-vestibular com o walkman tocando em volume máximo, House of Pain, Cypress Hill, Thaíde & DJ Hum, Racionais MC, MV Bill, DaGuedes, Verbo Pesado, Xis, RZO, Faces do Subúrbio e etc. Era pilha pra desgraça e as fitas de 1 real nas americanas, os cds de 10 conto na Mutantes no Dois de Julho, consumiam todo a merreca recebida. Voltar a escrever sobre rap, é de algum modo atualizar essa juventude de descobertas, de formação e de contestação de um status quo que infelizmente permanece. Mas entramos nessa experimentados, sem ilusões juvenis e muito menos conhecendo bem o proselitismo, e as falácias presentes nos diversos contextos.

Em meio a pandemia do Covid 19, há 30 dias em quarentena, os lançamentos não param de nos chegar e ao mesmo tempo, não paramos de ser solicitados inbox, na DM, no Direct ou mesmo no whatsapp por artistas que vão lançar seus trabalhos. Uma crise assola o mercado musical que retira grande parte de sua renda através de apresentações públicas, as pessoas estão desoladas. Eu sou professor de filosofia na Rede municipal de Salvador, dou aula 32 horas por semana, e no começo da quarentena imaginei que conseguiria produzir uma gama imensa de textos. Tinha diversos planos de seguir produzindo textos críticos apresentando artistas os mais diversos, os projetos os menos conhecidos, pois essa é nossa intenção sempre. Assim, talvez a quarentena se faria mais suave. Ledo engano.

Os dias tem se arrastado, o sono se descontrolou completamente, há uma angústia sobre quais os caminhos que o destino do país tomará, quantas vidas perderemos, mas uma coisa permanece igual: uma cobrança descabida por parte de mc’s às “mídias” de rap. Já perdi as contas de quantxs mc’s foram objeto de textos meus nestes últimos 5 anos, imagino Hebreu e Ana Rosa (Noticiario Periférico), Jeff Ferreira (Submundo do Som) Adilton (Rapresentando), mas como sempre soube e venho aperfeiçoando em conversas com o professor Jair Cortecertu, deve-se escrever para o público, não para o artista.

Ao longo dos anos e com avanço das tecnologias de comunicação, muitos artistas e o próprio público acreditam que o papel mediador dos sites especializados, perdeu sua função. Se há uma dificuldade imensa para que artistas independentes no rap consigam uma remuneração digna, imaginem sites especializados em rap? Quanto apoio as midias de rap recebem das empresas que lucram com o rap? Alguém já se perguntou isso? 

Sim, sabemos que existem sites que cobram jabá para publicar o release dos artistas, sim sabemos que clickbait e sensacionalismo barato vende como água, como dissemos acima, não entramos nessa com ilusões. Mas estamos do lado da produção de conteúdo original e sim almejamos am algum momento em conseguir pagar a hospedagem, pelo menos. Produzir uma mídia independente que não entra nos esquemas espúrios acima descritos, é um trabalho cansativo e inglório, principalmente se você se vincular a cultura hip-hop que possui o conhecimento como o 5º elemento, mas só até a página 2. 

Além de pagarmos para trabalhar, sim temos um trabalho para sustentar outro trabalho, somos considerados funcionários de alguns e algumas MC’s e produtores. Há um esforço da zorra dos artistas – sim nós sabemos – de produzirem sua arte, pagam o beat, a gravação, mix e master, pagam o clipe, mas nunca possuem dinheiro para assessoria de imprensa. Pior ainda, são incapazes de tirar 1 hora de relógio e aprenderem a fazer um texto simples e informativo sobre si e sobre o seu trabalho. É muito mais fácil dar aquela cobrada nas mídias de rap via twitter, assim ainda gera uns likes, uns comentários e talvez um hype…. 

Se você pedir um release hoje, é quase que uma obrigação que saia a matéria – somos empregados – e ai de você se demorar de escrever sobre o artista. Na real, muitos deles não estão muito preocupados com a atenção, a quantidade de audições, a pesquisa – que no meu caso precisa do release como base – o importante é que saia a matéria. Criticam os sites de fofocas, mas muitos consomem largamente, e se regozijam muito quando lá aparecem. O público, em grande parte esse público que ouve rap mas não gosta de rap, tem ali 4 ou 5 mcs de estimação para “não ficar por fora”, também não tá lá muito preocupado com a qualidade da informação. Enfim, o bagulho é louco. 

Talvez 0 rap/hip-hop tenha errado em algum momento, as mídias talvez também tenham errado em algum momento, não sei bem onde, nem de que modo, cheguei no jogo agora. Mas quando a mediocridade na produção de conteúdo assume o protagonismo, é preciso tentarmos elaborar alguma autocrítica. Sempre me pego pensando no Marcílio Gabriel e realmente sinto uma tristeza em não ver esse que talvez seja o maior comunicador do rap nacional, sem o seu programa na internet. Enquanto temos uma indústria de react a pleno vapor, com canais como Fino da Zica, Black Pipe e Rap TV, fazendo excelentes trabalhos no youtube. 

Escrever também é refletir sobre o processo, é não apenas pensar no objeto abordado, mas na conjuntura inteira e na forma. Completo 5 anos aprendendo a escrever no Oganpazan que tive também a honra de ser um dos fundadores, não me constranjo com a estupidez das cobranças dos artistas, pois eu escrevo com eles, mas não para eles, apenas. Gostaria de mandar um abraço pro sindicato, Sigamos no bom combate, por muitos anos mais..

-Por que o rap odeia tanto as mídias de rap ? Ao Sindicato com carinho

Por Danilo Cruz

Escutem essa música e reflitam sobre qual a mídia que vocês querem!

 

 

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