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28 nov 2024




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Cinema Fora de Cena DVD 2 – Uma dupla de investigadores em Vivências!
Cinemateca Básica

Cinema Fora de Cena DVD 2 – Uma dupla de investigadores em Vivências! 

Cinema Fora de Cena DVD 2 – Uma dupla de investigadores em Vivências Chave! Uma série completa é o recheio cremoso, neste segundo volume…!

O que é o Cinema Fora de Cena?

“Cinema Fora de Cena” é um projeto que promove contatos mais acessíveis com o cinema, sob linguagens originais e enraízadas nas vertentes da contra cultura. Dá união de produtores, videomakers, cineastas, beatmakers, fotógrafos, atores entre outras frentes artísticas é produzido conteúdo durante todo ano, dentre eles o destaque para as “beattapes” que são filmes cuja trilha sonora é feita por beatmakers.

O projeto dá continuidade a um trabalho já existente de produção de beattapes, realizado por produtoras independentes, de origem na cultura Hip Hop, como Jodo(SP), Jodo(AM), Straditerra, Sukta e Roggdogbelgafilms. O CFC busca dar assistência na distribuição, promoção, exibição, produção e organização de filmes e festivais em uma linha editorial acordada, que segue uma ideia de realização libertária do modelo de produção audiovisual vigente, que mantém seu modus operandi elitizado em relação ao público.

A intenção do projeto é dar uma alternativa à filmes que tenham um processo transversal em todos os níveis de produção, gerando uma maior identificação e identidade desse circuito, enaltecendo a mistura de linguagens desenvolvida por realizadores de diversas regiões do Brasil, adeptos da estética lo-fi. As produções transitam do extremo baixo custo à nível de circulação internacional, interessando a diferentes nichos de público.

O “Cinema Fora de Cena” leva em seus princípios o lema “vamos piratear a nós mesmos”. O projeto disponibilizará um acervo online das produções com o link para download, induzindo uma campanha para o público baixar e ter uma versão digital das obras. O projeto também visa fomentar obras de forma mais ampla e direcionada a um novo público, maior e interessado especificamente no audiovisual.

Com o ínicio oficial do projeto, serão lançados novos conteúdos e também o relançamento dos antigos em novas plataformas, como vimeo e em indexadores de torrents e fóruns virtuais de cinema. As obras também terão o suporte crítico e jornalistico do portal de arte: Ogapazan, onde além de matérias sobre os filmes estarão disponíveis os respectivos links. Um mix de meios de circulação para dar profundidade ao universo criado por essa nova escola de cinema, que entra na discussão: “O que é cinema?”

Conheça também o vol. 1 do Cinema Fora de Cena DVD, nessa segunda edição tivemos a honra de contar com os golpes de vista, da cantora e compositora 1LUM3 e do crítico Eduardo Camargo nos brindando com aforismos, comentários e analíses criticas sobre os 10 eposódios da série Vivência Chaves do Rogério Soares. 

Então, vamos a sessão!

1_ dentro de túneis, uns com fim outros sem, nada melhor do que jogar palavra fora e saborear queijos derretidos. a velocidade diz tudo, da voz, do carro, do conto, da história.

2_ repetições, loops e jets e zooms
análises coloridas de palavras sem vida, olhos que nunca mentem, corpos deitados e em movimento, já pensou? mini-balbúrdias entre copos de plástico. grave. me grave. sente o grave, é tudo sempre muito grave. os registros contam o que o microfone fala, grita, rima, dá choque. o mais estranho é o mais normal. quem disse que a criatividade não vem do conforto falou merda.

3_ hoje sentimos pelos dedos. e esse aqui já confere tudo pra não começar se perdendo. tem estrada, tem abertura de portal. ilusões de ótica na natureza, nossa união na mais pura ingenuidade. às vezes a gente não sabe lidar com ela mesmo, ela tá tentando lidar com a gente há milhões de anos. registro sobre registro. registro sobre registrar. duvido conseguir se equilibrar em são paulo. liberdades condicionadas. bagunças arrumadas, cabeças raspadas, a poesia da JODO rima com qualquer coisa. fodassy. o pouco que se tem a gente tem na pele. só se ouve cor e finalmente o ruído também é som, é  melodia. impressionante como cada curva desse filme conta um filme.

4_ tudo claustrofóbico, azul, inseguro. mas real. o aguardo é sempre ansioso, sobre terceiras exclusividades de um ensaio musical. é necessário segurar o microfone direito, é necessário morrer liricamente direito, acho que é isso que eu tento fazer ali. (sou eu 1LUM3 escrevendo). um trago que me tragou. fazendo parte da vivência no real vivo da palavra. roggdogg rimando? ouvi dizer que ele não rimava! nada como um tom sensual pra dar narrativa mútua. phineas, jamais arrumarei sua cama.

5_ a ficção mais verdadeira que tem hoje na pista. roteiro de rap, chaves e fechaduras, chaves e fechamentos, isso é tudo muito claro. soa até como cinema de vanguarda, tentativas não-frustradas de literais vivências específicas. cada garrafa ingerida é uma sirene acesa e um caso meio sem fim, nem começo. sem pé nem cabeça, com todo sentido do mundo.”

EP. 5 – Jantar com a Meccarec

Vivências chave” é uma série de episódios de caráter documental que registram o cotidiano de algumas profissionais que atuam em áreas do hip hop. Longe de abordagens de caráter mais institucional, após uma curta sequência que abre o seu título com planos sobrepostos ao fundo que vão sendo distorcidos ao som de um beat, já declara: “Vivências Chave é uma série de ficção. Não nos leve a sério”. A frase explicita que os episódios não vão seguir um formatinho convencional de documentário talking head, mas uma abordagem livre que abraça as possibilidades da ficção como ferramentas. 

Somo informados que estamos na nova sede da Mecca Records. Cortamos pra um verso, que parece ser um freestyle, e outros planos entram enquanto a câmera cria uma dinâmica orgânica ao registrar os processos criativos do selo. Os ruídos e distorções, que também servem de passagem pras transições dos cortes, dão uma cara mais pessoal e caseira pro registro, aos poucos espelhando essa coisa um tanto viva, um tanto solta e espontânea que é do processo criativo do rap e do beatmaking

Ao realizar este registro conhecemos outras facetas dessa galera, se destacando pela honestidade em um meio que é tão criticado e comentado justamente por uma eterna performance de uma imagem: sabe-se com que cuidado os rappers constroem a sua persona, e como isso é um fator determinante pra sua aceitação no meio. Quem trampa com música – ou qualquer forma de arte – sabe como o entorno e contexto são importantes pra um trabalho, e quando temos acesso a isso criamos outra relação com a música.

EP.6 – Nóis porta b1982

O episódio abre com um boné rosa que tem bordado “Brooklyn 1982”. Entram planos de minas portando os bonés em meio a uma roda no que parece ser um rolê. Entre goles, funks e os ruídos da tela caímos para as ruas cheias. Mantendo os seus cortes não lineares, das gravações do estúdio o episódio passa para a galera pelos espaços do metrô, no uso de filtros com textura, um leve glitch e o espelhamento da imagem, o episódio nos posiciona no ritmo do rolê. 

Ao invés de optar por uma câmera mais distanciada, bem comum nesse tipo de vídeo, a própria câmera se permite à deambulação, a estar livre como um olhar, a viajar em elementos que são banais mas que pela forma que são filmados quase te colocam dentro do meio daquele grupo. Qualquer pessoa que já realizou um documentário sabe das barreiras que uma câmera geralmente impõe a quem está sendo retratado, e ao adotar essa estratégia de uma liberdade maior do que é retratado e pela própria proximidade com as pessoas que são filmadas, o registro não parece impor a sua presença ali, mas antes passear com e entre os indivíduos. 

EP.7 – Pico olho d’água

Mais um dia na vida dos moleque” é uma boa forma de resumir como os episódios foram tomando forma, e possivelmente como foram gravados. É nessa aproximação do cotidiano, e com o tipo de intimidade constatado no fim do último episódio, que frases como “acorda com os anjos quem foi dormir com os demônios” surgem com a maior naturalidade entre conversas. Migos, becks e cervejas vão nos acompanhando enquanto geral dirige até Mairiporã, pra chegar no pico olho d‘água. 

Country wine e blunts dão as caras enquanto a galera anda noite a frente pela estrada de terra. Da noite pro dia, mantendo esse ritmo que dá uns pulos, entramos em um plano no local que parece ser o mesmo pico, mas de dia, e que puta pico, diga-se de passagem. As imagens vão te lembrando daqueles rolês que você dá com os seus manos pra algum lugar um pouco mais distante pra fumar uns, acampar e tentar – às vezes só tentar mesmo – acender uma fogueira. 

EP. 8 – Especial não precisamos de interne

Temos até então minha abertura de episódio favorita: uma imagem desfocada de uma mina que vai metralhando uns xingamentos que são censurados com aquele famoso barulhinho de televisão. Um som de fundo meio soturno inicia enquanto retornamos às pequenas janelas que vão aparecendo em partes distintas do quadro, por curtos segundos, até sumirem e darem lugares a outras. A série, que até então teve episódios com um ritmo um pouco mais alto, incorpora esse sintetizador sombrio e meio melancólico; os próprios planos vão se tornando mais abstratos, desfocados, o diálogo para de ser registrado por áudio e passa a ser representado em legendas. Imagens de apresentações, de sessões de produção e de outras atividades mais cotidianas são intercaladas enquanto pela legenda a câmera ganha uma voz própria e comenta as imagens que filma. 

Entramos em registros de uma apresentação banhada por uma luz neon roxa e um sample vocal desacelerado, criando um efeito quase letárgico enquanto a câmera se dá a olhares mais abstratos aos acontecimentos. Um dos episódios que mais me chama a atenção por parecer um leve desvio ao formato dos outros, que mesmo longe de serem documentações caretas ainda se fiam um pouco mais às ações das pessoas registradas e a sua fala. Aqui, ao descolar a imagem e trabalhar com o som de uma forma quase autônoma, surge uma liberdade pra fazer essa narrativa ficcional – abraçar esse lado já declarado da proposta – e cria um breve comentário sobre o comportamento dos jovens e sua relação pulsional com redes sociais. Realmente não precisamos de internet, mas queremos ficar sem ela? 

EP. 9 – CINEMA FORA DE CENA

Sabia que com 17 eu tinha mais cabeça do que hoje em dia? Parece que eu tô ficando maluca”, ouvimos entre risadas enquanto o episódio abre com um plano de uma figura de uma mina com um forte contraluz. Esse vídeo em específico guarda uma diferença enquanto aos outros, é gravado com uma DSLR com uma imagem mais definida e não tem a presença de filtros que foram definindo a aparência dos outros. Se assemelha com um registro documental mais pontual e direto do que os episódios anteriores, com parte da galera do próprio Cinema fora de cena, 1lum3 e Brisa Flow em momentos de descontração. Fumando um, ouvindo Alcione e entre conversas descompromissadas que geram frases tão interessantes quanto a primeira desse texto e coisas tal “eu não gosto nem de aniversário”. Quase como um respiro breve de desabafo entre um processo criativo e outro. 

EP. 10 – Finale season

Não se apegue aos detalhes, somos lembrados mais uma vez. São os detalhes, contudo, que vão criando as portas de entrada pra esses registros semi-ficcionais. Vamos pra gravação de um verso do Koning e a câmera dá uma passada breve pelo celular no qual está seu verso, com uma tela quebrada e que de novo nos joga esses detalhes banais dos quais o rap, na sua batalha de personas, vai tentando se despir e entrar cada vez mais em uma arena de egos em um mundo paralelo (que só importa aos rappers e o público do rap). 

Carros correndo, trechos de clipe, alguns planos pela ponte da Liberdade e de novo estamos com a galera da Mecca Records, com um depoimento do Aurasoul. E é aí que tá: “Vivências chave” está mais preocupado em pegar essas pequenezas do dia a dia, em ressaltar detalhes do cotidiano do que necessariamente respeitar a totalidade de um depoimento. No fim, Cinema fora de cena sucede ao aceitar o seu próprio fracasso: nenhuma vivência chave é 100% transmissível e capturável por nenhuma câmera, mas é ao incorporar a própria efemeridade dos acontecimentos, a rapidez das ações, a possibilidade de brincar – e se for pra fazer, por que não com humor? – com alguns elementos do vídeo que incorporam melhor aquilo que está sendo retratado. É na necessidade, na rapidez e até mesmo em uma câmera na mão e seu pequeno 

tremor que a imediatez desses acontecimentos consegue ser registrada. E assim chega em um lugar um pouco mais vivo e tangível do que é fazer audiovisual pensando por outras vias. 

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