Vandal retoma sua ROMARIAH (2020) no caminho para o seu disco, vivência que apresenta todo o cenário e a estética que alguns só rimam, e mal
Peregrinação, nomadismo, vivência de rua, habilidade de sintetizar com a crueza que apenas os alquimistas do horror conseguem elaborar. Tudo aqui é movimento, quando se fala de um preto na trincheira da guerra cotidiana, em fuga constante e atravessando os mais diversos obstáculos que a branquitude estrutural de modo geral e o hype cult do rap nacional lhe coloca. Vandal retoma agora em 2020 a sua caminhada na cena com um primeiro single que representa a fé, mas ao mesmo tempo mostra em que nível sua vivência nas ruas de sangue de Salcity acontecem.
Esse é um ano importante para o rapper soteropolitano que anuncia um disco cinco anos depois da TIPOLAZVEGAZH MIXTAPEH (2015), um disco que influenciou um parte considerável do atual hype e mais um pá de rappers do underground. Ali, trazendo uma gama ampla de produções que iam da música eletrônica ao grime, passando pelo trap, pelo trappagodão e o rap mais tradicional, Com produções de Rafa Dias (ATOOXXAA) e Diego 157, já em sua estreia em uma mixtape o MC da Cidade Nova já mostrava o imenso talento. Seguiram-se dezenas de singles, videoclipes e produções que só reafirmaram o quanto Vandal é um dos 5 mcs mais originais do cenário atual.
Vandal há muito é o rapper favorito do seu rapper favorito. Porém, além da invisibilidade por conta de ser nordestino, cru e o preto que não será o seu favorito, há também o problema do mercado cultural vender um lifestyle ilusório de uma porção de rimadores cult que são meninos de condominio ou e que não vivem o que cantam. É o novo Fake Game, suave! Passa a peça que o rapaz termina a missão.
Em seu primeiro single do ano, o quase ramônico ROMARIAH (2020), o primeiro de uma série de três singles com videoclipe que o rapper irá lançar nos próximos meses, o que percebemos é o que o verso de outrora já dizia: “Nome Vandal, letra foda tipo sinal!“. É aquela capacidade de transformar todo o entendimento de um romance em um sinal, encapsulando tudo em um pino poético, ou aqui, demonstrando suas vivências em um audio visual de menos de 2 minutos.
É também um aviso, Danger, ou se se quiser – público cult – é um demonstrar em imagens movimento o quanto um artista que traz a vida de sua cidade no corpo, que só é passível de verdade ou seja, de adequação, quando o discurso se apresenta poéticamente através da simbologia/simbiose prática e demonstrável.
Mas no fim das contas, tudo isso é areia de Bolo Yeung nos olhos de Van Damme, porque a favela já conhece sem precisar de explicação, no beat do Cremenow ela está na tela, ela está junto, ela dança no vídeo, ela requebra a raba bem alto, ela vende churrasquinho, ela abraça… A favela sobe constantemente a ladeira, aqui a que leva para o nosso Senhor do Bonfim, a favela reza e também chora, o sagrado e o profano não desconhecem suas núpcias, e os meninos Magone e Neghet registraram tudo com uma fotografia bonita, o Phodismo – não adianta copiar papá – editou no clima que já conhecemos o modelo. A Salvador que os turista locais não conhecem, o rapper que vocês não descobriram ainda, tá aqui, castelem…
ROMARIAH (2020) é ideia cheque, papo reto, anti-maquiagem de playboy, e o resto sabemos é medo e culpa!
-Vandal retoma sua ROMARIAH (2020) rumo ao disco sem freio!
Por Danilo Cruz
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