David Bowie sempre foi uno se transformando em muitos. Nenhuma definição jamais conseguirá abarcar todo ser David Bowie.
David Bowie tem importância fundamental em minha vida, muitas pessoas ao redor do mundo dirão o mesmo. Afinal, quantas bandas e artistas do ramo musical tiveram uma obra que abarcou praticamente 4 gerações? Dentro deste grupo seleto David Bowie se destaca, pois conseguiu se manter criativo e conectado às transformações estéticas do rock e de comportamento de uma geração pra outra. Temos, portanto, 40 anos nos quais pessoas viveram ao som de Bowie, tendo suas vivências impulsionadas pelo seu som. Muitos serão os relatos de momentos importante nas vidas das pessoas relacionadas de alguma forma a David Bowie.
Um dos laços de amizade mais fortes que tenho se constituiu quando fui apresentado a 3 álbuns seminais do cara: Space Oddity, The Man Who Sold the World e The Rise And Fall Of Ziggy Stardust. Até então, achava o David Bowie um porre. Conhecia apenas músicas soltas de álbuns do final dos anos 80 e meados dos 90. Mas quando Danilo botou seu vinil de The Man Who Sold The World pra rolar foi como ter descoberto água em Marte. Isso foi em 2003, dali em diante a música de Bowie se tornou um território a ser explorado. Desde então me aventuro pelas sendas desse plato sempre descobrindo novidades, mas ao mesmo tempo sempre perdendo alguma coisa das referências anteriores.
Talvez seja uma percepção pessoal da obra do Bowie. Contudo, quando ouço seus álbuns sinto como se estivesse num espécie de labirinto consciente, que muda sua estrutura de acordo com sua vontade afim de nos impedir de encontrar a saída. Estamos imersos numa armadilha sedutora, como aquela lançada pelo canto das sereias, que nos faz desejar permanecer “presos”. Afinal, quem desejaria fugir de um labirinto como esse? Ao longo de cada álbum essa estrutura se transforma e nos enreda, sem nos deixar fugir ou nos isolar nos álbuns do passado. David Bowie sempre conseguiu lançar álbuns muito a frente de seu tempo, o que fazia com que ele, paradoxalmente, chamasse atenção de seus contemporâneos. Um homem do futuro, de outra dimensão, sempre aceito, celebrado num mundo e num tempo que não são os seus. Incomum, muito incomum!
Ainda vale compartilhar os último momentos que passei com Bowie enquanto ele ainda estava vivo. Sábado passado, dia 09 de janeiro, estava com uma amiga num bar aqui em Ponte Nova trocando uma ideia e ouvindo uma dupla de músicos de Viçosa. Ao final da apresentação dos caras eles mandam Astronauta de Mármore, versão medíocre de Starman do Bowie, feita pela banda gaúcha Nenhum de Nós. Falei pra minha amiga sobre todo meu desprezo por esta banda por terem conseguido tornar algo sublime em uma fétida massa residual fruto de uma total falta de criatividade, talento e inspiração unida a uma mediocridade absoluta. Ela não conhecia Starman, foi aí que às 21:22 do domingo, dia 10, compartilhei o vídeo desta música e a marquei. Minutos depois às 21:30 assisti no Canal Bis o documentário “David Bowie: Ziggy Stardust”. Às 06:24 de hoje (11 de janeiro) recebo uma mensagem da minha amiga pelo WhatsApp dizendo que o Bowie morreu vítima de um câncer que o assombrava há 18 meses.
Um dia antes, 8 de janeiro, David Bowie completara 69 anos, celebrados com o lançamento de um novo álbum, Blackstar. Olhando pra trás e observando estes acontecimentos do final de semana não há cético que consiga se manter livre da superstição. Aos meus olhos, mirando o final de semana de cima desta manhã de 11 de janeiro, tudo parece ter sido um sinal. Claro, é muito fácil dizer isso após a triste notícia de sua morte. Contudo traduz bem o vazio que se estabeleceu em mim ao saber que o Bowie havia morrido após um final de semana em que ele esteve tão presente para mim!
Diante de toda diversidade presente em sua obra, diante de sua morte selada com o lançamento de um mais um álbum excelente, vale a pena nos perguntarmos: Quantos Davids Bowie existem em um David Bowie? Por todo exagero contido nesta pergunta, devemos manter o nível elevado de exagero e dizer que responder a esta pergunta seria o mesmo que responder à pergunta que deseja saber quantas gotas de água existem no oceano. A obra de David Bowie alcançou diversidade tal que não pode ser medida, pois não existe um padrão, a não ser que consideramos a constante reinvenção de si mesmo e de sua música como um padrão. Jamais conseguiremos ouvir Bowie soando como Bowie mais de uma vez, pois suas músicas são como as águas do rio, que o renovam constantemente fazendo como que o mesmo rio seja sempre um outro.
Heráclito em sua célebre frase sobre o rio que é ao mesmo tempo uno e múltiplo mostrou o que é o mundo: constante devir. A carreira de David Bowie foi um constante devir. A cada música, a cada álbum um novo Bowie surgia para nos lançar face ao espanto de estarmos diante do inefável. Definir a obra de Bowie é que nem tentar guardar água usando uma peneira. Quanto mais tentamos definir a obra de Bowie buscando termos técnicos que possam oferecer o conceito preciso do que é tudo isso que foi criado por ele, mais nos sentimos frustrados por não conseguirmos dizer o que temos diante de nós. Buscar a essência de sua música significa torná-la estéril, insossa, monótona. Avivamos sua obra quando nos permitimos apenas descrevê-la, ouvi-la, falar sobre como nos afeta sem nos preocuparmos em dizer o que ela é. O que foi ou o que é Bowie ou sua obra é efêmero, duradoura é a experiência de ouvi-lo, senti-lo, dizê-lo.
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