Oganpazan
Destaque, Discos, Lançamentos, Música, Resenha

Negro Davi lança seu disco de estreia Conectado Com As Nações (2018)

Negro Davi lança seu disco de estreia Conectado Com As Nações (2018), já lançou também um video clipe da faixa Guina Yesu com linda produção

Por Paulo Brasil

Nascido e criado em um dos bairros de maior população negra de nossa cidade, o bairro de Pernambués, Carlos Davi Barros da Silva, ou simplesmente, Negro Davi, não é apenas uma referência artística em sua comunidade. O mano também é uma grande referência política e de empreendedorismo negro da capital baiana.

No que se refere ao lado artístico, o cara já tem em seu currículo alguns registros bem importantes, o que já o credencia como um dos artistas mais atuantes de nossa cena. Seja fazendo trilha pro cinema (o mano compôs letra para trilha sonora do documentário Menino Joel (2014), (morto em 2010 durante uma ação policial na comunidade de Amaralina), seja em diversas participações nos trabalhos de outros artistas ou a frente do seu grupo Conceito Negro.

Até chegarmos em sua carreira solo, onde o mano mescla a sonoridade do rap com o samba de roda do Recôncavo, música baiana contemporânea e elementos dos mais diversos. Sem medo de inovar e dando assim características muito próprias ao seu trampo! Achou muito…!? Pois o cara não pára. O céu é o limite pra esse mano que é plural e que em meio as dificuldades, consegue transformar as adversidades em um dos combustíveis pra impulsionar a sua arte.

A prova de tal afirmação é o seu disco de estréia, onde o Negro Davi sintetiza toda a bagagem adquirida ao longo de sua carreira, neste belo trabalho. Certa feita o poeta GOG afirmou em um de seus clássicos que “…Música é universal mas tem que ter identidade…” E reafirmando esse conceito de quem está Conectado com as Nações (2018), uma produção cuidadosa de Marcinho Fernandes, é que Negro Davi nos apresenta seu primeiro álbum solo.

Com uma arte de capa de Ágata Cruz, que resume bem a proposta desse conceitual trabalho do mano e da sua carreira até aqui! Um álbum recheado de participações, uma obra altamente colaborativa e agregadora, em que o mano esbanja um pouco do prestígio construído ao longo de sua caminhada, o que enriqueceu e muito essa obra. Um disco que tem participação em absolutamente todas as suas faixas, pode tranquilamente ser chamado de uma celebração a música e que de fato o é.

Como já dito antes, um trabalho extremamente conceitual, no qual o mano além de invocar a sua ancestralidade, em que a diáspora africana não só se faz presente, como norteia quase todo o conceito da obra. Na swingada e envolvente Eu Também Já Fui Menino (feat. Marcinho Fernandes), o mano pinta um auto retrato e fala com saudade de sua infância, nas subidas e descidas de Pernambués, mas que poderia ser e é a história de milhares de moleques das periferias de nossa cidade.

Muitas tracks dessa obra, além de dialogarem entre sim, também o fazem com o ouvinte, a linda “Guina Yesu” (feat. Lamuka Thay) se completa com a “Tenha Bom Ânimo”, que tem seus versos amplificados com as participações brilhantes de Patrícia Pinheiro e de Aspri Rbf, outro veterano na cena e patrimônio do Rap.Ba. “Uma Viagem a Moçambique” é uma outra que além de trazer um recorte biográfico do autor, figura como um das mais belas obras do disco, com feat. Khanisyle/Moçambique, Negro Davi reafirma o seu compromisso na busca pelo entendimento da sua ancestralidade.

Músicas como “Trabalhadores Guerreiros” também merece destaque, pois além de homenagear uma das categorias de trabalhadores mais importantes de nosso país, o mano deixa claro o seu comprometimento pessoal e político com a categoria, muitas vezes invisibilizadas publicamente, inclusive em telejornais.

Como já dito, nada em Conectado com as Nações é solto, aleatório ou desconexo. Caso não tenha entendido, Pegue o “Livro Pra Ler” e entenderá o porquê do mano resumir sua caminhada em gratidão por tudo até aqui. Conectado com as Nações (2018) é um disco a ser escutado com carinho, sem pressa e por mais de uma vez.

Uma obra que traz inúmeras referências em recortes que vão de suas lembranças de infância, passando pelo entendimento de sua ancestralidade, à busca pela sua identidade espiritual, sem esquecer os temas do nosso cotidiano, como as questões politicas e sociais. De Moçambique a Nigéria, passando pelas quebradas de Salvador, o canto e as conexões de Negro Davi se fazem presentes, elas estão aí… Inclinem seus ouvidos…

Matérias Relacionadas

Malatesta – Avante (2018)

Carlim
6 anos ago

Conheça “Esperança”, o novo álbum de Santana da Silva

João Alexandre
3 anos ago

Larinu, Lelin, Niggahboy & Belas Artes II (Revela-Ações do Rap Nacional)

Danilo
7 anos ago
Sair da versão mobile