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Nego Freeza lança vaquinha virtual para a produção do disco ICYEREKEZO – Entrevista

Nego Freeza

Nego Freeza lança vaquinha virtual para a produção do disco ICYEREKEZO, projeto conta com a produção musical de Pupillo Oliveira.


O filho de Dona Ivonise e de Ipiaú, Nego Freeza, forma por mais de duas décadas a tríade de MC’s de uma das mais importantes bandas da história do Rap Nacional: OQuadro. Com o grupo, o MC lançou uma demo tape em 2002 e os discos OQuadro (2012), Nego Roque (2017) e Preto Sem Açúcar (2021). Banda formada por Ricô (baixo e voz), Orixá Africano (bateria), Rodrigo Dalua (Guitarra), Jahgga (percussão) e o DJ Mangaio e os MC’s Jef Rodriguez, Rans Spectro e Nego Freeza, estão na correira da música desde o final dos anos 90. E durante essa caminhada já levaram sua música até o continente europeu com apresentação no festival mundialmente famoso Roskilde e turnê na Inglaterra.   

-Leia também nossos artigos e resenhas sobre o OQuadro

Com discos emblemáticos onde a banda desenvolveu uma linguagem musical que se diferenciou do modo funkmetal das bandas de rap até então. Incorporando sonoridades diversas fruto da afro diáspora, produzindo assim um power groove sonoro, que traz instrumentações que passam pelo reggae, pelo jazz,o funk, a força da música baiana. E onde os seus três MC’s Jef Rodriguez, Rans Spectro e Nego Freeza rimam com flows e líricas diferentes entre si, abordando com rimas problemas que passam pelo filosófico, pelo social e político e pelo racial. 

OQuadro

Após a pandemia, Nego Freeza começou a trabalhar em sua carreira solo de modo mais incisivo, com o produtor K’Boko, lançando dois singles: “Mutimba” e “Simbora nesse Rolê”, onde o MC dialoga em flow e lírica com sonoridades de origem Africana, inclusive sendo o primeiro a gravar um Amapiano. A cada passo de sua caminhada como artista Nego Freeza colheu conhecimento que o moldaram ao longo dos anos como um dos mais relevantes MC’s na real acepção da palavra: “Mestre de Cerimônia”. 

Deste modo, e diante de tanta potência acumulada, Nego Freeza decidiu lançar um disco solo, e este vai chegar com a produção de ninguém menos que Pupillo Oliveira. O produtor recifense ex integrante da Nação Zumbi (terra onde atualmente Nego Freeza reside) possui um currículo conquistado ao longo de 24 anos como poucos, tendo produzindo gigantes da música brasileira como Gal Costa, Erasmo Carlos e Paulo Miklos (Titãs), a cantora paulista Céu, além dos pernambucanos Lirinha e Otto. Mas também com artistas do Rap Nacional como Criolo e o grande Novíssimo Edgar!

O disco que já tem nome: ICYEREKEZO, que se inspira no primeiro satélite lançado por Ruanda visando prover internet para as escolas rurais do país. Icyerenkezo que na língua banta falada em Ruanda – Quiniaruanda – significa Visão, uma busca por presente, passado e futura, ancestralidade e tecnologia, tal como o próprio Nego Freeza vem buscando ao longo de sua carreira. 

Recentemente, buscando a viabilização financeira deste projeto, Nego Freeza lançou uma campanha de vaquinha virtual no apoie-se. E para sabermos mais da história do MC baiano, e da feitura desse disco, batemos um papo longo com o Nego Freeza e com o Pupilo. A entrevista você confere abaixo:

Nego Freeza em Londres

Oganpazan – Por que tanto tempo, meu mano, sem uma carreira solo? O que é que você acha que levou você nesses últimos anos a não ter começado uma carreira solo?

Nego Freeza – Então, velho, eu acredito que esse… Não sei se é um desinteresse, mas essa coisa de não prestar atenção ou não dar atenção devida para uma carreira solo, saber a importância disso, né? Mesmo porque com OQuadro era um lugar que eu me sentia muito confortável, tá ligado? Era uma zona de conforto enquanto artista, porque eu dividia ali espaço com dois outros grandes MCs. Então, tipo, tinha meu lugar ali. E me tomava muito tempo, escrever com OQuadro era algo que eu sempre busquei uma excelência justamente por estar ali do lado de dois grandes letristas. Dois grandes MCs. Então, eu tinha que fazer por onde também, havia essa autocobrança.

E neste sentido eu sempre fiz feats, acho que eu fui um dos primeiros caras do OQuadro a fazer feats. E que foram feats que me colocaram em outros lugares também, porque quando eu fazia uma participação, eu me sentia mais à vontade na escrita, sem auto cobrança, mais livre para experimentar mais e tal. Um exemplo disso é a música “A Cada Passo” presente no primeiro disco do DaGanja em que eu e o Dimak participamos. Que é considerado por muitos um clássico do rap baiano, né? Uma música que é atemporal. Pessoas ouvem até hoje e vêm falar comigo. Caralho negão, essa música é foda! Porque foi um feat que me colocou em outro lugar, e as pessoas começaram a prestar atenção no Nego Freeza.

E antes disso, eu fiz coisas com o produtor de Ilhéus, que é o Lula, né? Que hoje é da Digital Apparatus Label. Um cara que se tornou produtor de drill, de trap e tal. Eu fui um dos primeiros a dialogar com as primeiras produções dele. A gente fazia coisas experimentais, tá ligado? Eu fiz músicas que eu acabei não lançando, mas que depois eu desmembrei e viraram músicas do OQuadro. Como “Muita Onda”, por exemplo, que a gente gravou com a Emicida. E eu sempre fiz isso, assim, né? De estar dialogando com outras versões e experimentando. Sempre estive nessa busca de experimentar. Não que com OQuadro eu não conseguia experimentar, mas já existia ali uma linha de escrita, assim, de algo meio rebuscado e tal. Não sei se a palavra é essa, mas tinha ali uma coisa pra ir além. Então, quando eu ia pros feats, eu me sentia mais à vontade, mais solto, pra falar coisas que normalmente eu não falaria no OQuadro. 

Oganpazan – Porra, daora essa resposta, porque me remete a uma outra questão, que era, inclusive, a que eu já tinha preparado: O que você, hoje em 2024, consegue racionalizar de tudo que você aprendeu, ao longo dessas mais de duas décadas no OQuadro, que é uma experiência muito única na história do Rap Nacional, uma banda de Rap que não faz um funk-metal como base pra rima, mas que construiu uma linguagem musical única? 

Nego Freeza – É legal essa pergunta, porque, assim, a experiência que eu vivi com o OQuadro, e essa experiência musical, me colocou no lugar que estou hoje, por exemplo, eu tenho mais amigos na música do que no rap. Eu ando mais com músicos, instrumentistas, percussionistas, trompetistas, guitarristas, baixistas, do que com MCs, tá ligado, irmão? Então, assim, a afinidade que eu tenho com músicos e instrumentistas, sabe, o rolê que eu faço com músicos e instrumentistas, é justamente por conta dessa experiência, né, do OQuadro, de conviver com bastante músicos, porque, dentro da banda, era aquilo ali, né, cada um tinha uma referência, então, tipo, um trazia, porra, tô escutando isso aqui, tipo, Steel Pulse, outro, porra, tô escutando Tricky, outro, tô escutando Sharon Jones e tal, então, sabe? É uma diversidade muito grande de música, assim, tá ligado? E o rap era a base ali, né, de tudo, porque todo mundo ouvia rap.

E hoje, eu costumo dizer que eu não tenho muita paciência pra conviver com MC’s. Pode parecer elitista, né? Mas não é isso, é que minha relação com a música é com ela em primeiro lugar, e o rap como um lugar onde eu uso para me expressar artisticamente. Todo o know-how que eu tenho, assim, ele vem de uma música. E até os DJs com quem eu ando são DJs que trabalham com outros elementos musicais, né? Para além da coisa do hip hop, são geralmente DJs de música eletrônica.

Lia de Itamaracá, DJ Dolores e Toinho

Oganpazan – Já te cortando sem querer te cortar, mas pegando esse gancho, gostaria que você falasse um pouco sobre a sua mudança para o Recife e as suas colaborações com o grande DJ Dolores, que como você falou acima é um desses – um dos maiores – DJ’s de música eletrônica da música brasileira e mundial.

Nego Freeza – Quando eu chego em Recife, eu encontro uma outra cena musical, apesar de serem capitais próximas, são cenas bem diferentes. A cultura pernambucana, essa coisa da cultura popular, essa musicalidade que é mais orgânica, né, no sentido de ser executada, Ela tem essa coisa muito mais… Não sei usar a palavra, não sei se é folclórica… É outro tipo de música diaspórica, onde o corpo tá muito presente, sabe, assim, o elemento humano tá muito presente, a expressão do corpo tá muito presente, a dança tá muito presente, sabe, assim, não que na cultura baiana não seja, sabe. Mas é diferente, é uma diferença, sabe, é um outro jeito de usar o corpo, acho que é muito mais teatral do que rítmico, sabe. 

Cheguei em Recife e as minhas referências eram Manguebeat e Carnaval, eu ouvi muita coisa do movimento na década de 90, então, para além de Chico Science & Nação Zumbi, as coisas que chegavam de Recife para a gente na Bahia na década de 90 era tudo muito novo e inovador, porque a gente tinha a indústria do Axé, que monopolizava. E essas coisas que chegavam de Pernambuco para a gente era inovador. E para além disso, quem produziu o primeiro disco do OQuadro foi um pernambucano, né, que é um cara bastante inserido na cultura pernambucana, que era Buguinha Dub. Então, eu cheguei com esse cartão de visitas que era OQuadro.

Uma expressão musical já bastante conhecida no Brasil, ainda que no underground, mas, como a galera de Recife é uma galera ligada, eles já conheciam OQuadro, então eu cheguei com essa carteirada. E isso meio que me colocou em outros lugares, assim, sabe? E aí eu também ganhei um pouco de know-how musical. Esse know-how musical que eu trazia de minha caminhada com o OQuadro fez com que os caras percebessem que eu podia dialogar com qualquer expressão de igual para igual.

Então foi desse jeito que começou a parceria com o Dolores, conversando sobre música, e ele percebeu ali que eu tinha um conhecimento musical. Porque ele conhece música pra caralho, e começamos uma troca de conhecimentos muito bacana. O que foi e tem sido uma experiência muito foda porque o Dolores é um cara que viajou o mundo, né? Que me conta histórias de quando ele encontrou com o Erykah Badu em um roll de hotel, que era amigo pessoal de Naná Vasconcelos, que cresceu musicalmente junto com Chico Science, tá ligado mano? 

Então, é nesse sentido que eu falava de ter uma relação mais com músicos do que com qualquer outro MC. E junto com o DJ Dolores pude colar em trabalhos que foram muito importantes para o meu crescimento e expansão como MC.

Oganpazan – Mano, acho que tem um ponte muito interessante na sua caminhada que é da sua vida e saída de Ipiaú, essas mais de duas décadas com OQuadro e o seu projeto durante a Pandemia com as lives do Studio Roncó. É uma caminhada muito louca de produção de vida e de conhecimento como homem preto, né? 

Nego Freeza – Legal essa pergunta e pra respondê-la, eu tenho que voltar lá atrás, no início do OQuadro. A gente tinha ali três MC’s onde cada um pautava uma temática mais ou menos central em sua lírica. Um que pautava mais a questão da arte, partindo da questão da filosofia que (era) é o Jef Rodriguez ali. Outro MC que pautava mais a questão de classe, ligado a uma esquerda socialista, que era o Rans Spectro.

E eu que era o cara que tava ali de certa forma dialogando com a questão racial. Eu sempre pautei a questão racial no OQuadro, tá ligado? porque não tinha como, né? Era o que eu vivia, era o que eu era. Pessoa suburbana, filho de doméstica, não tinha como eu não pensar isso, né? 

Eu me descobri pensando a questão racial muito antes do rap. O rap só veio frisar, tá ligado? Informar essa parada, né? Só veio dizer, isso que você pensa é isso e isso. Por isso eu gostei tanto do rap, por isso eu me identifiquei tanto com o rap. Porque o rap me trouxe respostas de coisas que eu pensava e não conseguia respostas, entendeu? Porque eu cresci dentro de casa de gente rica e branca, minha mãe era doméstica e eu cresci ali. Então, eu passei por várias situações racistas, tá ligado? Eu sabia que era racismo, mas eu não sabia o porquê. 

Hamilton Borges

Então o rap veio e me trouxe isso e a partir daí foi só uma questão de ir se aprofundando, achando os meios. Quando eu vou morar em Salvador é que eu tenho mais acesso a essa pauta, a esses assuntos, é quando eu conheço: o Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta com o mestre Hamilton Borges, Giovanni Sobrevivente e Nelson Maca.

Mestres fundamentais para a minha formação. Giovanni Sobrevivente, o Sarau Bem Black, que era um projeto do Maca, onde você encontrava essa galera que pensava raça primeiro, né? Dentro da arte. Eram pessoas que estavam ali pensando a pauta racial, mas de uma forma artística, poesia, música, cultura Hip-Hop. E aí você consegue entender, eu comecei a entender, mais morando em Salvador, a relação do preto, o jeito de se comportar, de agir.

O que me lembrava muito os pretos que eu via nos filmes, né? Porque eu conheci o rap também através do cinema. Pode crer. Então… É isso, assim, pra mim, chegar no Studio Roncó, né?

Oganpazan – Para pensar África nesse caso né meu mano? Partindo dessa produção de auto-entendimento racial até o pensamento produzido no continente mãe, né isso?

Nego Freeza – Sim irmão, porque é uma busca mesmo, assim, de querer entender. Porque a gente não quer entender como se dá a produção musical no continente africano? Porque a gente não imagina que a África tenha bons estúdios, sabe? E estilos musicais, e bons produtores, e bons mixadores, enfim… Boas condições de produção, né? Então eu queria entender como é que se dava isso. Na mão de quem estava essa grande produção. Porque existe uma grande produção musical no continente africano. E as pessoas vão lá, bebem dessa fonte, e voltam, e fazem o que querem com essa fonte. É como se tivesse, de alguma forma, também explorando a matéria prima ali, seguindo a linha de colonização.

Então eu queria entender, eu queria ouvir deles, assim, porque eu já estava pensando, né, nessa coisa de disco solo, e eu não queria fazer mais do mesmo. Eu queria ter uma relação em que eu estivesse confortável pra dizer, ó, tô fazendo isso porque eu fui buscar.

Oganpazan – Hoje esse reclame da legítima herança e pertencimento africano se tornou moeda de troca, né? Muita gente teorizando Orixá e como diz a pensadora Anin Urase, não fortalece o candomblé em nada. Transformando Orixá em mero capital simbólico, views, a famosa militância preta de internet.

Nego Freeza – Sim. E é isso, assim, né? O Orixá virou um grande… Porque, pra mim, tem uma coisa assim, Danilo. É… Pra você ser militante, você tem que amar a pele preta. Se você não ama a pele preta, você não é militante, mano. Tá ligado? O pessoal está monetizando a pauta. Estão falando a seu próprio favor.

Se você não se coloca no lugar do outro, que é seu semelhante, se você ver uma pessoa preta na rua, catando lixo, e você fala, porra, poderia ser eu, e você não entende que poderia ser você, tá ligado? Isso, pra mim, não é militância. Não é militante, mano. Você pode ter todo o letramento racial, porque consciência racial é uma coisa, letramento racial é outra.

Oganpazan – Neste sentido, você tem uma afirmação que eu acredito que é muito basilar no sentido de ser uma diretriz e que eu trago muito assim na minha vida, que é o seguinte. Você disse em algum lugar: “Uma coisa é consciência racial, outra coisa é consciência africana”.

Nego Freeza – É isso. Há uma diferença entre consciência racial sem África. Na verdade, a consciência racial tem que ter África. Quando você pensa a África atualizada, você torna-se um ser político. Para se posicionar na sociedade politicamente, para além dos dois pólos, esquerda e direita. Porque principalmente a esquerda… Pra além do antirracismo. Essa coisa de letramento racial que você vai pra universidade e se descobre preto na universidade. É totalmente diferente de você se descobrir preto numa sociedade que faz questão de te dizer que você é preto, desde a nascença. Se você nasce preto, essa sociedade vai te dizer desde pequeno que você é preto. Que em determinados lugares não é pra você, porque você é preto.  

Oganpazan – Meu velho, nessa aproximação à música de África, você encontrou o produtor K’Boko. Fala um pouco dessa passagem de sua pesquisa com as Lives do Studio Roncó, e estas suas recentes produções com ele.

Nego Freeza – Então, eu conheci o K’Boko no Recife. Mas ele está radicado na Alemanha já há uns 20 anos. É um cara que trabalha em projetos ligados a refugiados na Alemanha. E aí ele acaba tendo um contato com essa comunidade africana que além de ele trabalhar levando música para essas pessoas, ensinando música para essas pessoas, ele acaba adquirindo uma experiência musical e uma bagagem musical que vem de África.

Faces do Subúrbio

E daí nasce essa produção dele. Africana, né? Africana na Europa. E aí a gente trocou ideia. Ele é primo de um grande amigo meu que é Samuel do Faces do Subúrbio, o MC do Faces do Subúrbio. Samuel me apresentou, a gente começou a dialogar. A gente meio que criou um grupo de pessoas que pensam a música e obviamente o rap. Mas, pensando o rap para além do rap. A gente estava sempre se reunindo ou para tocar ou para fazer um rolê, ir para shows, ir para outras apresentações. Mas a gente estava sempre junto.

Eu, K’Boko, Samuel, Jedison e Gustavo Pontual, tá ligado? Jedison era um cara que tocava numa banda de afrobeat. Era um cara que organizou muitos anos o Fela Day em Recife. Hoje ele está radicado na Espanha, em Madrid. Mas, a gente ali era um grupo e estávamos sempre juntos conversando, dialogando sobre músicas. As afinidades musicais eram todas assim. Porque existe ali uma paixão pela música africana.

O produtor K’Boko aka Biano

E nessas trocas o K’Boko começou a me apresentar uns packs de beats que ele tinha. Foi quando caiu o beat de “Mutimba” no meu colo e eu falei que beat foda. Aí comecei a escrever e tal. Sem pressa também. Porque chegou pra mim esse entendimento de que eu não preciso ter pressa para lançar um disco solo. Montei um Home Studio que foi uma coisa que me deu um suporte foda na minha evolução musical mesmo. Porque escrevendo em casa, gravando em casa. Eu gravei o disco do OQuadro todo em casa. Algumas coisas que não ficaram legais, eu levei pra um estúdio maior, mais perto de casa também.

Isso dentro da pandemia. Escrevendo em casa, gravando em casa, eu pude experimentar. Trabalhar mais o flow, trabalhar mais a métrica. Falar não, tira essa palavra, adoto essa, corta, joga fora e tal. Isso foi desenhando mais o meu flow. Foi me dando mais dinâmica e eu fiquei mais solto no beat.

Entendendo mais a música e tal. E foi isso. O projeto com Caboclo eu ainda dou continuidade porque na verdade estamos produzindo um EP, onde as faixas Mutimba e Simbora Nesse Rolê são singles. Em paralelo ao meu disco com Pupilo, eu dou continuidade a este EP.

Oganpazan – Eu soube inclusive que você quer gravar com artistas baianos, dentro dessa estética da música Africana neste EP com K’Boko e tal. Quem é? Você pode nos contar? 

Nego Freeza, Danilo Cruz, Galf AC e Dimak

Nego Freeza – Eu pretendo gravar com Alfão, que era da Underismo, e é um novo nome que eu curto, e quero fazer alguma coisa dentro dessa estética de música contemporânea africana. De repente um afro house ali e tal. Eu tive que dar um tempo, na verdade, pra correr, pra fazer dinheiro pra pagar esse disco. E aí essa coisa da vaquinha tá dentro desse corre. Fiquei um bom tempo sem gravar guias. O Pupilo mandava umas guias. K’Boko mandou guias. Agora que a campanha está no ar, eu vou dar esse start aí, e começar um monte de feat parado. Feat com o Galf AC, feat com o Dimak, com o percussionista Mamah Soares, que está radicado em São Paulo. 

Oganpazan – Agora abordando mais diretamente o seu grande projeto em 2024, que é este seu primeiro disco solo com a produção luxuosa do Pupilo. Queria que você falasse um pouco de como se deu essa parceria e qual foi a forma que você encontrou para viabilizar isso?

Nego Freeza – Então, vou voltar mais uma vez na história, porque tem outra história legal, assim, talvez você não saiba, mas as coisas começaram a mudar pro OQuadro quando a gente abriu um show da Nação Zumbi, lá em Ilhéus. Foi quando o Buguinha conheceu OQuadro, e os caras da Nação Zumbi vieram até a gente e disseram:

”Porra, caralho velho, o show de vocês é foda, tá ligado? A gente roda o Brasil todo aí, e não vê uma banda de rap como vocês. Ah, porra, tem que botar essa parada pra girar, e o Buguinha falou, eu sou produtor musical, vou fazer a porra desse disco.”

Então, assim, Pupilo como parte da Nação Zumbi naquele momento, hoje está produzindo um disco meu… É a reafirmação e expansão desse contato inicial e minha formação com a banda. Dez anos depois, a gente tocou com eles de novo no Pará. E reencontramos os caras num hotel, a gente conversou e os caras lembravam do show.  Aí o Pupillo fala hoje, lembra do disco de 2012. 

Pupillo

Aí eu venho morar em Recife, né? Acabo tendo essa relação mais próxima, né? Porque eu acabo encontrando os caras do show e fico falando com os caras. É a cobra mordendo o rabo, né. Assim, tipo, encontro com o Gustavo Da lua, aí encontro com o Matias e encontro com o Dengue, então, tipo, já tem uma relação mais próxima com os caras e aí o Pupillo se interessa. Porque o interesse que ele teve, assim, porra, vamos fazer um disco, né? Um álbum meu, assim. Então, tipo, há uma relação aí que pra mim não é à toa 

A gente já tá cozinhando esse disco há um ano. Há um ano que ele vem me mandando beat, há um ano que eu venho escrevendo e gravando guias e mandando pra ele e aí chegou o momento que a gente falou, ó, vamos nessa, vamos fazer a parada acontecer porque até então também a gente tava nessa busca de recursos, tentando editar isso pra fazer esse disco, né? E aí… a gente decidiu que não, vamos pro front, e aí a gente decidiu fazer essa vaquinha virtual. Que é fundamental para que esse projeto aconteça da melhor forma!

A minha produtora, Luiza Acceti foi quem fez a ponte, por ser amiga dele, por se interessar pelo meu trabalho, por ver um talento ali. E me fala, porra, vamos trabalhar, vamos fazer as coisas acontecerem e tal, me chamou e fez a ponte com o Pupillo. Inclusive ele fala dela, ele cita ela, né? E é isso, assim, né, pra mim é uma mistura, né, de sentimentos, é como se eu estivesse nascendo de novo. Vou botar uma parada e aí tem aquela ansiedade, eu sempre tentando não deixar tomar conta, não padecer dela. E buscando parir, e às vezes eu pego na caneta assim, tipo, caralho, porra, tá ruim. 

Se eu fico, sei lá, dois, três dias sem escrever, eu já entro em crise, velho, porque eu fico escrevendo, meu trabalho é escrever, tá ligado? E tipo eu não reclamo irmão, mas é difícil por exemplo ter que exercer outros trabalhos para produzir depois de tanto tempo de caminhada . Eu toco a noite sabe, porque isso também paga a minha arte. 

Pupillo Oliveira

Oganpazan – Salve Pupillo, Gostaria que você contasse um pouco como se deu o convite para esse trabalho de produção junto com Nego Freeza? 

Pupillo – Bom, eu já conhecia OQuadro da cena da Bahia através do disco de 2012, e como eu já conhecia o trabalho deles, com o convite da minha amiga Luiza Accetti que me falou que o Nego Freeza tava morando em Recife e tava a fim de produzir um álbum novo e se eu me interessaria e claro que fiquei a fim de fazer. 

Primeiro, porque OQuadro é uma banda importante do cenário baiano, e em segundo lugar porque para mim seria interessante começar a trabalhar com o Nego Freeza que está começando um trabalho novo e buscar novas experiências musicais. E isso tanto pra mim quanto pra ele vai trazer novos ares para nossas carreiras. E assim me desperta total interesse em fazer algo que vai chegar junto e com certeza vai ser importante para a cena do Hip Hop também. 

Oganpazan – Como você tem pensado nas produções, existe uma linha diretriz em termos musicais? Você poderia adiantar algum pequeno spoiler nesse sentido?

Pupillo – O que dá pra adiantar é que mesmo sendo um trabalho que tem o Hip-Hop como caminho principal nós estamos buscando caminhos mais amplos, referências mais amplas. Porque isso faz parte e é inerente ao nosso histórico artístico, e isso vai acrescentar bastante ao processo criativo, claro que tomando como base essa referência mas sempre buscando um algo a mais, que ao longo do processo a gente vai descobrindo e propondo um pro outro e essa é a linha de raciocínio do disco.

Oganpazan – Em relação a produção você vem produzindo artistas que estão distantes desse cenário e ao mesmo tempo nomes que vão da saudosa Gal Costa até a “jovem” Céu, mas não especificamente dentro do rap. Como tem sido esse desafio para você?

Pupillo – O Hip-Hop sempre foi uma das maiores referências do meu trabalho, desde os primórdios da Nação Zumbi até os trabalhos com o Criolo e o Emicida, ou com os três trabalhos com o Novíssimo Edgar que tem uma visão que vai além do Hip-Hop. Que no final das contas é a premissa do meu trabalho né, que é não ficar fechado num estilo e tentar reproduzir a cartilha do estilo, então o hip-hop é um terreno super conhecido para mim e inclusive abrindo maiores possibilidades para propor algo novo, que é o que a gente tá buscando nesse trabalho aí com o Nego Freeza, que eu acho que tem tudo pra ser um disco importante que tem pra sair esse ano!

Então já sabem né oganautas, clica aqui no link e colabore com o Apoie-se para que tenhamos esse tão esperado disco na rua e nas pista! A campanha conta com diversas formas de recompensa, escolha a sua!

-Nego Freeza & Pupillo lançam a vaquinha virtual de ICYEREKEZO – Entrevista

Por Danilo Cruz

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