N’Ativa & 16 Beats em Tramas insanas chegam com um Ep muito pesado, poetizando as ideias e posturas criminais em propostas de revolução negra
Com uma lírica única tal como uma impressão digital que não se repete, N’ativa & 16 Beats botam a cara na rua com um trabalho de excelência. A crítica social é o carro-chefe da proposta do trampo dos manos, porém, não caem na mesmice poética-estrutural a qual já conhecemos e que é comum ao rap. Não que isso seja errado, longe disso, mas esses manos nos apresentam uma perspectiva diferenciada diante de tal tema.
Com um som polêmico, os manos abrem sua track list com a pesada e foderosa Atividade, onde narram sem maquiagem o cotidiano de uma parcela da juventude. Meninos que encontram no tráfico uma saída nenhum pouco glamourosa mas que por uma questão de urgência de suas demandas mais latentes, aliado a falência/descaso do estado, conseguem nele as emergências de suas necessidade dos que enveredam no mundo do crime. E isso na atual conjuntura política do nosso país nos mostra não ser menos honrosa do que a de políticos sanguessugas que se perpetuam no poder a qualquer preço e em todas as esfera da máquina pública!
Os versos: “…traficante ajudando com vale-gás, Aécio Neves imagem do satanás…” conseguem de maneira escura e direta sintetizar bem a ideia do grupo. Já em Avisei, os manos dilatam rimas ligeiras num beat tenso, recheado de gírias do cotidiano soteropolitano, “só quem é louco se identifica”. A lírica gangster desta track é uma das mais chapadas do disco. Denunciando as mazelas sociais, aliado a inoperância do poder público é a temática central do EP TRAMAS. E isso vai se tornando mais claro ao longo do disco.
Em Mantenha o Foco os manos não desviam o direcionamento da proposta do trampo, mas nos apresentam variações. Com o vocal feminino de responsa de Débora Evequer, que vai muito além de simplesmente cantar refrão, vicio ao qual o rap erroneamente se habituou para reservar para as minas. Aqui não, aqui a mina além de brocar no refrão que foge ao convencional, ela ainda apavora “nazidea” e sem deixar por menos, broca nas rimas também. Mostrando toda sua versatilidade e excelência musical.
Pega visão desse som, piva… Em Não Me Deixe Levar, talvez a mais introspectiva e poética faixa do trabalho, os manos mais uma vez arrebentam nas idéias. Sobre uma lenta soul beat muito foda, os manos vão construindo a sua poesia, onde literalmente nos convidam a embarcar numa brisa sonora sem igual. Propondo uma reflexão sobre uma cidade que vive as contradições de toda grande metrópole que insiste em nos trazer essa tão contraditória dualidade: por vez colorida e feliz mas também caótica e desigual. Literalmente – narrando poesia sobre ruínas! Sim, temos o nosso gueto Get Down.
Definitivamente, não só uma das melhores track do disco mas de 2016! Certeza que você vai lombrar muito nessa linda canção. Em Pra Viver não se passem com um beat que começa lento e assim segue até o final da track, inclusive no refrão. Ao fazer uma audição desatenta, a faixa soa até certo ponto romântica, mas como disse acima, não se passem pois esse som é igualmente pesado! E não destoa do restante do disco. Ao mergulhar de forma mais atenta na vibe do som verás o quão pesada é.
Dentro do caldeirão de idéias propostas pela sonoridade de N’ativa & 16 Beats, a questão étnica não poderia passar em branco e não passou, Respeita os Pretos, rapaz! Nessa track os malucos largam o doce sobre a questão racial num beat pesado, casado com uma letra igualmente pesadíssima e que deságua num forte refrão que bate na mente como um chamamento ao front. Poder Para o Povo Preto! Condicionados a viver numa guerra étnica-social onde não pedimos para estar ou entrar, em Se Eles Querem, é retomada a narrativa de uma rotina cruel ao qual somos personagens sem glória. Aqui a ideia é forte, papo de gladiador de sangue quente, vitimismo aqui nem rola.
Aperta o play e “bota a cara que cês vão ver”! Fechando nossa resenha, mais uma faixa de excelência mas não dando um ponto final aos trabalhos e sim um ponto de segmento. N’ativa & 16 Beats trás em sua faixa título – Trama – a síntese que compõem esse ótimo trabalho. Aos ouvidos e mentes de moralistas engessados, muito cuidado – N’ativa & 16 Beats não é para vocês, então… pega a visão!
Em linhas gerais, a música mundial está em constante evolução e o rap, como uma música moderna que é e que constantemente se reinventa, tanto técnica quanto poeticamente, não poderia caminhar na contracorrente dessas transformações. Ainda que entre os nossos exista uma ala um tanto conservadora. Aos que não entenderam a latente necessidade de evoluir e reinventar-se afim de permanecer no game, ficarão pra trás no bagulho, infelizmente e no máximo serão lembrados como livros empoeirados nas estantes do tempo.
Evolução é o conceito primordial em qualquer área, não tem jeito, e nesse aspecto a produção baiana saiu da posição de coadjuvante para o de vanguardista… vai segurando!!! A aliança entre N’Ativa (Dactes, Sico, Devon e Tyro) e 16 Beats, mostra e propõem essa evolução, numa forte perspectiva de trabalho conjunto.
Você pode baixar essa pedrada aqui
Por Paulo Brazil
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Ficha Técnica:
Part. Débora Evequer
Gravação/Mix/Master: Christian Dactes (NacaladaRec)
Foto/vídeo: Ramires Ax / Jeferson Devon (Coletivo NaCalada)
https://www.youtube.com/watch?v=qyWsVaONBvI&list=PLCVk3Dl00WXVQ8IfqufY6P2a406H6akuM