Oganpazan
hammerhead, Hammerhead Blues, samsara, samsara blues experiment, Saturndust, Shows

Na cola da Jam metafísica do Samsara Blues Experiment

A música é uma viagem cósmica rumo aos campos inexplorados das mentes dos compositores. É um grande devaneio experimental que no que tange a criatividade e as inovações sonoras, justifica todos os esforços dos pioneiros de outrora que, diferente dos “gênios” dos dias de hoje, só conseguiam algo novo depois de algumas dezenas de testes baseados única e exclusivamente na arte da tentativa e erro.

E na atual conjuntura onde as bandas chovem cada vez mais no molhado, é importante enaltecer a originalidade de caras como os alemães do Samsara Blues Experiment, por exemplo, que junto da sempre enérgica Hammerhead Blues e do gélido Saturndust, trataram de demonstrar que hoje é assim: ou soma ou some.
Para inaugurar as festividades na Clash Club, já que o Inferno (Club não o de Dante) está em reforma, é desnecessário dizer que a Hammerhead malhou o Hard com a costumeira destreza que já lhe é peculiar, só pra mostrar que ainda tem muito riff pra correr por debaixo desse trio.
Emulando takes advindos do primeiro e único EP da banda, como a muitíssimo bem trabalhada “Moontale” (que até virou clipe) os caras fizeram um de seus melhores shows. Com um repertório sólido que alternou temas já conhecidos e outros que surgirão no disco que os meliantes estão gravando, todos os presentes tiveram mais uma prova de como o formato power trio funciona bem dentro desse escopo puxado para o Blues-Rock e suas demenciais improvisações.
Sem mimimi e mandando uma faixa atrás da outra, os músicos demonstraram grande sintonia entre si. O Jazz Bass do frontman, Otavio Cintra, chegou com o timbre afiadíssimo. Nas guitarras, Luiz Felipe Cardim manteve o seu approach visceral a serviço do groove, além de mostrar muito feeling nos solos, isso sem esquecer da máquina de reboque (humana) que senta no cockpit da bateria, falo sobre William Paiva, o responsável por acompanhar todos os embates instrumentais que surgiram.
Logo depois a Saturndust foi para o palco recriar a abordagem espacial de seu disco de estréia. O segundo trio da noite mudou a atmosfera do recinto drasticamente e função da densidade de sua música, algo que acabou fazendo com que o público entrasse num torpor Doom que só arredou pé quando o Samsara começou a montar o palco. 
Foto: Fernando Yokota

Samsara Blues Experiment, está aí uma banda interessante para se acompanhar e assistir ao vivo. Ouvi-los em disco é uma experiência bastante ampla, mas é notável o quanto cada uma das composições do grupo ganha vida própria sob o palco.

Na verdade até o formato power trio parece funcionar diferente pra eles. O vocalista e guitarrista Christian Peters faz um grande trabalho em sua Gibson. Explorando arranjos que mostram o quanto o citar indiano mudou sua perspectiva como guitarrista, seus solos e passagens instrumentais fluem como uma Raga indiana assistindo um show de Blues no Delta do Mississippi depois de uma dose de L.S.D.

Parece coisa de louco, mas faz um sentido impressionante depois que eles começam a tocar e esse que é o grande lance. Esse som ninguém faz, o Samsara encontrou a sua identidade e hoje roda o globo disseminando algo inédito e tão cheio de vida quanto o showzaço que o trio fez questão de trazer da Alemanha. 

Foto: Fernando Yokota

Muito se fala do Christian Peters, mas é válido ressaltar que sem o distinto baixo de Hans Eiselt ou a sinuosa e muitíssimo precisa bateria de Thomas Vedder, seria bastante difícil chegar ao apogeu dinâmico e orgânico que esses malucos de 2 metros de altura conseguiram.

É um poderio sonoro sem tamanho, creio inclusive que o Earthless seja uma das poucas bandas que consigam equiparar tamanha qualidade instrumental (ainda que dentro de um escopo completamente diferente), mas enfim.

As quebras no tempo, as variações na bateria, o peso e a cadência na distorção do baixo… Tudo isso, absolutamente todos esses indicadores colaboraram para que a guitarra de Peters mandasse a mente do público para bem longe, irradiando música como uma vitrola-cometa que busca apenas emanar um som cada vez mais puro e absoluto em sua essência por (infelizmente) finitos 90 minutos.

Esse é aquele tipo de show pra levar o caxias do seu amigo que acha que a música possui estrutura fixa. Ver como a bateria o baixo e a guitarra trocam seus postos no som, desempenhando papeis de protagonistas ou só climatizando as faixas com camadas siderais de psicodelia é uma prova de como é importante entender o que cada instrumento pode oferecer. Foi um verdadeiro workshop de dinâmica musical, haja metafísica e Abraxas. Showzaço!

Matérias Relacionadas

Jams num container: o primeiro Abraxas Fest no Superloft

admin
8 anos ago

Céu ao vivo no Bourbon Street: 15 anos de carreira!

Guilherme Espir
5 anos ago

Josué dos Santos Quinteto: Nas trilhas de J.T. Meirelles (Resenha e Entrevista)

Guilherme Espir
4 anos ago
Sair da versão mobile