Mulheres do Rap Nacional, uma selecta contra a ignorância! #marconaobasta

Mulheres do Rap Nacional, uma selecta contra a ignorância machista que em pleno século XXI ainda usa o baratino de que não conhece as mina!!

 

O rap nacional precisa conhecer mais os trabalhos que as mulheres, de norte a sul do país vem produzindo, pois elas vem fazendo o duplo papel de elevar o nível artístico e ao mesmo tempo focar em pautas políticas que são mais do que necessárias para o movimento hip-hop! Existe um subterfúgio comum nos machohop – que é aquela parte do público que curte rap, mas só se for de macho – que é dizer que não escuta trabalhos de mulheres por que não conhece e tals…

Esse baratino é a mutação daquele outro que durante muito tempo serviu de escudo pro machismo no rap, que se “protegia” na ideia de que as mulheres não possuíam o mesmo nível técnico dos homens. Se tem uma coisa boa na tecnologia é que ela deixa o machista nú ao usar esse argumento, que apenas visa continuar a invisibilização de mulheres no hip hop.

Agora, com a facilidade de alguns poucos cliques o amante dos homens do rap poderá ser desmascarado e ter acesso a mulheres nos beats, nas filmagens, rimando, mulheres de norte a sul do país fazendo o mel do melhor do rap nacional. Para fortalecer essa prática, separamos aqui 8 audiovisuais de mulheres muito talentosas e resistentes do rap nacional. Pois é necessário também, que as manas que curtem e propagam nas redes sociais trabalhos de mulheres, conheçam também os vários outros trampos, feitos no país inteiro. 

Como ficará bastante óbvio abaixo, são mulheres botando fogo no parquinho dos “brabos” com produções de alto nível artístico, mesmo que por vezes, com baixo orçamento. Sabemos que o corre é bem mais louco para as mulheres que estão na cena, e visibilidade não paga as contas, mas certamente já é um gás a mais para continuar. Por isso, aqui no Oganpazan temos a campanha #marconaobasta, que dura o ano todo, e essa matéria em especial é apenas um lembrete disto.

 

Amém Ore (RN) 

Oriunda da cena do Slam em Natal, essa mana que já foi campeã da categoria, já vem no corre do Hip-Hop a 7 anos, e tem se dedicado nos últimos 2 anos ao rap. No beat do mano Pacific, Amém Ore desfia uma lírica introspectiva, abordando problemas pessoais, de relacionamento em uma reflexão sobre si mesma que demonstra toda complexidade de nossas vidas.

O video clipe com a direção de Emanuel Fernando, captura a mc numa “caminhada” na real nos apresenta um mergulho dentro de nós mesmos ao nos darmos conta de que os problemas que a poeta nos apresenta são – de modo transcedental – de todos nós. Baixo orçamento e muita qualidade, aguardamos mais trabalhos desse jovem talento, e você aí que está lendo, olhe pro Nordeste. 

Suja dFato (BA) 

A mana Suja dFato é um jovem valor do Hip-Hop baiano e representa uma renovação necessária numa das cenas mais ricas do Brasil. Como o seu nome já deixa claro, seu trabalho é rua, é trincheira, e a sua arte incorpora a sujeira mas também toda a fertilidade que nossas favelas guarda. Esse impulso ancestral de transformar sofrimento em arte. Real hip-hop.

Imanentemente politica, a música “Taurus”, aborda a repressão policial em nossas quebradas e também as laranjadas plantadas aqui para capturar os nossos, jogando areia nos olhos de quem se ilude com promessas de melhoria, com o crime. O vídeo é excelente na estética apresentada, e é obra da mana Bévora Corp, o beat é do mestre King Daka que vem fazendo só as bomba nos beat.

Budah (ES)  

A carioca Budah é um excelente exemplo do quanto as mulheres conseguem através de muito talento transcender o rap, e caminhar dentro do rap mesmo, com muita originalidade e qualidade pelo R&B e mesmo por produções mais pop. Essa mana vem soltando bons singles, e rimando e cantando geralmente sobre temáticas românticas, é a trilha sonora perfeita para aquele momento a dois.

Uma coisa que nos ocorreu quando vimos esse clipe, é que falta no rap nacional parcerias entre homens e mulheres, a exemplo do recente Best Duo. Um disco do Chris com a Budah seria um projeto muito interessante (cornetei). O audiovisual bem produzido é obra dirigida por Lucas Araújo e o beat delicioso onde a dupla deita e rola é produção do mano Ursão Beats. Ah, e antes que esqueçamos, tá na hora de um trampo mais robusto da Budah, pois os seus singles já deixaram todos cientes de suas qualidades!

Fenda (MG) 

A calma, a segurança presente em Girl Gang (prod. Coyote Beats) são os equivalentes da força e das qualidades que as manas do grupo Fenda, tem transparecido nas produções que tem soltado na pista. Reunindo MC’s, a DJ e pelo menos uma beatmaker, o grupo mineiro só tem chegado com audiovusais super bem pensados e aqui não foi diferente. A direção e o roteiro da Celina Barbi é um show a parte – ou melhor, junta – apresentando um roteiro e uma direção que inovam na apresentação do single, assim como em Não se Ofenda, também lançado este ano. 

É através de uma fenda que a vida surge e na Fenda formada por Laura Sette, Iza Sabino , Paige, Mayí e Dj Kingdom, o rap, o hip-hop tem encontrado uma saída das mais bonitas da atual cena. Assistam o clipe, e fiquem espertos, esse grupo ainda vai dar muito o que falar. 

Ruana Soul (SP)

A mana Ruana Soul soltou o single do seu primeiro disco solo e a expectativa ficou alta tá? Batidão pesado, rimas e flow afiado, dj riscando, bboy dançando, é o que nós curtimos né? “Amor ao Rap” é o fruto de uma sólida caminhada da MC de Campinas em SP, que já fez parte dos grupos Revolta 573 e Nomads, onde pode acurar todo o seu talento e agora se jogar numa carreira solo. Enquanto vemos cada vez mais o hip-hop ser fragmentado e elementos importantes da cultura serem esquecidos, a mana Ruana nos traz em seu video clipe, todos os elementos. 

No audiovisual do Lucas Cavalero e do Pulga, vemos o grafite do Somo e do Coxa, os Bboys com a performance do China e mais uma rapa mandando no chão, podemos ouvir os riscos constates e agressivos do DJ Dumbo em cima da produção do Mwrap. Todo esse quadro, pra mostrar o amor de Ruana Soul pelo Rap. Sim, estamos ansiosos pelas 16 faixas do álbum que logo menos estará na praça!

Killa Bi (SP)

Ela pode construir no coletivo ou pode picar quem quiser lhe desmerecer, Killa Bi é daquelas MCs que cultivam com bastante força a sua arte, nos dando muito o que pensar. No ano passado o seu EP Eu Sou Uma Abelha (2019) já tinha nos chamado atenção, boombapzera nervosa e autoconsciente. Agora em 2020 a mana tem produzido audivisuais das 8 faixas do seu EP, que começou com Natural e Otimista, e agora chega com a braba Alra Alves na faixa Peça Chave.

A direção de Mattenie capta a Ruêra e a Abelha num feat realmente pesado, pique freestyle com as manas entortando as ideias de quem acha que as minas não tão ligeiras. No beat do ALN elas não desperdiçam uma linha sequer, na missão de produzir poesia no ritmo, as minas são pesadas. Vai escutar e ver essas minas!

ABronca (RJ)

É difícil segurar, é difícil enfrentar a bronca de ser mulher e preta em nosso país, mas as cariocas da dupla  ABronca transforma todos esses obstáculos na força da sua arte. Revidando o sistema racista e patriarcal as manas estão no corre com muito talento e conteúdo. Dando sequência aos lançamentos, que teve em Oh Shit (2019), uma trapzeira pesada, onde as minas mostraram que chegavam prontas na cena. Agora neste ano do Covid-19, as minas dão continuidade aos trampos com um clipe numa estética muito interessante.

A direção é do Taylan Mutaf, que além de capturar as minas pelas lentes, promove uma colagem com noticias sobre casos de violência que recebemos todos os dias em nossas casas. Mas como a letra da faixa deixa clara, é população negra que mais engorda os números, não importando qual o status social. atualmente fazem 769 dias que a vereadora carioca Marielle Franco foi brutalmente assassinada. As manas da ABronca (Jay e My), em 174  colocam toda indignação nas rimas e nas ideias e você deveria ficar ligado nelas.  

Tasha e Tracie (SP)

Essas são as meninas que eu gosto e que não tive oportunidade de escrever sobre antes, Tasha e Tracie são a encarnação da afronta. Se aperfeiçoam a cada dia em meter os flows chapados e as ideias mais favela e afiadas possíveis. As manas só chegam de voadora nos lançamentos, no ano passado foi o EP Rouff (2019) que nos apresentou o trampo delas, e obviamente foi amor a primeira vista. Neste EP em questão, as manas vieram pesadas e mostrando uma versatilidade que não é fácil de encotnrar.

Agora em 2020 elas soltaram o clipe da faixa Tang prod. MU540 (2020) com direção de 1993agosto e com a participação de Kyan, e o nível não desceu nem um milímetro. Favela real, as minas tem um bonito futuro pela frente, e seguimos aguardando mais e mais trampos. 

-Mulheres do Rap Nacional, uma selecta contra a ignorância! #marconaobasta

Por Danilo Cruz

Grafite que ilustra a matéria por Chermie Ferreira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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