Mukambu, banda de reggae baiana lança seu disco de estreia com excelente produção, diversas participações na chave do reggae roots!
Fui escutar o disco da banda que meu mano VitóriAfro Júnior Sento Sé faz parte, com um leve receio pesado que me ocorre sempre que eu vou escutar um disco de Reggae baiano: “por favor, não seja um disco mal produzido!”.
Porra, a galera do RAP-BA já superou essa onda tem mais de 20 anos quando aprendeu a produzir os próprios discos e fazer as faixas de RAP soarem como RAP. Na Jamaica já se grava Reggae bem produzido desde o tempo que Mr Coxsone Dodd esculpia LPs em pedra lascada com ponteira de granito. Mas na terra do carnaval music, muitos ótimos artistas e bandas de Reggae já tiveram seus bons trabalhos diminuídos por estúdios que não sabiam captar, nem mixar, nem editar e nem equalizar Reggae. Obviamente, isso é a minha opinião.
Bom, esse primeiro disco da banda Mukambu, “Do Gueto ao Kilombo”, é bem produzido pacaraaaiooo, já adianto e parabenizo ao Estúdio de Produção Musical Aquahertz pela ótima produção, sendo que o diretor musical Marcelo Santanna também faz backing vocal em todas as faixas do disco.
O disco abre com a marcação One Drop da batera e uma linha de Contrabaixo tomando a frente de tudo. Escorre um sax discarado de bolero numa pegada fussingNfighting arrastado, a guitarrinha skankinskankin rasgadinha e o teclado lá atrás fazendo só cama sem chatear ninguém e só então, só então, a voz forte e limpa do leader vocal entra na brincadeira preenchendo o som, descalço, pedindo Mojubá.
-Leia no site o artigo: 10 discos para entender o reggae baiano!
Todo respeito a você, produtor, que sabe que Baixo e Bateria são os protagonistas de um disco de Reggae. Que sabe que não dá pra chapar vários instrumentos e abafar tudo. Que sabe que não pode destacar a voz por cima de tudo . Que sabe que os metais precisam transitar livres entre os outros instrumentos. Que sabe que o chenkchenk da guitarrinha ordinária, não é uma falha técnica pra ser polida. Que sabe que diminuir a qualidade da captação da voz dos convidados, além de ser falta de educação, compromete a qualidade geral do disco…PORRA!
Mas péra lá irmão, o que é um disco de Reggae que abre com o Atabaque em Vassi, e a primeira faixa chama Mojubá e a faixa seguinte o nome é Agô, que louva a Jah e clama o Machado de Xangô? Referenda os Ancestrais, as Folhas, as Águas, as Matas, assim com Maiúscula mesmo? Quero crer que seja um tipo de ecumenismo Afrikano que atende ao chamado já antigo do grande Mestre Mutabaruka, apontando que a repulsa às espiritualidades africanas não é nada mais do que traço de colonização mental a ser superado. E Fyah Babylon. Nessa porra.
Se a Mukambu segura a onda e dá o recado, o que dizer da elegante lista de convidadas e convidados? Não vejo encaixe tão perfeito de vozes femininas em Reggae baiano desde que Dona Rita Braz encheu de encanto o disco do Mestre Ciro Trindade. Fiquei até achando que uma vocalista fixa seria bom demais pra a banda viu. Emillie Lapa, Preta Cin, Ticia, Candace, vozes encantadoras e firmes que marcam o disco no Rootz, na Oração, no Reggae SambaReggaeado e no ReggaeFlowhipHop que a Mukambu passeia com autoridade (e humildade).
Mas o que dizer de uma faixa que conta com a percussão do Mestre Jorjão Bafafé e Lázaro Erê e DumDum Afolabi do Opanijé louvando as nossas Ancestralidades??? kkkkkk, nessa sala eu peço Agô e Mojubá.
Uh!Neto, Pankada Roots, porra, muito bons em suas faixas e por incrível que pareça pra mim, a faixa 8 “Você”, foi a que eu mais gostei, ou melhor, a que mais me bateu como oração na caixa dos peito, pela mensagem encarnada nas vozes melancólicas de Texugo e Hélio Bentes, pelo dueto fantástico do contrabaixo com a guitarra do grande Mestre BluesRocker Alex Pantera.
Aumente o som e escute o disco, já me alonguei demais e Oganpazan não é mangue. “…informação, denúncia, autoconhecimento e diversão…”, e sai pra lá Boca de Afofô!
Mandingo , 09/2024
-Mukambu lança disco de estreia “Do Gueto ao Kilombo”, Reggae Roots e Caminhos Abertos
Por Fábio Mandingo