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MR-13 real trappers, real boombapers e ensinando hip-hop

MR-13 real trappers, real boombapers e ensinando hip-hop, indenpendente de qual ritmo que eles rimem, é sempre pedrada, só poesia engajada!!!!

Tomamos contato como MR-13, neste ano da graça de 2019, e o disco Nada Mais De Antes (2019) não poderia vir em tão boa hora. Em seu segundo disco de carreira, o grupo da região metropolitana de São Paulo, coloca-nos duas questões. A necessidade de dar um basta – em tudo o que está posto pelo status quo – e ao mesmo tempo em aproveitar o que existe de melhor no mainstream. Há seis anos na estrada os caras produziram um dos discos mais políticos do ano, e ao mesmo tempo deram um aula da relação entre forma e conteúdo, subvertendo o que para muitos é atualmente um câncer dentro do rap.

Criticar o trap é via de regra, um ponto de honra para quem acredita que uma nova forma musical pode carregar de modo intrínseco aspectos reacionários. Nada mais conservador e burro, já vimos e continuamos a ver isso com relação ao funk carioca por exemplo, e com o trap em nosso país não é tão diferente, para a parcela do “thru real rap“. Aliás, há também uma crítica contra àqueles que rimam com flow utilizado no boombap, dentro da estética do trap. Discussões vazias para dizer o mínimo.

O fato é que ao fim e ao cabo, a música rap segue avançando estética e politicamente e o MR-13 nos presenteou com uma larga contribuição para dar fim aos falsos juízos estéticos e políticos. Num show de técnica, impregnada com a vivência de rua e práticas culturais revolucionárias de sobra (Batalha da Matrix), eles mostram que o trap é um estilo de música diaspórica tão preenhe de possibilidades como quaisquer outros estilos.

Os manos que são fundadores e mantenedores de uma das batalhas mais consideradas do braza, a Batalha da Matrix, conseguiram um feito interessante. Depois de sua estréia com o disco Antes de Mais Nada (2013), os caras conseguiram realmente uma atualização depois de 6 anos sem lançar disco. Sem separar o rap e a cultura hip hop em vagões, os caras surfam através das conexões todas, e numa especie de atualização do RZO anos 90, com uma chave Gucci Mane, abordam com uma linguagem bem atual todos os nossos problemas como país, como sociedade.

E para isso é necessário o basta, que acima chamamos atenção, acabar com falsas discussões que mais excluem o entendimento, do que o ampliam. Propor, é isso que o MR-13 faz, ativam a mais pura e completa subversão, “roubando nossa atenção” de cara com um disco contando com 12 faixas, 10 + 2 bônus. A excelente produção da maior parte das faixas ficou por conta do Vibox, mas o trabalho conta com produçôes do Lucvs LK, do DJ Tadela e do TH, também. Com uma proposta onde o trap é a sonoridade predominante, a política subversiva do Ministério Revolucionário dos Lokos é afiada em cada linha, com a técnica própria desse estilo, mas com um conteúdo lírico que não é comum ao gênero.

Linhas que nos alertam sobre inimigos atuais como a Cambridge Analytica, e nos leva a nos aproximar-mos de velhos heróis como Kunta Kintê (título da sétima faixa) e Mahommah Baquaqua. Mas que também nos leva a entender que o amor é um campo da política, como é o caso daquela com cheirinho de G-Funk: “Detalhes em HD” que conta com a participação de Alinega.

O boombap segue com a dupla classic Sarksmo e Choco como convidados num resumo dos últimos anos da política brasileira em “Ciclo Venonoso”. A música que nos situa em todo o processo recente da macro política brasileira e em sua inspiração histórica que visa o esmagamento do povo preto e pobre brasileiro. Uma espécie de releitura da música de mesmo nome presente no clássico Para Além do Capital (2008), da dupla convidada, tão atual quanto necessário.

Ao longo do disco, Rato e Vale, as duas cabeças que respondem por MR-13, produzem pílulas vermelhas para que entremos no buraco do coelho de Alice, e percebamos o quanto estamos sedados enquanto sociedade, caminhando para o abatedouro. A queda final desse processo produzido pelo grupo do ABC paulista, tem nos dois últimos episódios presentes no disco, o fechamento – ou abertura – de um álbum necessário para os dias de hoje. 

Dois bônus, retirados de um projeto que ganhou dois videoclipes – Pílulas Vermelhas 1 & 2 – que traz a obra dos irmãos Wachowski como inspiração para entender o sistema por dentro, e ao mesmo tempo, descobrir as jóias do rap do ABC paulista. Fechamento perfeito de um disco que precisa ser escutado, poderíamos dizer aqui, um dos melhores do ano e não estaríamos mentindo, mas isso é tão bobo e tão clichê que vamos preferir dizer apenas: Escutem, aprendam, melhorem e lutem.       

 

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