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Montreux Rio 2020: Os caminhos do som sob as notas do violão de Yamandú Costa

Yamandú Costa esteve ao lado de Toquinho no último dia do Montreux Rio 2020 e arrumou um tempo pra conversar com Guilherme Espir. 

Apesar da necessidade de digitalização para adequar o calendário de festivais frente a realidade do coronavirus, a segunda edição do Montreux Rio 2020 reuniu um time de primeiro escalão que, mesmo tocando de longe – em palcos espalhados por Los Angeles, Nova York e Rio de Janeiro – parecia estar fazendo uma jam, bem ali, no meio da sua sala.

Um dos músicos que encabeçou essa transmissão foi o Yamandú Costa, um dos maiores expoentes da música brasileira no Brasil e no mundo. Em 2020 o premiado violonista gaúcho concorre ao Grammy Latino com o disco “Festejo” – feito em parceria com o multi instrumentista Marcelo Jirane o Oganpazan já aproveitou o embalo pra falar um pouco sobre esse projeto mais recente, além de abordar outros tópicos importantes na carreira do ás das 7 cortas.

Confira a entrevista:

1) Yamandú, o último show que eu assisti, você estava tocando Jazz Manouche, já logo pensei que o próximo trabalho de estudo fosse seguir essa linha. Ai chegou 2020 e saiu um disco belíssimo – ao lado do multi instrumentista Marcelo Jiran (“Festejo”), tocando música colombiana. Queria saber sobre essa gravação e como foi trabalhar nessa colaboração com o Marcelo.

Eu sempre fui um músico muito curioso e eu acho que a oportunidade de tocar músicas diferentes, de alguma forma, é como se você visitasse esses lugares. Essas culturas e esses sabores todos, então, por isso que eu gosto sempre de aprender e desfrutar dessas experiências.

O “Festejo”, o disco que eu fiz com a participação do Marcelo Jiran, é um álbum que aborda a cultura caribenha de um modo geral, a gente pensou na cultura do Caribe como um todo, então tem música mexicana, cubana, é um trabalho que tem a vontade de mostrar o meu interesse por essa cultura.

Trabalhar com o Marcelo foi muito interessante. A gente já fez esse álbum há uns 2 anos e meio mais ou menos. Fizemos à distância, eu estava no Rio de Janeiro e ele em Belo Horizonte. Eu mandava os violões e ele ia colocando os instrumentos por cima.

É um músico incrível, um talento impressionante, toca vários instrumentos, é um multi instrumentista de um talento enorme. A ideia do disco era que fosse uma coisa festiva mesmo, que fosse um trabalho fácil de ouvir e a gente está muito feliz de estar sendo indicado ao Grammy Latino por esse trabalho, representando o Brasil e a América Latina com esse projeto.

2) Ainda nesse tópico, o que chamou sua atenção na música colombiana, principalmente em termos rítmicos? Queria saber como esse trabalho de pesquisa de ritmos regionais locais e como foi fazer um som com mais groove nessa nova proposta.

Bom, a Colômbia é um país que eu conhecia pouco. Eu sou do sul do Brasil (Rio Grande do Sul) e sempre tive muita influência da música da Argentina, Uruguai, enfim, países que faziam fronteira com a minha terra natal.

Quando eu fui visitar a Colômbia pela primeira vez eu fiquei completamente encantado com a diversidade musical e com a miscigenação que é muito parecida com a nossa.

A influência africana dentro da cultura deles é enorme e é uma música riquíssima. Cada vez mais eu tenho vontade de poder aprender e gravar músicas que venham desse lugar tão talentoso e iluminado.

3) Yamandú, a valorização de ritmos regionais é um pilar da sua carreira. Queria que você falasse sobre a importância desse trabalho de resgate pra memória da música brasileira.

Eu venho de uma família de músicos e o meu pai era um cara extremamente ligada à música regional do sul do Brasil e também dos países que fazem fronteira com o nosso país.

Ele sempre mostrou muito respeito por essa arte, pelas raízes dos lugares e nos incentivou bastante a aprender sobre essas novas culturas. Esse trabalho mostra um pouco dessa minha inquietude de poder conhecer esse tipo de música.

A música do caribe sempre me encantou, portanto, esse é um trabalho que tem essa vontade de se aproximar dessa linguagem.

4) Yamandú, falei com o Hamilton de Holanda sobre essa questão da fusão do Jazz com elementos brasileiros. Pensando nisso, gostaria de saber a sua opinião: você acha que o Jazz funciona como um facilitador pra aglutinar tudo em termos de linguagem?

O Jazz é um gênero musical muito além do que o próprio Jazz estipulou e mostrou para o mundo em termos de liberdade. Ele mostra que a liberdade pode existir em qualquer estilo e os músicos começaram a ter mais certeza pra poder se manifestar dessa forma.

E esse gênero com certeza foi o precursor dessa característica da improvisação, da liberdade e tal. Isso existe dentro de vários gêneros se você parar pra pensar. Dentro da música brasileira, a gente pode citar o Choro, por exemplo, que é uma música que tem muita ligação com a improvisação e essa liberdade só faz bem para todas as culturas.

Claro que quando você conhece o idioma e respeita as estruturas de cada gênero musical, a liberdade é sempre muito bem vinda e o Jazz é a bandeira dessa história.

5) Sobre música erudita, Yamandú, gostaria de saber de você, um músico amparado por um grande recurso técnico, feeling e etc, sempre tive curiosidade de saber sobre seus estudos com violão clássico. Como você acha que esse background enriquece seu leque?

Eu sou um músico de formação popular, de música oral, eu não frequentei conservatórios nem escola de música. Sou um músico que sempre foi criado dentro dessa tradição da música improvisada.

O violão clássico, sem dúvida, ele vem pra enriquecer. De uma forma geral, eu acho que quanto mais abertura os músicos tiverem, conhecendo novos tipos de cultura, isso sempre agrega alguma coisa à sua própria música.

Nos últimos anos eu tenho tido mais contato com a escola do violão clássico e isso tem me ajudado a enriquecer o acabamento das interpretações, a sonoridade, as estruturas… Eu consegui ter um entendimento mais profundo sobre esses quesitos.

E eu volto a dizer: quanto mais coisas você conseguir conhecer e absorver, mais rica a sua música vai ficar. Imediatamente você começa a ter uma amplitude e uma gama de cores muito mais amplas e isso é muito importante, principalmente num momento onde está tudo disponível na internet… É um acervo enorme para as novas gerações de músicos que estão chegando.

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