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Montreux Rio 2020: Entrevista com Paula Valente da Jazzmin´s

As Jazzmin´s subiram ao palco do Montreux Rio 2020 no dia 23 e fizeram parte do line up que abriu o festival. Dias antes conversamos com a saxofonista Paula Valente sobre a participação da banda no festival.  

No último final de semana aconteceu a segunda edição do Rio Montreux Jazz Festival. A capital fluminense abrigou pelo segundo ano consecutivo uma edição de um dos mais tradicionais festivais de jazz, o Montreux Jazz Festival. O Oganpazan dentro das suas possibilidades fez a cobertura do festival, realizando entrevistas com algumas das grandes atrações como Yamandu Costa, Stanley Jordan, Sérgio Dias, Mestrinho e Roberto Menescal.

Entra pra essa lista da pesada o nome da saxofonista Paula Valente da Jazzmin´s. A big band formada por 17 mulheres se apresentou na noite do dia 23 de outubro, primeiro dia do festival e mostrou em seu repertório o que podemos esperar do registro de estreia da banda, o álbum ‘Quando Eu te Vejo’, cujo lançamento está previsto para dezembro de 2020. 

Confira abaixo a entrevista concedida pela saxofonista e fique por dentro da música das Jazzmin´s e das perspectivas e propostas dessa banda que mostra a força feminina presente no jazz, e na música popular e instrumental brasileira. 

Paula Valente e seu saxofone.

Carlim Ogpzn: Bom Paula, antes de mais nada queremos agradecê-la por nos conceder essa entrevista às vésperas da apresentação da Jazzmin´s na segunda edição do Rio Montreaux Jazz Festival. Qual a expectativa de subir no palco logo na sexta feira dia 23, dia que abre o festival?

Paula Valente: A expectativa de subir no palco no primeiro dia, abrindo o festival, realmente é grande. Estamos todas ansiosas, no bom sentido, claro. Será uma grande responsabilidade, serão muitos nomes importantes se apresentando no mesmo dia, mas as Jazzmin´s já tem uma história e esta participação será uma experiência marcante para todas nós. Resumindo, estamos muito felizes e esperançosas para abrir este festival, vai ser marcante para todas.

Carlim Ogpzn: O Montreux Jazz Festival é um dos mais renomados e tradicionais festivais de música do mundo. Sua trajetória longeva permitiu que nomes lendários da música, não apenas do jazz, marcassem a história do festival em particular e da música de modo geral. Qual a avaliação que você faz de termos uma edição deste festival aqui no Brasil, pelo segundo ano consecutivo, para es instrumentistas brasileires e pra música instrumental de nosso país?

Paula Valente: Bem, essa edição do Festival de Jazz de Montreux aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, acredito ser uma grande honra pra nós. Trata-se de uma escolha merecida, uma vez que o Brasil tem uma das músicas populares mais importantes do mundo, uma das mais influentes, responsável por influenciar imensamente a música do mundo todo. E ter essa edição online não diminuiu essa importância. Seria muito bom se houvesse público, como na edição de 2019, contudo, dentro deste contexto do ano de 2020, faremos essa edição online, que não irá diminuir a importância do festival, que certamente será um sucesso. O festival terá uma grande projeção, sem dúvida, que será muito grande. Estamos muito felizes de participar deste festival e felizes por ele estar sendo feito aqui no Rio de Janeiro.

Carlim Ogpzn: A organização do festival deixa bem claro que todos os protocolos de segurança quanto à pandemia do covid 19 serão cumpridos à risca. O que significa a ausência de público in loco durante as apresentações. Isso impacta de algum modo a performance des artistas no palco?

Paula Valente: A ausência de público impacta, não dá pra negar. Sem dúvida é uma coisa nova, mas todas nós estamos começando a nos acostumar com esse novo formato. Muitas de nós já participaram de lives, e já estamos há muitos meses nesta situação né? E depois que o show começa a coisa engrena, além do mais estamos nos apresentando para um público muito maior do que se estivéssemos fazendo o show para um teatro lotado. Então, a gente vai ter isso em mente para passar toda energia, todo entusiasmo que estaremos sentido no momento. Certamente vai ser muito legal.

Carlim Ogpzn: A Jazzmin´s foi fundada em 2017. Qual a importância da participação no Rio Montreaux Jazz Festival para a curta, porém, intensa caminhada da banda até aqui?

Paula Valente: Realmente a importância para nós da Jazzmin´s é imensa. Nossa trajetória ainda é curta, temos 6 anos na estrada, mas é uma trajetória cheia de ótimos convites, shows, ganhamos um prêmio da música brasileira, tocamos com uma artistas internacional que é a Nat Cohen, que aliás é uma das convidadas do festival.  E tem o nosso CD que está saindo do forno. Trata-se do nosso primeiro álbum, e ainda sermos convidadas por um festival deste porte é realmente inesquecível. Estamos muito felizes!

Carlim Ogpzn: A Jazzmin´s é uma big band composta integralmente por mulheres, são 17 instrumentistas ao todo. Gostaria que você comentasse a importância, em termos de representatividade, da presença de uma big band totalmente formada por mulheres estar presente num importante festival dedicado a um gênero musical ainda hegemonicamente masculino.

As Jazzmin´s

Paula Valente: Essa questão da representatividade feminina na música popular e no jazz, a gente sempre soube que ela é pouca e esse foi um dos motivos que nos levou a formar essa big band feminina, somos 17 mulheres, com histórias bem diferentes, temos várias gerações incluídas no grupo, a gente tem mulheres que vem do popular, do erudito, outras dos dois, então, é um grupo bem plural, esse que integra as Jazzmin´s na verdade.  

E eu fiquei muito surpresa com a representatividade feminina no festival, porque ela tá incrível né. Estão de parabéns! Quando eu vi a quantidade de mulheres que vão se apresentar, eu fiquei muito contente, fiquei realmente surpresa. E quando a gente idealizou a “Big” foi pra trazer essas meninas instrumentistas para elas expressarem seus talentos, pra dar essa possibilidade, essa vitrine, já que nas big bands a presença de mulheres é muito restrita.

Nesse pequeno trajeto que já fizemos até aqui, a gente já nota algumas mudanças bem importantes no que se refere à presença feminina nas big bands. Mesmo de onde a gente realmente vem, que é São Paulo, um território de muitas bandas, acredito que aqui no Rio também. As meninas já estão saindo por aí, podendo mostrar o seu trabalho, muito legal ver isso e ver também a resposta e como a Jazzmin´s com essa proposta repercutiu pelo Brasil todo. Recebo mensagens de todo país de mulheres instrumentistas muito felizes em ver  o trabalho feminino levado a frente. Então, parabéns ao festival que deu voz à representatividade feminina. 

Carlim Ogpzn: Na primeira edição do Rio Montreaux Jazz Festival realizada em 2019, 5 atrações das 23 anunciadas, tinham mulheres como protagonistas. Na edição de 2020, 7 atrações das 25 anunciadas tem mulheres como protagonistas, sendo que apenas duas, a Jazzmin´s e a Luas (Bianca Gismonti, Cláudia Castelo Branco e Lan Lanh) tem sua formação integralmente feminina. Qual o balanço que você faz dessa proporção desigual entre a presença de mulheres e homens entre as atrações do festival?

Paula Valente: Ainda temos, claro, um pouco de desigualdade, mas essa é uma questão mais complexa, isso é apenas a ponta do iceberg, porque a gente tem menos mulheres instrumentistas também. Fica claro também que neste momento a gente não vai conseguir, que neste momento não temos a possibilidade de ter a mesma quantidade de grupos e instrumentistas porque a meu ver tem menos mulheres mesmo estudando e se profissionalizando. Tem estudos que falam que as mulheres até estudam, mas chega num determinado ponto do caminho acontece alguma coisa que leva a uma desistência.

Penso que neste caso é  preciso que seja feito um estudo por sociólogos, sociólogas … Acho que aí tem várias questões que tem que ser analisadas, discutidas e estudadas, que leve a uma compreensão do que leva as mulheres a desistir. Se é uma coisa relacionada a estímulo … por isso que eu acho que a Jazzmin´s tem um valor incrível com essa história de ela mostrar de uma maneira que ela inspira as mulheres a continuar, inspira as mulheres a começar, tem muitas meninas que são professoras, como eu, então existe um estímulo grande para o estudo entre essas meninas que estão começando.

Aos pouquinhos acho que isso está mudando, você pode ver que a diferença de 2019 para 2020 já existe e acho que isso vai começando a ser uma caminhada lenta, mas que já está melhorando bastante. Eu acredito nisso, que vai haver uma melhoria nessa desproporção nesse caminho lento.

As Jazzmin´s em ação!

Carlim Ogpzn: Se a pandemia não estragou os planos de vocês, a Jazzmin´s lança em dezembro deste ano seu primeiro álbum, o Quando te Vejo. Vocês colocaram músicas que farão parte o álbum no set list do show? Aproveito para solicitar uma prévia do que vocês prepararam pra apresentação de vocês. Claro, se for possível. rs

Paula Valente:  A Jazzmin´s vai lançar, acho que agora em dezembro se eu não me engano, não tenho certeza, mas acredito que em dezembro já vai ser possível lançar o álbum. A gente ainda tá correndo com o tempo, não sabe ainda se vai lançar em algum show aberto, como este festival, ou se vai ter que fazer tudo online mesmo. Ainda está na dúvida, mas acredito que em dezembro vai tá saindo. Tem muitas músicas autorais e vamos, certamente, nesta edição do festival, a gente preparou, todas elas fazem parte do CD. São músicas muito legais. O álbum tem uma parte autoral, pois temos na banda a Gê Cortes, que é uma excelente compositora e arranjadora, então tem duas músicas dela, tem Djavan, Dorival Caimmy, tem a música que dá nome ao álbum que é a ‘Quando Eu te Vejo’, composição e arranjo do Rodrigo Morte, compositor e arranjador lá de São Paulo. Serão músicas bem fortes e animadas, cheias de energia.

Carlim Ogpzn: Geralmente nestes festivais acontecem alguns encontros nos palcos entre es artistas que se apresentarão. Haverá algum encontro destes na apresentação de vocês? Caso a resposta seja afirmativa é possível dizer quem é? Rs Caso não seja é possível dar uma pista? Rs

Paula Valente: Bom, durante nossa apresentação não está previsto nenhum encontro ou participação de outro artista durante nosso show, ao menos não que eu saiba (risos). Gostaria muito que tivesse, mas pelo que sei, ainda não tem nada programado. Ainda mais que existem todos estes protocolos de segurança relacionados à pandemia né. Então, eu não posso dizer (risos).

Carlim Ogpzn: Paula, queremos agradecer novamente pela entrevista, desejamos uma excelente apresentação para vocês e esperamos ansiosos para vê-las em ação. Caso tenha algo que deseje falar e que nenhuma das perguntas permitiu ser dito fica aberta a possiblidade para tal agora.

Paula Valente: Gostaria de agradecer pelo convite de participar deste festival. Nós das Jazzmin´s estamos muito felizes com esse convite, foi uma honra. Acho que será um momento muito especial para nossa trajetória enquanto grupo. E é um grupo, que como eu disse antes, ele tem o intuito de abrir portas para as instrumentistas mulheres, como eu disse, pra inspirar, pra dizer que a mulher tem um papel muito importante na música, aliás, sempre teve, e continuará tendo. Porque a música é uma questão que …. não deveria existir a questão de gênero junto com a música.

A música é uma coisa que está muito acima disso, eu sempre penso nisso e espero que daqui um tempo não precisemos mais fazer grupos femininos e nos unir. Porém, nesse momento é importante fazer isso porque a gente tem que dar um início pra essa nova visão, pra essa apresentação do talento feminino na música popular, principalmente, que é onde ela tem bastante resistência né. Então, muito obrigada, muito obrigada pela possibilidade de conceder essa entrevista, então nos encontramos na sexta feira dia 23 às 20:50. Serão muitas atrações maravilhosas neste festival. Até lá, obrigada, abraço a todes!!

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