Oganpazan
Destaque, Discos, Discoteca Básica, Museu do Rock, Resenha

Moby Grape, Moby Grape (1967)

moby grape 67Moby Grape (1967) completa 50 anos hoje. O álbum esquecido em sua época graças à sede por lucro das gravadoras, recebeu o devido reconhecimento das gerações posteriores e figura entre os maiores álbuns de rock lançados em 1967.

Há exatos 50 anos era lançado Moby Grape, álbum homônimo da banda que fora uma das grandes promessas de 1967 e que infelizmente não alcançou o sucesso comercial merecido. Trapalhadas da gravadora da banda, a Columbia, impediram que a Moby Grape se destacasse no mar de bandas que inundava São Francisco no final dos anos 60.

Para os moldes da época o álbum de estreia trazia uma sonoridade impactante, pois a banda mesclava diferentes estilos, característica pouco comum entre as bandas em voga no período. Ouvindo o álbum percebe-se a diversidade sonora através de suas faixas que tem por matéria prima o country- rock, folk- rock, garage e elementos psicodélicos. Além de trazer um trio de guitarras, algo inédito pra época, dando ainda mais potência ao som da banda.

Essa diversidade presente no primeiro álbum da Moby Grape se deve também às diferentes origens musicais de seus integrantes. A começar por Skip Spencer, ex integrante da Jefferson Airplane, que trouxe os elementos lisérgicos pra sua nova banda. Na J. A. deixou sua marca compondo a música My Best Friend, que entrou na lista de faixas do álbum Surrealistic Pillow, também lançado em 1967, um dos expoentes do rock psicodélico.

Outro dissidente da J. A., o agente Matthew Katz, contribuiu fazendo um excelente trabalho de produção de Moby Grape além de ajudar Spencer a reunir os outros quatro integrantes da banda. Estes não eram só bons instrumentistas, cantores harmoniosos (outra característica peculiar dessa banda) mas compositores afiados, contribuindo assim para garantir diversidade também em termos de composição ao álbum.  Mais dois guitarristas vieram completar a banda: Jerry Miller e Peter Lewis, além do baterista Don Stevenson e o baixista Bob Masley.

As cagadas marqueteiras e caça níqueis da Columbia, que absurdamente decidiu lançar as dez faixas gravadas, prontas para serem lançadas no formato álbum, em cinco diferentes singles. A situação só piorou quando o lançamento desses cinco singles foi feito simultaneamente. Essa ação gananciosa da gravadora, que sepultou as chances do álbum ter o impacto ao qual estava destinado. O jornalista David Fricke deu o diagnostico perfeito sobre o que esse acontecimento legou à Moby Grape: a posição de “uma abjeta lição de como não ser bem-sucedido na indústria da música*.

Do ponto de vista comercial, essa é a posição da Moby Grape na história do rock e certamente teve um impacto negativo sobre a moral de seus integrantes. Já era foda estar refém de uma gravadora, não ter o direito de decidir o modo de comercializar o fruto de seu trabalho, pior, não ser dono da obra que produziu. O mínimo que se esperava era ter seu trabalho bem divulgado, comercializado e claro, ter o retorno financeiro esperado por terem composto um álbum de grande valor estético, sim, mas também comercial. Afinal, o álbum de estreia da banda não apenas refletia a cena rocker  de São Francisco, mas apontava novos caminhos.

Moby Grape custou míseros 11 mil dólares, do ponto de vista comercial era uma aposta ganha. Baixo investimento e potencial de lucro alto. Seu sucesso garantiria benesses a todos os envolvidos, contudo, o fracasso afetou apenas os músicos. Pra Columbia foi apenas a perda de alguns poucos milhares de dólares.

Um puta álbum com músicas como Hey Grandma, que puxava a fila revestida de harmonias fervilhantes, guitarras barulhentas, gerando uma atmosfera selvagem logo de cara. Seguindo vem Mr. Blues, mais cadenciada, amortecendo o impacto inicial da faixa de abertura. Fall On You retoma o ritmo alucinante. Uma porrada certeira na cara, levada por uma marcação rítmica simples dando as condições para os guitarristas criarem riffs livremente. O vocal nervoso de Lewis acrescenta vigor e densidade à faixa. 

8.05 suaviza o clima, a eletricidade dá lugar ao acústico, dando um ar intimista, até então inesperado. O mesmo vigor presente nas faixas de andamento mais acentuado e caráter mais rocker faz parte dessa outra veia sonora da banda. Come In The Morning tem ares mais divertido, despretensioso enquanto Omaha é tocada numa pegada atordoante, por ser conduzida freneticamente do início ao fim. 

Todas essas faixas poderiam facilmente ter se tornado grandes hits. Não foi a primeira nem última vez que uma gravadora matou a carreira de uma grande banda. Felizmente o tempo, os avanços tecnológicos e uma galera afim de universalizar o acesso à informação sepultou a época do monopólio das gravadoras sobre a alma dos músicos, seu processo de criação, gravação e distribuição das músicas. Apesar de tudo isso a Moby Grape está devidamente alojada na história do rock como uma das melhores bandas da geração de São Francisco. 

*Conf. Merheb, Rodrigo, O Som da Revolução, pág. 166
 

Matérias Relacionadas

Conheça “Esperança”, o novo álbum de Santana da Silva

João Alexandre
3 anos ago

Raw Power: o poder da música servido cru

Carlim
1 ano ago

O colapso tropicaos de Feralkat

Carlim
1 ano ago
Sair da versão mobile