Mobiu segue em sua empreitada buscando se fortalecer e produzir com excelência a arte dos encontros.
Essa semana o rapper Mobiu lançou um videoclipe dentro de seu projeto de uma música por mês até o final do ano.
O resultado excede mais uma vez a medida, a taça mais uma vez transborda e o drink é ofertado a todos com a generosidade dos grandes. Enquanto muitos se queixam, o rapper busca aliados para continuar na resistência e produzir.
Encontrar um equivalente cinematográfico para suas ideias expressas em música é um trabalho duro. Muitas vezes assistimos a videoclipes que meramente ilustram uma música, num mero exercício de decalque ou de ilustração das cenas preenchidas com ideias medíocres.
Vemos muito poucos artistas que encontram outros verdadeiros artistas para dar-lhes a liberdade de produzir “visões” que diferenciem–se repetindo a essência musical. Produzindo uma fissura capaz de nos dar mais a pensar, outras perspectivas capazes de construir e se sustentar como outra obra de arte, a durar sozinha e livre.
[Não deixe de conferir nossa entrevista com Mobiu clicando aqui.]
Mobiu tem elevado o nível do jogo na cena hip-hop justamente por possuir essa sensibilidade e se cercar dos melhores artistas locais em suas produções. A vítima do vampiro desta vez foi Felipe Franca, que tendo sido infectado pelo vírus da imortalidade (dom dos artistas) procedeu num esquema de improvisos para produzir um dos melhores videoclipes do ano.
Com uma estética toda nova, e pelo menos por este mortal que vos escreve nunca vista antes. O vídeo clipe abusa do experimentalismo para conseguir transpor para as telas blocos de perpectos que fazem jus a música.
A música que trata muito de introspecção, fruto de momentos dolorosos vividos pelo rapper é capturada com um Mobiu num rolê pelo inferno. Ecos de Rimbaud, e o seu Uma Temporada no Inferno:
“Outrora, se bem me lembro, minha vida era um festim onde se abriam todos os corações, onde todos os vinhos corriam.
Uma noite, sentei a Beleza nos meus joelhos. – E achei-a amarga – E injuriei-a.”
As sensações e as ideias que afligem a subjetividade do nosso personagem são transpostas para as imagens em tons sombrios, em enquadramentos de costas e ou de lado, como se nos déssemos conta de mais um anônimo que por nós passa. As cenas se intercalam com quadros em negro e vermelho e tons pasteis.
Buracos negros da nossa subjetividade, contra os quais nosso personagem luta para não ser tragado, o vermelho do coração nas trevas. Percebemos Mobiu observando projeções, iluminado por essas mesmas projeções, num jogo de metáforas muito forte com relação a letra da música.
Cultivando aquela mesma solidão que nos aflige, mas que é ela mesma a nossa porta de saída do inferno. Dizia o filosofo Gilles Deleuze: “Precisamos nos reconciliar com nossa solidão”.
A mediocridade é combatida e a força da arte parece-nos emergir como saída deste mundo de representações falsas e controladoras. Apocalipse Now. Acreditamos que vocês deveriam assistir essa pequena obra de arte e literalmente pegar a visão do Felipe Franca.
Mobiu promete música nova logo mais, estamos de olho…
Mobiu – Dúvidas e Dívidas.
Ficha Técnica:
Direção/Edição/Fotografia: Felipe Franca
Camera: Felipe Franca e Mila Carillo
Ass. Fotografia: Daniel Pita
Ass. Produção: Daniel Pita e Marina Alfaya
Participações: Cintia Savoli, Lucas Oluô e Doga Love