Moa Anbesa Rastafari (2007) é um disco fundamental do reggaeman baiano que representa em sua música toda a firmeza da cultura real rastafari
Por Bobo Tafari
Há 10 anos, era lançado um dos clássicos do Reggae Soteropolitano, o cd “Rastafari”, da banda Moa Anbesa, liderada pelo cantor, compositor e multi instrumentista Ijawell I&I. Este excelente disco reflete os anos de experiências nos palcos do mundo, e apresenta um amadurecimento da ótima sonoridade já alcançada no primeiro trabalho, o cd intitulado Moa Anbesa Experience (2004).
Em seu retorno à Bahia, no ano de 2001, após alguns anos de caminhada por países da Europa, África chegando até o berço do Reggae, a Jamaica, Ijhawell recrutou dois talentosos iniciantes na cena do Reggae soteropolitana, o contrabaixista Ricardo Cruz e o baterista Vicente de Jesus aka DJha Vicente. Juntou-se ao grupo a experiência do principal guitarrista de Reggae da Bahia, Milan Gordilho. Assim, estava formada a banda que viria a se consolidar como a maior representante baiana do Reggae Rastafari no Brasil.
Lançado em 2007, o álbum é o terceiro trabalho da banda e foi gravado no Ital Studios, pelo baterista e produtor Djah Vicente. A atmosfera DUB está presente em todo o álbum, com reverbs e delays que remetem ao lendário King Tubby, interagindo com instrumentais matadores e trazendo uma sonoridade muito próxima dos grandes clássicos jamaicanos como Israel Vibration, Burning Spear, entre outros. A pulsação do Nyahbingi, sob a condução baterista Vicente Djah, dita o ritmo do álbum, e juntamente com o contrabaixista Ricardo Cruz produzem uma base sólida para para as melodias vocais marcantes de Ijhawell, que também é o responsável pelos teclados e tambores Nyahbingi executados com maestria.
Os arranjos, com variações instrumentais bem elaboradas tornam a audição do álbum uma viagem muito interessante pela diversidade rítmica da musica jamaicana. A vivência Rastafari, em seus mais variados aspectos, é apresentada nas composições de Ijhawell, mostrando o posicionamento de um Rastaman diante das situações do cotidiano e também de questões políticas que dizem respeito a toda sociedade.
Em antigas tradições africanas, os aromas dos incensos eram um dos elementos imprescindíveis para acessar as esferas mais elevadas do mundo espiritual. É sobre esta visão ancestral que fala “Gunjah”, ou como afirma o refrão a “Cura das Nações”, fazendo coro aos Rastafari que o repetem desde a década de 20, do século passado. Um verdadeiro manifesto por uma visão sacramental e medicinal do uso da maconha. O álbum prossegue com um louvor ao Rei dos Reis, Leão Conquistador, na canção que leva o nome do governante da Etiópia, “Rastafari”. Seguida de “Jah Make”, um agradecimento pelas bênçãos de ser um Rastaman.
Um chamamento a favor da vida e contra os horrores das guerras ao redor do mundo é o recado dado em “Stop the war”, uma daquelas que levanta a galera nas apresentações ao vivo. O autoconhecimento como forma de elevação espiritual é a mensagem de “Know Jah”, faixa com uma belíssima introdução de teclado com o clássico timbre Hammond, bastante utilizado no Soul e no Funk por nomes como Lonnie Smith e popularizado no Reggae por Lloyd Charmers, Wire Lindo e Keith Sterling.
Pra fechar em alto nível, a canção “Essa Corrida” escancara as engrenagens do sistema político atual, que se mantém através das guerras e do individualismo. O ouvinte ainda é agraciado com duas versões alternativas das faixas Jha Make e Rastafari.
Moa Anbesa soa autêntico, com as características originais do Reggae Rastafari, mas sem parecer uma cópia de alguma banda jamaicana. Um disco pra legítimos apreciadores do Reggae e para quem tá afim de se aprofundar no conhecimento das bases da cultura responsável pela sua consolidação na Jamaica e expansão por todo o Mundo.
Acompanhem o trabalho do grande Moa Anbesa no Soundcloud!
Aumenta o som, acenda o Chalice.
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