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Memórias que fortalecem: a banda Endometriose e o feminismo no rock

Neste artigo, a historiadora feirense Patrícia Matos dá o tom do episódio 04 da série Lives das Minas que Fortalecem, intitulada Underground e feminismo como objeto de estudo acadêmico. A transmissão ao vivo, via canal Filtro de Barro, terá as presenças de Adriana Lima e Ilani Silva, vocalista e baixista da extinta banda de punk/ hardcore Endometriose (FSA).

Por Patrícia Matos

Em 2016, quando decidi que iria tentar a seleção de mestrado do Programa de Pós- Graduação Mestrado em História (UEFS), eu sabia do meu desejo em abordar a presença feminina no rock. Foi então que a ideia de estudar a história da banda Endometriose se revelou enquanto possibilidade para pensar esta e outras questões. A banda formou-se em 2006 na cidade de Feira de Santana e encerrou as suas atividades no ano de 2011.

Ela possuiu duas formações: a primeira, composta por Ilani Silva assumindo o contrabaixo, Norma Juliete à frente da bateria e Gabriela Fernandes que ficou à cargo da guitarra e dos vocais. Esta fase, apesar de ter durado pouco mais de um ano, foi o período de composição da identidade do grupo e construção de suas canções no qual todas as letras foram assinadas por Ilani e a musicalidade por ela e Gabriela.

Primeira Formação da Banda Endometriose. Da esquerda para a direita, Gabriela na guitarra, Juliete na bateria e Ilani no contrabaixo.

A segunda formação foi gerada pela saída de Gabriela na qual Adriana Lima assumiu os vocais e Amanda Queiroz, a guitarra.

Antes mesmo de formar o grupo, Ilani, Juliete e Gabriela, na condição de amigas que compartilhavam suas experiências entre si, começaram a sistematizar as suas insatisfações e necessidade de mudança com relação aos conflitos de gênero. Tais inquietações foram o start para o desejo em compor uma identidade feminista para a banda onde suas visões acerca do assunto pudessem ser postas.

A banda tinha seis composições autorais de cunho feminista e, apesar de seu aparente pouco tempo de existência, participaram de eventos expressivos da cena baiana como o Rock de Batom, Palco do Rock e o Festival Vulva La Vida onde chegaram a abrir o show para sua maior influência: a banda paulistana Dominatrix. É importante ressaltar que esta foi a única banda de punkrock/hardcore totalmente formada por mulheres e com letras de cunho feminista que existiu na cidade de Feira de Santana.

A minha vontade de falar sobre este tema veio de experiências pessoais, pois desde muito nova, participei da cena enquanto público e percebia que sempre houve um grande protagonismo masculino neste campo musical. Este protagonismo não é algo natural, ou seja, ele é fruto de construções sociais e culturais constituídas ao longo da História. Não é que mulheres naturalmente gostam menos de expressões culturais com características entendidas como parte do universo masculino, é que existem construções de gênero que colaboram para que isto aconteça. E esta reflexão foi central no debate que construí ao longo de minha pesquisa de mestrado.

É importante frisar que discutir questões de gênero através do rock é um tema pouco abordado nas pesquisas acadêmicas. Com relação à Feira de Santana, que foi a cidade estudada, posso afirmar que este trabalho teve caráter inédito. Até então, não havia um estudo, no campo da História, sobre este tema que abordasse as experiências femininas com o rock nesta cidade.

Banda Endometriose no Vulva La Vida

Assim, através da história da banda orquestrada por Ilani, Juliette, Adriana, Amanda e Gabriela (que fez parte da primeira formação), pude refletir acerca do protagonismo de garotas/mulheres num campo musical e cultural ainda muito masculinizado. Para isto, as minhas reflexões precisaram se pautar nos estudos de gênero pois, estes, contribuíram para que eu compreendesse os porquês de existirem expressões culturais com forte presença masculina nas quais as mulheres precisam disputar espaços de diferentes formas.

E foi isso o que as garotas (hoje, mulheres) da Endometriose fizeram: disputaram espaço para mostrar que o palco de um show de rock é local feminino, assim como a frente deste palco e tantos outros espaços, também, deve ser lugar nosso. Afinal, como diz uma de suas canções: elas podem!

Patrícia Matos

Email: patrícia.matos.almeida@gmail.com

Para dar um saque no som da Endometriose: https://www.youtube.com/watch?v=JvNuYPukmXk

Minas que Fortalecem
Episódio 4: Underground e feminismo como objetos de estudo acadêmico
Quando: 27/04, às 20:00
Onde: canal Filtro de Barro (YouTube)

@canalfiltrodebarro
@bigbrossprodutora
@oganpazan
@minasquefortalecem

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