Dead Fish e Projeto Peixe Morto foram entrevistados em 2009 por Dudu, Rodrigo Lima e Alyand. Isso é memória Bolodoido Musical!
Seguimos revisitando entrevistas e matérias históricas que tive o prazer em realizar. Dessa vez vocês poderão conferir uma entrevista que fiz em 2009 com Rodrigo Lima e Alyand ambos do Dead Fish e Projeto Peixe Morto.
Vamos nessa?
Dudu (Oganpazan): O Dead Fish esse ano comemora 17 anos de banda, no cenário hardcore isso é algo que realmente merece uma comemoração, pois o que vemos são poucas bandas da década de 90 ainda ativas. A que se deve essa longevidade e o que mudou de lá pra cá?
Rodrigo Lima: Na real em 2009 já são 18 anos. Acredito que podemos comemorar sim, o que as pessoas esperavam de fazer rock no Brasil nos anos 90? Acho que pouca coisa. Quem fez deve ser orgulhoso de ter pelo menos tentado, era uma década bem dividida entre mainstream e independente, cada um com seus objetivos. A nossa longevidade se deu por nossa cabeça infinitamente dura e persistência em ser exatamente o que queremos, é claro, pagar o preço por isso. Meu sentimento é contraditório, as vezes penso que tenho o melhor emprego do mundo e as vezes penso que podia ser um advogado gordinho de bigode rico. Hoje em dia acho que mainstream e independente, com o advento da internet, se misturaram muito na questão objetivos. Hoje parece que os garotos querem sucesso antes e música depois, não costumo julgar os garotos, é outra geração, mas este tipo de pensamento atrapalha quem quer fazer um som próprio com sua própria personalidade. Por exemplo, no ES, podíamos ser o que éramos, capixabas, no visual, no jeito de fazer música e de pensar, hoje isso parece meio complicado.
Alyand: Bom são 18 anos…muito tempo mesmo! heheheh. Cara como o Rodrigo já falou, nós realmente sempre “nadamos contra a maré”, o que realmente dificulta muito mais, talvez este seja o segredo. O que mudou foi que existe hoje uma explosão de bandas, onde meninos e meninas sem alma (é o que me vem a cabeça várias vezes…) querem fazer sucesso a qualquer custo! Já para mim ter uma banda é formar um ciclo de amizade, respeito e diversão, e se virar um trabalho, lindo!
Dudu (Oganpazan): Estava conferindo no site de vocês na sessão “Discografia” e percebi que consta o Projeto Peixe Morto. O Projeto Peixe Morto – Metrofire, é um disco do Dead Fish, ou realmente é outra banda?
Rodrigo Lima: É outra banda, com outra proposta. Foi algo feito rápido e pra divertir quem estava envolvido, nada mais que isso.
Alyand: Não deveria esta lá, já que realmente é uma outra banda com outro foco. Eu sempre quis fazer outros discos, mas sempre tinha alguém que não queria fazer, acho que este ano faremos algo novo!
Dudu (Oganpazan): Chegaram a fazer shows ou executar as músicas do Projeto Peixe Morto?
Rodrigo Lima: Um show no Black jack aqui em SP, em uma tarde de inverno, não me lembro nem mês nem ano.
Alyand: Foi um show no Black Jack em 2007, no mês Dezembro se não me engano???!!!
Dudu (Oganpazan): Para mim uma das músicas que mais me lembra Vitória/Vila Velha é “40 minutos na Ilha”, acho linda demais, assim como outra músicas do “Metrofire”. Na verdade tenho esse disco como um dos melhores já lançados no underground nacional. Músicas como “Miojo”, “Tim Maia”...Nossa, é um Cd completo! Como se deu a gravação e a composição?
Rodrigo Lima: – Cara, eu nem queria concordar com você. Sinto vergonha daquele CD, me expus demais mesmo sendo algo puramente pra divertir. Acho que só consegui ouvir uma vez, acho tosco, mal tocado, o que até é um atrativo hehehehe. Estávamos terminando o AFASIA, era um CD meio denso demais, queríamos relaxar e fizemos o CD [do Projeto Peixe Morto] em 2 ou 3 ensaios dando muita risada. Gravamos numa tarde com nosso velho amigo Índio dando mais risada ainda, foi assim.
Alyand: Foi legal pois depois de tudo feito no Afasia, estávamos cansados e preocupados com a saída do Giuliano da banda, então começamos a pegar bases perdidas e riffs de guitar e baixo…e resolvemos fazer isso em 3 ensaios hehehhehe. Eu gosto do disco, pois foi feito com pura amizade e diversão.
Dudu (Oganpazan): Outra música que acho bem legal do Projeto Peixe Morto é “Carta de Goldmund a Narciso”, pois cita diversos estados e pessoas que suponho conheceram no underground. Agora no mainstream mudou esse relacionamento com as pessoas nos shows? Hoje em dia é mais assédio que amizades e troca de ideias?
Rodrigo Lima: Sim tem mais assédio que conversa, mas o motivo nem é o mainstream, nos tornamos mais velhos, somos mais chatos, conversamos menos com a molecada que tem que viver a vida deles, ficar dando conselho é chato, cada um vive teu momento.
Alyand: Bom, assim como a banda passou pela década de 90, você consegue ver os amigos, e vários deles se foram e outros vieram, isso seguido de um assédio maior realmente. O legal da banda é isso, continuo conhecendo pessoas como antes, pois a diferença entre Dead Fish e várias outras bandas é que nunca deixamos o underground e acho que nunca nos tornaremos uma banda de mainstream, pois o que realmente existe de interesse é viver e ter a banda até quando realmente for importante para cada um.
Dudu (Oganpazan): Lembro-me de ter visto no Fotolog do Dead Fish o post sobre a saída do Nô (ex baterista), pra mim que li foi triste, imagino que para vocês que escreveram e vivenciaram a situação deve ter sido mais triste ainda. Contudo, vejo que conseguiram um excelente baterista o Marcão, do Ação Direta. Em termos de banda o que vai mudar ou já mudou? As músicas ficaram mais pesadas, pois o Marcão trará essa “nova” influencia para vocês?
Rodrigo Lima: Pra mim foi pior do que terminar com uma namorada de 10 anos. O Marcão é um metaleiro do caralho hehehe, ele tem o tempo muito em cima e isso é bom, o cara toca como uma metralhadora, às vezes até temos que pedir pra ele tocar mais devagar o que nunca tinha acontecido com o Nô que sempre tocou mais punk pesadão, que era bom também ao meu ver.
Alyand: Cara não foi nada fácil. Hoje temos a banda muito melhor em vários aspectos. O Marco é um excelente músico e já deu a sua cara as musicas da banda. Gostamos de várias bandas em comum, eu como ele sou um amante do HC mais rápido e de muitas coisas do Metal!!
Dudu (Oganpazan): Sei que o Rodrigo adora o Ação Direta, inclusive no show de Salvador (2008), lembro-me que rasgaram a camisa dele. Como é ter na banda, alguém de uma banda que se tem admiração?
Rodrigo Lima: Acho que foi a melhor escolha que fizemos, um cara que sabe tudo que rola nas internas, faz turnês a 20 anos, sabe dos perrengues, isso faz a diferença. Eu ouço o Ação Direta desde o meio dos anos 90, sempre vi o cara tocando. Ter o cara na minha banda agora é motivo só de satisfação.
Alyand: Na primeira vez que tocamos com eles foi no interior de SP em 2001, e lembro de ter ficado igual a uma criança de 12 anos, já que estava na van com os caras do Ação Direta, uma das bandas que mais respeito e admiro! E anos depois poder tocar com o Marco é muito legal, é uma experiência foda!
Dudu (Oganpazan): Falem um pouco dos projetos paralelos de vocês, não só em termos de música ou banda. Além de citar por quais bandas já passaram além do Dead Fish.
Rodrigo Lima: Não tenho projetos paralelos ainda. Ainda estou imerso do Dead Fish e tento, às vezes, pensar em algo, mas nunca me ocorre. Deve acontecer a médio prazo, estou tentando tocar qualquer merda pra dar um foco diferente no que sinto ser música.
Alyand: Eu tenho um que na real é parte de um projeto social que está andando bem devagar, o 88Não! É uma banda com mais de 8 anos, eu conheci o Daniel (fundador e baterista) em uma das oficinas culturais do projeto dele, hoje toco com os meninos e tenho um projeto chamado Meiso ( Musica Educação e Inclusão Social ).
Dudu (Oganpazan): Quais as novidade no Contra Todos? Vai rolar turnê nacional em 2009?
Rodrigo Lima: Sim, temos que ir pra estrada se não o bagulho não fica completo, somos uma banda de estrada. O Cd novo está com sons mais rápidos e letras mais diretas, gosto muito deste trabalho, ficou mais pesado também.
Alyand: Estamos começando a fechar a turnê que começara no Brasil, passará pela Argentina, Chile, Uruguai e Bolívia e depois a Europa em Outubro. Este é nosso melhor trabalho, mais rápido pesado e como um quarteto.
Dudu (Oganpazan): No último show que fui de vocês pude perceber algo interessante, o público era bem diversificado tinha desde “emo fakes” até a velharada do hardcore. A que acham que se deve essa diversidade, e isso tem acontecido em outros shows?
Alyand: Normal… heheh, acho bom isso pois aí não me sinto tão velho só com os garotos no show!!
Dudu (Oganpazan): Na época que formaram o Dead Fish, quais eram as influências de vocês? E hoje em dia?
Rodrigo Lima: Em 91, muito Bad brains, Suicidal Tendencies, Cólera, Dead Kennedys, Fugazi, 7 seconds. Hoje continuam as mesmas, eu acho, e mais umas pitadas de sons que ouvimos nos últimos 15 anos né? Boy sets fire, Mukeka di rato, Raised fist…
Alyand: Suicidal Tendencies, Anthrax, Cólera, Onix, Bad Religion, Sepultura, 7 Seconds, Bad Brains, Faith no More e Metallica. Hoje em dia tem o Sick of it All, Rise Against, Boys Sets Fire, Garage Fuzz…
Dudu (Oganpazan): No ano passado vocês voltaram, após muitos anos, a tocar no Galpão do Jabaquara, no Festival Hardcore (Verdurada/SP). Como foi esse retorno? E o público, aceitou bem ver uma banda mainstream num festival underground?
Rodrigo Lima: Pra ser mais exato, 10 anos depois. Eu gostei do show, foi histórico, os garotos lá entendiam que banda e público podem se misturar sem nego se quebrar, era um show mesmo de hardcore. Acho que internamente na organização rolou este tipo de argumento aí de que somos mainstream e blá blá blá, mas a gente sempre esteve aí tocando onde sempre quisemos, nunca me senti nada além do que um vocalista de banda de punk rock, nunca nos pusemos neste papel de que “agora mudou, somos mainstream”.
Alyand: Foi bem legal na minha opinião um show de respeito e energia!
Dudu (Oganpazan): Sei que um dos requisitos para uma banda tocar no festival acima citado é que tenham integrantes vegetarianos/veganos na banda. Quem da banda adota essa postura? E porque?
Rodrigo Lima: Eu sou vegetariano. Acho uma postura ética e correta pra minha vida. Sou mais saudável, tenho senso de ecologia maior que a maioria dos carnívoros e politicamente acredito que esta tenha que ser a postura pra um mundo diferente por vir.
Alyand: Só o Rodrigo é vegetariano! Mas gosto da postura e acho várias ações deles muito boas mesmo e realmente, mesmo não sendo vegetariano, minha banda escreve e pensa como eles, briga por melhorias políticas e ecológicas.
Cara acho que eles tem uma coisas boa que se chama organização, isso faz a diferença .
Dudu (Oganpazan): Vocês tocaram em Salvador no ano de 2002 (?) no extinto Café Havana, na minha opinião esse foi um dos melhores shows que fui em minha vida, de lá pra cá tocaram outras vezes em casas diferentes: Rock in Rio Café, Parque de Exposições (Festival de Verão) e Malagueta. Qual a diferença em tocar num bar de pequeno porte para tocar em um festival grande?
Rodrigo Lima: Lugares pequenos é mais olho no olho, tocamos em muitos, muitas vezes foi tenso outras não. O aparato de separação banda e público não existe e a responsa público/banda aumenta, nem sempre funciona. Pelo que me lembro aí funcionou bem nesta época. Foi o Fabiano (Estopim Records) que fez o show se não me engano.
Alyand: A diferença é que os lugares menores são muito mais legais, pois existe a troca de energia ali que é bem cara a cara
Dudu (Oganpazan): O primeiro post do Tomanacara (fotolog/Blog destinado ao underground) foi uma entrevista com uma banda de Vitória (ES), que gostamos muito, o Ternura. Vocês são a segunda banda do Espírito Santo que entrevistamos, e sem sombra de dúvidas esse estado nas décadas de 90/00 exportou muita música de qualidade. Bandas como: Mukeka di Rato, Jäzzüs, Guitarria, Alga…deram sua contribuição para o underground nacional. Vocês se recordam de bandas da época de vocês que gostavam? E atualmente, gostam de alguma banda underground do Espírito Santo?
Rodrigo Lima: Estou bem afastado do cenário lá, mas tenho orgulho de dizer que comecei no ES nos anos 90, tudo era mais inocente e mais bonito ao meu ver, mas nem rola de ficar lamentando o que mudou pra pior ou melhor, as coisas tem que continuar acontecendo, e lá não pararam pelo que sei. Daquele tempo eu lembro do The Summoning, uma banda bem a frente do seu tempo naquela época, Killer gufs, The Rain, Skelter (esta era minha preferida em 90), tinha muita gente tocando cara. O mais legal é lembrar da separação que rolava entre Vitória e Vila Velha, era uma quase treta, as bandas de Vila Velha, como Hanseniase, Nó na pica, Dr. Mobral, depois Gritos de ódio e Mukeka, sempre tiveram um “nacionalismo” e uma identidade bem forte. Acho que isso rola ainda, o Mozine (Läjä Records) faz meio questão de enaltecer isso até hoje, acho legal até certo ponto. No meio da década a coisa se misturou e foi legal também, tinha shows na região metropolitana inteira e isso fez o bagulho crescer bastante até o quase fim da década quando tudo começou a se separar de novo. Bons tempos, muita diversão e muito aprendizado, éramos quase uma escola de música por lá. Hoje conheço as coisas da Läja, gosto de algumas coisas, Mortos pela escola por exemplo. Tem as coisas do meus velhos amigos em Vix, como o Zé Maria, banda do Marcel fundador do DF, tem uns raps de lá que piro, tem as bandas do Marcelinho que também fez parte do Dead Fish, Take Me e tudo mais…
Alyand: Lembro-me das bandas: Killer gufs, The Rain, Skelter o resto veio bem depois, e hoje não conheço nada lá… quando vou a Vitória fico extremamente voltado a minha família e recreação familiar hehhhe ..
Dudu (Oganpazan): Falando em importância no cenário nacional a Terceiro Mundo, sempre contribuiu com bons lançamentos, o que houve com o selo? Porque cessou as atividades?
Rodrigo Lima: A gente fez o que pode cara. Enquanto as coisas estavam na “clandestinidade” tudo funcionou muito bem. Mas ai quisemos nos profissionalizar e a coisa desandou, pagar impostos, ter que emitir nota, alguns lançamentos em hora errada, um monte de objetivos diferentes, tudo isso ajudou a acabar com o selo.
Alyand: Tenho saudades desta época…mas não tem como ter uma pequena empresa em país como o Brasil sem passar por problemas. Hoje temos títulos licenciados para a Deck que relançou alguns, depois de 2010 teremos os direito de volta e quem sabe retornaremos as atividades??
Dudu (Oganpazan): Como vocês vêm a cena hardcore no Brasil?
Rodrigo Lima: Eu continuo gostando muito, tem muita coisa boa que rola aqui em SP, por aqui a coisa parece sempre ter estado no “caminho”, tem bandas que amo como o Good intentions, Nerds attack, Discarga, Fim do silêncio, Bandanos e mais uma porrada de gente que continua fazendo coisa boa e com boas intenções.
Alyand: É verdade , o que movimenta a coisas toda ainda são as poucas bandas boas por aí. Acho que por ter passado a maior parte da minha vida na música , me fez ficar mais crítico com o passar dos anos. Acho o Brasil um berço de bandas boas e precisamos aproveitar isso ao máximo!
Dudu (Oganpazan): O que vocês têm ouvido ultimamente que merece ser indicado aos leitores e leitoras?
Rodrigo Lima: Tenho ouvido música negra, soul, r&b até os modernos, rap nacional, Stevie Wonder (outro dia vi que o Obama dançou uma música linda dele numa festa. Tomara que isso o inspire), Mars Volta também, e uma banda de punk rock gaúcha chamada Velho de Câncer.
Alyand: Cara tive minha vida roubada no último ano, trabalho mais do que me divirto, então não tenho escutado nada a não ser o novo disco do DF hehehehehh…foda!
Dudu (Oganpazan): Por favor deixem um recado para os leitores e leitoras.
Rodrigo Lima: Sorte pra vocês, sejam felizes, divirtam-se com autonomia. Obrigado pela oportunidade.
Alyand: Um abraço a todos e espero que este ano seja o melhor para nós todos!!
-Memória Bolodoido Musical: Entrevista com Rodrigo Lima e Alyand Dead Fish -2009
Por Dudu
Ouçam Dead fish em:
Nota do Redator: O Alyand atualmente não faz mais parte do Dead Fish.