Oganpazan
Área Punk, Bolodoido Musical, Colunistas, Destaque, Entrevistas, Música

Memória Bolodoido: Entrevista Ternura (ES) em 2008.

Entrevista com Ternura, nada de novo, resgatei o memória Bolodoido para me garantir e não ser demitido! em tempos pandêmicos.

As coisas na vida de uma pessoa não acontecem do nada, tudo tem uma razão de ser. Eu estar aqui hoje no Oganpazan não foi obra do acaso, tem toda uma história por trás e agora vocês terão um prazer de acompanhar um pouco disso aqui na Bolodoido Musical.

Não sou formado em Jornalismo, comunicação ou qualquer coisa do tipo, então nos meus textos não haverá impessoalidade ou imparcialidade, eu escrevo sobre o que gosto e me interessa, o que acho que as pessoas devem ouvir ou conhecer e assim iniciei esse lance de fazer resenha de shows ou discos eu nem sei quando, mas foi através de Zines de produção própria ou colaborando com zines de outras pessoas.

Em 2008 decidi criar um Fotolog, Tomanacara, onde poderia passar um pouco do que já fazia nos zines para o ambiente virtual, mas não foi das melhores ideias. A lógica do fotolog eram fotos e não textos, então acabava que eu ultrapassava os limites de caracteres das postagens e tinha que armengar nos comentários, não era nada interessante visualmente. Um amigo, Gabriel Gomes, bem solicito me disse que faria um blog pra postar os textos, que era mais adequado e eu poderia ir mandando os textos para ele que ele se encarregaria em postar, era o Tomanacarahc. Ahh…tudo isso porque eu não sabia mexer nas ferramentas de blog, na verdade até hoje sei bem pouco e graças ao curso ofertado pelo Oganpazan, através do Mestre Carlim.

Foram anos de dedicação a esse blog, que depois chegou ao ponto de contar com outras pessoas escrevendo textos e colaborando. Tive a sorte de conhecer muitas pessoas, principalmente da cena rep local, por conta do Tomancara e tínhamos um nome que era ou respeitado ou odiado, mas pelo menos éramos aquilo que nos propúnhamos a fazer, sem muita média.

Tempo passou, o Tomancara começou a ser outra parada e focar em outras atividades e o blog foi ficando de lado. Fundei com Gabriel e Rodrigo Gagliano a Saco de Vacilo, que é focada na produção de eventos e outras cositas mas, e dentro da Saco de Vacilo tentamos retomar essa lógica do blog, porque é algo que me amarro demais, e os outros dois também, mas não estava batendo certo, o alcance estava mínimo e não achávamos justo com as pessoas que convidávamos isso. Resolvi, a partir disso, cessar as postagens no blog e mandar meu currículo para seleção nesse mega portal musical chamado Oganpazan.

Eu sabia que a chance de ingressar era mínima, tendo em vista que os caras não iam muito com minha cara, afinal já tinham me entrevistado quando eu era vocal de uma banda de hardcore e nunca postaram a entrevista, uns bons filhosdaputa, mas peão já viu né…tem que pagarpau pro patrão. Para minha surpresa, recebi a confirmação de aprovação na seleção, com um salário que não me agradou muito de início, vou abrir aqui porque gosto da transparência, R$ 10.000,00 mensais, mais vale refeição, plano de saúde, vale transporte e a obrigação de ouvir trap, o que é mais puxado. Um absurdo, mas me submeti.

E estamos aqui, aos poucos fui construindo essa coluna, Bolodoido Musical, tenho total liberdade para escrever a merda que quiser, inclusive essa que vocês estão lendo, e toda equipe desse site é muito gente boa. Velhooooo…de verdade, se você escreve para qualquer outro site não perca tempo e venha escrever pro Oganpazan, aqui a parada é com amor mesmo e feita por quem realmente gosta de música, ninguém vai lhe tesourar porque escreveu mais de 2000 palavras, gostamos de passar sentimento nos textos.

“Mas pra que porra você tá falando essa merda toda Sr. Dudu?”, só pra dizer que como um bom filhodaputa que sou vou separar um espaço na Bolodoido Musical para postar textos antigos que escrevi, será o Memória Bolodoido.

O primeiro vai ser justamente a primeira postagem feita no blog Tomanacarahc, em 2008, uma entrevista com a banda capixada Ternura, confiram!

– As crianças cresceram, e agora? –

É com enorme satisfação que trago para vocês a primeira entrevista do Toma na Cara, e não poderia ser com outra banda se não eles, TERNURA. Para quem não os conhecem, Ternura é uma banda de hardcore do Espírito Santo, com uma pegada bem rápida e uma energia bastante positiva, estão na estrada a mais de 3 anos e têm 03 materiais lançados.

A entrevista foi com o Dalmoro (ex guitarra?) e o Dudu (vocal), espero que gostem.

Dudu (Oganpazan): Depois de muito tempo outra entrevista, acho que essa não vai se perder…deve ter uns 03 anos que a outra foi feita (Nota do redator: Como podem ver sempre fui bem vagabundo, tinha feito uma entrevista foda com os caras, mas perdi). Mais então de 03 anos pra cá o que mudou no Ternura?

Dudu (Ternura): Crescemos, nossa voz engrossou, mais pêlos, etcetera…

Dalmoro (Ternura): Eu me desliguei do HC, mas durante o tempo que convivi com o Ternura foi de coração. Uma parada sincera pra caralho, pra mim acabou sendo uma fase, mas a amizade vai ficar pra sempre, não sei se o resto da banda sente o mesmo, mas mesmo que eu esteja em outra, pensando outras coisas, aproveitando de outras maneiras, o momento ficou guardado, infelizmente o tempo destrói tudo.

Dudu (Oganpazan): Vocês vieram pro Nordeste participar do Festival Thrash IT!, na época vocês tinha apenas a demo s/t lançada. Após isso vocês lançaram outra demo (a do coração na Capa) e saíram no Split (Thrash IT Vol. 1) com as bandas: Cätärro (RN) e xReverx (SE). As gravações são bem diferentes da primeira demo. O que esperar do próximo lançamento do Ternura, aliás vocês pensam em lançar algo em breve?

Dudu (Ternura): Desde o início de 2006 a gente vem compondo músicas novas que são praticamente todas as músicas que tocamos em shows hoje. Ainda falta tirar umas 2 ou 3 músicas que estão prontas desde essa época. Daí, acho que com essas músicas deveríamos ter um set que girasse em torno dos 20 minutos, mas provavelmente ninguém se interessaria em lançar por motivos diversos. Eu particularmente gosto da ideia de jogar Internet a fora pra quem quiser. Essas músicas são um pouco diferente das anteriores: mais longas, afinação mais baixa, algumas partes lentas e talvez um pouco mais de pegada crust.

(Nota do redator: Infelizmente essas músicas nunca chegaram a ser lançadas).

Dudu (Oganpazan): Falando em Nordeste como é o relacionamento de vocês com o pessoal do Nordeste? E quando pretender vir (a banda) para cá novamente?

Dudu (Ternura): Eu particularmente tenho grandes amigos em alguns pontos específicos do Nordeste, pessoas que são muito queridas para mim, apesar da distância. Pretendemos ir aí quando tivermos condição ou quando vocês tiverem condição. Como sei que ambas as possibilidades são meio remotas, continuaremos em praias poluídas e tocando pros amigos e pros amigos dos amigos.

Dudu (Oganpazan): Vocês como banda assumem alguma visão política? E individualmente?

Dudu (Ternura): Acho que hoje, não. Somos indivíduos distintos e de uma empolgação com coisas comuns em uma certa época, talvez tenha sobrado apenas uma amizade e a vontade de tocarmos juntos. Individualmente, poderei falar somente por mim. Acho difícil enquadrar o que penso em algum “ismo”, até porque nem tenho pensado num rótulo. Sei que tenho tentado ser chato, importunando de anarquista a liberal, utilitaristas a cristãos e no fundo não sendo nada disso e sendo um pouco de cada um sem perceber. Permanecer questionando tudo que me traga uma fagulha de desconfiança e que tenha pretensões de se firmar como valor absoluto em mim ou nos que me cercam. Como esse abismo é intransponível, ultimamente tenho recomendado o suicídio coletivo como única e urgente prática contestadora.

Dudu (Oganpazan): Me falem mais sobre projetos, sei que alguns de vocês têm projetos paralelos ao Ternura, quais são? Falem mais sobre.

Dudu (Ternura): – Se você tiver falando em termos de bandas, acho que hoje em dia, eu sou o único com um projeto paralelo que é o Castigo, ensaiamos há mais de um ano já e nesse tempo só fizemos um show.

Dudu (Oganpazan): A temática do Ternura sempre foi muito polêmica, desde a camisa cuja estampa tem descrito “enfie sua cena em seu cu” a letras bem fortes e diretas, além da crítica efusiva ao “hardcore cristão”. Continuam pensando como antes ou têm uma opinião diferente acerca destes assuntos?

Dalmoro (Ternura): As pessoas mudam muito de opinião, tenho certeza que todos do Ternura estão pensando diferente daquela época em alguns sentidos. As letras do Ternura significam o que a gente pensava no momento, apesar de não ter contribuído muito nesse sentido.

Dudu (Ternura): Em vários pontos, mudei de opinião. O cristianismo é um desses assuntos, uma crítica a ele é meio inútil, porque representa apenas a ponta do iceberg. O buraco é bem mais embaixo.

Dudu (Oganpazan): Nos tempos atuais está sendo uma grande dificuldade lançar bandas, vocês lançaram essa última demo por vocês mesmos, além de fazerem suas próprias camisas e tudo mais. Qual a importância de ser independente no cenário independente? E a Crimes pela Juventude (Nota do redator: Crimes Pela Juventude foi o coletivo responsável por lançar a primeira demo do Ternura, entre outras coisas maravilhosas), a quantas anda?

Dudu (Ternura): Acho que hoje, eu responderia que a importância disso é simplesmente continuarmos a fazer o que gostamos independente do que os outros pensam, se teremos ajuda seja lá de quem for ou não. Não podemos parar e já que lançar uma demo era uma ideia na época, queríamos colocá-la em prática, mas não que isso seja uma regra necessária a ser seguida. Não sei como está a Crimes.

Dudu (Oganpazan): Como está sendo pra banda desde que vocês foram morar em Belo Horizonte/MG? Qual o esquema de ensaios e shows?

Dalmoro (Ternura): Atualmente estou morando no Peru, estou me acostumando aqui e tal, tá manero, estou aproveitando o máximo. Depois vou pra Austrália ano que vem, faze um curso de inglês e pegar onda.

Dudu (Ternura): Quando o Dalmoro se mudou, a dinâmica não alterou muito, continuamos como éramos antes quando ele ainda não participava. Depois que me mudei para BH, os moleques tiveram vários momentos de crise existencial, intercaladas por períodos de ensaios. Sempre que vou a Vitória a gente tenta ensaiar. Tirando isso, acho que ultimamente eles pegaram no tranco e estão ensaiando direto, talvez esteja enganado. Tocamos apenas dois shows, num período de um ano e meio pra cá. Gostaríamos de tocar mais, principalmente fora de Vitória, ver rostos novos, etc.

Dudu (Oganpazan): Na primeira demo que lançaram (da criança chorando) Dalmoro ainda não fazia parte da banda, como foi o processo de ingresso dele na banda? E vocês acham que o fato do Ternura ter mudado o estilo da primeira gravação para as demais se deve ao fato das últimas terem sido gravadas com ele?

Dudu (Ternura): Na época, a gente pirava nessa ideia de fazer um som bem rápido com umas oitavadas que lembrassem o Betercore, sem falar que desde essa época o Colligere era uma banda que a gente sempre gostou muito. Dalmoro era um rapaz que havíamos conhecido a certo tempo, se mostrava interessado no que fazíamos, tinha uma pegada legal na guitarra e a interação com a gente naquela época estava bem sintonizada: roles juntos, ideias soltas, etc. Mas não acho que o fato das músicas terem mudado se deva à sua entrada, já que tanto antes como depois eu sempre fui quem mais compôs para a banda. O que sem dúvida alterou com a entrada dele foi a nossa empolgação: Nos shows, duas guitarras davam uma energia maior, já que podíamos agitar mais livremente, uma guitarra sempre cobriria a outra e nós cinco estávamos num clima muito bom como banda e como amigos.

Dalmoro (Ternura): Sonoramente não sei se contribuí porra nenhuma, o som ficou mais pesado claro, e a banda evoluiu. Acho que a gente estava numa sintonia na época e a gente misturava tudo o que a gente gostava, acrescentando coisas que criava mermo né, acho que o Dudu é quem fazia a maioria das paradas e a gente só meio que selecionava né (sonoramente). Pra mim o som do Ternura, apesar de ser foda não chega a ser o principal e nem chega perto do que a banda realmente é e representa.

Dudu (Oganpazan): Pergunta clichê: Como vocês vêm a cena hardcore atual, no seu estado e no Brasil?

Dudu (Ternura): Tenho coisas mais importantes a me preocupar.

Dudu (Oganpazan): O que andam ouvindo últimamente que merece ser indicado aos leitores do fotolog?

Dudu (Ternura): Black Sabbath, Converge, Dinosaur Jr., 3, Joy Division, Entombed, Tim Maia (Racional), Zé Ramalho e Beethoven.

Dalmoro (Ternura): Tudo! Desde pagode, sertanejo e axé até surf music e música eletrônica, más sempre rola um WHN?!

Dudu (Oganpazan): Deixem um último recado aos que vos leem.

Dudu (Ternura): “Eu prefiro galope soberano, à loucura do mundo me entregar”.

-Memória Bolodoido: Entrevista Ternura (ES) em 2008.

Por Dudu

 

 

Matérias Relacionadas

Kelefeeling: Verso Livre do Don L nos tira do Jejum com uma taça de vinho modesto e encorpado

Redação Oganpzan
4 anos ago

Debulhando o groove do Guinebissau

Guilherme Espir
3 anos ago

The Alchemist e os beats imersivos em “The Food Villain”

Guilherme Espir
3 anos ago
Sair da versão mobile