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MC Taya, “Histeria Agressiva 100% Neurótica”

MC Taya virou banda e apresenta uma sonoridade que une elementos da música negra e periférica brasileira ao “new metal”. 

Antes, uma pequena digressão 

Big Mama Thorton em todo seu esplendor!!

Uma das consequências do racismo na indústria fonográfica, desde os primórdios do que se convencionou chamar de rock´n roll, consistiu no apagamento do protagonismo da cultura negra na formação deste gênero musical.

Pioneiras como Sister Rosetta Tharpe e Big Mama Thorton foram jogadas para debaixo do tapete e por décadas ficaram desconhecidas do grande público. Apenas os aficionados na história do rock e do blues conheciam esses nomes e sua importância para a criação do rock.

Um bom exemplo desse apagamento é o fato de Big Mama Thorton ter gravado Hound Dog muito antes de Elvis Presley.  Ela gravou a música em 1952, Elvis em 1956. Contudo a música apenas se tornou um hit na voz de Elvis, que fora apresentado, através de uma maciça propaganda, como “Rei do Rock”.

A partir daí, uma infinidade de versões de Elvis foram surgindo. Artistas negros como Little Richard e Chuck Berry, conseguiram algum  espaço, mas no decorrer dos anos 60, o rock era majoritariamente branco.

Ainda hoje, cada vez mais perto de completarem-se 100 anos de surgimento do rock, caso façamos uma lista de artistas e bandas negras pertencente a essa história, teremos dificuldade de listá-las. E ainda assim, chegaríamos a um número muito aquém, caso comparemos aos artistas e bandas formadas por integrantes brancos. 

MC Taya e a importância do seu ‘Metal Mandrake’

Quando li o termo “metal mandrake” pela primeira vez, imaginei se tratar de uma referência à gíria que usávamos láááá nos anos noventa, quando eu era adolescente. Eu lia quadrinhos do Mandrake, que é um mágico. Assistia o desenho “Defensores da Terra”, que era um grupo de super heróis reunidos pra defender a Terra. Além do Mandrake, tinha o Flash Gordon, Fantasma e os pivetes do Capitão Planeta.

Mc Taya, a banda!

Mandrake, naquela época, era um termo usado para designar a habilidade de ser safo. Ser “mandrake” consistia em saber sair de qualquer problema, por mais dificuldade que este lhe impusesse. Quanto mais complicada a situação, mais “mandarake”  era a pessoa que conseguia sair dela.

Portanto, pra mim, a expressão “Metal Mandrake” representava um metal feito através da adição de elementos musicais oriundos de outros gêneros musicais ao próprio metal. Contudo, é muito mais que isso. Pesquisando sobre o termo “mandrake”, descobri que representa toda uma cultura periférica da geração atual.

Engloba moda, música, dança, jeito de ser, ou seja, ser “mandrake” é pertencer a uma determinada cultura, de periferia e ser pertencente a uma determinada geração.

Portanto, o “metal mandrake”, corrijam-me caso esteja errado, consiste em incluir o metal de forma direta nessa cultura. Significa unir ao metal o funk, o rap, a moda e o jeito de ser “mandrake”. Combinação muito bem feita por MC Taya em todas as suas camadas. 

O poder explosivo da música periférica

Conheci MC Taya através do clipe “Branca de Neve (Rap das Sinhás)“. Dificilmente um trabalho no campo do Hip Hop dos últimos 20 anos desperta meu interesse. Sou um Tiozão do Rpa, parei ali na primeira década do anos 2000. Entretanto, este clipe me pegou em cheio. Mona Brutal, que é uma das participantes desse clipe, é velha conhecida. KING Saints e MC Taya foram as gratas novidades!

MC Taya em ação!

Havia na maneira delas rimarem, na forma como se dava a construção do flow, algo que me prendeu. Uma verve necessária a toda música que deseje se apresentar como potencial transformador da realidade periférica. Mesmo, que esta seja uma batalha perdida. Precisamos lutar para não enlouquecer.

As músicas de MC Taya transmitem uma energia rebelde, intensa, explosiva! Li entrevistas concedidas por elas a algumas mídias de música. Através dessas entrevistas, conhecemos a biografia de Taya e podemos compreender a maneira como ela usa sua história de vida se tornou a matéria prima das suas músicas.

Embora a cena metal seja majoritariamente formada por pessoas brancas da classe média, há uma infiltração desse seguimento nas periferias. Quem vem da quebrada e curte metal, geralmente ouve samba, funk, pagode, rap, porque esses gêneros, oriundos da periferia, fazem parte de sua realidade através de sua cultura.

MC Taya conheceu o rock através de seu pai. E se interessou logo pelo New Metal, que estava bombando na virada dos anos noventa para os anos 2000. Ela tentou formar bandas de hardcore, funcionou até as vésperas da maior idade, quando pessoas oriundas da classe trabalhadora são obrigadas a encarar a realidade de frente e abrir mão de seus sonhos e desejos em detrimento de se manter financeiramente.

MC Taya, metaleira mandrakona!!

Mesmo após conseguir aos poucos, criar um nome na cena independente do rap e do funk,  Taya abandonou seu desejo de formar uma banda de rock. Em minha humilde opinião, MC Taya é uma força criativa, no sentido de expressar constantemente o interesse em buscar o novo. Ela está constantemente inquieta, no que diz respeito ao seu processo de criação.

Caso você se dê o prazer de ouvir cronologicamente todos os singles e Eps lançados por Mc Taya, a começar pelo single Preta Patrícia, lançado em 2019, verá um trabalho em constante transformação. Isso falta na maior parte dos artistas e das artistas envolvidos com a composição musical atualmente.

Todos estão preocupados exclusivamente em satisfazer o apetite do mercado musical por lucro e cumprir as determinações de produtores e investidores do campo da música pop. Assim são produzidos hits, “astros” e “estrelas” da música em escala industrial. Contudo, falta-lhes a substância necessária para manter suas carreiras e obra de pé. Para cada Ana Castella que vinga, dezenas, talvez centenas de cantoras foram engolidas pela indústria cultural.  

Nesse sentido, Taya surge como uma alternativa à massificação cada vez mais atroz da produção musical e se apresenta como uma representante legítima da cultura periférica brasileira. 

“Histeria Agressiva 100% Neurótica”

Arte de Capa de “Histeria Agressiva 100% Neurótica”

Ele (o EP) vai falar sobre a raiva da mulher negra, as LETRAS falam de ódio. Ele (o EP) é uma convocação às mulheres e à rebeldia“. Assim Taya descreve o conteúdo das letras escritas para “Histeria Agressiva 100% Neurótica” em matéria de Ludmilla Correia para a Bilboad Brasil (leia aqui).

Muito se fala do fortalecimento da extrema direita mundo afora. Contudo, existem focos de radicalização contra os excessos perpetrados por esse extremismo. Também cresce, em menor proporção é verdade, a radicalização à esquerda.

Quando Taya coloca o ódio, a raiva como combustível responsável por colocar em movimento seu processo de composição, de escrita, ela indica a necessidade de transformação. 

Sua música, aqui enfatizando o “Histeria Agressiva 100% Agressiva”, propõe a construção de uma rebeldia. Voltada contra a repressão violenta direcionada às mulheres negras. Porém, que atinge toda existência periférica. Constantemente a existência periférica é colocada em risco pela violência do estado, materializada nas PM´s. Também pelo racismo, manifesto em todos os estratos sociais.  Os meios de opressão da classe trabalhadora estão sempre em funcionamento! 

Sua obra se coloca na contra mão do discurso político de esquerda da classe média, sempre propondo a submissão ao poder político da burguesia. Sempre interessada em evitar o confronto. Porque seja qual for a realidade, o açoite só beija a pele dos periféricos.

Falam do amor como ferramenta de transformação. Contudo, este discurso que representa uma espécie de neo paz e amor só “favorece” a classe média branca. Todavia, o que esse discurso político chapa branca de esquerda ata mãos e corações de quem sofre realmente todo tipo de violência cotidianamente. O neo paz e amor, enquanto agenda política, satisfaz apenas à classe média, menos afetada pelas mazelas do atual estado de coisas na política nacional.

Aquela pose de metaleiros (a) mandrakes.

O interessante nesse lançamento da cantora e compositora é fazer com que o funk, o rap e todas as suas possibilidades de expressão, recebam elementos do metal e com isso consiga atingir um resultado orgânico.

Antes de ouvir, de antemão, pensei se tratar de um Frankestein, incapaz de atingir o ouvinte de forma arrebatadora. Eu não sou metaleiro, mas sou aficionado pelo metal e suas inúmeras vertentes.

Fui ouvir “Histeria Agressiva 100% Neurótica” cheio de interesse, porém, armado até os dentes de preconceitos relacionados à combinação entre metal com o funk principalmente. Já que a fusão com o rap é antiga.

Caso a pessoa vá com esse concepção prévia do “Metal Mandrake” de MC Taya, acaba tendo uma surpresa efusiva. Na primeira faixa “Bonde das Insubmissas – Intro.” você é desarmado de todo preconceito musical. A meu ver, Taya coloca o metal como um elemento secundário, dando um protagonismo ao funk carioca e ao rap à brasileira. Desse modo, há uma valorização do elemento periférico, brasileiro. 

Qualquer pessoa de periferia ao ouvir esse som irá se identificar, mesmo experimentando, incialmente, uma sensação de desconforto. Porém, rapidamente o funk e o rap ali presentes irão ser rapidamente identificado e fisgará este ouvinte. 

Faixa a Faixa

Espero ter cumprido meu objetivo de expressar em linhas gerais o que é o “Histeria Agressiva 100% Neurótica” do power trio de metal mandrake MC Taya. Agora vamos adentrar o íntimo das músicas e trazer à toda as linhas particulares deste EP que é pura dinamite!

Banda “mandrakemente” produzida!

Abre o álbum, como já deixei escapar anteriormente, a faixa Bonde das Insubmissas – Introd.. A música já bateu no centro do meu coração metaleiro. Você mete o dedão no play e já vem o som de uma tempestade. Lembrei logo da obra prima do metal, pré-metal, Black Sabbath do Black Sabbath e da introdução de Reign In Blood do Slayer.

Enquanto a chuva cai ouvem-se rosnadas raivosas de cães. E uma voz ameaçadoramente apresenta a banda. Riffão com parede de distorção volumosa, notas graves e livres do baixo e aos poucos o clima de metal, vai dando espaço ao swing do funk.

Através da percussão e da linha melódica de Taya. Esta segue a melhor tradição dos e das MC´s de rap e funk, fazendo sua apresentação. Lembra muito o clima das rinhas de rap. Metal Mandrake tem swing, faz remexer, rebolar e faz o sangue ferver. Ferver de ódio ao autoritarismo, à repressão e à violência contra a liberdade fermina.

Preste atenção à letra e deixe a mensagem do “bonde” te atingir. Interessante também o uso de um vocabulário periférico nas músicas, mais uma elemento que nos leva a perceber se tratar de uma música que procura falar à população das favelas, das quebradas.

Segue para Fim do Mundo. Nesta faixa o metal se apresenta na cama sonora gerada pelo riff da guitarra, carregado em distorção. Enquanto o funk se mostra na cadência da bateria. Essa dinâmica cadenciada imprime a dinâmica cheia de movimento, que permite Taya cantar com agressividade.

MC Taya empunhando seu baixo.

Quanto mais pesado o arranjo mais agressiva é o vocal. Quando de repente há uma suavização do arranjo o vocal de Taya acompanha, gerando uma atmosfera de tranquilidade. Contudo a suavidade é aparente, contrastando com o conteúdo da letra.

Nela Taya reivindica seu direito ao ódio, cuja legitimidade se apresenta no cotidiano opressor construído para que pessoas como ela vivam sob constante controle. Segura aí a potência destes versos:

“Tenho todo o meu direito de sentir muito ódio/ No meu “Quarto de Despejo (referência à obra de Maria Carolina de Jesus)/ Roubaram meu território”

Agora, e esse “batidão”! Sexo Todo Dia é um “batidão” na pegada “proibidão”!! É baile de favela com distorção até a ponta do fio de cabelo! 

Sexo Todo Dia talvez seja a faixa polêmica do EP. Levemos em considera o clima cada vez mais conservador, reacionário e extremista atualmente no Brasil. Ouvir uma música cuja letra aborda a expressão escrachada e cuspida do desejo sexual de uma mina. E ainda por cima listando as várias formas através da quais satisfaz esse desejo.

A base da MC Taya.

Fala pra mim, vai ou não vai ter muito “cidadão de bem” e muito “esquerdo macho” se contorcendo do mais puro ressentimento. Fica mais interessante pelo fato de Taya cantar a melodia de forma ainda mais intensa e agressiva. Uma forma catártica de afirmar seu desejo da maneira como bem entender. Tal qual fazem artistas homens desde que começaram a fazer canções.

O Monstro e a Raiva tem a participação de outra MC pesada, Scarllet Wolf. O arranjo desta faixa busca conjugar duas formas distintas de vocalização das linhas melódicas. Scarllet vem com o flow, sustentando aí a sonoridade rapper. Enquanto Taya canta agressivamente sua parte, tendo no efeito de distorção vocal um elemento que imprime ainda mais agressividade e intensidade à sua participação.

Interessante a forma como a guitarra é encaixada no beat. Foram construídos riffs tocados em momentos precisos, enfatizando partes chave da música. Chama atenção a organicidade desse encaixe da guitarra no beat. Outra característica a ser ressalta diz respeito à utilização de ruídos e efeitos sonoros na composição de texturas da metade pro final da música.

Finaliza o EP a música Criança Não É Mãe. Vivemos retrocesso atrás de retrocesso desde que nossas casas legislativas foram tomadas por deputados e senadores de extrema direita. Entre os exemplos está o famigerado Projeto de Lei (PL) 1.904/2024.

Este projeto estende a criminalização da prática de aborto a mulheres que o faça mesmo em caso de estupro. Não a toa este PL ficou conhecido como “PL do Estupro”.  Para conhecer os detalhes deste projeto leia aqui

Criança Não é Mãe aborda a temática de criminalização do aborto de forma incisiva. O título remete imediatamente a um caso que chocou o país em 2020. O caso de uma criança estuprada pelo tio que foi exposta por uma blogueira conservadora. A exposição levou a uma tentativa de ala extremista da política do país a tentar impedir a interrupção da gravidez. Felizmente a pressão não obteve sucesso e a gravidez foi interrompida. Relembre esse caso clicando aqui.

A letra desta faixa expõe o absurdo e a desumanização das mulheres. Impedidas pelo estado de decidir o que fazer com seus corpos. Condição que pode levar a situações completamente bizarras como exigir que uma criança estuprada leve até o fim uma gestação fruto estupro. 

Segue um arranjo musical pesado, rápido, extremo, agressivo! Pegada grind! Pra expressar sua fúria, a banda vem de riffs cortantes de guitarra, bateria em andamento frenético e Taya cantando furiosamente. Antes de terminar cai numa cadência lenta antes de encerrar a música com uma música de umbanda dedicada à Pomba Gira. 

E assim começamos 2025! Ao som do “metal mandrake” da MC Taya!! Beijo nocêis e até a próxima matéria!

Mais de MC Taya no Oganpazan:

MC Taya chegou pesadona com o hit “Bitch Eu Sou Incrível”!

 

Ouça “Histeria Agressiva 100% Neurótica:

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