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O trompete contemporâneo do Maurice Brown

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No hall de trompetistas contemporâneos, Maurice Brown é um nome que se destaca. Swing e versatilidade à serviço do groove.

O Jazz vai muito bem (obrigado), tanto no cenário mainstream, quanto no underground. E o interessante é que é possível observar que o som da nova cena caminha para 2 lados nessa nova renascença.

Se por um lado você tem – principalmente a cena de UK – com diversos grupos explorando o que existe de mais moderno, principalmente com enfoque em inovações eletrônicas, pra contrapor esse ponto, vários instrumentistas americanos estão groovando com os olhos no futuro, mas com as raízes bem fincadas no Hip-Hop.

É claro que a produção do Jazz não fica restrita à apenas dessa galera. Tem muita gente desafiando a escola de Miles Davis, também na europa. Tem Jazz rolando em diversas partes do globo e o som pulsa até em Israel, terra do pianista Shai Maestro, por exemplo.

E apesar de parecer até um pouco clichê – em função das diversas novas fórmulas Jazzísticas que vão da música eletrônica até o Rock Progressivo – o Hip-Hop está dando o que falar.

Uma espécie de elo perdido entre o Jazz e o Hip-Hop, uma cultura que é muito desrespeitada frente ao academicismo que nomes como Wynton Marsalis pregam, nos últimos anos essa fusão atingiu novos pontos de transgressão e resultou em sonoridades tão ímpares quanto a do Maurice Brown, por exemplo.

Maurice “Mobetta” Brown que o diga. A cozinha que guia o seu trompete é completamente pautada no Jazz, mas a abordagem que consegue agregar tanto frescor ao timbre de seu trompete é o grande segredo por trás de seu sucesso.

Um dos maiores músicos de sua geração, o negrão nem chegou nos 40 ainda e já coleciona colaborações ao lado de nomes como Tedeschi Trucks Band, The Roots, Aretha Franklin e Anderson .Paak & The Free Nationals. Vai tirando, papai.

Em carreira solo sua discografia é mais compacta. São apenas 3 discos. Primeiro veio o debutante “Hip to Bop” (2004), depois foi a vez do “The Cycle Of Love” (2010), mas foi com “The Mood“, lançado em 2017, que o seu inventivo som conquistou os ouvidos do grande público.

 

Line Up:
Maurice Brown (vocal/trompete)
Kris Bowers (piano/teclados)
Solomon Dorsey (baixo)
Joe Blaxx (bateria)
Josh Connolly (guitarra)
Chelsea Baratz (saxofone/vocal)
Derek Douet (saxofone)
Weedie Braimah (percussão)
Saunders Sermons (trombone)
Talib Kweli (vocal)
Chris Turner (vocal)
J. Ivy (vocal)

Track List:
“The Mood”
“On My Way Home”
“Intimate Transitions (Jardin Le Sonn)”
“Stand Up (feat. Talib Kweli)”
“Moroccan Dancehall”
“Shenanigans”
“Capricorn Rising”
“Journey Exotique”
“Serendipity”
“Destination Hope (feat. Chris Turner & J. Ivy”

 

“The Mood”, terceiro trabalho de estúdio do americano, foi lançado – via Ropeadope Records – no dia 24 de março de 2017 e cumpre a difícil tarefa de sintetizar sua abordagem. Com o Bebop na linha de frente, Maurice une o Jazz a uma visão de timbres que muito se assemelha ao minucioso trabalho de  um beatmaker.

Produtor, compositor e arranjador de mão cheia, o dono de um Grammy conta com um estilo econômico, mas que impressiona pelo rico blend de Blues, Soul e Funk. São linhas de grande eloquência e capacidade melódica que chegam a confundir o ouvinte em função da maneira como ele subverteu o Hip-Hop no meio do Bebop.

Logo na faixa título dá pra sacar isso. Os tempos espaçados na bateria, a guitarra, teclas e sax fazendo as texturas… É um sopro de ar fresco inebriante e o timbre do Maurice é de fato peculiar. Parece oldschool, mas nesse contexto chega até a confundir. “On My Way Home” é uma faixa que mostra o motivo dessas dúvidas.

É um trabalho leve, de audição cristalina e suave, com a sonoridade fluída e músicos primorosos no acompanhamento.

As teclas de Kris Bowers são um dos grandes segredos desse disco. Em “Intimate Transitions” o marfim malhado surge com grande sensibilidade, já ambientando o Cool Jazz com um riff sutil, mas mortal. É um trabalho quase todo instrumental, salvo a colaboração de Talib Kweli para as vozes do single “Stand Up” e a não menos importante presença de Chris Turner e Ivy J, fazendo a poesia falada de “Destination Hope”.

São temas longos, mas que em nenhum momento se tornam cansativos. Em “Moroccan Dancehall”, por exemplo, o músico mostra influências que remetem à diáspora, montando uma track com fortes marcações rítmicas em meio a ricas propostas melodiosas. A dupla que ele fez com o sax da Chelsea Baratz merece uma menção honrosa… Em “Shenanigans”, o som do naipe é tão forte – como num mantra – que beira o Afrobeat.

É até engraçado como as faixas acabam ficando na cabeça do ouvinte, tudo com a mesma naturalidade com que elas tomam conta dos falantes. Com abafador ou sem abafador, o som vem no seco, sem cuspe e sem massagem, apresentando desde intrincados andamentos – como acontece em “Shenanigans” – mas é com sensibilidade, classe e sutileza de temas como “Capricorn Rising”, por exemplo, que esse disco conquista o ouvinte.

Após temas como “Journey Exotique” e “Serendipity”, você pode até se perguntar… É Hip-Bop? Hip-Hop? Esqueça os rótulos! É esse apreço pelo novo que a crítica chama de Maurice Brown.

Um dos melhores sons de trompete da cena. É cremoso demais pra deixar passar batido. Fiquem atentos com os novos expoentes da música negra.

 

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