Oganpazan
CD's, fender, fender jazz bass, Jazz, Marcus Miller

Marcus Miller e a classe cool de Afrodeezia

Um dos mais prolíficos músicos de nosso Jazz de cada, Marcus Miller, conseguiu achar uma brecha em seu atarefado calendário para retornar com as gravações, coisa que não fazia desde 2012, ano que lançou o para variar muito bom ”Renaissance”. Depois disso a vida do baixista seguiu como sempre, foram vários shows nos maiores festivais do planeta, inúmeras datas nos melhores clubes e até mesmo uma passagem por nosso país no ano passado, contando com a mesma banda que fez o backgound sonoro do slap man em mais uma cartada de estúdio.
Depois que assinou com a Blue Note Records, Marcus conseguiu firmar seu debutante, o interessantíssimo ”Afrodeezia”, mesmo enquanto administra seu lado ativista como músico da UNESCO, ao mesmo tempo que faz frente como porta voz do ”Slave Route Project”. Algo que com certeza acabou dando o tom desse trabalho, uma vez que seu décimo registro de estúdio chega repleto de convidados estrangeiros, misturando seu distinto Jazz com o lado europeu, africano e acima de tudo globalizado, de vossa música.

Track List:
”Hylife”
”B’s River”
”Preacher’s Kid” (Song For William H)”
”We Were There”
”Papa Was A Rolling Stone”
”I Still Believe I Hear (Je Crois Entendre Encore)”
”Son Of Macbeth”
”Prism (interlude)”
”Xtraordinary”
”Water Dance”
”I Can’t Breathe”

A carreira do Marcus Miller apenas como produtor já é uma coisa impressionante. Seus dotes como baixista fazem de seu dedão um dos exemplos mais complexos da musculatura de um groove e todas as suas gravações com os maiores nomes do Jazz, servem apenas para efeito de curriculum. Se bem que isso ainda é pouco para mensurar tudo que esse gênio já fez.
E o mais interessante em relação a toda sua obra e importância é que ele não perde as raízes, está sempre no palco com a chapeleta de Raiden do Jazz-Motown, sempre buscando perder a seriedade e adicionar uma marra ligeira no compasso de um baixo que acompanha até o Billy Cobham.
E em ”Afrodeezia” todo esse contexto cai por terra. É desconcertante notar que em apenas um disco, Marcus consegue desconstruir seus onze registros anteriores e ainda faz o ouvinte simplesmente deletar tudo que gravou nesses mais de 30 anos de história sonora, justamente para poder absorver a nova faceta de seu CD mais interessante.
E seus trabalhos dentro do âmbito social foram citados por que é exatamente em virtude dessa lição de casa extra curricular, que esse instrumental possui essa sonoridade multi étnica. É em virtude de várias viagens pelo mundo que Marcus conseguiu agregar ainda mais em sua música, chegando nesse disco absolutamente decidido a experimentar e a criar camadas africanas que um baixo não via desde Richard Bona.
E ao chamar nomes dos mais variados como Keb’ Mo’, Wah-Wah Watson e Brett Williams o músico conseguiu passar para seu disco, toda a energia de suas viagens em meio aos seus projetos, munindo seu Jazz daquele bom e velho clima improvisado, sempre contando com os melhores músicos e misturando todo o requinte de suas notas graves com a nata das pirações sonoras internacionais.
São mais de 60 minutos de uma senhora gravação. É impressionante (chega a dar raiva) do timbre, do desleixo chic e do vocabulário sonoro desse cidadão. Logo na abertura temos ”Hylife”, tema que nos brinda com uma atmosfera única em sua discografia. A riqueza dos vocais, os floreios do sax, a liberdade!
Gosto do Marcus Miller justamente por todo o pacote que ele oferece quando você vai assinar o serviço com ele: a música é linda, tem sentimento, é sempre orgânica e o cidadão tem um tesão pelo groove que é absolutamente contagiante.
Todos os onze temas que formam esse registro são lindos, é fantástico notar o esmero a cada detalhe, os solos, a criatividade e tudo que forma esse todo complexo, que com uma naturalidade assustadora se desenrola em vosso play. Rola passagem purista, Funk, música africana, percussão e o que mais chama atenção é como os longos improvisos passam rápido: o atestado para se saber quando possuímos algo fora da curva na jam.
Pegue ”B’s River”, por exemplo e veja como ele torce as cordas de seu signature com um sentimento assombroso. Sinta o prazer tão palpável como os vocais angelicais de ”Preacher’s Kid”, o slap que ninguém consegue acompanhar em ”We Were There” e toda a fusão de ritmos que esse seu rolê pelo mundo angariou para seu som.
Acredito que essa seja um de seus melhores trabalhos, o clima é muito positivo, a música vai pra cima do ouvinte e entre momentos de puro relato de viagens, ainda temos tempo para surpresas grandiosas e a versão de ”Papa Was A Rolling Stone é a prova disso. ”I Still Believe I Hear”, por exemplo chega a marejar os ouvidos mais sensíveis… 
É de tirar o fôlego! Ouvir temas tão cristalinos e sentimentais, sacar que mesmo com o baixo em primeiro plano o figurão ainda abre espaço para a guitarra em ”Son Of Macbeth” e que de cabo a rabo, o play só quer saber de boa música, mesmo que ele não seja o foco principal durante os 65 minutos que a bola rola.

Só os mestres fazem isso e creio que seja desnecessário pontuar que esse cara seja um dos deles. Que disco Marcus, ”Xtraordinary” chega com um piano matador e a última trinca do disco faz até minha avó dançar no ritmo da percussão com artrite no joelho e tudo mais!

Matérias Relacionadas

Hiromi Uehara e a valorização do tempo em Time Control

Guilherme Espir
2 anos ago

Blind Horse – In The Arms Of Road EP

admin
9 anos ago

O infinito particular de Joe Armon-Jones

Guilherme Espir
2 anos ago
Sair da versão mobile