A música eletrônica e o indie são os estilos mais comuns no decorrer da série. A primeira muitas vezes dialogando com as também abundantes referências a videogames e a segunda ajudando a dar aquele clima inocente e pueril à história. As canções que tocam na abertura e nos créditos finais são exemplos perfeitos disso. Mas outros estilos também estão representados. Uma das personagens mais bacanas, a vampira Marceline, é baixista, compositora e vocalista de uma banda de punk rock chamada As Rainhas do Grito.
Se tem uma personagem badass em Hora de Aventura é a Marceline. Tá bom, Jake e Finn são durões também, mas não como Marceline. Ela possui poderes assustadores e não tem receio de usá-los para fazer espertinhos borrarem as calças quando precisa. Em 2012 Marceline e sua trupe ganharam uma série em quadrinho batizada de Marceline e As Rainhas do Grito. A Panini compilou essas histórias em uma edição caprichada lançada por aqui no início do ano. E se você tem a desconfiança de que se trata de um caça níquel qualquer lançado para pegar carona no sucesso da animação, saiba que você não podia estar mais errado.
A hq mantém o nível e expande o universo de possibilidades infinitas apresentado pela série, ao mostrar As Rainhas do Grito em sua primeira turnê pela Terra de Ooo. Os inseparáveis Jake e Finn são apenas coadjuvantes nessa jornada que acompanha a guitarrista e também vampira Keila, o baterista fantasma Bongo (reza a lenda que ele é um fantasma de um famoso baterista, achei ele a cara do John Bonham, mas vai saber), o misterioso tecladista Guy, a baixista e frontwoman Marceline e a empresária da banda Princesa Jujuba, pegando a estrada e fazendo shows literalmente assombrosos em cidades bem estranhas.
Basicamente a trama mostra uma jornada de auto conhecimento de Marceline, que tem que lidar com sua insegurança e, claro, com o seu complexo de rock star, enquanto enfrenta os desafios corriqueiros na rotina de uma banda em turnê: entrevistas, viagens, críticas negativas, apresentações ao vivo e brigas internas. A Princesa Jujuba também tem um arco bem definido. Ela é o oposto da protagonista: certinha, organizada, racional. Sabe muito de música erudita (sendo inclusive praticante) e quase nada sobre rock’n roll. As duas precisam aprender uma com a outra como flexibilizar suas próprias posturas.
Mas falando assim parece sério demais. Não é o caso. O quadrinho tem o mesmo espírito anárquico da série animada conseguindo mesclar um humor bobo com momentos sombrios e algumas referências sexuais um tanto veladas. Personagens conhecidos do público como a Princesa Caroço, o incrível BMO e o carente Rei Gelado – entre muitos outros – também dão as caras no quadrinho. A história principal é dividida em seis capítulos, escritos e ilustrados por Meredith Gran (conhecida pela web comic Octopus Pie), com cores de Lisa Moore. Essa linha narrativa é intercalada por histórias curtas que levam a assinatura de artistas conhecidos no meio do quadrinho independente.
Nomes como Jen Wang do elogiado Koko Be Good, Liz Prince e Faith Erin Hicks integram o time de apoio produzindo, cada um no seu estilo, pequenas pérolas de narrativa gráfica, sempre utilizando o universo musical de maneira inteligente e criativa. Talvez esse seja o grande trunfo do encadernado. Buscar maneiras criativas de retratar imageticamente o poder da música. Do robô programado para só pintar a cor vermelha que sente necessidade de usar outras cores depois de ouvir uma canção das Rainhas do Grito, até o problema de comunicação entre Jake e sua amada Lady Íris solucionado musicalmente, passando por um gênio preso numa guitarra, cada momento de Marceline e As Rainhas do Grito está recheado de referências e boas ideias que vão conquistar quem gosta de música.
Número de páginas: 164
Formato: (17 x 26 cm) Colorido/Capa dura
Preço de capa: R$ 19,90
Editora: Panini