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Luis Vagner Guitarreiro morre aos 73 anos – Obituário Oganpazan

Luis Vagner foi pioneiro em estilos musicais como o rock, o samba rock e  o reggae e nos deixa seu swing imortal

Apesar de ser o Rap a vertente musical que me move, tive a sorte de ter me criado com um irmão cinco anos mais velho do que eu, que trazia para casa vinis dos mais diversos. Desde Bob Marley, Raul Seixas, Led Zeppelin, Janis Joplin, Rush, Titãs, Jualê, tudo tocava lá em casa. Algumas dessas bandas e artistas eu ouvia e curtia, outras era mais pela obrigação de ser o irmão mais novo e não ter muita oportunidade de escolher e me obrigar a ouvir o que meu irmão ouvia. 

Mas teve um cara que ele ouvia e que desde sempre despertou uma certa curiosidade em mim, chamado Luis Vagner, que certa vez meu irmão apareceu com um vinil intitulado Conscientização, que me fez ter uma atenção maior do que o normal. Esse disco me fez ter acesso ao som refinado de um cara que infelizmente hoje nos deixou. Mas entre esse período que conheci o seu som, até o dia da sua triste partida, muita coisa me ligou à obra de Luis Vagner. 

Anos depois, fui saber que aquele cara que cantava e tocava aquele Reggae no álbum Conscientização, era um dos precursores do Samba Rock, tinha um som feito em sua homenagem por ninguém menos que Jorge Ben, que o presenteou com a música Luis Vagner Guitarreiro, e que ele era nascido em Bagé, ali tão próximo à mim, que nasci em Pelotas. 

Só com o passar dos anos pude entender que todo o swing do pagode gaúcho, que destoava da maneira de tocar dos grupos de pagode daquele boom do gênero nos anos 90, devia muito à guitarra de Luis Vagner, que ao lado de Bedeu, criou uma geração de músicos gaúchos inspirados na musicalidade do mestre nascido em Bagé, radicado em São Paulo, mas que também se aventurou em terras francesas, ao ponto de ser jogador de futebol profissional, em um time da 3’ Divisão da França. Um rasta de uniforme de futebol já não era novidade, quem não lembra do Bob batendo aquela pelada com Chico Buarque?

E chegando a minha vertente, o Rap, não é que lá também estava a musicalidade do homem? O poeta do Rap nacional, GOG, fez um dos sons mais lindos da história do Rap nacional, chamado Quando o pai se vai, com sample de outro bamba da nossa música, Paulo Diniz. Nesse som, GOG utiliza no refrão a seguinte colagem: ”Como vou deixar você, se eu te amo..”. Para quem não sabe, essa letra é de Luis Vagner, eternizada na voz de Paulo Diniz.

Outro Rap que traz a voz de Luis Vagner, é de Max B.O., na música Guria, que tem o mesmo título da música de Luís Vagner, e que contém sample do Guitarreiro. 

Em 2018, lá fui eu me dirigindo para o Porto de Pelotas para enfim ter a oportunidade de assistir um show de Luis Vagner pela primeira vez. Chegando lá encontro, entre tantos outros amigos, dois em comum, Nitro Di e o xará do homem, Luiz Vagner (assim mesmo, com a letra Z, mas batizado em homenagem ao Guitarreiro). Pude trocar uma ideia rápida com o mestre antes dele subir no palco, tietar, tirar foto ao seu lado e ganhar o seu autógrafo na capa daquele vinil que meu irmão lá na década de 90 trouxe para dentro de casa. Uma semana depois, o primeiro dos baques, Luis Vagner teve um AVC, que o afastou dos palcos.

Em fevereiro deste ano de 2021, mandei um áudio no WhatsApp cantando um trecho da música Objeto Alado, desse álbum que ele autografou. Errei uma palavra da música e ele me corrigiu, com uma voz já debilitada, mas com a mesma humildade e simplicidade que ele me recebeu antes do seu show. Trocamos mais algumas mensagens de áudio, e algo me dizia para armazenar esses áudios em algum lugar que pudesse guardar para a eternidade, pois senti que nosso mestre já estava fraco e que esses áudios onde ele me chamava pelo nome, seriam minha lembrança e meu troféu daquele papo virtual.

O meu amigo Luiz Vagner (aquele com Z), que também é músico, e que foi assim batizado em homenagem ao Guitarreiro, acabou de postar no Instagram algo que me fez entender que todas as conexões que temos em vida não são meras coincidências. No mesmo final de semana que ele perde o seu xará, vitimado por mais um AVC, ele perdeu uma outra referência musical, o eterno Cassiano, esse referência para o nome do filho do Luiz Vagner. Sim, o Luiz Vágner tem um filho que se chama Cassiano, e quis o destino que Luis Vagner e Cassiano, os originais, nos deixassem no mesmo final de semana, entristecendo e deixando de luto todos aqueles que diferentemente da indústria musical brasileira, se importam e reverenciam seus ídolos. 

-Luis Vagner Guitarreiro morre aos 73 anos – Obituário Oganpazan 

Por Gagui IDV

 

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