Conversamos com a jovem cantora baiana Liz Kaweria, parte fundamental da renovação do Rap baiano!
Uma das maravilhas de estar sempre atento e pesquisando sobre música em geral é descobrir jovens que em seus primeiros trabalhos, já nos mostram a força de sua arte. A Liz Kaweria é um excelente exemplo disso e ter descoberto os seus trabalhos agora no finalzinho de 2022 certamente foi muito importante para que eu elaborasse essa série sobre as Novas Vozes do Rap Baiano e nada mais justo que seja ela a abrir a série.
Inicialmente, foi graças também a outra jovem voz do nosso rap, a Bratz, como organizadora de um evento, que tive o primeiro contato com o trabalho da Liz Kaweria. De início me impressionou ver outros nomes como Alfa da Underismo e muitos dos presentes, cantando as faixas em uníssono. Algumas semanas depois dei play em suas faixas no Spotify e daí em diante, seus EP’s e singles passaram a fazer parte do meu dia a dia.
Como não ando nutrindo preconceito com estilos musicais já flagrava o trampo do Madashawtty aka Madaleno, beatmaker e MC que é certamente um dos pioneiros do plug no Brasil e com toda a certeza aqui na Bahia. Mas, não é uma das cenas que mais me agrada pessoalmente falando, então nunca parei para pesquisar. Com a Liz Kaweria e sua voz belíssima passei a buscar maiores informações até para tentar entender. E pelo que pude apurar até aqui, o plug não é necessariamente um subgênero musical pois apresenta muito poucas diferenças rítmicas com relação ao Trap de onde se originou.
O fato é que me parece que o plug – pelo menos até aqui – é muito mais um vibe onde a rapaziada explora mais as melodias do que propriamente um novo subgênero musical. E neste sentido, todo o trabalho da Liz Kaweria acrescenta uma deliciosa mistura com o R&B, incorporando suas vivências de rua, sua herança musical familiar e religiosa e suas ideias sobre a vida, sobre relacionamentos, sobre amor e sexo.
Em 2022, a artista fincou seu nome com muita força e qualidade no cenário baiano, além de singles, ela lançou dois excelentes EP’s “Broke” com a produção do Jxkv e feats com Fiteck e Guhhl e o que me fez viciar legal: “Ego Trip”. Além de ser o seu maior EP até aqui, contando com 6 músicas todas produzidas por Young Hades, o disquinho traça um retrato bem interessante da artista, apresentando diversas facetas suas.
Neste primeiro EP lançado pela artista original de Lauro City, tem a faixa “Plugg no Contato” que é uma das minhas preferidas, pois mostra-nos que além de excelente cantora, Liz Kaweria é uma jovem mulher negra que está atenta a nossa situação política e racial. Em “Ego Trip” como o próprio título evoca, Liz faz um passeio sobre diversos pensamentos, por temáticas diversas e mescla com maetria sua linda voz a um flow que ela chamou de “descarado”.
Dito isso, procurei a Liz Kaweria para saber mais sobre sua caminhada, suas influências e sobre os seus próximos passos.
Oganpazan – Como você descobriu o rap? E o que te levou a buscar se tornar uma MC/Artista?
Liz Kaweria – Sempre tive contato com o rap cristão, por conta da minha criação, meus pais sendo evangélicos. Primeiro contato provavelmente foi com Apocalipse 16, mas o contato que mudou minha visão em relação a música foi Lil Wayne. Acredito que o som dele mais marcante pra mim foi “A Milli”, descobri ele através de Chris Brown, mesma época que despertou o interesse em mim de aprender inglês pra entender o que esses caras falavam.
Oganpazan – Você é de Lauro de Freitas né? Como é a cena local da cidade e de que modo você se relaciona com o hip-hop feito na sua cidade?
Liz Kaweria – Sou de Lauro, nasci em Salvador, mas me mudei pra Lauro com 9 anos de idade, desde então, tornou-se meu verdadeiro lar. A cena local é foda, primeira batalha de rap que tive contato foi a Batalha do Caranguejo, na Itinga. A cultura hip-hop sempre foi forte aqui e bem representada, em especial por Zidane, que eu tenho a honra de chamar de meu coroa e amigo. Antes mesmo de me reconhecer como artista, admirava e colava nos eventos, curtia muito e aprendi bastante com ele e com os MC’s residentes como Bulldogg, por exemplo. Os cara já fazia bagunça e representava a cidade de forma única.
Hoje frequento menos por conta da correria, mas era certo toda sexta ir andando do Centro até a Itinga de bonde, ou de topic, pra prestigiar o evento. Depois passou a ser às quintas-feiras, renascendo como Original Lauro City. Tive a honra de me apresentar lá, foi mágico cantar na minha cidade, coisas que só Zizuh proporciona.
Oganpazan – Porque e como você escolheu o Plug/R&B para fazer o seu trampo?
Liz Kaweria – Tive o primeiro contato consciente com o plugg através de Raffa Moreira e Sahbabii, caras que ouço e me inspiro até hoje, mas nunca me imaginei cantando o gênero. Através do Instagram conheci o trampo de Fiteck, que postou nos stories que estava querendo fazer um projeto de plugg com diversos artistas. Com fome do bagulho, respondi de ousada. Marcamos uma sesh e o resto é história. Sou muito grata pelo carinho e recebimento que possuí dele e de Jvkx, dois caras que não quero largar nunca e que possuem minha eterna gratidão, admiração e amizade pessoal e profissional.
Acredito que o plugg me escolheu. É o gênero que sinto mais liberdade e diversão em fazer simplesmente por poder falar de tudo e cantar da maneira que gosto, fora da caixa. Me apaixonei pelas melodias, pelo sub, pela forma que o instrumental é feito e sempre tento fazer a wave baseada no instrumental, acredito que por isso faço tanta questão de fechar com beatmaker, eles quem produzem a verdadeira vibe, eu só surfo. Enfim, só fazendo pra entender a fita risos
Oganpazan – Há quanto tempo você começou a escrever/gravar seus raps/músicas já visando se tornar uma MC/Cantora?
Liz Kaweria – Eu escrevo desde os meus 3 anos de idade, vivência de igreja risos. Acho que sempre fui artista, até por estar em uma família qual meu pai é cantor e multiinstrumentista, acompanhava ele sempre no ministério de louvor, tenho uma memória afetiva muito legal da infância de quando teve um trio elétrico da congregação qual ele tocou no carnaval, foi muito mágico. Então sempre possuí o incentivo da música dentro de casa com as melhores referências, minha mãe sendo backing vocal dele, inclusive. Mas acredito que comecei a escrever visando gravar meus sons e me entendendo como artista em 2020, tanto que daí que nasceu ‘’’CORRE’’’ com muito incentivo de meus amigos que já era artistas ativos na cena (Senpa e Geeli, Geeli inclusive produziu o som!) ah, e eu não me vejo como MC risos, apenas uma cantora que tem um flow descarado.
Mestre de Cerimônia é algo muito sagrado pra mim, ele possui certas habilidades que eu admiro muito e não possuo. Acho que hoje em dia esse título banalizou bastante, não quero fazer parte disso risos
Vejo meu som como cultura no hip-hop mas sempre me encaixei mais na parte cantada, soul/r&b. São rimas cantadas, isso quando eu faço rimas. Então, prefiro dizer que canto com um flow descarado.
Oganpazan – Nas suas músicas você aborda questões como sexo e drogas, além de amor, problemas raciais e etc… Como filha de um casal evangélico, uma curiosidade surge: Como seus pais lidam com a sua carreira artística?
Liz Kaweria – Meus pais hoje levam muito mais a sério meu corre, acredito que pela postura que eu tenho diante ao mesmo. Eles não gostam risos, mas respeitam e me apoiam bastante. Graças a Deus, possuo muito suporte, deles e de meus irmãos. A música que eles mais gostam é “Muita Maldade” feat meu com Zidane, porque eu cito versículo e não xingo e nem falo de drogas risos
Oganpazan – Enquanto mulher preta em um cenário onde machismo, misoginia e o racismo são violências cotidianamente sofridas por milhões de mulheres no nosso país, você já enfrentou essas questões dentro da cultura hip-hop?
Liz Kaweria – Já enfrentei sim, machismo, mas não é algo que aconteceu muito, graças a Deus. Mas acontecem muitos convites de “vamos fazer música “ com segundas intenções. Como eu tenho uma base forte de amigos que apoiam e me ajudam em meu trabalho, e acredito que por ser cismada também e bastante intuitiva, só caí nessa laranjada uma vez risos. Quem eu preciso ta fechado comigo e encontro muito mais pessoas boas no caminho do que ruins.
Oganpazan – Penso que não estou errado ao afirmar que você atualmente é uma cantora pronta, sua voz nos chega com uma qualidade muito rara. Você tem planos de gravar em outras sonoridades?
Liz Kaweria – Obrigada pelo elogio risos e sim, penso bastante e esse ano de 2022 eu explorei muitos gêneros, como por exemplo, afrobeat. Soltei uma música no instrumental de Marvin Gaye também, sendo ele um dos artistas que mais consumo, precisei prestar uma homenagem e gastar essa onda. Muita coisa pra vir em 2023, só vou dizer isso risos mas largo plugg nunca.
Oganpazan – Quais são os próximos passos que você está tramando para 2023? Quando teremos a oportunidade de ouvir um disco cheio seu? Quais os próximos lançamentos?
Liz Kaweria – Esse ano de 2023 quero explorar mais o meu lado estético e visual, é algo que ainda tenho muita dificuldade, “botar as caras”. Quero investir bastante em clipes, tenho dois álbuns prontos pra 2023, já já chega, Deus permitindo. Muito ansiosa, me organizando pra sair da melhor forma e na melhor hora.
-Liz Kaweria, uma excelente e jovem voz no Rap Baiano com um flow descarado – Entrevista!
Por Danilo Cruz