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Live In Europe: quando a França conheceu Otis Redding

otis-redding

Segundo disco ao vivo da curta carreira de Otis Redding, “Live In Europe” mostra o soul man voando baixo na europa.

Otis Redding. Só de pronunciar o primeiro nome de uma das maiores vozes da história da música, nota-se algo grandioso no background sonoro. Otis… Eis aqui um nome forte, uma alcunha que alimentava desejos carnais e que quando era complementada por seu sobrenome (Redding), concluía uma pura coqueluche de Soul.

Uma corrente elétrica capaz de causar explosões domiciliares. Uma válvula com um controle sobrenatural perante suas faculdades swingadas, Otis nunca precisou estourar, o que eternizou o mito foi justamente seu autocontrole. Ele sabia que se o fizesse, o mundo não aguentaria. O assolha do groove racharia, e rapaz, a escala Richter não aguentaria um B.O com essa potência.

Seu corpo e sua voz eram instrumentos, ele insinuava, sentia e pulsava sua verdade. Ele não cantava, Otis Ray Redding Jr. sussurrava os encantos de uma vida. Uma existência que para ele foi sofrida em certos momentos, mas que o tornou infinito no falsete, justamente por evidenciar a arte de um gigante que buscava apenas cantar e não sair do vácuo do groove.

 

Line Up:
Otis Redding (vocal)
Andrew Love (saxofone)
Booker T. Jones (órgão)
Wayne Jackson (trompete)
Al Jackson Jr. (bateria)
Donald ”Duck” Dunn (baixo)
Steve Cropper (guitarra)
Joe Arnold (saxofone)

Track List:
”Respect”
”Can’t Turn You Loose”
”I’ve Been Loving You Too Long”
”My Girl”
”Shake”
”(I Can’t Get No) Satisfaction” – The Rolling Stones
”Fa-Fa-Fa-Fa-Fa (Sad Song)”
”These Arms Of Mine”
”Day Tripper” – The Beatles”
”Try A Little Tenderness” – James Campbell/Reginald Connelly/Harry M. Woods

Creio que Otis almejava ser um signo. E digo mais, acredito que o americano sempre desejou fazê-lo nos lugares mais apropriados. Tinha que ser no tom certo, na hora e no lugar correto. Só que a fórmula tinha duas composições.

A clássica faz o senhor perder a cabeça, Otis & banda ativam um lado selvagem dos seres humanos que faz divisa com a loucura, e só não resulta em internação, por que no fim a instrumentação segura os impulsos incontroláveis e carrega o público no banho maria.

Já a segunda fórmula era mais pautada em sua estirpe, na categoria de um cidadão que dominava tudo que se propunha a fazer. Podemos dizer que a parte ácida e quente é resumida ao som do live ”In Person At The Whisky A Go Go” (1968), já a parte sofisticada, bom, essa aí entra em voga depois que o ”Live In Europe” (1967) vai parar na vitrola.

Otis Redding – Live In Europe

E ao optar pelo segunda, creio que seja fácil captar o motivo: Otis era um músico versátil. Possuía um leque vasto, podia endiabrar o recinto ou levá-lo às lágrimas com a mesma facilidade, algo que em ”Live In Europe” fica tão nítido quanto o seu reflexo num espelho.

Stax, Olympia Theatre e Booker T. & The MG’s

O cenário: Paris e o belíssimo Olympia Theatre. A banda de apoio: Booker T. & The MG’s. E o resultado? O feeling está presente em cada um dos segundos que formam esses quase 33 minutos de set.

Vale lembrar que esse disco foi o primeiro live do americano, além de ter sido também o último LP ele acompanhou o lançamento, já que disco saiu cerca de 5 meses antes de sua morte, no dia 10 de dezembro de 1967.

Registrado durante a tour europeia de março de 1967, a única falha desse registro é que conta apenas com 10 faixas, por que de resto o intérprete desafia os seus ouvidos. Até mesmo em temas que não são de sua autoria, como é o caso de “My Gir” (Smokey Robinson), “Shake” (Sam Cooke) e (“I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones, por exemplo. Otis canta com tamanho convicção que parece que as composições são todas suas.

A cada faixa é perceptível a energia da plateia, sempre incrédula por estar presenciando o que talvez tenha sido o auge da experiência de um show. 

Os timbres, os metais… O resultado é digno de aplaudir o rádio depois do fim. “Fa-Fa-Fa-Fa-Fa (Sad Song)” vem com uma energia que hoje em dia faz muita falta no universo. Outro detalhe que torna esse disco fantástico é o fato dele contar com 3 dos maiores músicos de estúdio da história da música norte americana, falo sobre Steve Cropper (guitarra), Ryan “Duck” Dunn (baixo) e Al Jackson (bateria). 

Preste atenção em “Can’t Turn You Loose” que você vai entender a importância desse trio para dar liga na cozinha. É muito interessante como os metais ajudam a tornar os arranjos ainda mais vibrantes.

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