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Letícia Coelho “Brota” em som e imagem

Letícia Coelho vem intensa e diversa em “Brota”, álbum e curta-metragem que se complementam sob o olhar da relação entre o ser humano e a natureza à luz de Mariana e Brumadinho. 

Letícia Coelho e o contexto da obra

Assim como eu, Letícia Coelho é da Zona da Mata Mineira.  Nossas cidades são vizinhas, sou de Ponte Nova, ela é de Amparo da Serra. Isso já foi motivação suficiente para conhecer sua produção artística e escrever uma matéria sobre seus últimos trabalhos, lançados sobre o nome curto, porém certeiro: ‘Brota”.

Faixa de protesto contra o crime socioambiental cometido pela Vale em Brumadinho.

Nós mineiros temos visto ao longo da última década a destruição progressiva do nosso património cultural e natural pela sanha predatória do capitalismo, representada nesse caso, pelas mineradoras que operam sob o comando da Vale. 

Dois grandes crimes cometidos pela multinacional escancararam esse parasitismo de décadas promovido pela mineração: o rompimento da barragem da Samarco em Mariana em novembro de 2015 e o rompimento da barragem de Brumadinho em 2019.

Deixei links para vocês refrescarem a memória sobre o impacto que os crimes cometidos pela Vale causaram à inúmeras cidades e milhares de pessoas que perderam entes queridos e todos os bens materiais que possuíam.

O contexto que cerca o curta e o álbum está nas consequências do capitalismo sobre a vida das pessoas. Letícia nos convida a dar lhe a mão e segui-la pelas possiblidades diversas de se ‘ser no mundo’. 

‘Brota’: o álbum  

Letícia Coelho tem por característica marcante a multiplicidade artística, abarcando tanto as diferentes manifestações artísticas, quanto os mais variados instrumentos musicais. Daí podemos entender sua produção artística e a diversidade sonora presente no álbum.

Capa de ‘Brota’, álbum de estreia de Letícia Coelho.

Filha do interior , Letícia não abandona a tradição artística da sua região. Usa elementos musicais vivenciados ao longo da infância e adolescência, como matéria prima a ser combinada com elementos musicais da urbanidade.

Em sua sonoridade percebemos a busca alquímica por combinar essas duas esferas. Destacam-se elementos do rock e da música eletrônica, porém, usados de forma equilibrada, permitindo que os elementos regionais sejam percebidos sem esforço. 

O setlist do álbum é composto de 15 faixas, que nos convida a um passeio sobre a compreensão da cantora sobre as possibilidades existenciais. Nesse sentido é um convite a compreender qual nosso lugar nesse contexto socioeconômico que nos cerca.

Qual nossa responsabilidade política enquanto cidadãos, enquanto mineiros, cujas vidas tem os rumos decididos em reuniões de executivos em gabinetes fora do Brasil, onde os interesses de acionistas, de rentistas, de especuladores financeiros são colocados na frente dos interesses do trabalhador e da trabalhadora, seja os da zona rural ou das pequenas cidades interioranas.   

Frame do curta-metragem ‘Brota’ de Letícia Coelho.

Existe uma mensagem de esperança na música de Letícia. Aponta para as brechas que podem ser abertas inesperadamente e que podem levar às mudanças que tornem a vida dos explorados melhor. Sim, porque a vida dos ‘senhores’ não poderia estar melhor.

A meu ver, a mensagem de esperança está na indignação, na revolta que ‘Brota’ da lama tóxica que destrói a vida natural, social e cultural do nosso estado. Podermos ver algum sopro de esperança na mobilização em torno da tentativa da mineradora Companhia Tamisa, de conseguir a licença para explorar a Serra do Curral.

Felizmente a Justiça de Belo Horizonte conseguiu derrubar a liminar que permitiria à Tamisa extrair o minério da Serra do Curral. Sigamos com a música de Letícia Coelho. 

‘Brota’: o curta-metragem

Acima você confere o curta metragem inspirado no álbum e batizado com o mesmo nome. Houve exibição in loco no SESI Teatro de Bolso em Belo Horizonte. A exibição rolou no dia 28 de junho. Sugiro que você assista o filme no canal da cantora no YouTube, para fortalecimento do mesmo, além de curtir o vídeo, se inscrever no canal e compartilhar para que chegue a outras pessoas.

Abaixo compartilho o texto que apresenta de forma bastante precisa a intenção de Letícia ao criar o curta metragem.

“O filme traz uma geografia da impermanência, ora festiva ora reflexiva, sempre propondo o movimento e o risco. No curta metragem de 12 minutos acompanhamos a personagem principal, uma viajante, em seu percurso por um novo mundo. A protagonista vive três momentos ao longo da vida e, depois de passar por descobertas, rupturas, desafios e recriações, se percebe outra. 

O filme se debruça sobre a trajetória desta viajante que parte do rural para o urbano, da natureza para o asfalto, do oral para o escrito, da tentativa ao erro e ao risco, percurso que se conecta com memórias populares e heranças diaspóricas afro-ameríndias.

Adentrando as trajetórias femininas, narrativas de desafios, permanências, ciclos de “morrer e nascer” e conflitos, o disco se encosta na cidade, em sua insanidade e violência, jogando seu jogo com os saberes que carrega. Brota dança a revolução e caminha pela coragem de se reinventar”. 

Abaixo o álbum de Letícia Coelho, ouça e compartilhe.

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Carlim

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