Larissa Del Santo & Taya chegam pra Sabotah (2020) os machohop, em um single que vem batendo de frente contra o machismo no rap
https://www.youtube.com/watch?v=0hNq_Z7vVic
Concorrência é algo intrínseco dentro do sistema político e econômico no qual vivemos, e isso é algo que atravessa gênero, raça e classe. A cultura hip-hop por sua vez possui na disputa/batalha um modo de sublimar inicialmente a violência que assolava as comunidades negras no período de surgimento da cultura. Um prato cheio para o racismo, para o patriarcado e para a homofobia em nosso país foi absorver esse traço da cultura hip- hop – disputa – dentro do modo de funcionamento mais próprio que o capitalismo/indústria cultural possui, o que impulsiona muitas mulheres a exclusão.
Temos repetido constantemente aqui nas páginas do Oganpazan, o quanto as produções das mulheres e LGBTQI+ do rap nacional estão longe de dever algo aos machohop*. Esses são os que cantam amor as pretas e “palmitam” em alto, pregam igualdade e liberdade mas contribuem firmemente para a invisibilidade das minas. Isso quando não são agressores, abusadores e tutti quanti. É uma forma de perpetuar o crime perfeito, desvalorizar, subjugar menosprezar mulheres da cena e assim, manter uma fatia de mercado que comporta outros tantos machohop que “admiram” o rap bem feito.
É dentro desse contexto que o single da Larissa Del Santo e da Taya chega num pique de enfrentamento que a cada dia se faz mais necessário e que precisa ser amplificado. Da mesma sorte é mais do que necessário que “gritos” como esse sejam o motor para a formação de uma consciência de gênero não apenas combativa nas letras. É fundamental que em todos os campos da produção haja um fechamento das minas.
Em um beat do mano Faustino (BA) e com a produção de Buarky (SP), Larissa Del Santo e Taya mostram todo o poder de enfrentamento que as mulheres possuem com o single Sabotah (2020). Exalando uma feminilidade agressiva em seu modo irônico o alter ego da LARIVENOM parte pra cima de um dos aspectos mais frágeis de nós homens: Desempenho sexual. Nesse momento, a masculinidade que se sustenta em ideias que parecem emanar dos seus falos, brocham, com uma série de braggadocios Larissa Del Santo detona qualquer fetiche de subjugá-la.
A postura é de enfrentamento, e ainda em sua parte, a mc faz referência a sua ancestralidade e cita a grande Linn da Quebrada. Já a Taya chega no mermo pique de bagaçar os machohop, com um speedflow bem colocado, ela deixa escurissímo como o game é fake, e se assegura em posições de poder que são estruturais em nossa sociedade.
Esse movimento de bater de frente, de Sabotah os “fudido” que a música sacode, muito nos agrada, não por querermos biscoito, mas por um motivo muito óbvio: Gostamos de Hip Hop. E ora, se temos esse apreço pela cultura, apoiamos quaisquer que sejam as lutas por igualdade, liberdade e prosperidade para os nossos e as nossas.
Confesso que não conhecia o trampo da Larissa Del Santo e nem da Taya, pois bem a hora é agora, faça o mesmo!
*Machohop – Termo muito utilizado pelo jornalista, bibliotecário, beatmaker, avó e estudioso da cultura hip hop no Brasil Jair Cortecertu, que significa: homem machista admirador, artista ou produtor de rap ou da cultura hip hop. A origem do termo é desconhecida, por enquanto, mas foi lido pela primeira vez pelo Jair num texto da queen Rúbia RPW em um dos seus textos há mais de 13 ou 14 anos atrás!
-Larissa Del Santo & Taya chegam pra Sabotah (2020) os machohop
Por Danilo Cruz