Os rappers mineiros Paulão e Djonga se armam de rimas e beats e saem à caça dos vacilão.
https://www.youtube.com/watch?v=-pZruN-yJXc&feature=youtu.be
Caçador de vacilão, primeiro single de Paulão, lançado em videoclipe com a participação de Djonga, mostra, através da parceria entre os rappers belorizontinos, que o rap mineiro tá a mil grau. A música tem movimento dinâmico, ritmada por uma pegada forte, fazendo as rimas pulsarem de forma vibrante.
O entrosamento entre os rappers contribui para a construção de um fluxo ininterrupto da melodia, resultando numa percepção completa da música. O encaixe entre rima e beat é perfeito. Pode-se dizer que são almas gêmeas em Caçador de Vacilão. O flow de Caçador de Vacilão é impecável! Todas as arestas são aparadas evitando que o ouvinte corra o risco de encontrar obstáculos que o jogue no chão. Os caras dão conta do recado, mostram-se detalhistas, preocupados em alcançar o melhor resultado possível.
O vídeo mostra em plano aberto os rappers num quarto saudando-se mutuamente num sinal de respeito para a conversa que vai começar. Djonga entra rasgando e coloca as cartas na mesa, separando o joio do trigo e deixando claro que as alianças são construídas através das rimas. Um ritual de preparação para sair à caça. Paulão pede passagem e manda a real sobre a força da união para derrubar os obstáculos que porventura apareçam no caminho. Os corre feitos geram o investimento pra manter viva a missão de defender o trabalho e os frutos por ele gerados.
Essa dinâmica se mantêm durante toda a música, estabelecendo uma troca de ideias, em que o interlocutor em posse da fala lança seu ponto de vista sobre o que foi dito pelo outro anteriormente. Por exemplo neste trecho cantado por Paulão: “Papo reto/ Eles podem até tentar/Mas o corpo ta fechado/ Os cara não vão suportar” .
O rapper apresenta a ideia, segundo a qual, não é possível ser atingido e a consequência para o outro lado será a falta de condições de aguentar a pressão. Djonga complementa a ideia de força na estrofe seguinte: “Mas se suporta/Mano/Nós só fecha a porta e/Tamo/Claro/Tramano outro plano/Vô girar/Zero de dano”. Fiquem avisados, se houver resistência do lado de lá, também haverá do lado cá, mais forte e com um plano B sempre pronto para ser colocado em prática.
Fica claro que a conversa tem como foco estabelecer uma estratégia de luta contra os vacilão, aqueles cujo propósito é atrapalhar o fortalecimento de quem busca seu lugar ao sol. Interessante notar o estilo narrativo da dupla. Eles não citam diretamente quem são os vacilão, preferem deixar pistas ao longo da música para que nós, seus ouvintes, captemos por nós mesmos a mensagem.
O vacilão pode ser o estado, a polícia, o patrão, os bancos, os preconceituosos e até mesmo os invejosos. Ficam contemplados pelos versos todos os tipos de vacilão existentes, representando obstáculos a serem superados em diferentes situações do dia a dia.
Os rappers assumem o protagonismo junto aos seus, afirmando-se em suas atitudes e ações no combate aos vacilão. Não se assume uma perspectiva revanchista ou ressentida nas ideias construídas, o que não significa adotar uma atitude passiva diante dos acontecimentos. A proposta de combate estabelece uma postura ativa de agir, representada na metáfora da caça. Ir à captura dos vacilão significa agir de forma a se proteger, superar obstáculos, sejam eles situações ou mesmo pessoas, para enfim, ter as condições de viver e não apenas sobreviver.
Os peidado, meter mão no maço, embrasar, dar um trago no paiol, mula manca, uns pino, esses pela, os bico observa, são exemplos de expressões e gírias usadas na construção dos versos. Acredito pertencerem ao vocabulário do hip hop belorizontino. Esse regime de signos da cultura local garante ao modo de rimar uma identidade que marca o sotaque do rap mineiro, estabelecendo a diferença com os demais polos do hip hop nacional.
Interessante notar que apesar de haver a utilização de expressões particulares ao universo cultural do hip hop belorizontino, o uso desses signos nos versos estabelecem um sentido, permitindo aos “forasteiros” compreender a mensagem. Mesmo que seja a primeira vez que entramos em contato com essas palavras, conseguimos compreender as ideias, pois existe uma organicidade entre signo e significado. Quer dizer, não é preciso recorrer a um dicionário de mineirês, ou coisa do tipo, para entender o que está sendo dito.
Sempre na função Paulão e Djonga não baixam a guarda e tampouco o ritmo de trabalho. Curtam as páginas dos caras, acompanhem seus perfis no face, twitter, soundcloud, youtoube, instagram para conhecerem melhor o som dos caras e receberem notícias em primeira mão sobre lançamentos e shows. Na ficha técnica logo abaixo vocês encontrarão os endereços dos rappers e seus parceiros de trabalho na internet.
Ficha técnica:
Música: Paulão e Djonga
Beat: Oculto Beats
Mixagem/Masterização: Oculto Beats
Direção: Matheus Aragão (pagina no facebook)
Direção de Fotografia: Matheus Aragão
Edição e Pós-Produção: Matheus Aragão
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