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La Nave Festival – Edição Sublime

A ideia de apreciar música em sua essência é uma utopia. Cada um de nós possui certos estilos como prediletos e no fim das contas a nossa Jukebox acaba se limitando, algo que dentro da mente de um cidadão que busca o entendimento do meio sonoro como um todo, é deveras perigoso.

Existe toda uma cena sendo alimentada. São vários polos sonoros unidos apenas pelo mesmo período histórico, por que de resto nada se repete quando o som começa a ser reverberado e isso é incomensurável. A riqueza também é um forte elemento dentro da consagração de novos atos.

Algo mais Funkeado, Blueseiro, com raiz no Country, ideias Progressivas, improvisos Jazzísticos e insights de Prog… Pode riscar tudo da sua lista, a cena atual carrega todos os tipos de DNA e o grande desafio no momento é justamente encontrar algo que não está rolando. Segundo pesquisas a música segue sendo explorada em sua totalidade e a fonte foi o INMETRO do underground, a sexta tiragem do La Nave Festival: a edição Sublime.

Flyer: Vanessa Deborah

No dia 21 de agosto aconteceu mais uma reunião do Pentágono underground. A sede foi a Rua Augusta mais uma vez e o itinerário contou com mais uma mão de grandes atos, estréias e muito som, pavoneando-se em suas mais diversas vertentes. É desnecessário dizer que teve Blues, Psicodelia, Rock ‘N’ Roll e ideias trovadorescas (e tudo isso misturado também), mas vamos por partes pequeno gafanhoto.

Para a iniciação de todas as atividades noturnas o mestre de cerimônias responsável foi Pedro Pastoriz. Mais uma vez sua música fez o clima do início da madrugada e a luz própria de suas interpretações foi impressionante. É digno de nota ver como as composições de seu primeiro disco solo ganham novos detalhes ao vivo e o fazem da maneira mais natural possível.

Tocar na rua foi talvez a melhor coisa que esse cidadão já fez na vida. Não existe situação com a qual ele não saiba lidar e parece que quando sua viola enxerga a luz turva do palco, o lance é exatamente ser surpreendido por acontecimentos externos, assim, ele precisa improvisar e quando a oportunidade surge, ele já vai linkando uma track na outra como se fosse um ensaio para mais um disco no Direct Cut.

O show foi coeso, vibrante, forte e libertador. É um barato ver um cara que vai contra a maré das mega produções justamente quando tudo carrega excessos desnecessários de um preciosismo que as vezes nem existe! Ver um show do Pedro hoje em dia é algo que recomendaria para muitos músicos, acredito que ele compreende e sente a essência da música e poucos fazem isso com tanta naturalidade.

Depois o tempero da noite foi ficando mais forte. A baianidade cósmica elevou o patamar de potência na Jukebox de Murilo Sá e o estrago foi tanto que ele até chamou o Grande Elenco. A cozinha estava completíssima, o Guilherme Arantes da Invasão Britânica chamou até o reverendo Guedes para a guitarra Slide e o complemento da viagem ”Sentido Centro” eletrificou todo o Hole Club, não só com o etílico Blues do já citado guitarrista, mas junto da endiabrada performance de Murilo, os graves de Rob ”Slapman” Ashtoffen e a batera sempre exata de Pedro Falcão.

Fotos: Karina Menezes
O set foi veloz, enérgico e além de evidenciar um combo no topo de seu jogo e entrosamento, nos brindou também com belas jams. Improvisos que mostram a força do repertório do debutante e deixam claro que de onde saiu todo aquele pack de inéditas, deve ter muito mais.

Aqui ninguém esconde o groove e o som encontra-se num nível absolutamente ácido… Parece que a próxima cartada de estúdio está próxima e é notável ver que esses caras não só escrevem muito bem, mas tocam demais! Se você curte uma jam e não viu nenhum do Murilo Sá & Grande Elenco… Rapaz, por onde você anda?!

Fotos: Karina Menezes

Depois de mais um ato o dia e a noite seguiu se confundindo entre um shot de madrugada e outro. Depois do Grande Elenco chegou a hora da estréia e o som agora ficou à cargo dos caras da Nuvem. Trio que tenta desconstruir a música Pop reciclável das prateleiras e harmonizar vocais, entrar com um grave que explora novos andamentos e fazer o que um músico de fato precisa: explorar.

Foi o primeiro show dos caras e foi interessante ver o andamento dos temas, a cadência das faixas e a ideia por trás de todos os arranjos. O diamante está sendo lapidado com o tempo, mas foi interessante ver o conceito, perceber como a banda enxerga a música e como a criação dos caras impactou e surpreendeu a platéia, contando até com temas cantados em coreano e francês.

Fotos: Karina Menezes

Mas falando em impacto de apresentação, conceitos ideológicos-musicais bem definidos e um show que consegue explorar isso de maneira contundente… Rapaz, creio que ainda não vi nenhuma banda instrumental com a mesma força que o Bombay Groovy possui ao vivo.

A música divide os homens dos meninos quando você vai para o palco live com ainda mais força do que em estúdio e, nesse quesito em particular, o trio parece que tem décadas de estrada. Essa nova formação abriu um espaço interessantíssimo para o desenvolvimento da cozinha oriente/ocidente e o peso é impressionante, a forma como os instrumentos trabalham juntos também é formidável.

O órgão está sempre na jogada. O Hammond uiva como um Zomby Woof Zappeano, o sitar faz a mediação das forças e a bateria entra com a missão de acompanhar tudo isso com uma mobilidade impecável. Fazia tempo que não ouvia uma versão tão eloquente de Mahavishnu Orchestra, o cover da banda para ”Eternity’s Breath” foi um sopro de ar fresco.

Fotos: Karina Menezes

As composições apareciam linkadas umas nas outras, as mudanças de tempos pintavam nas partituras à todo o momento e o reverendo Leonardo Nascimento tocou com uma vitalidade notável. Seu kit balançava à distância e em determinado momento o estragoi foi tanto que Lucas Roxo foi convocado apenas para amaciar os pratos.

Agora ninguém possui um cargo fixo, a improvisação é a base de tudo e ao vivo os caras apenas tentam chegar mais longe e, com isso, quem ganha, sem dúvida alguma, é o ouvinte. A escola Pappon virtuose das teclas era destilada com um feeling sublime (teve até Deep Purple), o sitar sempre aparecia com a classe de um lord ingês para o chá das quatro e quando pensávamos que tudo iria pelos ares, o reverendo Bourganos segurou a pressão no Theremin para nos mostrar com quantos Hoffmanns se faz uma psicodelia.

Fotos: Karina Menezes

Mas não foi só isso, afinal de contas Wallacy Williams foi para o palco acompanhado de sua quadrilha. Foi com Jack Rubens na guitarra, Mariô Onofre na batera e Tomas Oliveira no groove elétrico que o cidadão promoveu  o lançamento de seu disco.

Esse show para os fortes, o diabo cearense mostrou a força do Blues, levou uma overdose de distorções até a primeira fila e deixou claro (com requintes de multi instrumentista), que seu disco homônimo veio para causar na cena.

O quesito de ordem, bons costumes e respeito aos padrões de áudio saudáveis foram completamente ignorados neste set. As composições eram entoadas com fervor e explosão, as letras surgiam com a força de verdades absolutas e no final o objetivo da noite estava completo: o caos estava plenamente instaurado.

Teve tanta música que o flyer da Vanessa Deborah ficou até pequeno para tantas jam. Depois que a dupla do Mescalines subiu ao palco para acompanhar o reverendo Wallacy, a vontade de tocar foi tanta que logo depois que o show de satã se encerrou, a psicanálise que entrosa a dupla entrou em funcionamento para mais uma dose de ecos e watts em riff”s.

Tivemos belos shows, um atrás do outro e muita música rolando em suas mais diversas esferas estéticas… Pra quem perdeu tudo isso, bom, só posso lamentar. Fique atento irmão, fique atento! (já dizia o Criolo), não espere por avisos no face ou por ligações com hora marcada, a cena acontece em todos os lugares e o faz à todo momento.

Ela se desenvolve enquanto batuco essas teclas, enquanto a cacofonia do teclado é criada e novos sons são emitidos. Isso é uma força da natureza, uma das 7 maravilhas do mundo, afinal de contas é incontrolável. Sente-se na janelinha e aproveite a trilha sonora enquanto o mundo explode tal qual o bumbo do mestre Mariô. Vale refletir sobre mais uma aurora.

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